Economia Solidária – Sustentabilidade: Aproveitamento e Reaproveitamento de Alimentos

Autora: Gisele Alves da Silva Fernandes
Orientador: Prof. Dr. Dá cio Roberto Matheus

 

DEDICATÓRIA

Agradeço a Deus, a família e especialmente.
a Janaina e Aládia pelo apoio constante.

 

AGRADECIMENTOS

A Universidade Federal do ABC.
Ao orientador Profº. Dr. Dácio, pelo acompanhamento pontual e competente.
Aos professores do Curso de Pós-graduação.
A todos os que direta ou indiretamente contribuíram para a realização desta pesquisa.

 

“É possível vida sem sonho, mas não existência humana e história sem sonho”.
(Paulo Freire)

 

SUMÁRIO

  • 1. Introdução
  • 2. Revisão de Literatura
    Economia Solidária
    Sustentabilidade
    Reaproveitamento e aproveitamento integral dos alimentos
    Educação de jovens e adultos no mundo do trabalho
  • 3. Práticas pedagógicas
  • 4. Conclusão
  • 5. Referências Bibliográficas
  • 6. Anexos

 

 

INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como objetivo conhecer novas práticas educacionais com o Ensino de Jovens e Adultos, tendo em vista o mundo do trabalho e a economia solidária.

No Brasil, não existem muitos livros pedagógicos de Educação de Jovens e Adultos, foi desta necessidade que surgiu a idéia de reunir experiências em sala de aula e escrever para outros professores. A idéia não e criar receitas e modelos como manuais de passo a passo e sim reunir experiências de sala de aula, para que outros educadores possam se inspirar e levar adiante fazendo as alterações possíveis de acordo com a realidade de cada escola.

Foi trabalhando com os educando um dos princípios da economia solidária – a sustentabilidade, por meio do reaproveitamento e aproveitamento integral dos alimentos.

Após um ano de trabalho, a partir de uma nova perspectiva de ensino, nós educadores podemos constatar mais dinâmicas, os alunos mais críticos e interessados. O currículo mais adequado a realidade do aluno e dando um norte aos educadores. Por falta de formação e informação muitos professores acreditam que o Ensino de Jovens e Adultos possa ser realizado da mesma forma como das crianças e este é um erro muito freqüente nas escolas, até mesmo os alunos acreditam num primeiro momento, que tem que aprenderem da mesma forma como os “pequenos”.

As aulas se consolidaram a partir do reconhecimento e da conscientização da sustentabilidade; mostrando outras possibilidades de economia, podendo o aluno ser incluído no mercado de trabalho.

 

REVISÃO DE LITERATURA

1 – Economia Solidária
Segundo Singer (2010) o capitalismo se tornou dominante há tanto tempo que vimos como normal uma economia competitiva em todos os sentidos (emprego, vestibulandos…).

O problema é que ela cria uma desigualdade entre ganhadores e perdedores. “Os ganhadores acumulam vantagens e os perdedores desvantagens nas competições futuras.”

A Economia Solidária se preocupa com uma visão humanizadora, com a sustentabilidade, com a satisfação de todos proporcionando uma qualidade de vida.

A prioridade da economia solidária é o trabalho, o saber e a criatividade, diferente do capitalismo que é acumular riqueza.

Para a Economia Solidária, um empreendimento não pode ser consideração eficiente apenas pelo acumulo de capital, mas se define em função da qualidade de vida e da felicidade dos seus membros e ao mesmo tempo, em todo ecossistema.

A Economia Solidária é um poderoso instrumento de combate à exclusão social, pois apresenta alternativa viável para a geração de trabalho e renda para a satisfação e necessidades de todos de modo a eliminar as desigualdades materiais e resgatar os valores da solidariedade humana.
Para a Economia Solidária as comunidades têm autonomia para ministrar suas próprias finanças.

