Roda de conversa com apresentações digitais

Ficha síntese da Prática Pedagógica

Objetivos da Prática Pedagógica:
A partir dos conhecimentos prévios dos professores sobre Economia Solidária, oferecer subsídios teóricos para que se apropriassem a princípio sobre este tema e que se sentissem aguçados a buscar mais dados e encorajados a inserir este tema em suas aulas , pensando futuramente na inserção do currículo da EJA.

Característica do grupo a quem foi aplicada a prática:
Professores de várias áreas do conhecimento e com experiência na docência de Educação de Jovens e Adultos

Dinâmica de trabalho adotada na prática pedagógica:
Roda de conversa, Power Point: 9º Fórum Social Mundial –Leonardo Boff (2009), PowerPoint sobre a trajetória da Economia Solidária em Santo André, síntese do texto :”Economia Solidária- uma aproximação ao Programa Supletivo Profissionalizante – Educação dos trabalhadores pelos trabalhadores.

Recursos necessários para aplicação: data show, folha xerocada.

Breve currículo do autor da prática pedagógica:
Maria do Socorro Albuquerque – Assistente Pedagógica da educação de Jovens e Adultos de Santo André, professora do Ensino Fundamental do 1º ao 5º ano na Rede Estadual de Ensino. Graduada em Pedagogia com Pós-graduação em Psicopedagogia. Tendo 23 anos de magistério na rede estadual e 12 anos na Prefeitura de Santo André como professora 9 anos e como Assistente Pedagógica há 3 anos

RELATO SOBRE ATIVIDADE APLICADA

Enquanto Assistente Pedagógico da Educação de Jovens e Adultos das EMEIEFs “Cândido Portinari” e “Carolina Maria de Jesus” realizei duas atividades em sala de aula até este momento, ambas relacionadas com os princípios de Economia Solidária: uma sequência de atividades com o filme Ilha das Flores numa classe de EJAI (Multisseriada) e a outra em uma classe de EJAI (Pós-Alfabetização/3ª e 4ª séries) envolvendo uma situação-problema em que sítios vizinhos estavam com problemas em uma barragem utilizada por todos e os alunos deveriam em consenso, chegarem a uma solução de como os sitiantes resolveriam.

A atividade que relatarei a seguir foi realizada na sala dos professores, em duas Reuniões Pedagógicas Semanais de 45 minutos cada, nos dias 11 e 18 de outubro com professores de Língua Portuguesa, Matemática, História, Geografia, Ciências, Educação Física, Arte e Informática da EJA II(5ª a 8ª série) da EMEIEF Cândido Portinari, tendo como objetivo principal conhecer o que os mesmos sabiam sobre “Economia Solidária” e posteriormente repassar os princípios desta economia e a possível inserção no currículo da EJA.

Na primeira reunião, 11 de outubro iniciei passando um PowerPoint sobre 9º-Fórum-Social-Mundial-2009- Leonardo Boff, onde é relatado a desigualdade social, o capitalismo e o desperdício no mundo moderno.Terminado discutimos sobre o que tinham visto e lido e todos, sem exceção, colocaram-se em relação ao que está acontecendo no âmbito mundial com a crescente desigualdade social. A professora de História, contou-nos que mora na comunidade da escola, que se sensibiliza com a pobreza de várias famílias e que o número de desempregados é grande, sendo que grande parte trabalham fazendo “bico” como ajudantes de pedreiro, vendendo CDs piratas, etc. e formalmente poucos exercem suas profissões, quando as têm. O professor que leciona Ciências comentou que fica indignado quando vê as pessoas de sua vila, desempregados e ficam ou no bar ou na calçada conversando ao invés de irem à busca de trabalho, “as esposas ficam na rua e a única ocupação é irem levar e buscar os filhos na escola…poderiam quem sabe vender salgados para ajudar os esposos.” A professora de Língua Portuguesa complementou sua fala“talvez eles não tenham perspectiva de vida”. Fiquei animadíssima, pois a discussão abriu-me uma grande “brecha” para entrar no tema, mas faltavam apenas 15 minutos para reunião terminar e me dei conta que não daria tempo para falar sobre a Economia Solidária e seus princípios, então antes de encerrar falei-lhes sobre o Curso e seu direcionamento, que vinha ao encontro do que falaram depois de assistirem o PowerPoint, que esta economia pode ajudar muito as pessoas excluídas da sociedade como uma nova alternativa de renda, onde também é valorizado a solidariedade, o respeito as diferenças, o “importar-se com o próximo”. Já percebi empolgação em seus olhares e antes de falar sobre a próxima reunião a professora de Arte, disse: “Bem que você poderia passar-nos o que está aprendendo na sua pós…” era só o que eu precisava… Prontamente comuniquei-lhes que na próxima reunião falaria mais sobre o que era Economia Solidária e todos concordaram. Meu objetivo foi parcialmente alcançado, pois pude perceber claramente que não tinham conhecimento sobre o tema.

