O Princípio da Cooperaçao Solidária na Formação do Professor de Edcuação de Jovens e Adultos

Autora: Elisete Maria dos Santos Pereira
Orientador: Sergio Amadeu da Silveira

 

AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos os meus professores que atuam na Educação de Jovens e Adultos pela participação efetiva, empenho na realização de um trabalho sistematizado com os educandos no qual muito contribuíram pra a realização deste trabalho. Sem a sua dedicação e crença numa melhoria da educação este trabalho não seria possível.

 

“Se a educação sozinha não pode mudar a sociedade, tampouco sem ela a sociedade muda”
Paulo Freire

 

SUMÁRIO

  • 1. INTRODUÇÃO
    1.1 Justificativa
  • CAPITULO 1
    O princípio da cooperação solidária
  • CAPITULO 2
    Professor como mediador de mudanças
  • CAPITULO 3
    A  formação do professor de EJA no princípio da cooperação solidária
  • CONCLUSÃO
  • REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
  • PRÁTICAS PEDAGÓGICAS

INTRODUÇÃO

O sistema capitalista é o modelo vigente desde a queda do feudalismo. Este sistema é baseado na acumulação de capital e riquezas onde o que impera é o lucro, e consequentemente o crescente aumento da competividade. O principal elemento do modelo capitalista é ser desigual e combinado, onde parte dos trabalhadores é bem sucedida, o restante perde suas qualificações e muitos se tornam miseráveis (Singer, 2004). Isso no decorrer das décadas gerou uma onda de consumismo acarretando enormes diferenças sociais e inversão de valores humanitários como a solidariedade, a cooperação e a equidade . SINGER,2002.

A economia solidária é uma nova forma de economia que se contrapõe ao capitalismo que é baseado na separação  entre trabalho e posse dos meios de produção, ou seja, uns trabalham e outros são donos. A economia solidária vem reconciliar o trabalhador aos seus meios de produção através da autogestão, onde ele tem  autonomia nas  decisões sobre a produção, do trabalho coletivo onde cada integrante contribui com seu trabalho e a gestão democrática onde  o peso do voto de cada um é igualitário  SINGER,2002

A economia solidaria surge no mundo em meados do século XIX com as cooperativas criadas a partir de empreendimentos falidos e abandonados por seus donos. Este tipo de cooperativa entra num mercado competitivo e sua administração é realizada por profissionais renumerados, distanciando assim dos princípios de cooperação e se apropriando cada vez mais dos princípios do sistema  capitalista.

A partir de 1980, com o avanço das tecnologias houve mudanças significativas no panorama mundial, onde muitos estudiosos consideram a terceira revolução industrial. Estas mudanças trouxeram maior conforto para a humanidade porém  trouxe a exclusão do trabalhador do mercado de trabalho e  a necessidade de se repensar sobre as questões ambientais.

Neste panorama que a Economia Solidária surge e avança rapidamente como movimento alternativo alicerçado por princípios de equidade, gestão democrática, cooperação e autonomia visando o desenvolvimento de uma economia local.

Um empreendimento de economia solidária fundamenta-se na cooperação solidária que visa a construção de uma sociedade que garanta o bom viver de todos e de cada um.  Mance, 2008. Com o capitalismo, a competição se sobrepõe ao principio da colaboração.

“Quando a competição sobressai em relação à cooperação, a grande tendência é a exclusão daqueles que fracassam ou não estão aptos, enfraquecendo o ambiente sistemicamente. Em contrapartida, quando a cooperação preside as relações, cria-se um ambiente tolerante e igualitário, tornando possíveis processos de recuperação de economias abaladas (MYRDAL, in: ARROYO: 2008).

O resgate da cooperação solidária é de fundamental importância para a construção de uma sociedade mais justa, onde não impere o individualismo  diminuindo assim  o abismo social originário do sistema capitalista.

Justificativa

A escola está inserida dentro da sociedade e faz parte da formação intelectual, cultural e social do individuo. E o professor é um importante articulador dessa formação, cabe a ele interagir no ambiente escolar, organizando saberes, identificando habilidades e competências, mediando diferenças, desenvolvendo o senso critico. Enfim, o professor é de fundamental importancia na formação do individuo e na inserçao deste na sociedade.

E o professor que lida com educandos e educandas de EJA deve estar preparado para o trabalho com uma clientela que traz consigo uma bagagem de conhecimentos relacionados à sua prática social. Uma visão de mundo influenciada por seus traços culturais de origem e por sua vivência social, familiar e profissional. Podemos dizer que eles trazem uma noção de mundo mais relacionada ao ver e ao fazer(Portal do MEC).Uma característica frequente no aluno de EJA é a baixo autoestima que é reforçada pelo fracasso escolar e ascensão social. Ele vê a escola como o  lugar de resgate dessa autoestima e a ponte de acesso ao progresso social. A formação do professor de EJA deve estar voltada para este aluno que espera que a escola diminua essas diferenças sociais e que faça com que o individuo atue na sociedade de modo a transformá-la numa sociedade mais justa, onde o individualismo dê lugar à coletividade e a colaboração, diminuindo assim a competição que gera a busca desenfreada de  vantagens e lucros,  invertendo a ordem de valores tão necessários à construção de uma sociedade mais justa.

Por isso, consideramos de suma importância trabalhar com os professores de EJA o princípio da colaboração solidária para que estes introduzam em suas práticas pedagógicas ações que possibilitem o debate  e aprofundamento sobre o tema e estimulem ações de colaboração solidária entre os educandos.