Em âmbito local, micro, territorial: os bancos cooperativos, os bancos éticos, as cooperativas de crédito, as instituições de microcrédito solidário, todos tem o mesmo objetivo que é financiar seus membros e não concentrar lucros através dos altos juros são atitudes importantes dos sistemas socioeconômicos solidário, favorecendo o acesso popular ao crédito baseados nas suas próprias poupanças.

Em âmbito nacional, macro, estrutural: a descentralização responsável das moedas circulantes nacionais e o estímulo ao comércio justo e solidário utilizando moedas comunitárias, tendo o controle e a regulação dos fluxos financeiros para que cumpram seu papel de meio e não de finalidade da atividade econômica;

a imposição de limites às taxas de juros e aos lucros extraordinários, o controle público da taxa de câmbio e a emissão responsável de moeda nacional para evitar toda atividade especulativa e defender a soberania do povo sobre seu próprio mercado.

Na empresa capitalista, os empregados ganham salários desiguais, conforme uma escala que reproduz aproximadamente o valor de cada tipo de trabalho determinado pela oferta e demanda pelo mesmo no mercado de trabalho.

Na empresa solidária os sócios não recebem salário, mas retirada, que varia conforme a receita obtida. Os sócios decidem coletivamente em assembléia, se as retiradas devem ser iguais ou diferenciadas. Mas a maioria das empresas opta pela certa desigualdade das retiradas, que acompanham o escalonamento vigente nas empresas capitalistas, mas com diferenças muitos menores.

Para o filósofo John Rauls, alguma desigualdade é tolerável desde que ela sirva para melhorar a situação dos menos favorecidos é a regra que John Rauls chama de MAXIMW. “Desigualdades são permissíveis quando elas maximizam ou ao menos todas contribuem para elevar as expectativas de longo prazo do grupo menos afortunadas da sociedade” (1971 p. 151).

Na empresa capitalista, os salários são escalonamento das retiradas e decidido pelos sócios, que tem por objetivo assegurar retiradas boas para todos e principalmente para a maioria que recebe os menores retirados.

O modo como as empresas são administradas também sofrem alterações, a economia capitalista a gestão é heterogestão, isto é, uma administração hierárquica. A empresa solidária se administra democratimente, ou seja, pratica a auto-gestão. Quando ela é pequena, todas as decisões são tomadas em assembléias, que podem ocorrer em curtos intervalos, quando há necessidade. Quando ela é grande, assembléia-gerais são mais raras porque é muito difícil organizar uma discussão significativa entre um grande número de pessoas. Então as decisões de rotina são de responsabilidade de encarregados e gerentes, escolhidos pelos sócios ou por uma diretoria eleita pelos sócios.

O maior inimigo da auto-gestão é os desinteresses dos sócios em sua recusa ao esforço adicional que a prática democrática exige, eles preferem que a direção da cooperativa decida em lugar deles.

A partir de meados do século XIX, na Europa a famosa cooperativa dos Pioneiros Eqüitativos de Rochdale, considerada a mãe de todas as cooperativas, foi fundada por 28 operários qualificados de diversos ofícios. Após uma frustrada greve de tecelões em 1844, adotaram uma série de princípios universais do cooperativismo:

1º) Todas decisões a serem tomadas cada membro teriam direito a um voto, independentemente que quanto investiu na cooperativa;

2º) O número de membros da cooperativa era aberto, sendo em princípio aceito quem desejasse aderir.

3º) Sobre capital emprestado a cooperativa pagaria uma taxa de juros fixa;

4º) As sobras seriam divididas entre os membros em proporção às compras de cada um na cooperativa;

5º) As vendas feitas pela cooperativa seriam sempre feitas à vista;

6º) Os produtos vendidos pela cooperativa seriam sempre puros (isto é, não adulteradas);

7º) A cooperativa se empenharia na educação cooperativa;

8º) A cooperativa manter-se-ia sempre neutra em questões religiosas e políticas.

