Migração Causas e Conseqüências e Economia Solidária

Ficha Síntese da Prática Pedagógica

Objetivos da Prática Pedagógica:
Trabalhar o fenômeno migração, suas causas e conseqüências, contrapondo o conhecimento empírico com o conhecimento cientifico, levando os alunos a reflexão. Para tanto foi inserido junto ao processo de migração o conceito de  economia solidária, já que o mesmo está ligado diretamente ao mundo do trabalho.

Característica do grupo a quem foi aplicada a prática:
Está aula foi ministrada na escola “PROFESSORA THEREZINHA PEREIRA LIMA MUZEL”, localizada na região norte da cidade de Suzano. A sala é composta pelos termos I e II, com alunos na faixa etária de dezesseis a setenta anos.

Sendo uma sala numerosa em media quarenta alunos, entre esses, três inclusões, um deficiente intelectual, um múltiplo e um auditivo.

Dinâmica de trabalho adotada na prática pedagógica:
Roda de conversa, leitura de textos diversos, leitura de imagens, estudo do solo com foco no solo nordestino, estações do ano com ênfase nas variações climáticas em cada região, época de plantio e colheita conforme as regiões brasileiras. Todas as aulas eram voltadas ao publico nordestino do qual era formada a minha sala. Trabalho com tabela e gráficos.

Recursos necessários para aplicação:
Foram usados recursos como: vídeos, imagens, músicas e textos diversos.

Breve currículo do autor da prática pedagógica:
Marta Helena Kobayashi do Carmo – Formada em pedagogia, atuei na educação infantil, educação especial, atualmente atuo ensino fundamental e educação de jovens e adultos. Especializada em deficiência intelectual.

Esta aula foi ministrada na Escola “THEREZINHA PEREIRA LIMA MUZEL” localizada na região norte da cidade de Suzano. Esta região é habitada na maioria por migrantes nordestinos.

A sala de aula é composta pelas turmas termo I e termo II, com um total de quarenta alunos, muitos deles nunca estudou em outro lugar, sendo este o seu primeiro contato com a escola.

Teoria: Introdução da Economia Solidária – Paul Singer
Escolhi essa atividade para relatar, pois quando fui apresentar o projeto do curso, ECOSOL E ECONOMIA SOLIDÁRIA, falei da possibilidade de fazermos uma horta na escola. Meus alunos responderam mal a idéia e pude perceber os motivos que os desanimavam de falar e trabalhar com a terra.

Como mencionei acima a sala é composta de 90% de nordestinos, e muitos deles culpam a terra pela falta de oportunidade do estudo, por isso resolvi desenvolver essa atividade.

Comecei a aula com uma roda de conversa, na qual o tema era: De onde eu vim?  Por que estou aqui?

Com as respostas à primeira pergunta pude fazer uma leitura de que região do Brasil meus alunos vieram. A maioria nordestina, e com histórias muito fortes de vida.

Então pedi para que eles relatassem, porque saíram de seu estado e como chegaram a Suzano. Foi uma experiência muito produtiva, ao final desta atividade fizemos uma redação.

Li para eles textos que falavam sobre a migração, e quando ela ficou mais forte no Brasil. Expliquei o que era migração e imigração, os alunos se colocaram de maneira critica e participativa na aula.

Fiz a leitura de uma parte do livro Morte e Vida Severina de João Cabral de Melo Neto, e mostrei uma imagem, deixei a sala refletir sobre o assunto. Estávamos em 30 pessoas dispostas em meio circulo, e a imagem foi colocada no chão de maneira que todos pudessem ver.
Pedi licença para eles e disse que tinha que resolver algo na secretaria, usei esse pretexto para deixá-los sozinhos refletindo sobre o texto e a imagem. Quando voltei alguns alunos riam, outros questionavam e outros simplesmente se calaram.
Comecei então a fazer questionamento do tipo: essa leitura ou imagem lhe traz alguma sensação ou recordação, isso e bom ou ruim. Foi quando uma das minhas alunas me disse:

Sabe professora essa imagem me faz lembrar quando eu era pequena quase adolescente eu e meus irmãos mais velhos tínhamos que andar uns cinco quilômetros com uma lata na cabeça pra buscar água e quando chegávamos com a água à lata estava quase na metade, pois vínhamos derrubando pelo caminho, então muitas vezes como castigo´mainha´´  mandava nós irmos novamente buscar mais água. Solange então sorri e diz que hoje e muito feliz, pois tem água encanada em casa.

Assim como Solange vários alunos se colocaram e relataram suas historias e experiências com a terra, e de como e sofrida a vida de um nordestino.

Com os conhecimentos adquiridos na aula do Profº Dácio e pesquisas realizadas em sites da web, começamos a estudar o solo nordestino, suas características e possibilidades.

Antes de pensarmos em soluções conversamos sobre a necessidade de conhecer a terra antes do plantio, pois muitas das vezes não nasce o que foi plantado por falta de nutrientes. Também conversamos que o solo nordestino apesar de ter o aspecto de seco e sem vida é muitas das vezes rico em nutrientes, a falta da chuva faz com que as vitaminas permaneçam no solo sendo este um ponto positivo.