CAPITULO I
O PRINCIPIO DA COOPERAÇÃO SOLIDÁRIA

A economia solidaria se origina da primeira revolução industrial com  os artesãos excluídos pelo mercado se uniram para formar uniões de ofícios dando surgimento às primeiras cooperativas. Esse movimento deu origem ao cooperativismo que ganhou força no final do século XIX e em boa parte do século XX surgindo grandes cooperativas que disputam o mercado com os grandes conglomerados capitalistas e geridas por administradores remunerados e onde os  sócios são mero coadjuvantes, distanciando dos princípios originais do cooperativismo.

Na década de 80 sob os efeitos da globalização, muitos trabalhadores se viram excluídos do mercado de trabalho. Surge uma nova forma de cooperativismo resgatando suas origens históricas. Esse novo cooperativismo trouxe inovações administrativas baseadas na autogestão passando a ser conhecida como Economia Solidária.

“A economia solidária é outro modo de produção, cujos princípios básicos são a propriedade coletiva ou associada do capital e o direito à liberdade individual. A aplicação desses princípios une todos os que produzem numa única classe de trabalhadores que são possuidores de capital por igual em cada cooperativa ou sociedade econômica.”(SINGER, Paul, 2003)

Num empreendimento solidário os  trabalhadores são os detentores dos meios de produção, as decisões sobre retiradas e  investimentos são coletivas e realizadas em assembleias, prevalecendo assim o interesse dos sócios. A autogestão como é chamado esse modo administrativo está diretamente ligado à autonomia sendo cada um responsável pelo seu bem estar e pelo do outro criando possibilidades de autogestão dos meios.

A autonomia e a autogestão fazem parte dos princípios de economia solidária, assim como a equidade, a solidariedade, a sustentabilidade e a cooperação .

Num mundo cada vez mais competitivo estes princípios são fundamentais para o resgate de valores cada vez mais esquecidos ou invertidos na escala social. Segundo Milton Santos (2001) o consumismo e a competividade levam ao emagrecimento moral e intelectual da pessoa, reduzindo sua personalidade e sua percepção do mundo que vive. O autor faz uma comparação entre competição e concorrência sendo esta ultima considerada saudável com o intuito de obter melhores resultados. Já a competitividade baseia-se numa batalha onde a única regra é a conquista da melhor posição, onde tudo vale  e o que se origina é um afrouxamento de valores morais.

“ A globalização mata a noção de solidariedade, devolve o homem à condição primitiva de cada um por si e, como se voltássemos a ser animais da selva, reduz as noções de moralidade pública e particular a um quase nada” SANTOS, 2001

Santos defende que é possível a construção de um outro mundo com uma globalização mais humanizadora, com a criação de uma sociedade mais justa, equilibrada e racional. A economia solidária fundamenta-se neste projeto de globalização tomando um percurso de desenvolvimento sustentável e integrado para geração de melhor qualidade de vida. Para isso faz-se necessário a construção de uma nova cultura.

“É importante um processo de construção de novos parâmetros culturais que possam sustentar a implantação da Economia Solidária, não somente como uma alternativa econômica, mas como uma nova forma de relacionamentos humanos baseados na cooperação e em conceitos profundamente socialistas. Uma nova sociedade torna-se necessária.” BARRETO, 2003

Segundo Barreto (2003) não é o homem que muda, mas a compreensão sobre ele e os meios pelos quais ele aprende e transforma o mundo em que vive. Sendo a cooperação o processo e não o fim em si. A transformação do modo como as pessoas estão organizadas, como pensam e de como se veem como atores neste processo é essencial para a implantação e sustentação da economia solidaria.

Mas o ser humano é competitivo ou cooperativo? Em sua essência o ser humano apresenta os dois lados: um lado egoísta e individualista e outro onde ele apresenta boa vontade com o outro ser. Com a o capitalismo, esse lado competitivo se acentuou ocasionando um individualismo onde impera a lei do mais forte, do vencedor, onde não há espaço para cooperação e a solidariedade.

Essa transformação onde a cooperação abra cada vez mais espaço entre nossa sociedade é chamada por Barreto (2003) por Cultura da Cooperação onde ações sociais positivas são estimuladas.

“Cultura da Cooperação é o conjunto de práticas e ações sociais, alicerçadas em crenças e princípios positivos, aprendidas, praticadas e partilhadas no grupo, onde cada indivíduo sente-se parte de um mesmo todo, co-responsável pelo bem comum. Nela, a consciência da possibilidade da satisfação de necessidades humanas legítimas através do processo cooperativo, estimula o exercício da empatia e da compaixão, proporcionando sentido e segurança ao grupo, estimulando a auto-estima e a confiança mútua.(Barreto, 2003)

O exercício de ações positivas baseadas na empatia e compaixão fortalece as relações coletivas tornando-as mais humanizadas e legitimando o espirito da cidadania.

Ao nos reportar à ações sociais positivas, exercício da cidadania e relações coletivas, não podemos deixar de pensar no ambiente escolar, sendo o primeiro local saindo do âmbito familiar que nos deparamos com conflitos de relações e aprendizado de relacionamento coletivo. Na escola passamos os primeiros anos de nossa vida e formamos os princípios básicos das relações interpessoais que levamos ao longo da vida, onde obtemos formação intelectual, cultural e social.

O desafio é tornar a escola um ambiente cooperativo onde não haja espaço para a competição e que esteja fortemente embasada nos princípios da solidariedade, da equidade e da cooperação, formando indivíduos conscientes de sua responsabilidade no coletivo garantindo assim uma participação na construção de uma sociedade mais equilibrada e sadia.