Quando são organizados feiras e clubes de troca, muitas vezes os membros optam por utilizar as chamadas moedas sociais. Para o secretário executivo do FBES, Daniel Tygel, uma feira de troca repensa o conceito de mercado e o de moeda.

1.1 – Sustentabilidade

A sustentabilidade é um conceito cuja origem provem do debate em torno das questões envolvendo o meio ambiente. A preocupação da ONU com o fracasso das ações iniciais em conter a crise, a fez criar, em 1983, a Comissão Mundial sobre o meio ambiente e desenvolvimento (CMMAD), e encomendar um estudo que foi apresentado em 1987 com o nome de Nosso Futuro Comum, onde aparece pela primeira vez oficialmente o termo desenvolvimento sustentável (CAPRA, 2003; Milanez, 2003; Guarin, 2002; Oliveira, 2002), como sendo a capacidade de “atender as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atenderem ás suas próprias necessidades” (CAPRA, 2003, p. 238). Nesse relatório, o desenvolvimento sustentável é visto em seu sentido mais amplo, tendo como alguns dos objetivos encorajarem um estado de harmonia entre os seres humanos, incluindo certas coesão social e a harmonia entre o homem e a natureza.

Para Capra (1996, p. 25) é necessário compreender os fenômenos sociais de forma mais completa, abandonando o antigo paradigma que ainda in fluência os homens, os líderes de Estado, instituições e empresas, que interpreta a realidade de modo mecanicista, em unidades isoladas e independentes. Utilizando o conceito de ecologia profunda, o autor propõe como um novo paradigma para entender a inter-relação entre todos os fenômenos sociais. A economia solidária contém elementos do novo paradigma social abordado pelo Capra, uma vez que evidencia a coexistência de lógicas econômicas distintas e complementares, que faz com os empreendimentos seja gerido de um modo particular, o que interfere na forma como se define a sustentabilidade.

A sustentabilidade se trata em empreendimentos da Economia Solidária, não apenas aos aspectos econômicos, mas também, com Coraggio (2003, p. 95) afirma, à eficiência social, entendida com “a reprodução das melhores condições possíveis, tanto materiais como simbólicas da vida em sociedade.”Aspectos econômicos, sobretudo quando se pensa em iniciativas empreendidas em busca de geração de trabalho e renda, são fundamentais para a consolidação dos empreendimentos. No entanto, o social e o político também terão uma influência significativa na gestão do empreendimento e na sua sustentabilidade (França Filho e Laville, 2004; Costa, 2003; Tiriba, 2000; Sei, 2004).

A Economia Solidária apresenta-se como uma possibilidade de reversão do processo ocorrido nos primórdios do capitalismo, em que ocorreu a separação entre os trabalhadores e seus meios de produção, gerando uma alienação e submissão ideológica do proletário e sua conversão em mercadoria adquirida destinada ao uso do capital. (Coraggio, 2003; Santos e Rodriguez, 2002; Singer, 2002; Gaiger, 2003). As experiências do que Gaiser (2003 p.193) chama de “solidarismo econômico” teriam a capacidade de reiteração da consciência alienada, tanto em termos de ação, como em relação à finalidade.

A sustentabilidade neste estudo é entendida como a capacidade que as organizações têm de se manter em funcionamento cumprindo os objetivos a que se propõe, em consonância com a filosofia da Economia Solidária. Não está relacionado com o resultado financeiro exclusivamente ou com a capacidade de gerar receita dentro da organização que seja suficiente para cobrir os custos operacionais e obter sobra, seja, através da venda de produtos ou pela prestação de serviços , mas também com o resultado político e social das suas ações.

Luigi Verardo, assessor da ANTEAG Associação Nacional de Trabalhadores e Empresas de Autogestão e coordenador executivo do FBES, defende que o compartilhamento de informações também é um dos aspectos de sustentabilidade da economia solidária. Temos que ser solidários com o presente a coletividade que hoje está trabalhando, com o futuro, já que não podemos endividar o mundo para os que vêm depois de nós, e também com o passado, pois as tecnologias desenvolvidas e o conhecimento acumulado pela humanidade não deve ser apropriado por menos de 10% da população do mundo.

