Salário X Remuneração e Trabalho

Autora: Marta Helena Kobayashi do Carmo
Orientadora: Profª  Sônia Maria Portella Kruppa

 

AGRADECIMENTOS

À Universidade Federal do ABC.
À orientadora Prof. Sônia Maria Portella Kruppa, pela paciência na orientação e incentivo que tornaram possível a conclusão desta monografia.
Aos professores do Curso de Especialização.
À todos os meus familiares que pacientemente colaboraram comigo.
Aos alunos que contribuíram significativamente para a produção deste trabalho e a todos que direta ou indiretamente colaboraram para a realização desta pesquisa.

 

“Sem a curiosidade que me move, que me inquieta, que me insere na busca, não aprendo nem ensino”.
PAULO FREIRE

 

SUMÁRIO

  • JUSTIFICATIVA
  • FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
  • ORIGEM DA PALAVRA TRABALHO
    Conceito de Trabalho
    Formas de Relações de Trabalho
    Definição da Palavra Trabalho segundo o dicionário
    As Transformações do Mundo do Trabalho
    O Trabalho nos dias atuais
  • A ORIGEM DA PALAVRA SALÁRIO
    Salário no idioma Português
  • O QUE É REMUNERAÇÃO
    Diferença entre salário e remuneração
  • DESIGUALDADE SOCIAL NO BRASIL
    A pobreza como fracasso
    A desigualdade como produto das relações sociais
    As classes sociais
    A luta de classes
    A extrema desigualdade
    Desigualdade x Globalização
  • GLOBALIZAÇÃO
    A globalização segundo Milton Santos
    Globalização x Economia solidária
    As primeiras cooperativas
    Primeira Prática Pedagógica
    Segunda Prática Pedagógica
  • AVALIAÇÃO CRÍTICA
  • REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

JUSTIFICATIVA

Este tema foi escolhido a principio por causar interesse aos alunos, de maneira a render boas discussões, levando-os a reflexões e análises sobre o universo do trabalho. Sendo uma questão ampla, que facilita a transição entre as diversas áreas do saber, saber este que muitos alunos trazem, mesmo sem se dar conta do quanto sabem e como utilizar esses conhecimentos em suas vidas.

Não se pode deixar de considerar que esses alunos, em sua grande maioria são migrantes de regiões afastadas,   de um pais de diversidade e proximidade no que diz respeito á desigualdade social e aos preconceitos. Quando se trata de educação de jovens e adultos, como professores, não se pode deixar de considerar a região na qual o grupo de alunos pertence,  para que público de jovens e adultos se vai  trabalhar e planejar suas atividades, quais são suas reais necessidades, qual a faixa etária a ser atendida e de que região e classe social o grupo pertence.

São questionamentos que normalmente os professores não  tem o habito de fazer ou se preocupar. Mas que são de suma importância para uma boa prática.  Os interesses por determinados assuntos o remetem os alunos a lembranças que fazem parte  de suas vivencias, histórias de vidas, de conhecimentos passados de gerações para gerações.

Muitos utilizam os saberes do trabalho para prática de seus afazeres sem ao menos desconfiarem que sejam possuidores de tais conhecimentos. Meu papel como professora é facilitar a introdução de novos saberes  ainda  dar consciência àqueles saberes que são despercebidos.

Sempre me surpreendo com seus relatos e histórias de vida, que devem ser trazidos como material e discussão pedagógicos aproveitados e trabalhados nas salas de aula no sentido de valorizar a trajetória do grupo.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA DO TEMA

Como fundamentações teóricas foram trabalhados os seguintes conceitos de: Salário, remuneração, trabalho capitalismo, desigualdade social, globalização, Economia Solidária e conhecimento e aprendizagem de jovens e adultos.

O estudo desses conceitos foi importante para  maior  compreensão da realidade brasileira, ainda marcada pela desigualdade social, tema a que também dediquei algumas considerações. Baseada nos temas acima citados pude socializar e debater tais conceitos com os meus alunos.

Ainda, os temas da Economia Solidária e da situação de desemprego são abordadas, seja pela história das cooperativas, baseado no trabalho de Singer, seja pelos  relatos de experiências, acumulada ou mudanças no universo do trabalho.

1.   ORIGEM DA PALAVRA TRABALHO

A Sociologia do trabalho é o ramo da Sociologia voltado ao estudo das relações sociais no mundo do trabalho – a princípio, incluindo basicamente empresas e sindicatos – e às implicações sociais da relação entre trabalho e técnica.

