Reflexões sobre Globalização e Economia Solidária

Ficha Síntese da Prática Pedagógica

Objetivos da Prática Pedagógica:
Trabalhar os conceitos de Trabalho, remuneração e salário, tendo como objetivo
Principais os motivos que trouxeram os migrantes.

Característica do grupo a quem foi aplicada a prática:
Trabalhadores nordestinos, portanto retirantes com histórias de vidas observáveis e que culpavam a terra nordestina por todos os sofrimentos de vida por eles vividos.

Dinâmica de trabalho adotada na prática pedagógica:
Foram trabalhados textos diversos, vídeos, musicas e relatos de vidas dos próprios alunos.

Recursos necessários para aplicação: 
Vídeo, rádio, textos, lousa, giz e papel.

Breve currículo da autora da prática pedagógica:
Formada em pedagogia, atuei na educação infantil, educação especial, atualmente atuo ensino fundamental e educação de jovens e adultos. Especializada em deficiência intelectual.

Dando seqüência ao assunto, levei para sala alguns textos que falam sobre a globalização e seus efeitos tanto positivo como negativo. Fizemos uma roda para debater e pontuarmos aquelas informações.

Passei então um vídeo do Milton Santos, feito pelo cineasta brasileiro Silvio Tendler : O mundo global visto do lado de cá.

Os alunos apontaram os avanços trazidos pela universalização dos conhecimentos situando a tecnologia e a facilidade que hoje todos têm em adquirir eletros eletrônicos que eram para poucos, então eles disseram que isso era positivo, pois todos têm TV, celulares e a maioria tem computadores em casa.

Quando passamos para os aspectos negativos, gerou um grande conflito, pois alguns acham que ter a mão de obra explorada, é conseqüência e outros acham um absurdo á maneira do trabalho nas multinacionais dizendo que a solução era parar de consumir os produtos

Então chegamos ao tema: Trabalho x remuneração e salário, pois os alunos como relatei no inicio deixaram suas regiões para migrarem para o sudeste, especificamente na cidade de Suzano no bairro do São Jose onde esta aula foi ministrada.
Trabalhei com eles o conceito da palavra trabalho, depois da leitura fizemos um semi circulo para então começamos a conversar sobre os conceitos em do trabalho, quando começamos então a debater o tema surgiu vários questionamento como:

1. Se trabalho é isso professora porque nos saímos então das nossas terras.
2. Trabalho não é só aquilo que eu faço em troca de dinheiro? Então o que eu fazia na minha terra não era trabalho.
3. Não professorinha pra mim trabalho é só aquele que tem carteira registrada.

Foi observado que cada um tinha sua concepção de trabalho e que de certa maneira todos tinham razão em seus raciocínios. Então levei para aula um pequeno texto que conceituava a palavra emprego. De imediato os alunos perceberam a diferença entre um e outro, comparando os conceitos chegaram à conclusão que emprego e trabalho eles tinham na sua terra natal, porem não havia um salário/remuneração digna para suas sobrevivências por isso tiveram que migrar para outro lugar em busca de um futuro melhor.

Este tema é amplo e pode ser trabalhado de acordo com as características da sala podendo abranger diversas áreas do saber conforme a demanda dos alunos.

Pegamos a vertente do trabalho dentro da economia solidária, que busca valorizar o individuo quanto trabalhadores. Mostrando que a economia solidária não é caridade, ela busca qualificar o trabalhador tendo a preocupação da pratica do preço justo dado às mercadorias produzidas. Então juntamente com a equipe da EcoSol de Suzano, ousamos em realizar uma feira de troca entre as escolas participante para que os alunos tivessem a oportunidade de vivenciar todo o conhecimento adquirido em sala.

Levamos a ideia da feira para sala de aula, os alunos acataram  e assim começaram as discussões em sala questionando as possibilidades de cada escola. No inicio pensamos em fazer algo somente com o grupo de professores envolvidos no curso, ao decorrer dos encontros foram surgindo idéias e sempre as mesmas eram levadas para sala de aula sendo compartilhados e discutidos com os alunos.