Daniel usa a dinâmica da indústria farmacêutica como exemplo para demonstrar que o acesso compartilhado às informações pode funcionar: cada laboratório cobra bilhões para produção de remédios, pois gasta muito dinheiro com pesquisas, cujas descobertas são mantidas como segredos industriais. Se o trabalho fosse articulado em redes, a construção do conhecimento seria feita semelhante aos softwares livres haveria uma drástica redução de custos e seria possível desenvolver remédios não apenas para doenças comercialmente viáveis.

1.2 – Aproveitamento e reaproveitamento dos alimentos

Pouca gente sabe, mas as partes vistas como “menos nobres” dos alimentos tem grande valor nutritivo! São ricos em vitaminas (especialmente A e C), além de ferro, potássio e outros nutrientes. Ou seja, aproveitar integralmente os alimentos não faz bem apenas ao meio ambiente e à sociedade, mas também ao corpo e à mente. Estima-se que 30% da produção mundial de alimentos sejam desperdiçados devido às falhas no sistema de colheita, transporte, armazenagem e comercialização. No Brasil, aproximadamente 70 mil toneladas de alimentos são jogadas no lixo diariamente, o que torna esse lixo um dos mais ricos do mundo, sendo o Brasil, considerado o país dos desperdícios. Nos brasileiros perdemos mais de 12 bilhões de reais por ano com o desperdício de alimentos. Os supermercados jogam fora 13 milhões de toneladas de alimentos por ano. Nas feiras livres de São Paulo, mais de mil toneladas vão para o lixo todos os dias. Segundo o IBGE, o desperdício no consumo doméstico de alimentos chega a 20%. A forma mais comum de desperdício caseiro é a distorção no uso dos alimentos. Talos, folhas e cascas são, muitas vezes, mais nutritivas do que a parte dos alimentos que estamos habituados a comer. Um quarto de toda a produção nacional de frutas, verduras e legumes não são sua totalidade significa mais do que economia. Significa usar os recursos disponíveis sem desperdícios, reciclar, respeitar a natureza e alimentar-se bem, com prazer e dignidade.

A educação é um fator essencial até para o trato com os alimentos. Muitas entidades lutam para evitar o desperdício de alimentos, utilizando como ferramenta o reaproveitamento integral de frutas e verduras. Com um pouco de criatividade, o que antes tinha como destino o lixo, passa a ser a refeição principal de muitas famílias. A nutricionista Gorete Pereira afirma que é possível criar várias receitas com cascas de frutas e outros alimentos que não são considerados nobres.

O abacaxi a abóbora e até a farinha de mandioca ganha novas atribuições com as receitas de reaproveitamento. As sobremesas são as principais opções para a utilização do material ainda não aproveitado. Bolos e doces ganham um sabor especial com o acréscimo desses ingredientes e não perdem o principal atrativo: o sabor.

Alimentação é à base da vida e dela depende o estado de saúde do ser humano.

O desperdício é um sério problema a ser resolvido na produção e distribuição de alimentos, principalmente nos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento. O crescimento da população mundial, mesmo que amparado pelos rápidos avanços da tecnologia, nos faz crer que o desperdício de alimentos é uma atitude injustificável. Por isso, não podemos mais desperdiçar.

Antigamente, as pessoas tinham uma relação natural com o ambiente. A maioria vivia no campo, conhecia as plantas venenosas, criava verduras, frutas, arroz, feijão, milho e mandioca. O contato com os alimentos permitia o seu melhor aproveitamento e as informações passavam de geração em geração.

A promoção da alimentação integral começa diante das dificuldades econômicas pelas quais passa o país. Tornam-se cada vez mais dificuldades e adquirir alimentos adequados ao consumo do dia-a-dia, razão a alimentação equilibrada é atualmente uma das maiores preocupações do nosso cotidiano.