Para que isso seja possível é necessário o envolvimento de toda comunidade escolar, desde a direção ate os auxiliares que compõem o quadro, pois é o modelo de nossas atitudes que mostra aos alunos que ajudarão Essa tarefa não é fácil já que as pessoas carregam suas experiências e ideias que construíram ao longo da vida e que a diferenciam de  outras do grupo, tornando a heterogeneidade um desafio para a proposta. Para vencer esse desafio é necessário o continuo exercício da reflexão das ações empreendidas, somente o constante processo de ação-reflexão-ação faz com que haja transformação. Toda a comunidade escolar deve se empenhar num processo educativo com ações humanizadoras, tornando um ambiente escolar cooperativo e solidário. Não adianta um discurso quando não há modelos a seguir, o discurso deve ser coerente com a pratica para conseguirmos eficácia na formação dos alunos.

CAPITULO II
PROFESSOR COMO MEDIADOR DE MUDANÇAS

A escola, como qualquer outra organização humana não fica imune à força da transformação que ocorre historicamente em nossa sociedade. As mudanças são inevitáveis e o homem é responsável pelo processo de mudanças, respondendo por sua formação. A prática educacional tem o privilégio de incidir e operar diretamente sobre o processo evolutivo da sociedade. A escola não  pode isolar-se desse processo evolutivo, ao contrario, ela tem que se adequar e procurar formas de mobilização, com ações positivas que irão caracterizar a sociedade do amanhã. Este processo de mobilização devera ser contínuo e constantemente repensado para ser eficaz.

“ Eis que a escola é o espaço apresenta-se como espaço adequado , onde se moldam os projetos e se adestram os agentes das mudanças que irão caracterizar a sociedade de amanhã.” FERRACINE,p7

Para muitos sociólogos, a educação é um veiculo direto de mobilidade social. O autor considera que o Brasil caracteriza-se pela desigualdade social e onde as classes dominantes reforçam a manutenção da ordem social ampliando  cada vez mais seus privilégios. Nesta situação a escola jamais teria condições de modificar o panorama social. Seria uma luta desigual e injusta com a educação lutando contra um regime dominante, apenas conseguindo algumas alternativas para os menos favorecidos.

Ela sozinha não faria o milagre de transformar a sociedade, nem de redimir as camadas marginalizadas do poder e da riqueza da nação.FERRACINE,1990,p9

Segundo Ferracine, a escola apenas contribuiria para estender alguns benefícios aos menos favorecidos. Acredita que a solução dependeria de uma mobilidade integral com a adoção de medidas de grande efeito, de mudanças em estruturas e de uma criação de uma nova mentalidade. A escola é uma importante alternativa neste processo de mobilização sendo ela de caráter permanente onde sempre haverá o que aprender, sendo o  homem  sujeito da própria educação, assumindo a busca pela superação, transpondo seus limites, descobrindo habilidades e competências. Como diz Paulo Freire, “ninguém educa ninguém porém e necessário que haja interação com o meio, pois homem nenhum é uma ilha, com necessidade de se relacionar com seus semelhantes, numa relação constante de troca e consequentemente aprendizado. O homem necessita de relações coletivas  já que ele vive em  sociedade e é nela que cria a sua identidade individual e coletiva, quando busca o mesmo objetivo com seus parceiros o homem cresce, aprende e se fortalece. Portanto o homem necessita da coletividade para educar-se e construir sua historia, fazendo com que o individualismo seja antagônico para sua superação. Essa caminhada é comunitária conforme nos diz Ferracine:

“Ninguém pode educar-se sozinho. A caminhada devera ser comunitária. Cada qual agindo como sujeito da própria história, mas participando com os demais do mesmo objetivo social. Esses dois conceitos de comunicação e intersubjetividade integram-se no de comunhão. A busca do aperfeiçoamento deverá acontecer em estado de comunhão, ou seja, de cooperação mútua. “FERRACINE,1990,p14

Ferracine defende que a educação se torna autentica quando existe uma relação de coparticipação entre os sujeitos, sem domínio ou substituição sendo caracterizada pelo respeito mútuo e a liberdade. Numa relação com estas características não cabe a figura do professor como ser absoluto guardião do saber, nem de uma figura autoritária. O professor não é  um instrutor de autômatos, mas de pessoas detentoras conscientes ou não de competências próprias. O aluno da EJA (educação de jovens e adultos), carrega ainda a coletânea de aprendizado ao longo do seu percurso de vida. Sua história e reflexo de suas decisões, de seus ideais e sonhos e procura na escola não somente o saber, mas o meio para uma mudança almejada. O retorno à escola significa a tentativa de uma ascensão social, de uma melhoria de vida.

Porém as adversidades são inúmeras: cansaço, obrigações de trabalho ou família, estímulos diversos do mundo, tornam a permanência difícil.  Se o educando não encontra na escola um ambiente estimulante, de troca de conhecimento e melhoria da autoestima ele a abandona. A taxa de evasão na modalidade é muito grande. Portanto o ambiente escolar deve ser acolhedor e estimulante. O educando da EJA deve reconhecer no professor o parceiro, o estimulador, o orientador para sua aquisição de conhecimento.