Durante a semana planejei o que apresentaria para eles no próximo encontro. Já que tínhamos pouco tempo, optei por passar outro PowerPoint sobre a trajetória da Economia Solidária em Santo André, que passa o que vem acontecendo na cidade desde o final da década de 1990 até 2008 (Programas como incubadoras de cooperativas populares, COOPCICLA, seminários, Feira Estadual de Economia Solidária entre outras ações) e depois falar sobre o que é uma economia solidária e a inclusão no currículo da EJA. Embasei-me teoricamente no texto indicado por Sônia Krupa: Economia Solidária – uma aproximação ao Programa Supletivo Profissionalizante “Educação dos trabalhadores pelos trabalhadores”.

Dia 18 de outubro – 2ª Reunião

Antes de iniciar a reunião e os professores chegarem, deixei tudo organizado na sala dos professores, data show, as xérox do texto que iria dar para eles no término da reunião, posição das cadeiras em círculo, para que não perdêssemos tempo nesta organização.

Chegaram pontualmente as 17hs15min e iniciei a reunião falando sobre o que iriam assistir e o que faríamos depois, que seria passar-lhes alguns conhecimentos sobre a Economia Solidária.

Ao passar o Power Point já observei por seus olhares e comentários entre si que não tinham conhecimento sobre o assunto, o que me deixou um tanto preocupada, pois o tempo era escasso e lembrei-me que quando iniciei o Curso não tinha nenhum “conhecimento prévio” sobre o assunto e que demorou um pouco para compreender e esta compreensão efetivou-se depois de muitas leituras, de orientações das articuladoras e principalmente das aulas e indicações de leitura da professora Sônia, mas mesmo assim segui em frente, pensando que o pouco que repassasse para eles naquele momento seria uma semente plantada e que não faltariam oportunidades para retomar o assunto.

Quando desliguei o data show, “choveu perguntas”: É um programa do governo? A prefeitura que financia estes programas? Será a partir do próximo ano que será incluído este tema no currículo da EJA? Pedi calma, mesmo compreendendo suas inquietações e discorri sobre o assunto explanando os conceitos básicos dessa forma de organização:

  • Impossibilita a divisão da sociedade
  • A propriedade privada de meios “individuais” de produção, que caracteriza a pequena produção de mercadorias e não o capitalismo.
  • Todos têm os mesmos direitos de decisão sobre o seu destino. E todos os que detêm a propriedade da empresa necessariamente trabalham nela.
  • A exigência do aprendizado da democracia, pois as relações sociais dessa forma de produção pautam-se pela prática da democracia na tomada de decisões.
  • Na Economia Solidária, cada trabalhador é responsável pelo que ocorre com a empresa, participando plenamente tanto das sobras quanto dos prejuízos.
  • A necessidade de mudança cultural e educacional, pois esta economia precisa que os seres humanos se considerem sujeitos da ação, superando a mentalidade submissa que o capitalismo, desde sua origem, vem, por meio de várias instituições, inclusive da escola e do “modelo do emprego”, impondo aos trabalhadores.
  • A construção da autonomia e do sujeito social é desafio permanente dos trabalhadores na Economia Solidária. A Economia Solidária referencia-se na pessoa humana, plena em suas capacidades e não naquele que vive de representações impostas, como um ator/marionete. Assim, refere-se ao sujeito social: aquele que tem consciência do seu fazer na história.

A cada item que eu ia lendo, procurava ir explicando e acrescentando mais fundamentos e iam surgindo perguntas: “Como incluir estes conceitos na EJA?”

Será que a prefeitura (Secretaria de Educação) irá abraçar esta ideia? Como posso fazer para saber mais sobre este assunto? A professora de História comentou que mora uma família na sua rua, quatro irmãs e cada uma faz um tipo de salgado para vender, só que cada uma vende os seus “já pensou se houvesse união, poderiam até criarem um “empreendimento solidário”!”. Achei interessante seu comentário, indicava que estava compreendendo o que eu estava explicando.

Mas a pergunta que não se calava era: “Como trabalhar com os alunos da EJA”? – Professora de Matemática. Onde encaixar estes conteúdos em cada disciplina? Professora de Ciências. E os conteúdos que temos que seguir?- Professora de informática.