Dessa forma, devemos aproveitar tudo que o alimento pode nos oferecer como fonte de nutrientes.

Dentre os diferentes padrões de alimentação destacam-se as dietas não usuais, sendo as mais abordadas pela literatura: naturalista, vegetariana, macrobiótica e alimentação integral. Elas possuem características específicas e produzem diferentes repercussões sobre o organismo humano.
A alimentação integral possui como princípio básico a diversidade de alimentos e a complementação de refeições, com o objetivo de reduzir custo, proporcionarem preparo rápido e oferecer paladar regionalizado.

Estudos mostram que o homem necessita de uma alimentação sadia, rica em nutrientes, que pode ser alcançada com partes dos alimentos que normalmente são desprezadas. As perdas não ocorrem somente em plantações, transportes e armazenamento inadequado, mas também no preparo incorreto dos alimentos.

Os principais alimentos ou produtos utilizados para complementar a dieta convencional são? Pós (casca de ovo, semente de abóbora); farelos (trigo, arroz, milho); farinhas torradas, raízes e tubérculos.

Só com a conscientização, através da Educação nutricional, é que se pode reverter o quadro alimentar atual do Brasil.

Características básicas:

  • Alto valor nutritivo;
  • Baixo custo;
  • Paladar regionalizado;
  • Preparo rápido

Alimentos que podem ser aproveitados integralmente:

  • Folhas de: cenoura, beterraba, batata doce, nabo, couve-flor, abóbora, mostarda, hortelã e rabanete;
  • Cascas de: batata inglesa, banana, tangerina, laranja, mamão, pepino, maça, abacaxi, berinjela, beterraba, melão, maracujá, goiaba, manga, abóbora.
  • Talos de: couve-flor, brócolis, beterraba;
  • Entrecascas de melancia, maracujá;
  • Sementes de: abóbora, melão jaca;
  • Nata
  • Pão amanhecido;
  • Pés e pescoço de galinha;
  • Tutano de boi

 

1.3 – Educação de Jovens e Adultos no mundo do trabalho

Segundo Paulo Freire (1998) nós professores temos que ter sempre uma visão crítica sobre nossa prática.

Ensinar não e transferir conhecimento, mas criar condições para sua produção ou sua construção. O ensinar-aprender é uma experiência total, diretiva, política, ideológica, gnosiológica, pedagógica, estética e ética.

O educando deve manter aguçada sua curiosidade e estimular sua capacidade de aventurar-se, imunizando-o contra o poder apassivador do “bancarismo”.

O educador democrático, na sua prática docente, deve reforçar a capacidade de crítica do educando, sua curiosidade, sua insubmissão. Essa rigorosidade metódica se alonga às condições em que aprender criticamente é possível, exigindo educadores e educandos criadores, instigadores, inquietos, curiosos, humildes e persistentes.

O professor crítico não é um memorizador ou repedir de frases e idéias inertes, é um desafiador.

A leitura verdadeira me compromete com o texto que a mim se da e a quem me dou e de cuja compreensão me vou tornando também sujeito, me faz pensar certo.

O professor que pensa certo deixa transparecer aos educandos que estar no mundo e com o mundo, como seres históricos, é a capacidade, intervindo no mundo, conhecer o mundo.

Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Ensino enquanto busco, indago, procuro. Pesquiso para constatar, constatando, intervendo, intervindo, educo e me educo.

Pensar certo coloca o professor, ou mais amplamente, à escola, o dever de não só respeitar os saberes que os educando, sobretudo os das classes populares, chegam a elas – construídas na prática comunitária – mas também, discutir com os alunos a razão de ser de alguns desses saberes com ensino dos conteúdos.

Não haveria criatividade sem a curiosidade que nos move e que nos põe pacientemente impacientes diante do mundo que não fizemos, acrescentando a ele algo que fazemos.

A necessária promoção da ingenuidade a criticidade não pode ou não deve ser feita à distância de uma rigorosa formação ética ao lado sempre da estética.