1. A palavra “trabalho” evoluiu da palavra latina Tripalium, castigo que se dava aos escravos preguiçosos e, historicamente, o trabalho foi considerado como uma atividade depreciável. Os gregos da Idade de Ouro pensavam que só o ócio criativo era digno do homem livre. A escravidão foi considerada pelas mais diversas civilizações como a forma natural e mais adequada de relação laboral. A ética protestante vem atribuir um valor positivo ao trabalho, considerando-o não como punição mas como oferenda a Deus. A partir de meados do século XIX, servidão, em suas várias formas, estará extinta   na maior parte dos paises ocidentais , sendo substituido pelo trabalho assalariado socialmente valorizado. ? Bialakowsky, Alberto L. et al. Uma sociologia do trabalho contrastada. Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 18, nº 1

1.1 CONCEITO DE TRABALHO

O conceito do trabalho pode ser abordado a partir de diversos enfoques. A sua definição básica indica que é a medida do esforço feito pelos seres humanos. Na visão neoclássica da economia, por exemplo, constitui um dos três fatores da produção, juntamente com a terra e o capital.

1.2 FORMAS DE RELAÇÕES DE TRABALHO

Esta concepção do trabalho indica que um indivíduo realiza uma certa atividade produtiva pela qual lhe é pago um salário, isto é o preço do trabalho. A relação de trabalho entre o empregador e o empregado está sujeita a diversas leis e convenções, embora também exista aquilo que se chama de trabalho ilegal que são aquelas contratações onde os interesses dos trabalhadores são lesados.

Outras formas de trabalho possíveis são o trabalho autónomo produtivo através do qual se exercem as profissões liberais  o comércio, o trabalho informal de sobrevivência e a servidão, entre outras.

Apesar de existir o trabalho filantropico que não implica uma retribuição económica geralmente realizado com fins sociais ou educativos, considera-se que o trabalho é uma atividade realizada em troca de uma contraprestação económica.

1.3. DEFINIÇÃO DA PALAVRA TRABALHO SEGUNDO DICIONÁRIO

De acordo com a definição do Dicionário do Pensamento Social do Século XX, trabalho é o esforço humano dotado de um propósito e envolve a transformação da natureza através do desgaste de capacidades físicas e mentais.

1.4 AS TRANSFORMAÇÕES DO MUNDO DO TRABALHO

As transformações do mundo do trabalho – do artesanato ao trabalho industrial com grandes máquinas e finalmente ao trabalho imaterial – bem como suas relações com as mudanças sociais na família, na cultura e na política constituem objeto de permanente interesse para os estudos. Já a partir das últimas décadas , a introdução de novos temas – notadamente os impactos das novas tecnologias, as novas formas de organização da produção, a obsolescência de várias profissões anteriormente valorizadas, a flexibilização das relações de trabalho e o acirramento dos mecanismos de exclusão – e de novas formas de abordagem, abrem novas perspectivas para a investigação sociológica crítica.

1.5 O TRABALHO NOS DIAS ATUAIS

Como vimos nos itens acima o trabalho vem sofrendo transformações ao longo dos tempos, mas como enfrentar sua falta nos dias atuais? Será que falta trabalho ou remuneração/salário pela sua força de trabalho. Desta maneira entramos num dos maiores desafios do homem no século XXI, como garantir um trabalho remunerado para todos os ativos dentro do mercado de trabalho.

E como garantir uma remuneração/salário justa pela sua força do trabalho dentro de um modelo econômico excludente e seletivo. Esses são uns dos desafios no qual a economia solidária vem trabalhando para juntos com outros setores da sociedade tentar minimizar os efeitos do capitalismo. Mas antes de nos aprofundarmos neste assunto iremos primeiro buscar a origem das palavras salário e remuneração.

2. ORIGEM DA PALAVRA SALÁRIO

SALÁRIO – do latim “salarium”, que significa “do sal”. Isso se explica porque os soldados do Império Romano recebiam uma quantia periódica para compra de sal, uma mercadoria de grande importância e alto valor na época. Além de servir para melhorar o sabor dos alimentos, servia para melhor conservá-los, numa época em que não havia refrigeração.  ([1]

2.1. SALÁRIO NO IDIOMA PORTUGUÊS

s.m. Paga em dinheiro, devida pelo empregador ao empregado.

 

3. O QUE É REMUNERAÇÃO

s.f. Ato ou efeito de remunerar.
Salário, honorários, recompensa, gratificação, retribuição por um serviço, um trabalho: pleitear justa remuneração.