Procurei salientar que deverá se buscar o significado das parcerias estabelecidas na formulação e implementação desse tema,tendo consciência de que os conhecimentos nas áreas, nas disciplinas – seja matemática, física, química, ou português, a língua pátria – vai sendo complementado com conhecimentos da cidadania, do movimento, das instituições governamentais, da maneira como é feita a política no país.

“o método dos professores deve ser de não forçar, mas fazer com que o aluno pense, perceba que pode estruturar o conhecimento que já possui e os novos conhecimentos que adquiri” (Ribamar, marceneiros).

Entreguei-lhes o texto que havia preparado com fundamentação teórica e fizemos uma leitura compartilhada:

A esses princípios devem se articular os conteúdos. A proposta curricular para Economia Solidária exige um “currículo em ação” onde, a cada passo, escolhas e procedimentos são revistos. Nessa concepção, currículo é confronto coletivo de saberes: o saber escolar/seleção de conteúdos do saber sistematizado e o saber popular, que o aluno/coletivo representa e que é o resultado das formas pouco ou nada sistematizadas, que as classes populares criam na vivência cotidiana dos problemas que enfrentam. (Garcia, 1984; Kruppa, 1995).

Democracia, solidariedade e autonomia são valores, constantemente, buscados e discutidos e devem fazer parte do currículo, em suas três dimensões: a explícita, a oculta e na revisão do que é o currículo nulo, na abertura de discussão de tabus e interditos (Moreira, 1992, 1995).

• A realidade, que serve de mediação entre educador e educando, é a grande instigadora das formas pelas quais os eixos do currículo devem ser trabalhados;
• O diálogo, inimigo das práticas autoritárias, deve marcar as relações entre educadores/as e educandas/os e educandos/as entre si, em busca de uma “linguagem democrática e autogestionária”.

Toda educação é um ato político e como tal se posiciona a favor de alguém e necessariamente contra alguém, o que nesse caso precisa se tornar explicito.

Quais são as representações que esse currículo deve construir? De novo, a atenção às três dimensões do currículo e suas representações: o explícito, o nulo, o oculto. Quais são as representações que esse currículo deve desmistificar. O que é ser professor? Como socialmente se representa essa profissão? O que é o saber técnico? Como ele deve ser representado na autogestão. Como os alunos veem os profissionais técnicos, inclusive o professor? O que é ser aluno de EJA? Quais são as representações que os professores fazem desses alunos? Quais representações os alunos fazem de si mesmos?

Durante a leitura havia um ou outro comentário satisfatório quanto a ideia da inserção da Economia Solidária na EJA, mas pareciam não crer que poderia ser efetivado, devido as políticas públicas.

Iríamos iniciar a leitura de uma aproximação dos conteúdos possíveis a um currículo de Economia Solidária para trabalhadores dentro de eixos norteadores, mas faltavam dez minutos para entrarem em aula e decidi parar a leitura, mas ficaram com o material para estudo.

Pediram a continuidade deste estudo “Poderíamos continuar estudando sobre este tema, é interessante e inovador e acredito que se for implementado trará ótimos frutos para a Educação de Jovens e Adultos” – Professora de matemática, que foi apoiada pelos colegas. Quem estava com pen drive pediu que passasse o PowerPoint.

Acredito que ainda dará para retomar alguns aspectos, mas não na próxima reunião, pois temos outras demandas, pensei em independente de fazermos o estudo juntos, enviar materiais para seus e-mails para que se apropriem mais sobre o assunto, dando assim um “pontapé” inicial como multiplicadora.

Penso que meu objetivo foi atingido a priori, pois houve interesse e interação do grupo, as questões colocadas foram pertinentes, acrescentando na hora do intervalo fui dar um recado para eles e ainda tocavam no assunto, trocando ideias com as professoras da EJAI e aproveitando a minha presença a professora de História perguntou se poderia incluir este tema no seu planejamento do 4º Bimestre e se a ajudaria com estratégias para apresentar o tema, concordei e fiquei feliz com seu interesse.

Atividade aplicada fundamentada no texto: “Economia Solidária – uma aproximação ao Programa Supletivo Profissionalizante “Educação dos trabalhadores pelos trabalhadores”.
9º-Fórum-Social-Mundial-2009- Leonardo Boff.

ANEXOS

Power Point: 9º Fórum Social Mundial –Leonardo Boff (2009)

PowerPoint sobre a trajetória da Economia Solidária em Santo André

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