Se se respeita a natureza do ser humano, o ensino dos conteúdos não pode dar-se alheio a formação moral do educando – educar é substantivamente formar.

O professor que realmente ensina, quer dizer, que trabalha os conteúdos no quadro da rigorosidade do pensar certo, nega, como falsa, a formula do “faça o que mando e não faça o que faço”. Pensar certo é fazer certo.

Ensinar exige risco, aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de discriminação.

A prática docente critica do pensar certo envolve o movimento dinâmico, dialético, entre o fazer e o pensar sobre o fazer.

Uma das tarefas mais importantes da prática educativa – crítica é propiciar as condições em que os educandos em suas relações uns com os outros e todos com o professor ensaiam a experiência profunda de assumir-se. Assumir-se como ser social e histórico, como ser pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos, capaz de ter raiva porque capaz de amar.

Nenhuma formação docente verdadeira pode fazer-se alheia, de um lado do exercício da criticidade que implica a promoção da curiosidade ingênua à curiosidade epistemológica, e do outro, sem o reconhecimento do valor das emoções, da sensibilidade, da afetividade, da intuição ou adivinhação.

Ensinar não é transferir conhecimentos, mas criar as possibilidades para sua produção ou sua construção.

É na inconclusão do ser, que se sabe como tal, que se funda a educação como processo permanente. Tornamo-nos educáveis à medida que nos reconhecemos inacabados. Não foi a educação que não fez educável, mas a consciência de sua inconclusão é que gerou sua educabilidade.

O respeito à autonomia e a dignidade do ser do educando é o imperativo ético e não um favor que podemos ou não conceder uns aos outros.

O professor que desrespeita a curiosidade do educando, o seu gosto estético, sua inquietude, sua linguagem, que ironiza o aluno, que manda “ele se ponha no seu lugar” ao mais tênue sinal de rebeldia, tanto quanto professor que se exime de seu dever de ensinar, transgride os princípios fundamentalmente éticos de nossa existência.

Não é possível respeito ao educando, à sua identidade, se não se reconhece a sua importância dos “conhecimentos de experiências feitas” com que chegam à escola.

A prática docente, especificamente humana, é profundamente formadora, por isso, ética.

A capacidade de aprender, não apenas para nos adaptar, mas, sobretudo para transformar a realidade, para nela intervir, recriando-a.

Especificamente humana a educação é gnosiológica, diretiva por isso política é artística e moral, serve-se de meios, técnicas, envolve frustrações, medos, desejos.

A uma relação entre á alegria necessária a atividade educativa e a esperança. A esperança que o professor e alunos juntos possam aprender ensinar, inquietar-se, produzir e juntos resistir aos obstáculos à nossa alegria.

O mundo não é o mundo está sendo. Não somos apenas objetos da história, mas seu sujeito. No mundo de história, da cultura, da política, constato não para adaptar, mas para mudar.

É fundamental que o professor e alunos tenham umas posturas dialógica, abertas, curiosas e não apassivada, enquanto fala e outro ouve. Professor e alunos se assumem epistemologicamente curiosos.

O bom professor é o que consegue enquanto fala trazer o aluno até a intimidade do movimento do seu pensamento. Sua aula é um desafio e não uma “cantiga de ninar”.

O autoritarismo e a licenciosidade são rupturas do equilíbrio tenso entre autoridade e liberdade. O autoritarismo é a ruptura em favor da autoridade contra a liberdade e a licenciosidade, a ruptura em favor da liberdade contra a autoridade.

O papel da autoridade democrática não é transformar a existência humana num calendário “escolar” tradicional, mas que o papel fundamental do aprendizado do conteúdo é a construção da responsabilidade da liberdade que se assume e a reinvenção do ser humano no aprendizado de sua autonomia.

Um espaço pedagógico neutro é aquele que se treinam os alunos para as práticas apolíticas, como se a maneira de estar no mundo fosse ou pudesse ser uma maneira neutra.