3.1.  DIFERENÇAS ENTRE SALÁRIO E REMUNERAÇÃO

Segundo Santos[2]:

Salário é a retribuição pelo trabalho prestado pago diretamente pelo empregador. Esse conceito bem elementar traduz o que é salário no ordenamento jurídico brasileiro, e suas principais características: só é salário aquilo que é pago pelo empregador, e só aquilo que corresponde a uma retribuição, que represente um acréscimo patrimonial ‘pelo trabalho prestado. ’    Remuneração, no ordenamento jurídico brasileiro, corresponde á totalidade dos bens fornecidos ou devidos ao empregador pelo trabalho prestado (retribuição), inclusive as parcelas a cargo de terceiros (gorjetas).Nota-se, pois, que no ordenamento jurídico brasileiro o que distingue a remuneração do salário é o fato de este último corresponder apenas á retribuição paga (dinheiro) ou fornecida diretamente pelo empregador, conforme art. 457 da CLT. [3]

Segundo André Gorz no capitalismo não há atividade que não apareça como um “trabalho” encomendado e pago por quem a encomenda, não há renda que não apareça como remuneração de um “trabalho”. Desta maneira o capitalismo embute nas pessoas a idéia de que precisamos vender nossa força de trabalho, para termos nossa remuneração e estarmos desta maneira garantidos pelo sistema. Caso contrário você é impossibilitado de participar das atividades sociais existentes.

Todo esse papo foi para termos um apanhado desse primeiro tema tratado, precisamos agora voltar para real problemática embutida nesse enredo, o capitalismo, as grandes incorporações, o poder centralizador, essas e outras discussões passivas de boas horas de papo. Retomaremos com as diferenças sociais no Brasil.

4. DESIGUALDADES SOCIAIS NO BRASIL

A desigualdade social e a pobreza são problemas que afetam a maioria dos países na atualidade.  A pobreza existe em todos os países pobres ou ricos, mas a desigualdade social é um fenômeno que atinge principalmente os países não desenvolvidos.

O conceito de desigualdade social atinge diversos tipos de desigualdade seja ela: falta de oportunidade de estudo, de gênero, de renda etc. De modo geral a desigualdade econômica é a mais conhecida, dada a distribuição desigual da renda. No Brasil a desigualdade social tem sido um cartão de visita para o mundo, pois é um dos países mais desiguais.

Como podemos observar nem tudo que parece é, nem tudo que é lei é seguido ou respeitado haja vista pela definição da palavra salário no idioma Português. Vivemos num pais de grandes contrates sociais onde as diferenças entre as classes são gritantes, isso sem falar nas diferenças regionais existentes.

O Brasil possui uma grande área territorial o que acaba dificultando muitas das ações governamentais, onde boa parte das verbas destinadas a ações sociais são perdidas ou desviadas ao longo do caminho.

A desigualdade social acontece quando a distribuição econômica de oportunidades, de direitos é feita de forma diferente sendo que a maior parte destes fatores só abrange uma minoria da sociedade. Mas por outro lado existem outros fatores desencadeantes de diferenças sociais.

Quando se fala em desigualdades sociais e pobreza no Brasil, não se trata de centenas de pessoas, mas em milhões que vivem na pobreza absoluta. Essas pessoas sobrevivem apenas com 1/4 de salário mínimo no máximo. . No Nordeste, a distância média dos pobres em relação ao parâmetro da linha de pobreza é de 28,6%. O índice é bastante superior à média nacional, de 10,7%. Por conta disso, a região é a que mais necessita de investimentos públicos que permitam a essa parcela de brasileiros superar a barreira da pobreza.

4.1.  A POBREZA COMO FRACASSO

No século XVIII, o capitalismo teve um grande crescimento, com a ajuda da industrialização, dando origem assim ás relações entre o capital e o trabalho, então o capitalista, que era o grande patrão, e o trabalhador assalariado passaram a ser os principais representantes desta organização.

A justificativa encontrada para esta nova fase foi o liberalismo que se baseava na defesa da propriedade privada, comércio liberal e igualdade perante a lei. A velha sociedade medieval se tornou obsoleta, sendo totalmente transformada, dando assim lugar ao homem de negócios, a quem foi dada todas as credenciais uma vez que ele poderia fazer o bem a toda sociedade.

O homem de negócios passa ser então modelo para os demais integrantes da sociedade, a riqueza é mostrada como mérito pelos seus esforços, diferente do principal fundamento da desigualdade que é a pobreza, a falta de oportunidade sendo este o fator principal de seu fracasso pessoal.