O professor deve valorizar o conhecimento prévio do educando, deve conduzir o aluno na descoberta do conhecimento, no desenvolvimento de suas habilidades e principalmente no resgate e  melhoria da autoestima. Porém a realidade da escola e diferente daquela que o educando idealizava. Para o aluno que há muito tempo deixou o banco escolar, com a recordação de um ensino  conteudista, de uma forma de educação tradicional, há um choque com a nova pedagogia. O aluno não entende que ele e sujeito do seu aprendizado e não admite que tem que buscar seu próprio conhecimento, para ele o professor que tem o papel de transferência de saber. Os trabalhos de pesquisa, de atividades em grupo ou o uso de recursos como o vídeo ou internet, exigem do aluno uma pratica como educando que não está acostumado, e não é a ideia que fazia da escola.

Essa diferença entre a imagem idealizada e a realidade também é um dos motivos que fazem o aluno da EJA desistir. Ele não se julga capaz de realizar as atividades diferenciadas daquelas mais tradicionais a que estava acostumado.  Para ele participar de um debate, assistir a  um documentário ou filme e perda de tempo. As atividades que estimulam a critica e a oralidade se tornam um confronto difícil com sua descrença da própria capacidade. Com o educando da EJA o professor tem um grande desafio que é o de realizar atividades que exijam estas habilidades, ao mesmo tempo estimular a estima dos educandos fazendo que eles acreditem serem capazes de realizá-las. Além disso, é necessário todo um processo de convencimento que este tipo de ensino trará benefícios para a formação completa do aluno e que repercutira no seu trabalho e em suas relações.

Outra característica do aluno de EJA é que ele muitas vezes não recebe muito bem a proposta de um  trabalho coletivo. Mesmo quando faz parte de um grupo, sua participação é pequena e individualista. O professor tem que exercer o papel de mediador nos conflitos surgidos nestes trabalhos, mostrando a necessidade de cooperação, incentivando a pesquisa e o mais importante, realizar uma avaliação do professor juntamente com o aluno para que este perceba a contribuição que estas habilidades trarão para sua formação.

“ A vantagem de se desenvolver uma consciência critica está também na abertura para a criatividade. Uma vez que a inteligência está habilitada, dentro do processo de reflexão avaliativa, a criticar os fatos que a solicitam e a envolvem, vai o educando adquirindo o espírito de inventividade.” FERRACINE, 1990,p61

Como diz Ferracine, o processo de avaliação é necessário para se formar um indivíduo crítico e, consequentemente, abre as portas para a busca de soluções adequadas. Para os alunos da EJA como já foi citada, a avaliação se torna um instrumento de percepção da superação de obstáculos impostos pela própria descrença e pelo apego ao tradicional. Ao participar do processo avaliativo, o educando percebe que todo o receio na realização de um trabalho diferenciado era infundado e que o ganho é muito maior e vale a pena transpor este obstáculo. Logicamente o processo de desenvolvimento dessa percepção é longo e difícil, mas com um trabalho efetivo, onde o professor apresenta desafios constantes e encaminha o aluno a solucioná-los, buscando formas de estimular o pensamento crítico e no fim de cada etapa efetuar uma avaliação crítica do processo, o educando deixará cada vez mais de lado a resistência ao novo e ao coletivo.

CAPITULO III
A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE EJA NO PRINCIPIO DA COOPERAÇÃO SOLIDÁRIA

O professor tem um papel de extrema importância na formação do indivíduo. Cabe  a ele intervir, mediar, instigar, sugerir e problematizar para  que o aluno reflita e haja um aprendizado significativo. O professor deve estar constantemente refletindo sobre sua prática, buscando meios para que o aluno desestabilize e saia da zona de o conforto onde se encontra.
Como foi apresentado no capitulo anterior, o educando da EJA resiste a atividades coletivas e quando participa, as realiza com certo individualismo não cabendo a cooperação. Isto é resultado da sociedade capitalista onde o individualismo impera contra a solidariedade. Para se contrapor a esta situação, o professor deve também estar ciente do seu próprio individualismo e da falta de cooperação que permeia o dia a dia de qualquer cidadão contemporâneo.

Na escola onde atuo como coordenadora da EJA no Município de São Bernardo do Campo percebo a dificuldade que os professores tem ao propor atividades coletivas, por isso foi iniciado um plano de formação com os professores para que estes refletissem sobre sua prática educativa .

O grupo compõe-se de dezesseis professores que atendem quinze salas no total, sendo 3 professoras do  primeiro segmento , cuja  formação básica é a pedagogia e   13 professores do segundo segmento, com formação em diversas áreas, chamados de especialistas .essa diversidade de formação, com cada profissional atuando em sua área tornando a educação segmentada faz com que exista um certo de individualismo de atuação. Isso é natural, pois o professor de uma área dificilmente consegue ter um olhar para a área do outro. Isso não acontece da mesma forma com as professoras cuja formação é a pedagogia e atuam com todas as áreas em sua sala. Esse individualismo de atuação se torna um obstáculo grande para o trabalho cooperativo. Portanto o primeiro passo para um formação foi detectar atitudes cooperativas entre o grupo e fazer a reflexão sobre a melhoria do coletivo.
Numa conversa com o grupo de professores surgiram várias as falas de cooperação no trabalho pedagógico, como troca de ideais, surgimento de parcerias entre as áreas, necessidade de diálogo entre as áreas e de planejamento. O grupo deixou claro que gosta do trabalho coletivo e o faz com humor evitando conflitos na equipe.

Em HTPC ( Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo) foram realizadas algumas intervenções e discussões sobre o tema. Num primeiro momento  foi realizado uma atividade onde o objetivo era refletir sobre o valor real que  atribuímos às coisas. Esta reflexão seria necessária para impulsionar um entendimento sobre solidariedade, porque o desapego das coisas materiais, o valor que damos a elas,  é essencial para a apropriação dos principios da Economia Solidária.