A educação é uma forma de intervenção no mundo, que além dos conhecimentos bem ou mal ensinados e/ou aprendidos no esforço da reprodução da ideologia dominante como nos seus desmascaramentos. Dialética e contraditória, só outra dessas coisas! Nem apenas reprodutora nem apenas desmascaradoras da ideologia dominante.

Inclinados a superar a tradição autoritária, tão presente entre nós resvalamos para formas licenciosas de comportamentos e descobrimos autoritarismo onde só houve o exercício legitimo de autoridade.

A educação, especificidade humana, é um ato de intervenção do mundo, mas intervenção que aspira tanto as mudanças radicais na sociedade, no campo da economia, das relações humanas, de propriedade, do direito ao trabalho, à terra, à educação, à saúde quanto a que, pelo contrário reacionariamente pretende imobilizar a história e manter a ordem injusta.

Somente quem escuta paciente e criticamente o outro, fala com ele.

A desconsideração total pela formação integral do ser humano e sua redução a puro treino fortalece a maneira autoritária de cima para baixo.

Respeitar a “leitura de mundo” do educando é a maneira correta que o educador tem de, com o educando é a maneira correta que o educador tem de, com o educando e não sobre ele, tentar a superação de uma maneira mais ingênua por outra mais crítica de inteligir o mundo. Respeitar a leitura de mundo do educando é tomá-la como ponto de partida para a compreensão do papel da curiosidade, de modo geral, e da humana, de modo especial como impulso na produção do conhecimento.

O desrespeito a leitura de mundo do educando revela o gosto elitista, antidemocrático, do educador, com ele não fala.

O progresso científico e tecnológico que não responde aos interesses humanos perde sua significação.

O saber na busca da diminuição da distancia dos explorados é o saber fundado na ética nada legítima à exploração dos homens pelos homens.

A abertura ao querer bem faz a atividade docente e a discente não se separarem de uma experiência alegre por natureza. A alegria não é inimiga da rigorosidade. A alegria faz parte do processo da busca. Ensinar e aprender não podem dar-se fora da procura, da boniteza e da alegria.

A prática educativa é tudo isso: afetividade, alegria, capacidade cientifica, domínio técnico a serviço da mudança ou, lamentavelmente da permanência do hoje.

A percepção dos homens como seres “programados, mas para aprender” e, portanto, para ensinar, conhecer, intervir que faz a prática educativa como um exercício constante em favor da produção e do desenvolvimento da autonomia de educandos e educadores.

 

2 – PRÁTICAS PEDAGÒGICAS

Ingressei na Prefeitura de Suzano em 16 de março de 2010 e fui designada para uma sala de Educação de Jovens e Adultos. Foi minha primeira experiência com esta modalidade de ensino, apesar de não ter nenhuma experiência nesta área, até o momento, considerei um ano bom, houve progresso por parte dos alunos.

Fiquei encantada em acompanhar a vontade em que os alunos têm em aprender. Neste mesmo ano foi oferecida aos professores de Educação de Jovens e Adultos uma pós-graduação na respectiva modalidade em que estávamos atuando. Como existiam mais professores do que as vagas que tinham para oferecer foi feito um sorteio para contemplar os professores que tinham interesse.

Em fevereiro de 2011, novamente consegui outra sala de Educação de Jovens e Adultos, só que essa sala tinha um diferencial, era no período da tarde e a maior parte dos alunos eram adolescentes com múltiplas deficiências.

Neste mesmo ano deu início ao curso de pós-graduação.

Como era uma sala de substituição só pude acompanhar os alunos até abril deste ano.

Para não perder o contato com os alunos de Educação de Jovens e Adultos, a partir de agosto comecei a suplementar na sala do Professor Paulo, ele era dispensado nas sextas-feiras para cursar seu mestrado. Depois tive que novamente suplementar em outra sala, pois o professor Paulo retornaria a dar suas aulas. Mudei para a sala da Professora Sandra, também aluna da ECOSOL, a professora foi dispensada também nas sextas-feiras para realizar um curso que a Secretaria da Educação ofereceu.