Então os pobres deveriam apenas cuidar dos bens do patrão, máquinas, ferramentas, transportes e outros e supostamente, poderiam ser recompensado pelo esforço e dedicação a seu patrão. Diziam que a pobreza se dava pelo seu fracasso e pela ausência de graça, então o pobre era pobre porque Deus o quis assim.

A pobreza é vista então como um mal necessário para a sobrevivência das classes dominantes, essa têm medo de pagar um salário justo para seus funcionários, possibilitando assim uma melhora de vida o que pode significar a libertação da sua posição de serviçal. No Brasil conhecido pelas diferenças sociais, pela falta mínima de condições de vida, pelas ações governamentais inacabadas, pelas desmazelas e tantos outros atributos que poderíamos descrever.

4.2. A DESIGUALDADE COMO PRODUTO DAS RELAÇÕES SOCIAIS

Várias teorias apareceram no século XIX criticando as explicações sobre desigualdade, entre elas a de Karl Marx, que desenvolveu uma teoria sobre a noção de liberdade e igualdade do pensamento liberal, esse pensamento baseava-se na liberdade de comprar e vender. Outra muito criticada também foi a igualdade jurídica que se baseava nas necessidades do capitalismo de apresentar todas as relações como fundadas em normas jurídicas. Como a relação patrão e empregado tinha que ser feita sobre osprincípios do direito, e outras tantas relações também.

Karl Marx criticava o liberalismo porque só eram expressos os interesses de uma parte da sociedade e não da maioria como tinha que ser. Segundo o próprio Marx a sociedade é um conjunto de atividades dos homens, ou ações humanas, e essas ações e que tornam a sociedade possível. Essas ações ajudam. a organização social, e mostra que o homem se relaciona uns com os outros.

Assim Marx considera as desigualdades sociais como produto de um conjunto de relações pautada na propriedade como um fato jurídico, e também político. O poder de dominação é a origem dessas desigualdades sociais. As desigualdades se originam dessa relação contraditória, refletem na apropriação e dominação, dando origem a um sistema social, neste sistema uma classe produz e a outra domina tudo, onde esta última domina a primeira dando origem as classes operárias e burguesas.

As desigualdades são fruto das relações, sociais, políticas e culturais, mostrando que as desigualdades não são apenas econômicas, mas também culturais, participar de uma classe significa que você esta em plena atividade social, ela se amplia muita mais na vida do sujeito, estando diretamente ligada ao seu cotidiano e nas suas relações sociais como um todo.

4.3. AS CLASSES SOCIAIS

Desde o começo da civilização vemos o domínio do homem pelo homem, com o passar dos tempos houve a necessidade de se organizar, então a separação dos dominantes e dominados, iniciando assim as classes sociais.

As classes sociais mostram as desigualdades da sociedade capitalista. Cada tipo de organização social estabelece as desigualdades, de privilégios e de desvantagens entre os indivíduos.

As desigualdades são vistas como coisas absolutamente normais, como algo sem relação com produção no convívio na sociedade, mas analisando atentamente descobrimos que essas desigualdades para determinados indivíduos são adquiridos socialmente. As divisões em classes se da na forma que o indivíduo esta situado economicamente na sociedade.

Como já vimos no capitalismo, quem tinham condições para a dominação e a apropriação, eram a classe dominante, quem trabalhava para estes eram os pobres, pois bem esses elementos eram os principais denominadores de desigualdade social. Essas desigualdades não eram somente econômicas, mas também intelectuais, o operário não tinha direito de desenvolver sua capacidade de criação, o seu intelecto. A dominação da classe superior, os burgueses, capitalistas e  ricos, sobre a camada social dominada que era a massa, os operários e pobres, não era só econômica, mas também  politicamente e socialmente.

No mundo em que vivemos percebemos que os indivíduos são diferentes e classificados, seguindo os seguintes aspectos: coisas materiais, raça, sexo, cultura e outros.

Os aspectos mais simples para constatarmos que os homens são diferentes são: físicos ou sociais.  No aspecto físico podemos perceber suas diferenças através da raça como: japoneses, índios, alemães e africanos á uma grande diferença física que difere uns dos outros, ou o social que diferencia e exclui dependendo a que classe social cada individuo pertence.

Por isso vemos que em cada sociedade existem essas desigualdades, elas assumem feições distintas porque são constituídos de um conjunto de elementos econômicos, políticos e culturais próprios de cada sociedade.