Em algumas observações em sala de aula quando a atividade é em grupo nota-se a falta do espírito de equipe nos alunos. Eles demonstram não saber trabalhar no coletivo, tomando para si as atividades individuais sem qualquer participação no grupo, como se a parte não fizesse parte do todo .É   evidente nas observações a pouca percepção que os alunos tem de co-participaçao.
Os professores afirmam que isto acontece em qualquer atividade que exija parceria. Partindo dessa afirmação, fica evidente  a carência formativa dos alunos, surgindo assim a necessidade de um trabalho efetivo que desenvolva o espirito de equipe onde haja cooperação e participação. Para isso é necessário que o grupo de professores compreenda seu papel de mediador e formador e planeje estratégias de trabalho que levem os alunos a se empenhar em trabalhos coletivos. O grupo de professores detecta o problema mas ainda não se sente motivado para a tarefa,como nos fala Ferracine:

“Ao aceitar o próprio papel de educador, o professor tem de estar bem motivado. Esta motivação pessoal tem duas fontes: primeiro, a nobreza que o magistério desempenha junto a comunidade; depois, a relevância de sua missão para a conjuntura sócio-politica.”FERRACINE, 1990,p.63

O professor tem de estar consciente e crente do papel que executa para solidificar qualquer desenvolvimento de projeto. Estar convicto de onde quer chegar e motivado para este fim faz com que o sucesso do projeto educacional seja efetivo. O trabalho de formação com o grupo é continuo e os debates giram em torno da busca de estratégias. As parcerias entre as áreas surgem e os trabalhos em grupo são incentivados cada vez mais pelos professores. Como qualquer projeto pedagógico é necessária uma avaliação. Todos os trabalhos realizados tiveram uma avaliação, não do conteúdo, mas das estratégias, do aprendizado sobre o trabalho em equipe. Num acompanhamento de uma avaliação, alguns alunos se pronunciaram dizendo como se sentiram incomodados em realizar a pesquisa, mencionaram que até pensaram em desistir por se mostrarem inibidos com a apresentação ou incapazes de finalizar o trabalho. Com a mediação dos professores envolvidos eles perceberam que não foi difícil como imaginaram e que acreditam que ganharam com isso, se sentindo mais capazes.

Em vista desse resultado, o grupo de professores se sentiu motivado a promover mais trabalhos em grupo formando parcerias com outras áreas. Isso estava previsto já que  a rede de ensino do Munícipio de São Bernardo do Campo na qual a escola está inserida está elaborando a proposta curricular baseada no currículo integrado. Durante todo o ano os professores tiveram formações mensais para discutir a proposta e os eixos que a baseiam: Memória e territorialidade, Linguagens, Cultura e trabalho. Já efetivando a proposta curricular, o grupo se empenhou em integrar as disciplinas surgindo assim diversos trabalhos coletivos entre os alunos e a proposta  para o próximo ano letivo  é de realizar um planejamento de atividades com todos os alunos  para que estes aos poucos se acostumem com o trabalho coletivo e possam cada vez mais desenvolver as habilidades necessárias para este trabalho.

Logicamente que o trabalho em equipe não traduz o principio de cooperação solidária   porém é um caminho para se chegar a ele. Concomitante a estes projetos coletivos, a análise de atitudes solidárias e cooperativas continuou com algumas dinâmicas e discussões sobre competição versus cooperação nas formações. O debate girou em torno da necessidade de se trabalhar a competição já que a sociedade capitalista é competitiva e a necessidade de desenvolver a cooperação. A conclusão que o grupo chegou é que a competição é saudável quando se alia à cooperação.

“ Concorrer e competir não são a mesma coisa, a concorrência pode ser saudável sempre que a batalha entre agentes, para melhor empreender uma tarefa e obter melhores resultados finais, exige o respeito a certas regras de convivência pré-estabelecidas ou não. Já a competividade se funda na invenção de novas armas de luta, num exercício em que a única regra é a conquista de melhor posição. A competição é uma espécie de guerra em que tudo vale e, sua prática provoca um afrouxamento dos valores morais e um convite ao exercício da violência.” SANTOS,Milton, 2001, p57

Como diz o autor citado, a concorrência é positiva quando se tem um mesmo objetivo. Já a competição resulta em inversão de valores. Na educação não podemos estimular absolutamente nada que resulte numa inversão de valores. Ao contrario, a escola deve estimular a propagação de ações e pensamentos que contribuam para uma sociedade mais equilibrada e justa.
Porem na educação, estimular a concorrência se torna uma tarefa difícil já que a linha divisória entre concorrência e competitividade é muito tênue e a maturidade dos alunos para discernir  sobre essa diferença juntamente com o reforço dos estímulos que a sociedade capitalista impõe, resultam na impossibilidade de se trabalhar a concorrência  aliada à cooperação. Esta foi a conclusão que o grupo chegou, reforçando sua convicção que o melhor caminho para um mundo mais solidário é desenvolver o espirito cooperativo.

Na continuidade no trabalho reflexivo sobre cooperação, numa outra formação foi discutido sobre as atitudes solidárias que encontramos nos nossos educandos, fora do contexto de uma atividade coletiva. Conversando sobre estas atitudes, conseguimos detectar algumas como a ajuda ao colega com dificuldade, empréstimo de materiais e preocupação quando um colega falta ou pensa em abdicar de estudar. Estas ações foram identificadas em salas em que o grupo já vem estudando junto nos anos letivos anteriores mostrando que o laço se torna mais forte na medida que se conhecem. Isso é natural do ser humano, mas na EJA o fluxo de entrada e saída de alunos é constante, o que dificulta a efetividade do trabalho.