Então com os novos conhecimentos fizemos uma lista de possibilidades de correção do solo.

1 Avaliar a necessidade de correção do solo (acidez).
2 Tipo/textura do solo.
3 Cor da terra (precisa ou não de adubo).

Os alunos se envolveram de tal maneira que esqueceram a rejeição inicial da horta. A mesma na escola não foi possível, pois o local destinado era escuro e como nossa aula acontece no período noturno dificultou o manuseio. Outros aspectos que impossibilitaram a execução foram:

  • Falta de terra para divisão dos canteiros.
  • Iluminação.
  • Presença de ratos na área destinada ao plantio.
  • Falta de recursos matérias e financeiros.

 

Dando seqüência trabalhei o calendário e as estações do ano. Fizemos comparações sobre as diferenças climáticas das regiões do Brasil. Expliquei que isso acontece, pois moramos num pais tropical e uma grande área territorial. Então passamos para o assunto o clima do Brasil.

Esse tema rendeu boas discussões, pois primeiro, os alunos não tinham conhecimento sobre o inicio e termino das estações, percebi isso quando dei o calendário e pedi para os alunos pintarem de cores diferentes as estações do ano, quase que todos os alunos pintaram errado apesar de ter anotado na lousa o inicio e fim de cada estação do ano.

Sugeri para eles pintarem da seguinte maneira.

  • Laranja para a primavera.
  • Vermelho para o verão.
  • Marrom para outono.
  • Cinza para o inverno.

Expliquei que a cor amarela, laranja e vermelho são cores quentes e que por esse motivo representaria bem o calor das estações. Já a cor marrom e cinza são cores frias representando então as estações mais frias do ano.

Foi quando meu aluno Ezequiel me levou o calendário com as cores das estações invertidas, então perguntei por que ele tinha feito daquela maneira então ele me disse:

“O nosso inverno professora é no período de chuva que dura mais ou menos dois meses janeiro e fevereiro, esse é o nosso inverno. Já o verão é uma estiagem só a senhora precisa ver.”

Então questionei o que eles achavam dessas diferenças existentes, as respostas foram as mais variadas possíveis. Pedi para eles pesquisarem o período de plantio de feijão nas regiões do Brasil o resultado foi interessante.

Fizemos um gráfico com o resultado obtido e também a importância que este alimento tem no prato dos brasileiros. Estudamos a pirâmide alimentar, e constatamos que apesar de parecer pobre o brasileiro tem um hábito alimentar balanceado, pois somos o povo que mais consome o arroz, feijão, ovo e carne no seu cardápio diário.

Uma sugestão de atividade interessante é trabalhar com as embalagens de sementes, elas possuem informações riquíssimas e podem tornar sua aula rica, atrelando o conhecimento do aluno ao conhecimento cientifico.

Para fechar esse primeiro tema pensamos em fazer uma festa nordestina com resgate cultural e culinário porem a maioria dos alunos trabalham dificultando o preparo dos pratos. Então a dona Maria sugeriu que fizemos uma feijoada solidária, onde cada um contribuísse com o que podiam assim todos de alguma maneira participariam fosse ao preparar ou na compra dos ingredientes.

Bom, mas como nem tudo são flores tivemos a objeção da direção alegando que o prato não fazia parte do cardápio sendo assim as cozinheiras não teriam a obrigação de fazê-lo. Argumentei que esse não seria o problema então, pois eu mesma com algumas alunas faríamos mas precisaria usar o espaço da cozinha escolar. Daí a encrenca foi com a cozinheira já que pelas normas funcionários e alunos não podem freqüentar o espaço da cozinha.

Depois de algumas negociações e estresse a feijoada saiu com a colaboração de todos. Infelizmente não tenho o registro fotográfico nesta época eu não tinha maquina fotográfica e a escola também não, a diretora até tirou algumas do preparo e depois do resultado final, mas as fotos se perderam junto com o celular da diretora. Fiquei triste, mas todos que participaram têm o registro daquele momento tão especial em suas memórias.

Como nem todas as flores tem espinhos com o dinheiro recebido da bolsa auxilio que ganhamos no curso fiz duas coisas que para mim deram um novo rumo no curso. Primeiro comprei minha máquina fotográfica e sai fotografando tudo o que fazia com meus alunos e a outra foi ter ido para Vitória/ES, conhecer os moradores do Território do Bem, uma amostra viva do trabalho em pareceria, juntamente com a comunidade local fortalecendo assim a economia local, gerando renda e trabalho para a comunidade. É com esse espírito de empreendedorismo solidário,  solidário porque visa à melhoria de todos, diferentemente do objetivo do capitalismo, que detém o controle dos meios de produção para alguns que têm maior rendimento.


Visita à sede do Território do Bem


Visita a associação dos moradores do bairro Jaburu.

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