4.4. A LUTA DE CLASSES

As desigualdades sociais aparecem na história da humanidade desde os primeiros registros, acabamos por nos acostumar as diferenças criadas pelo sistema, não nos incomodamos com o outro, somos totalmente capitalista, o regime nos ensinou direitinho como se comportar, e como devemos afastar nossos adversários, vivemos na selva de pedra.

Tomemos a telenovela como exemplo. Ela pode ser considerada uma forma de expressar a luta de classes, uma vez que  mostrar o que acontece no mundo, como um patrão, rico e feliz, e um trabalhador, sofrido e amargurado com a vida, sempre tentando ser independente e se livrar dos mandos e desmandos do patrão. Isso também é uma forma de expressar a luta das classes, mostrando essa contradição entre os indivíduos.

Outro bom exemplo da luta das classes é a propaganda. As propagandas se dirigem ao público em geral, mesmo aos que não tem condição de comprar o produto anunciado. Mas por que isso?

A propaganda é capaz de criar uma concepção do mundo, mostrando elementos que evidenciam uma situação de riqueza, iludindo os elementos de baixo poder econômico de sua real condição.

O homem deixou de ser o centro do mundo para o dinheiro e o consumo, a mídia tem o papel de intermediação que não podemos dizer que é inocente, este ligado ao mundo da produção, das informações distorcidas, as noticias são interpretações dos fatos, sendo colocadas de acordo com os interesses do capital.  A dominação ideológica é fundamental para encobrir o caráter contraditório do capitalismo.

4.5. A EXTREMA DESIGUALDADE

Observou-se anteriormente que mais de 50% da população ativa brasileira ganha até dois salários mínimos. Os índices apontados visam chamar a atenção sobre os indivíduos miseráveis no Brasil.

Mas não existem somente pobres no Brasil, pois cerca de 4% da população é muito rica. O que prova a concentração maciça da renda nas mãos de poucas pessoas.

Além dos elementos já apontados, é importante destacar que a reprodução do capital, o desenvolvimento de alguns setores e a pouca organização dos sindicatos para tentar reivindicar melhores salários, são pontos esclarecedores da geração de desigualdades.

Quanto aos bens de consumo duráveis (carros, geladeiras, televisores, etc), são destinados a uma pequena parcela da população. A sofisticação desses produtos prova o quanto o processo de industrialização beneficiou apenas uma pequena parcela da população. Enquanto os demais sonham com a possibilidade de adquirir tais bens de consumo, toda essa desigualdade gera alem da revolta a violência hoje tão presente na sociedade.

4.6.    DESIGUALDADES x GLOBALIZAÇÃO:

Quais as chances que temos de mudar esse modelo de economia? Como temos visto a globalização trouxe junto com a universalização dos conhecimentos a exploração, exclusão e tantos outros malefícios com ela gerados. Hoje em dia em nossa sociedade achamos normais as grandes empresas contratar mão de obra terceirizada para realizar tarefas em suas casas, a um valor pago indigno de ser mencionado, no entanto vemos nossas crianças trabalhando para essas indústrias e não fazemos nada para mudar essa realidade.

As grandes empresas não têm responsabilidade moral nem social distribuindo sua produção em países do terceiro mundo, pagando valores baixíssimos pela produção dos seus produtos, uma exploração desumana. Usam o desemprego como ferramenta, na globalização a pobreza e a miséria são tratadas com naturalidade.

Uma das maneiras que o capitalismo encontrou para minimizar as contradições por ela causadas foi o assistencialismo como forma de redimir dos seus pecados capitais. Mascarando assim seus efeitos excludentes dando margem a uma serie de programas assistencialistas.

O grande desafio da globalização é a diferença entre a ética dos dominantes e a ética dos dominados. Nos não vivemos uma democracia como pensamos e sim o capitalismo onde você vale o que você tem no bolso. No Brasil não há cidadania pois a classe dominante busca privilégios e a classe dominada direitos solidários, sendo assim não há cidadania na sua definição concreta.

5. GLOBALIZAÇÃO

5.1. A GLOBALIZAÇÃO SEGUNDO MILTON SANTOS

O primeiro olhar da globalização foi com as grandes navegações e a descoberta de novas terras e conquistas de novos territórios.

O segundo olhar começa no final do século XX, marcada com a fragmentação dos territórios, sendo este o século das revoluções, a tecnologia transforma as novas conquistas no sonho de um mundo melhor, tudo isso se converte num forte consumismo, ondeos mais ricos se tornam milionários e os pobres em miseráveis

A globalização em três vertentes:

1. A globalização como formula
2. A globalização como ela é, perversa
3. A globalização como pode ser, uma outra globalização.