Foram escolhidas duas salas para uma observação, sendo uma composta de alunos que estão juntos há pelo menos 3 semestres e outra sala formada com alunos novos, recém matriculados. Nas duas salas há distinção de idades, havendo jovens compondo o grupo juntamente com pessoas de mais idade. Na sala cujo grupo está junto há mais tempo, há alguns alunos recém-matriculados, mas nota-se na observação que a sala é participativa, acolhedora, com atitudes de amizade e respeito. Os alunos novos demonstram que sentem incluídos na sala. Quando chegam, entram e cumprimentam, conversam esperando o professor, num clima harmonioso. Com os professores acontece a mesma coisa, com atitudes de brincadeiras e descontração.

Porém, na outra sala observada, os alunos entram e sentam, não se dirigindo ao grupo para cumprimentar, somente com alguns alunos mais próximos. Durante a aula observa-se pouca participação do grupo, cada aluno realizando suas atividades individualmente. Os professores tentam interagir, buscando a participação, mas a manifestação é de poucos mais desinibidos.
Em HTPC foi retomado com os professores esses apontamentos feitos durante a observação. O grupo docente se manifestou dizendo que o trabalho com a sala mais participativa e efetiva é mais prazeroso e conseguem obter melhores resultados, tanto no desenvolvimento intelectual, oral e cooperativo. Numa sala com estas características é possível propor atividades em grupo cujo foco é a participação e a cooperação. Já na outra sala os professores relataram as dificuldades de se obter um resultado positivo. Os alunos se recusam a realizar trabalhos em grupos, ou quando aceitam, a resistência na participação é bem maior, continuando com o individualismo mesmo estando numa atividade coletiva. Nesta sala surgem muitos conflitos originários dessa falta de união, como a falta de respeito às diferenças e ao direito do  outro.

A conclusão que o grupo chegou foi que a afetividade conquistada pelo conhecimento um do outro contribuiu para que a sala tivesse essa característica. O que não acontece na outra sala. Portanto é necessário um processo de conhecimento e desenvolvimento de afetividade com o grupo para se conseguir resultados positivos de cooperação.

Foi proposto ao grupo de professores que pensassem em atividades que resultassem na melhoria desse comportamento. Primeiramente foram elencados alguns aspectos a serem trabalhados para se obter sucesso como conhecimento do outro, atenção e respeito às diferenças, espírito de companheirismo, a importância da troca de saberes e experiências. Os professores se reuniram para elaborar um plano de ação visando estes aspectos. A proposta surgida foi trabalhar com atividades onde predominam o diálogo como roda de conversa, fórum, jogos cooperativos e parcerias formadas com as diferenças. A professora de Língua Portuguesa juntamente com a de Historia propôs um trabalho de escrita e relato das memorias de cada um, compostas de temas como infância, família, trabalho, amizade. O professor de Geografia com o de História contribuiriam com o estudo das diferenças regionais e culturais existentes na sala, enfocando o respeito às diferenças e seu poder enriquecedor.

O professor de Matemática propôs trabalhar alguns jogos cooperativos onde a participação de um depende do outro mostrando assim que o sucesso de uma empreitada depende do espirito de cooperação e não do individualismo. O professor de Ciências propôs um fórum de debates de temas controversos que permeiam a diferença de idade e cultura existentes na sala, colocando alunos para defender pontos de vistas diferentes daqueles que originalmente têm, objetivando assim uma mudança da visão que se tem. Os temas pensados foram drogas, sexo e valores sendo estes materiais ou não.

Alguns trabalhos foram observados para serem analisados pelo grupo posteriormente. Foi feito o acompanhamento da atividade sobre as memórias da infância. A professora colocou numa mesa vários copinhos com elementos como café, canela, amaciante de roupas, lavanda, agua sanitária, alecrim, folhas de arvores, terra molhada. Em seguida leu um poema de Casemiro de Abreu, “Meus oito anos” que fala das lembranças que os cheiros nos remetem . Pediu que os alunos circulassem pelos copos e cheirassem, apreciando cada cheiro e observando que sensações e lembranças que  estes traziam. Os alunos, primeiro inibidos depois conforme foram experimentando os cheiros diversos, mostraram-se mais soltos com a atividade, demostrando em sua fisionomia  sensações diversas.  Terminado o circuito de cheiros, sentaram-se em círculo e a professora conduziu a conversa sobre a sensação que cada um teve com os cheiros. Surgiram relatos até emocionados de lembranças da infância que alguns cheiros como o café e a lavanda trouxeram. Alguns alunos mais novos também se pronunciaram, lembrando com saudade de momentos da infância. A roda de conversa foi muito produtiva, cada um contando alguma parte da infância enquanto os outros escutavam atentos ao relato demonstrando uma compreensão e respeito pela história do outro. A professora pediu que tentassem passar para o papel alguma dessas lembranças.

Conversando depois com a professora, esta relatou a continuidade do trabalho, onde os alunos escreveram e leram as produções sobre lembranças. A leitura foi feita em circulo e apesar da inibição de alguns pela dificuldade de leitura, ela pode perceber que muitos alunos que antes não se integravam ouviram atentamente as leituras. Este trabalho continuou com o resgate das memórias sobre experiências vividas em outros âmbitos.

