Bioconstrução, Geodésicas e Educação de jovens e adultos

Autor: Claudio Leão Chaubet
Orientador: Prof. Ricardo de Sousa Moretti

A meus pais
À minha esposa e filhas pelo apoio constante

 

AGRADECIMENTOS

À Universidade Federal Do ABC;
À Prefeitura Municipal de São Paulo;
Aos colegas do Cieja Butantã e Campo Limpo;
Aos alunos da Incubadora da USP pela capacitação na formação em Economia Solidária;
Ao Orientador Prof. Ricardo de Sousa Moretti pelo acompanhamento amigável e competente;
À minha esposa Maria Luisa pela paciência e apoio;
Às minhas filhas Mariana e Juliana pela ajuda na leitura e organização da monografia;

 
SUMÁRIO

  • Introdução
    Objetivo
    Justificativa
    Metodologia
  • Práticas Pedagógicas
    Prática 1: Reflexão sobre processos alternativos de construção, moradia e autoconstrução
    Prática 2: Armar o esqueleto de uma geodésica e reconhecê-la como possibilidade de moradia
  • Considerações finais
  • Referências bibliográficas
  • Anexos
    Anexo I
    Anexo II

 

INTRODUÇÃO
Em 1972, durante conferência das Nações Unidas denominada “Os limites do crescimento”, aparece a temática “Ecodesenvolvimento”, que mais tarde evoluiu para “Desenvolvimento sustentável” e finalmente na ECO 92 surge o compromisso firmado por mais de 170 países em criar UM MUNDO MELHOR.  A qualidade do ar, da água e da vida no planeta Terra estão se tornando preocupações da Ciência, da Política, da Sociedade em geral.

Devido a esse fato alguns temas vêem se evidenciando, tais como: permacultura, agricultura orgânica, bioconstrução, sustentabilidade, o que sugere um resgate de formas menos agressivas de o homem estar nesse planeta, procurando uma harmonia entre o meio ambiente e a atividade humana.

Há ainda alguma confusão em torno desses conceitos, pois eles carecem de maiores discussões e aprofundamentos. Muita gente se aproveita da repercussão que essas ideias vêm alcançando na internet e na mídia em geral para usá-las com outras intenções, às vezes elas aparecem ligadas a interesses que pouco têm a ver com que esses conceitos significam, ou dão a esses conceitos interpretações convenientes e pontuais.  Assim hoje vemos propagandas de: Bancos sustentáveis, prédios sustentáveis etc., é comum encontrarmos o adjetivo sustentável em muitos lugares. Prédios que pouco se aproximam do conceito de sustentável são vendidos como sendo. Por isso, alguns cuidados se fazem necessários quando falamos de sustentabilidade e por isso convém esclarecer o que entendemos por tais conceitos.

Para os fins desse trabalho, entendemos sustentabilidade como sendo o termo usado para definir ações e atividades humanas que visam suprir as necessidades atuais dos seres humanos, sem comprometer o futuro das próximas gerações. Ou seja, a sustentabilidade está diretamente relacionada ao desenvolvimento econômico e material sem agredir o meio ambiente, usando os recursos naturais de forma inteligente para que eles se mantenham no futuro (IPEC, s/d).

Outro termo citado é permacultura. A permacultura é uma metodologia de design, planejamento e execução para a integração dos elementos de um sistema (pessoas/animais/plantas/tecnologias) com economia de energia e recursos, e visa satisfazer as necessidades humanas essenciais em harmonia com o ambiente, criando comunidades sustentáveis (MOLLISON apud IPEC, s/d).

Por fim, bioconstrução é o termo utilizado para se referir a construções onde a preocupação ecológica está presente desde sua concepção até sua ocupação. Já na concepção, as bioconstruções valem-se de materiais que não agridam o ambiente de entorno, pelo contrário: se possível, reciclam materiais locais, aproveitando resíduos e minimizando o uso de matéria-prima do ambiente. Todo projeto foca no máximo aproveitamento dos recursos disponíveis com o mínimo de impacto (MMA, 2008).
Sem entrar no mérito desses conceitos, porém atraídos por essa linha de pesquisa e procurando novidades na internet para motivar a aprendizagem dos alunos de EJA, algo nos chamou a atenção: uma construção até certo ponto estranha chamada de geodésica [1].

Geodésicas são estruturas idealizadas e estudadas pelo arquiteto Robert Buckminster Fuller na década de 50. São compostas por polígonos formando uma rede de triângulos. Quanto maior a quantidade de triângulos, mais a estrutura se aproxima de uma esfera.