Nunca na historia da humanidade houve tantas condições tecnológicas e cientificas para uma construção de um mundo melhor, de dignidade, mais esse direito foi expropriado pelas empresas que  constrói um mundo perverso. Em 1989 uma reunião do instituto internacional de economia em Washington, propôs reformas para os países  da America Latina tomasse a trilha do desenvolvimento e crescimento econômico um tipo de bula, onde ensinavam formulas para atrair investimentos, á privatização como remédio sendo este o único caminho sugerido.

Esse consenso representou para a America Latina um fruto envenenado trazendo uma grande crise na Bolívia, tendo sua água privatizada. A economia Argentina também foi destruída com as privatizações. No Brasil as manifestações contra as privatizações foram isoladas.

As grandes empresas não têm responsabilidade moral nem social, distribuindo sua produção em países de terceiro mundo, pagando valores irrisórios pela produção dos seus produtos, uma exploração desumana. Usam o desemprego como uma coisa normal, para a globalização a pobreza é tratada com naturalidade.

A humanidade é tratada por dois grupos os que não comem, e os que não dormem, com receio da revolta dos que não comem. Nos produzimos muito mais do que podemos consumir, na Europa se ganha bônus para não produzir e punem os que produzem. O que há no mundo é uma má distribuição dos alimentos, assim também acontece com a água.

O homem deixou de ser o centro do mundo para o dinheiro e consumismo, a mídia tem o papel de intermediação e não podemos dizer que é inocente estando ligado ao mundo da produção, das informações distorcidas, as noticias são interpretações dos fatos, sendo colocadas de acordo com os interesses dos dominantes, já que os donos dos veículos de comunicação são grandes empresários, ás informações passa a se então grande instrumento de manipulação. Pequenos grupos defendem os interesses de poucos.

A tecnologia pode ser então plataforma de liberdade, sem abandonar suas origens, podemos ser totalmente universal, sendo este, um ponto positivo da globalização e suas tecnologias da comunicação. Essa tecnologia nos permite estarmos conectado com o mundo e assim termos informações em tempo real.

É a primeira vez na historia que nos é permitido viver com um futuro possível, sem um intermediário para transpor cada cultura, é o que diz Milton Santos da apropriação do que é nosso, da cultura de massa, usando poucos recursos e a tecnologia disponível das produções solidárias que tem expressão econômica e política, conflitando o que é cultura popular com a cultura de massa que é imposta pela classe dominante como única cultura possível e verdadeira.

A globalização nos permite neste contexto acesso a outras formas de expressão, sendo cultural ou religiosa. Toda essa mudança nos permite um novo olhar, a America Latina ainda não descobriu sua própria maneira de pensar imitando os europeus. O  grande desafio da globalização é diferenciar a ética dos dominantes da ética dos dominados, nos não vivemos uma democracia e sim o capitalismo onde você vale o que você tem no bolso.

Os sem terra lutam por uma economia solidária onde todos tenham seu lugar ao sol. Segundo Milton Santos no Brasil, não a cidadania, pois a classe media busca privilégios e a classe baixa direitos solidários, sendo assim não há cidadania na sua definição concreta. Não existe democracia ela esta esvaziada no seu conteúdo,  usamos o conceito de outros tempos, falamos e exercemos uma cidadania inexistente, somos suprimidos da liberdade e do direito de exercer nossa cidadania.

A globalização produz esse globalitarismo, tornando um ciclo vicioso, as condições da historia atual permite fazer um ensaio do que será a humanidade amanhã, se não tivermos um olhar solidário com o outro. Milton Santos defende o modelo de economia solidária “Somos pessimistas aonde estamos e otimista aonde podemos chegar”

5.2. GLOBALIZAÇÃO x ECONOMIA SOLIDÁRIA

Como atrelar dois modelos econômicos com princípios tão distintos, como se adequar a um novo modelo econômico? Para tentarmos entender precisamos conhecer um pouco mais sobre economia solidária e seu surgimento.

“A economia solidária nasceu pouco depois do capitalismo industrial, como reação ao espantoso empobrecimento dos artesãos provocado pela difusão das máquinas e da organização fabril da produção. A Grã-Bretanha foi a pátria da Primeira Revolução Industrial, precedida pela expulsão em massa de camponeses dos domínios senhoriais, que se transformaram no proletariado moderno.” [4]

Nesta época não havia nenhuma lei que protegesse os operários esses então eram explorados com jornadas de trabalhos excessivos, não tinham a quem reclamar sobrando apenas à insatisfação como reivindicação. As crianças também faziam parte na organização fabril tendo sua infância roubada.