No acompanhamento da atividade realizada com a área de Ciências, o professor realizou um fórum de debates sobre tema “ Sexo na adolescência” e cuja formação de grupos foi escolhida pelo professor, os mais jovens teriam que se posicionar contra, buscando argumentos de defesa de sua posição e os mais velhos compondo o grupo que defendia. Para isso, o professor antecipadamente em outras aulas, trouxe material sobre o tema, como noticias, dados estatísticos, informativos científicos. Em cada uma dessas leituras, incentivou os alunos a darem opiniões detectando assim a formação dos grupos. Depois de formado os grupos, os alunos tiveram um tempo para elencar todos os argumentos de defesa de sua posição. A aula observada é a finalização desse processo, com o debate de opiniões, sendo o professor o moderador. Houve muita empolgação na defesa dos pontos de vista, mostrando que os alunos se empenharam nos argumentos mesmo contrariando suas convicções. O professor reservou um tempo para a avaliação do processo, levando questões como: que argumento foi mais difícil defender? O que mudou no meu ponto de vista sobre o assunto? As respostas a estas indagações foram surpreendentes onde o jovem que teve que apresentar argumentos contra, relatou a dificuldade em refletir sobre  uma postura na qual ele não acredita e que ao final do processo passou a entender mais o ponto de vista contrário às suas convicções. Já o outro grupo foi o que mostrou em suas reflexões e respostas terem absorvido a aceitação de mudanças de suas convicções, mostrando mais aceitação ao tema do que antes de iniciar o trabalho.

Em HTPC, cada professor relatou suas experiências. A professora de arte relatou que realizou um trabalho de dramatização de situações cotidianas com pequenos grupos. Estas situações escolhidas pelos alunos decorrentes do tema dado pela professora “ conflitos”, sendo estes divididos em: trabalho, família e sociedade. Foram 3 grupos para cada conflito e os alunos escolheram livremente a abordagem, discutindo e elaborando a encenação. As encenações foram sobre um diálogo de desentendimento entre pai e filho, um marido violento com a esposa, um chefe que não respeita o funcionário, uma entrevista de emprego, uma situação de briga no trânsito e uma situação de preconceito racial numa balada. A professora relatou que as encenações foram muito boas e a discussão posterior decorrente delas foi muito enriquecedora. Os alunos analisaram cada situação apresentada e fizeram uma reflexão sobre causas e consequências desses conflitos. A professora avaliou que a participação foi muito boa do grupo, havendo grande interação entre os diferentes alunos.

O professor de Matemática, cuja proposta foi de trabalhar com jogos cooperativos, relatou que sentiu no inicio de algumas atividades resistência do grupo, mas após os primeiros momentos, passaram a interagir. No decorrer de outras atividades propostas, a resistência à aceitação diminui muito. Após cada atividade, foi realizada uma roda de conversa sobre as impressões para com a atividade desenvolvida e uma reflexão sobre momentos da vida que temos que aplicar estes princípios de cooperação, surgindo exemplos relacionados à família e trabalho.

Após todos os relatos de experiências de professores, o grupo concluiu que esta sequência de experiências vividas pelos alunos contribuiu para a boa interação da turma analisada em questão. Foi proposta uma análise do comportamento durante duas semanas dessa turma focando as mudanças, como estes estão se portando diante das diferenças da sala, sobre a aceitação do outro, mediante a participação e melhoria no relacionamento do coletivo. Foram realizadas duas observações da turma nestas duas semanas em momentos diferentes, uma numa aula que seria necessária a participação oral dos alunos e em outra numa atividade em grupo. Em ambas as aulas foi notado que o grupo melhorou muito na participação, passando a interagir com os outros, ouvir e respeitar as opiniões. Nas atividades em grupo, o individualismo deixou de aparecer, passando agora a ter senso de coletividade, de divisão de funções e cobrança de participação. Ainda há alguma resistência quanto a parcerias novas, dando preferencia a colegas já habituados, que é natural, porém a resistência é evidentemente menor quando comparada a situação antes do processo.

Novamente em reunião com os professores, após este período de avaliação de resultados, foi feita uma avaliação de todo o processo, comparando a situação que a turma se encontrava antes e depois do processo. Os professores relataram que a turma passou  a participar mais das aulas, realizarem as tarefas com mais empenho e detectaram atitudes mais cooperativas com os colegas. Relataram que antes não havia envolvimento entre eles, que a aceitação dos mais velhos às brincadeiras do mais novos melhorou, que melhorou o respeito as diferenças de ritmo e aprendizagem.

As duas turmas observadas no começo do trabalho, onde uma apresentava uma grande afinidade  ocasionada pelo laço criado pelos anos letivos juntos e a outra sem nenhum vinculo anterior e que se mostrava arredia aos relacionamentos e participação, apresentam agora comportamentos parecidos no que se refere a participação, interação e respeito.

Neste período final do processo, um professor novo chegou à escola e como não conhecia o perfil anterior das salas estudas pode  analisar as duas salas e perceber as diferenças. Em seu relato ele observa que não sentiu muitas diferenças nas duas turmas, havendo em ambas um bom relacionamento e interação na suas aulas. Quando o grupo apresentou o perfil anterior da turma, este não conseguiu identificar a qual das turmas o grupo se referia, pois não conseguiu detectar os elementos relatados pelos colegas.
Isso mostrou que o grupo conseguiu um resultado promissor com todo o processo e que é perfeitamente possível através de uma ação educativa obter mudanças de relacionamento entre os alunos mesmo com tantas diferenças existentes na Educação de Jovens e Adultos.
CONCLUSÃO

A proposta do trabalho foi de realizar juntamente com os professores que atuam na EJA (Educação de Jovens e Adultos) uma formação com o foco na cooperação solidária. O grupo de professores numa escola do município de São Bernardo do Campo, com 15 salas de aula, sendo 12 salas do segundo  segmento  e 3 salas do primeiro segmento, alfabetização e pós alfabetização. O trabalho de formação resultou em propostas muito produtivas e significativas de trabalho coletivo cujo foco seria a participação efetiva do aluno juntamente com o principio da cooperação solidária. O grupo de professores em algumas observações de posturas e ações se mostrou sempre muito cooperativo entre si, havendo colaboração entre os colegas, e receptivos a propostas novas de trabalho que necessitassem de uma mudança da linha de trabalho.