Sugiram assim varias idéias como:

  • Trocas com objetos que tínhamos em casa.
  • Trocas de gêneros alimentícios.
  • Troca de vestuários.
  • Troca de coisas produzidas pelos alunos.

Nos encontros as idéias não paravam de chegar, eram tantas que estava ficando difícil de processar, então depois de muita conversa entre o grupo e os alunos, ficou decidido que a feira seria mista com troca e venda e que seria criada a moeda social, onde cada sala faria as suas notas e daria nome à mesma.

Cada escola teria um aluno eleito pelo grupo estampada na moeda social, era uma tarefa e tanta, criar a nota, escolher um nome, e principalmente o aluno que representaria a escola. Como éramos oito escolas participantes decidimos fazer quatro valores de nota que foram as seguintes: 0,50(centavos), 1,00(o nome não tinha sido escolhido), 2,00 e 5,00.

Desta maneira todas as escolas seriam representadas, sendo à frente representando uma escola e o verso outra. As notas foram criadas, e muito conhecimento adquirido com essa atividade como:

  • A história do dinheiro.
  • A história dos números.
  • A história da arte.

Começamos então a criação saíram idéias lindas como essas:
Imagens de algumas das moedas sociais feitas na sala

 


Versão final da moeda social

Mas ainda precisávamos decidir muitas coisas e esclarecer outras como as vendas dos produtos, alguns alunos ainda não tinha entendido os conceitos da economia solidária esses foram novamente relembrados. Esta foi uma das maiores dificuldades a ser vencida durante o processo.

Passamos então a pensar como produziríamos as mercadorias, que tipo de mercadoria, quais os recursos necessários e como levantaríamos o capital para executar o projeto, me lembrei das aulas do professor Armando na elaboração de um projeto de economia solidária seria necessário seguir alguns passos como:

  • Planejar para realizar.
  • Dominar as ferramentas.
  • Viabilizar o envolvimento da comunidade.

Os conteúdos trabalhados nesta etapa foram:

  • Levantamento das necessidades.
  • Pesquisa.
  • Observação.
  • Escolha de serviço ou produto a ser oferecido.
  • Levantamento das necessidades de recursos.
  • Definição de custo de produção.
  • Valor e preço.
  • Como estabelecer o preço de venda.

 

Passei para sala que o importante naquele momento era a construção do conhecimento, e que os produtos que seriam comercializados teriam que ser produzido a partir do conhecimento próprio de cada um, e compartilhado com os demais já que tudo que seria vendido teria que ser produzido na escola no período de aula para garantir a participação de todos. O meu objetivo era que todos dividissem com a sala os saberes individuas transformando assim em saberes coletivos.

As idéias iam surgindo a cada aula, ate chegar o momento em que realmente seria decidido para facilitar o processo fizemos a lista de sugestões.

  • Sabão.
  • Pasteis.
  • Coxinha.
  • Bolos.
  • Trufas.

Com a lista de possibilidades começamos a pensar no custo da produção e das necessidades de recursos, então começamos a descartar o que seria inviável dentro das nossas condições. Da lista acima sobraram apenas dois itens: o sabão e o artesanato.
Assim mais uma etapa da feira tinha sido decidido fizemos a lista do material necessário para produção dos materiais.

Mas uma vez a bolsa auxilio foi indispensável, como relatei acima o meu objetivo era a universalização dos saberes. Começamos com a produção do sabão liquido trazido pela aluna Edna todos queriam aprender como se fazia o sabão liquido trabalhei primeiro a escrita da receita, lembrando que a receita é dividida por partes. Nome, ingredientes, modo de fazer e rendimento. O conhecimento é multidisciplinar abrangendo varias partes do saber como.

  • Língua Portuguesa.
  • Matemática
  • Ciências.
  • Meio ambiente e etc


Inicio do preparo do sabão liquido

Todos estavam atentos


E ajudando no preparo também

Foi um sucesso esta atividade, apesar dos obstáculos enfrentados no caminho. Então começamos a pensar no que faríamos mais, como tenho uma aluna costureira pedi pra que trouxesse retalhos de tecido, outras alunas também trouxeram então separamos e como eu já tinha trabalhado anteriormente com outra turma o fuxico comentei sobre a possibilidade de fazermos broxes, presilhas e colares de fuxico.