Com a Revolução Francesa começa um grande período de guerras na Europa, que se encerrou apenas em 1815. Com ela as vitimas da pobreza e do desemprego. Como restabelecer o crescimento da atividade econômica com o fim da guerra com ela acabava também a demanda de armamentos, navios, provisões e demais produtos necessários á condução da guerra.

Os respingos derramados com o final da guerra começa a contrair todo o mercado financeiro. Para reverter essa situação era necessário reinserir os desempregados no mercado de trabalho, permitindo-lhes ganhar e gastar no consumo, o que ampliaria o mercado para outros produtores.

Em 1817, Robert Owen empresário britânico inconformado com a pobreza e miséria do povo apresentou um plano para o governobritânico para que os fundos de sustento aos pobres em vez de serem distribuídos fossem investidos na compra de terras e construção de Aldeias Cooperativas, e em cada Aldeia viveriam cerca de 1.200 pessoas trabalhando na terra e na indústria, produzindo assim para a sua própria subsistência. E o excedente da produção seria trocado entre as Aldeias.

Suas idéias eram perfeitas já que o maior desperdício em qualquer crise econômica do tipo capitalista é o desemprego em massa, sem emprego não há capital, e sem capital não gera consumo empobrecendo todos os segmentos da sociedade. Quanto mais Owen explicava seu plano mais evidente se tornava que o que ele propunha era uma mudança completa no sistema social e uma abolição das empresas lucrativas capitalistas.

5.3. AS PRIMEIRAS COOPERATIVAS

Como as idéias de Owen não foram bem vistas pelo governo britânico desiludido, ele resolve implantar suas idéias em lugares com pessoas de boa vontade, enquanto permanecia fora seus discípulos começaram a por em prática suas idéias criando sociedades cooperativas por toda parte. Essa atividade coincide com o surto de sindicalismo, desencadeado pela revogação dos Combination Acts. Muitos sindicatos foram perseguidos e fechados e outros trabalhavam clandestinamente. Com a sua revogação, em 1824, novos sindicatos foram formados e, juntamente com eles, cooperativas.

A primeira cooperativa owenista foi criada por George Mudie  que reuniu um grupo de jornalistas e gráficos em Londres e propôs que formassem uma comunidade para juntos viverem dos ganhos de suas atividades profissionais.

“Muitas das sociedades cooperativas que foram fundadas no fim dos anos 20 e começo dos 30 [do século XIX] eram desta espécie, originadas ou de greves ou diretamente de grupos locais de sindicalistas, que haviam sofrido rebaixa de salários ou falta de emprego. Algumas destas cooperativas foram definitivamente patrocinadas por sindicatos; outras foram criadas com a ajuda de Sociedades Beneficentes cujos membros provinham do mesmo oficio. Em outros casos, pequenos grupos de trabalhadores simplesmente se uniam sem qualquer patrocínio formal e iniciavam sociedades por conta própria” [5]
As cooperativas foram se organizando de maneira tal  integrando produção e consumo. Criando armazéns onde gerava-se empregos para alguns de seus membros tende em vista consumir seus próprios produtos ou trocá-los por escambo com outras sociedades tendo o mesmo propósito.

“Owen, como muitos socialistas da época, rejeitava o comércio visando ao lucro com essencialmente parasitário: “Os distribuidores, pequenos, médios e grandes, têm todos de ser mantidos pelos produtores e, quanto maior o número dos primeiros comparado ao destes, maior será a carga suportada pelo produtor; pois á medida que aumenta o número de distribuidores, a acumulação de riqueza tem que diminuir e mais tem que ser exigido do produtor: Os distribuidores de riqueza, sob o sistema atual, são um peso morto sobre os produtores e os mais ativos desmoralizadores da sociedade” [6]

É neste contexto social que a economia solidária tenta dar novos rumos aos excluídos  do sistema capitalista.Possibilitando geração de renda e trabalho sem a exploração do capital.

PRÁTICAS PEDAGÓGICAS

 

AVALIAÇÃO CRÍTICA

Durante todo o processo, fui fazendo intervenções, nas colocações dos alunos fazendo com que eles refletissem sobre o assunto. Na análise da  capacidade de criação dos alunos, considerando que eles tiveram de criar e relembrar momentos do trabalho.