Nas primeiras aulas trabalhei o tema cidadania por dois motivos:

  • Primeiro, porque acredito que a educação de jovens e adultos deve ser garantido um aprendizado que dê condições de pensar em seu país, a sua cidade, seu bairro etc…E a partir dessa reflexão, intervir na sociedade.
  • O segundo motivo, é fazer novamente o aluno há refletir em que “mundo” é este em que estamos vivendo, percebendo as desigualdades e diferenças, fazendo com que surge o sentimento de mudança para uma sociedade mais justa e igualitária.

Após estas primeiras aulas, trabalhei com o tema alimentação, em dois aspectos, o biológico e o social. O primeiro por se tratar à importância de uma alimentação equilibrada para a manutenção da saúde durante toda vida e segundo são sugestões de como preparar alimentos de forma a aproveitá-los melhor todos seus nutrientes.

E por último foi realizada uma feira de Economia Solidária, onde os alunos puderam viver na prática uma experiência e sair do mundo das ideias.

 

CONCLUSÃO

Percebi que os alunos já estão tão alienados com o capitalismo que vêm algumas situações do dia a dia como normal ( competição no mercado de trabalho, vestibular, desemprego, etc…)

Os alunos da EJA, são bem interessados e participativos é motivador para qualquer professor observar a vontade que eles tem em aprender.

Gostei muito de direcionar os alunos em produções de texto coletiva em que eles teriam que escrever na lousa individualmente. De início achavam que não eram capazes, após a atividade com minhas intervenções foi aumentando a auto-estima e eles foram se sentindo mais capazes.

Foi importante trabalhar com diversos recursos( filmes, tecnologias, mapas, etc…), pois as aulas se tornaram mais dinâmicas e menos cansativa, sendo mais atraentes aos alunos.

Pela minha prática pedagógica pude notar que quando há algumas atividades que partimos da realidade do aluno há um melhor envolvimento, dos docentes e conseqüentemente um melhor aprendizado.

Outro fator importante foram os agrupamentos produtivos, pois proporcionaram trocas de saberes e experiências, intervindo nos alunos com mais dificuldades e fazendo com que os mesmos adquiriram as competências e habilidades necessárias.

Senti um pouco de dificuldade nas aplicações das práticas pedagógicas, quando era preciso algo diferente nas aulas, como material, laboratório de informática, datashow, etc. Fica difícil quando queremos inovar nossas aulas, se a escola não possui equipamentos e materiais para isso.

A experiência de levar os alunos para a lan house foi fantástica. Pois alguns nunca tinham tido contato como computador e vê-los digitando as receitas foi muito enriquecedor para todos.

A I Feira de Economia Solidária de Suzano foi um sucesso, foi concretizado todo o curso; tanto para os alunos como para nós professores. Podemos sair da teoria e vivenciar uma realidade que só estava no papel.

O projeto de pesquisa foi muito válido, pois fez nos professores repensarmos nossa prática e avaliarmos os resultados.

Espero contribuir, juntamente como os outros professores para que as nossas práticas pedagógicas servirão de inspiração para outros professores.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Brasil. Ministério da Educação e Cultura. Parâmetros Curriculares Nacionais: de 1ª a 4ª Série. Brasília, 1996. (vol. 10).
Cortella, Mário Sérgio. A escola e o conhecimento. São Paulo: Cortez, 1998.
Ferreiro, Emília. Com Todas as letras. São Paulo: Cortez, 1992.
Fórum Brasileiro de Economia Solidária – Carta de Princípios da Economia Solidária. Disponível em: < http://www.fbes.org.br> Acesso em: 14/11/2011.
Freire, Paulo. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1998.
Gentili, Pablo. Pedagogia da exclusão. Petrópolis: vozes, 1995 (cap. 1;3; 6 e 8).
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