Alunas fazendo os fuxicos

Mais uma vez o financeiro pesou não tínhamos recurso suficiente para comprar o material necessário, então me lembrei de um peso de porta que havia ganhado há tempos atrás levei novamente a ideia todos gostaram. Um aluno teve a ideia de usarmos como base ou vaso latas de leite ou Nescau estaria assim usando quase todo material reciclável, outro aluno se ofereceu para pintar, pois tinha sobra de tinta e assim foi feito.

Começamos a fuxicar separamos o final da aula para trabalho, fizemos pregadores decorados com E.V.A, os pregadores também foram doados por vários alunos. Nesta etapa percebemos que o sabão liquido havia qualhado deixando o aspecto feio e impróprio para venda, aproveitei a oportunidade para relembrar a importância do capricho na hora do preparo, perguntei se eles comprariam um produto com aquele aspecto e todos responderam que não.

O mesmo aconteceu com os fuxicos na hora de montarmos os pesos de portas percebemos que alguns não estavam de acordo sem que eu precisasse falar eles mesmos resolveram desmanchar e refazer.


Enquanto alguns alunos faziam o fuxico outros pintavam os pregadores


E outros cortavam o E.V.A

Gostei da atitude deles sinal de aprenderam os conteúdos trabalhados, resolvemos fazer o sabão em pedra mais usado e conhecido por todos. Durante dois meses trabalhamos todos os dias na produção dos materiais independente do sexo todos ajudaram na costura do fuxico, foi muito bom ver todos unidos no mesmo propósito.


Alunas fazendo o sabão em pedra


O sabão foi colocado em caixas de leite para facilitar na hora de cortá-lo.

Estávamos quase no dia da feira tínhamos ainda de delegar funções para o dia da feira, quem iria montar e desmontar as barracas, durante todo o evento teria que ter aluno na barraca, como faríamos a distribuição dos horários e funções, então os alunos se reuniram e entre si delegaram as funções de cada um para o dia da feira.

Ainda faltava colocar os preços nas mercadorias, então mais uma vez buscamos os conhecimentos adquiridos na aula do professor Armando e fizemos o calculo do custo da produção para pensarmos qual seria o valor da nossa mão de obra.

Essa parte também foi trabalhosa, alguns queriam vender as peças pelo valor do custo da produção dizendo “tá bom professorinha o que nos fizemos aqui foi só pra aprender mesmo” outros diziam “imagine tivemos um trabalhão pra fazer tudo isso tem que ser caro mesmo”.

A cada momento que apareciam esses tipos de conflitos retomávamos alguns dos principais princípios da economia solidária que é o preço justo, fiz isso durante todo o processo.

Então no dia e hora combinado cada um assumiu o seu posto e tudo ocorreu da maneira planejada. A feira foi um sucesso, nossa barraca vendeu todos os produtos produzidos, os alunos se sentiam envaidecidos cada vez que pessoas elogiavam os trabalhos, foi magnífico vivenciar tudo aquilo. Para que a feira pudesse ser realizada contamos com algumas parcerias que foram essenciais para realização da feira como: Sesana que colaborou com o empréstimo das barracas; secretaria de educação que colaborou com a divulgação da feira nas escolas municipais; com a secretaria de transito que colaborou interditando a rua e dando apoio para realização do evento, para articulador Kaio, para as assessoras de escola Silvana e Tatiana,   e a todos que de maneira direta ou indireta nos apoiaram para realização da feira.


O dia tão esperado finalmente chegou


Teve alunos que foram no seu horário de almoço


Aqui sou eu feliz com o sucesso alcançado

Depois de todo o sucesso da feira tínhamos que pensar o que fazer com o dinheiro arrecadado, foi decidido pelo grupo que faríamos a festa de despedida


Fomos visitar a feira noturna da agricultura familiar de Suzano.


Fizemos um belo churrasco com a verba arrecadada.


Agora é só aproveitar.


Minhas queridas alunas

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