O grupo apresentou propostas de mudança e efetivaram estas ações em todas as turmas que atuavam, mas o foco foi com uma turma especifica que apresentava muita resistência a trabalhos coletivos e cuja relações interpessoais eram difíceis, havendo muitos conflitos originários das diferenças e pela falta de laços. O objetivo com essa turma especifica era de melhorar o relacionamento, fazendo com que houvesse maior participação nas atividades, cooperação nas relações e melhoria nas relações.
Meu trabalho como coordenadora foi de preparar os professores através de discussões sobre cooperação, para que estes percebessem como este princípio é necessário nas relações coletivas. O professor é o elo que interliga os alunos, agindo como mediador. Nas observações em sala, percebi que o grau  de interação e a afetividade do professor reflete diretamente na sala, fazendo que esta seja mais ou menos participativa do que outra. Percebendo isso, propus ao grupo docente uma linha de trabalho cujas ações conseguissem que os alunos se tornassem mais receptivos a mudanças e a diferenças, que fortalecessem laços diminuindo assim os conflitos com as diferenças e que houvesse mais cooperação entre eles.

O grupo aceitou o desafio e elaborou várias atividades que desenvolveriam estas habilidades específicas. Além das atividades propostas, pude notar que várias posturas antes encontradas nos professores mudaram, como apresentar ao aluno sempre antes de cada atividade proposta o objetivo que espera com aquele trabalho. Essa atitude do professor diminui a resistência do aluno ao novo, fazendo que sua participação seja mais efetiva. Outra postura que o grupo passou a ter foi de realizar sempre ao final de cada atividade uma avaliação, isso contribuiu muito com a compreensão da realização das atividades e com a reflexão sobre atitudes surgidas no processo.

No meu trabalho de acompanhamento do processo, pude perceber que o grupo de professores amadureceu muito, tornando-se mais colaborativo entre si e consciente que suas ações educativas bem planejadas e pensadas resultam num trabalho positivo com o grupo de alunos. Os conflitos diminuíram, os alunos mostram-se muito mais receptivos nas atividades diferenciadas e passaram a ser mais compreensivos diante das diferenças. Sua participação nas aulas tornou-se mais efetiva, mostrando um aumento do senso reflexivo e critico.

Este trabalho foi realizado durante o segundo semestre de 2011 e ao final do ano fizemos uma avaliação de todo o trabalho realizado no ano letivo. O grupo verificou que o índice de evasão diminui muito em relação a outros semestres . Como não é possível afirmar se este trabalho contribuiu, cabe para o próximo ano uma observação desse índice de evasão já que o grupo de professores continuará e as ações propostas anteriormente continuarão permeando o trabalho do grupo de professores. A continuidade do trabalho é importante e para que isto seja efetivo é necessário a permanência do grupo de professores. A rotatividade de profissionais que permeia a educação dificulta um trabalho efetivo.

Pude observar nesta avaliação que o grupo se tornou mais confiante, com propostas  para a continuidade do trabalho e a ideia de integração do currículo, formando parcerias de trabalho entre as diferentes áreas do conhecimento. Isso mostra como é um grupo preocupado com sua prática pedagógica e com o princípio da cooperação, saindo do individualismo que o ensino por área carrega e procurando integração das competências, havendo assim um enriquecimento das práticas que resultam numa melhoria da ação educativa afetando diretamente o educando.

Acredito que o meu trabalho junto ao grupo de docentes foi produtivo, com resultados positivos de maior cooperação entre os professores, refletindo diretamente na prática do docente, com ações mais humanizadoras e consequentemente conseguindo obter resultados positivos junto aos alunos, fazendo com que estes se tornem mais conscientes da importância da coletividade, do respeito às diferenças e do espírito da cooperação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Portal do MEC- http://portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/eja_caderno1.pdf
Wikipedia
Portal do Ministério do Trabalho

Bibliografia
1. ARROYO, João Carlos Tupinambá; SCHUCH, Flávio Camargo. Economia popular e solidária. São Paulo: Perseu Abramo, 2006. pp. 21. ISBN 85-7643-022-3
2. BARRETO, Andre BARRETO, A. V. Cultura da cooperação: subsídios para uma economia solidária. In: SOUZA, A. R. et al. (Org.). Uma outra economia é possível. São Paulo: Contexto, 2003. p. 287– 314.
3. FERACINE, Luiz. O professor como agente de mudança social. São Paulo: E.P.U., 1990
4. FREIRE, Paulo
5. MANCE, Euclides André . A revolução das redes: a colaboração solidária como uma alternativa pós-capitalista à globalização atual. Petrópolis: Vozes, 1999. p. 178
6. SANTOS, Milton. Por uma outra globalização,2001.Editora Record, Rio de Janeiro
7. SINGER, Paul Introdução à economia solidária,2003

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