Segundo Marta Kohl o adulto traz consigo diferentes habilidades e dificuldades e, provavelmente, maior capacidade de reflexão. Foram essas habilidades que foram usadas como base para construção de novos conhecimentos, ainda que na parte escrita o ganho tenha sido menor do que o esperado, sendo que na parte oral se superaram, mostrando ser capaz  de se posicionar, ler e interpretar oralmente as demandas existente em nosso cotidiano.

Portanto para se alcançar êxito na educação de jovens e adultos, é preciso primeiramente conhecer de que grupo ou classe social esses jovens e adultos pertence o que é fundamental. O conteúdo tem que ser adequado para o desenvolvimento de processos real de aprendizagem.

Talvez para se conseguir o êxito esperado, seria necessário reavaliar toda a parte organizacional da educação de jovens e adultos, começando pela criação de espaços específicos para o atendimento educacional, contemplando as necessidades reais dos educando. Outro aspecto relevante seria a criação de escolas polos, onde esses alunos trocassem experiências com outros alunos acabando assim com mistificação de que são os únicos jovens e adultos a frequentar a escola fora da idade dita correta. Algumas destas ações já estão sendo feitas por parta da secretaria municipal de educação, mas temos muito a caminhar.

E assim neste clima aprendizado, de festa e despedida que encerramos as atividades do ano de dois mil e onze. Tenho certeza que tudo que vivemos neste ano será guardado na memória de cada um, e que cada um, terá uma historia para contar, de superação, de construção, de conquistas e vitórias.

Despeço-me aqui do curso e dos alunos, deixando registrado que sentirei saudades de cada um. Tudo que aprendi e vivi trouxe um novo significado para mim.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGÊNCIA BRASIL – (disponível em: http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2008-12-18/nordeste-e-regiao-mais-distante-de-vencer-barreira-da-linha-da-pobreza-diz-ibge – acessado em 11/03/2012 às 18:02);
BIALAKOWSKY, Alberto et AL – Uma sociologia do trabalho contrastada  Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 18, nº 1;
CHAUI, Marilena  – Da Realidade sem Mistérios ao Mistério do Mundo, 1999 ;
COLE, G. D. H. A Century of Co – Operation. Manchester, Cooperative Union Ltd., 1944;
GORZ, André – Misérias do Presente, Riqueza do Possível, 2004;
MARX, Karl – O Capital 3ª ed., 1998;
MARX, Karl – Teoria da Mais Valia. Volume1. São Paulo, 1987;
Mini Aurélio Século XXI Escolar – O minidicionário da língua portuguesa, Editora Nova Fronteira. Rio de Janeiro, 2001;
OLIVEIRA, Marta Kohl – Jovens e Adultos como sujeitos de conhecimento e Aprendizagem ( disponível em: http://educa.fcc.org.br/pdf/rbedu/n12/n12a05.pdf – acessado em 11/03/2012 às 18:03)
OWEN, Robert. Book of the New Moral World (citado em MILL, 2001);
ROSÁRIO, Miguel Barbosa do; DIEGUEZ, Gilda Korff – Etimologia (disponível em http://www.estacio.br/rededeletras/numero19/minha_patria/texto2.asp – acessado em 11/03/2012 às 17:57)
SANTOS, José Aparecido dos – Cálculos de Liquidação Trabalhista,2007;
SANTOS, Milton – A globalização ( vídeo disponível em –http://www.youtube.com/watch?v=yRsRH4Pky18 este será apresentado  a partir de 1/9  do filme, segue ao lado a continuação do mesmo);
SANTOS, Milton – O mundo Global Visto do Lado de Cá ( vídeo disponível em – http://www.youtube.com/watch?v=-UUB5DW_mnM);
SANTOS, Milton – Por uma Outra Globalização ( vídeo disponível em – http://www.youtube.com/watch?v=K6EIIQNsoJU);
SINGER, Paul – Introdução Economia Solidária 4ª reimpressão 2010

  1. [1]http://www.estacio.br/rededeletras/numero19/minha_patria/texto2.asp
  2. [2]SANTOS, JOSÉ APARECIDO DOS in Cálculos de Liquidação Trabalhista, 2008, p.102
  3. [3]http://www.via6.com/topico/46861/diferenca-entre-salario-e-remuneracão
  4. [4]SINGER, PAUL in Introdução à Economia Solidária, 2010, p.24
  5. [5] COLE, GEORGE DOUGLAS HOWARD in A Century of Co-Operation, 1944, p.24
  6. [6]OWEN, ROBERT in Book of the New Moral World, 1861, p68