Nas nossas aulas de Matemática, mais especificamente nas de geometria, costumamos falar muito no uso do triângulo em construções devido principalmente a sua rigidez. Pensamos em aproveitar esse conceito para construir estruturas geodésicas. A princípio apenas maquetes, e posteriormente, por que não, estruturas reais que possam servir de moradia.

Na ocasião da nossa pesquisa acontecia em São Paulo um curso de permacultura do Gaia Education Brasilândia. O Programa Gaia Education é uma das maiores referências de formação teórico-prática em sustentabilidade em 18 países, cujo objetivo é promover educação para o desenvolvimento sustentável por meio da abordagem interligada, teórica e prática, dos quatro eixos temáticos da sustentabilidade: social, ecológica, econômica e de visão de mundo.

Durante o curso, os alunos, juntamente com especialistas construíam uma geodésica no terreno do Centro de Estudos Unificados do Jardim Paulistano -Brasilândia  da Prefeitura Municipal de São Paulo, mesmo local onde se realizava o curso, com bambu e barro, e uma base de super adobe, conforme explicaram. A técnica de construção do superadobe foi desenvolvida nos anos oitenta pelo Iraniano radicado nos Estados Unidos, Nader Khalili. Essa técnica lhe rendeu o prêmio em um concurso oferecido pela NASA, agência espacial americana que na época pesquisava a construção de uma base na lua.

No superadobe as paredes da construção são erguidas com sacos preenchidos com subsolo local. O saco nada mais é do que um grande tubo de polipropileno com aproximadamente 50 cm de largura, que é adquirido em bobinas por metro ou quilo. Um pedaço do saco é cortado no comprimento desejado e vai sendo preenchido com terra através de um funil. Assim vão sendo formadas as “fiadas” que depois são apiloadas e cobertas por outra fiada, sucessivamente, até a parede ser completamente erguida. (FUNDAÇÃO BRASIL CIDADÃO, s/d)

A estrutura da geodésica era feita de triângulos eqüiláteros e isósceles. Após a conclusão da estrutura ela seria revestida com uma mistura de terra, cimento e areia, formando um ambiente que a escola pretendia usar para sala de aula em atividade extracurriculares. (vide slides 58 a 61 onde são mostradas algumas etapas da construção). Imaginamos que isso poderia ser um tema interessante para as nossas aulas de matemática na Educação de Jovens e Adultos, pois muitos dos nossos alunos são pedreiros, serventes, ajudantes em geral, enfim ligados de alguma forma à construção.

Em recente pesquisa entre os alunos do CIEJA Butantã (São Paulo), as profissões que aparecem com maior frequência são: o pedreiro, o servente de pedreiro, a cozinheira e a empregada doméstica, ajudantes em geral (pajens, repositores de mercadoria, zeladores, porteiros etc.). Atividades que não exigiam nível fundamental completo.

Entre esses alunos, independentemente de sua profissão, identificamos o aluno construtor. Esse aluno, em razão de suas necessidades de moradia é o construtor da sua própria residência, construído muitas vezes em condições difíceis, onde, em geral o homem é o pedreiro e a mulher é a servente. Às vezes esse trabalho é feito em mutirão, amigos e vizinhos se reúnem no final de semana e mão na massa.

Em geral, essas autoconstruções são feitas com tijolo, areia e cimento.

Em conversas informais com esses alunos construtores foi perguntado se era possível construir uma casa sem usar tijolo, areia e cimento. Qual não foi nossa surpresa ao saber as muitas possibilidades diferentes de se construir uma casa que eles conheciam: pau-a-pique, adobe, mistura de palha com barro, etc. Numa simples conversa muitas sugestões e possibilidades muito diferentes do simples uso do tijolo, cimento e areia.

Esses homens e mulheres conhecem e dominam técnicas que antecedem ao surgimento do “progresso” por assim dizer, trazido pelo cimento.  Eles são detentores de um saber que por falta de uso vai se perdendo e virando fumaça. Havendo possibilidade, ninguém quer construir uma casa de pau-a-pique num centro urbanizado, pois isso seria sinônimo de falta de progresso, deixaria as cidades feias e trariam doenças.  Casa de pau-a-pique é coisa da zona rural, que ficou lá para trás.

Quando uma família resolveu abandonar sua casa, seu modo de vida e suas raízes para viver num centro urbano, trouxe consigo  poucos  bens materiais, mas muito de uma sabedoria que foi forjada no fogo da necessidade e aprimorada ao longo de séculos.
Porém essas construções representavam o atraso. A construção de pau-a-pique, quando mal feita e sem acabamento pode se degradar em pouco tempo, apresentar rachaduras inclusive se tornando alvo de roedores e insetos, que se instalam nestas aberturas. Durante muitos anos, o pau-a-pique foi associado ao barbeiro (Triatoma infestans), inseto transmissor da Doença de Chagas. Para se combater o inseto vetor da doença de Chagas devia-se evitar construir casas de pau-a-pique.

O que se desejava é o progresso. Esse progresso passava pelo cimento e areia.

Nabil Bonduki no seu livro “As origens da habitação social no Brasil” analisa as origens da intervenção na questão da habitação de interesse social no Brasil.

Desde a República Velha, com a construção das vilas operárias, pelas indústrias, para serem alugadas a preços baixos aos seus operários com a finalidade de fixarem seus operários indispensáveis nas imediações das suas instalações, ou simplesmente para mantê-los sob seu controle político e ideológico, evitando greves ou paralisações e criando um mercado de trabalho cativo, ameaçado pelo despejo até a “solução periférica”, nome que se deu à venda de lotes na periferia dos grandes centros para assentar, os migrantes e aqueles que não conseguiram suportar a inflação nos alugueis, temos a presença do cimento e areia.

O padrão periférico, por assim dizer se estabeleceu como alternativa para a construção popular, estruturando todo um sistema que visava estimular o trabalhador a edificar sua casa a baixo custo, pois ao comprar um lote, o comprador recebia o material já colocado no local, mesmo assim parecia claro que seja qual fosse a autoconstrução ou autoempreendimento, não se discutiram formas alternativas de construção. O governo limitou-se a regularizar os lotes e só. Com relação a padrões mínimos de urbanização, a administração pública fez-se ausente, aceitando a favela como uma forma para resolver a situação de moradia mesmo que esse assentamento habitacional fosse precário e insalubre.

O aluno da Educação de Jovens e Adultos (EJA) é esse migrante ou descendente desse migrante que constrói sua própria moradia, aproveita o que tem para construir o seu abrigo: pedaços de lata, sobras de madeira, papelão. A moradia é precária, mas não é definitiva. Ele sonha em transformar essa estrutura precária e insalubre, numa construção sólida que ele possa chamar de casa, assim que possível

O que se oferece no mercado para esse trabalhador é tijolo, cimento e areia. Novamente não se oferece alternativas para construir a sua moradia. Ele se vê obrigado a construir com tijolo, cimento e areia, porque é o que tem.

Queremos mostrar nesse trabalho essas formas de se construir uma casa. Resgatar o que o aluno já sabe nessa área e apresentar essa estrutura chamada geodésica.

Florestas de cimento e pedra surgiram de uma hora para outra. Uma pergunta que não faria sentido décadas atrás: “Qual a cor da cidade?”, hoje ninguém pestaneja para responder: é cinza. O que era chamado progresso, está tornando a vida do homem no planeta terra insustentável.

Se a vida no planeta se tornar insustentável, a raça humana obviamente perecerá. Então nada mais oportuno que discutir no âmbito da escola, temas como permacultura, sustentabilidade, bioconstrução etc., que podem ajudar em uma transição para a vida sustentável.

O aluno da EJA, principalmente o aluno adulto traz o espírito do homem que se faz por si mesmo, ele é um sobrevivente de um mundo que só lhe propôs condições adversas na vida. Ele sofreu ou ainda sofre toda sorte de impedimentos a uma vida plena. Em geral é um aluno pobre, com escolaridade interrompida ou nem mesmo começada e sem informações teóricas. Embora ele tenha conhecimento em função da sua vivência, tradições culturais etc., esse saber não é valorizado no contexto escolar. Saber preparar uma comida típica de alguma região do Brasil, saber uma dança ou uma brincadeira que tenha a ver com as suas tradições culturais, saber fazer sabão, saber fazer tijolo ou até uma casa de pau-a-pique, por exemplo, não são saberes valorizados no currículo escolar, moldado à forma do sistema capitalista. Muitas vezes esses saberes são desprestigiados e até ironizados num contexto mais urbano: “Saber fazer tijolo, para quê?”, Saber fazer vatapá? E daí? O aluno mergulhado numa cultura de “progresso” que menospreza as tradições e a cultura popular passa a considerar pouco importante o seu saber. Assim esse saber vai virando fumaça até desaparecer, vai se perdendo e o que é pior, não é transmitido aos descendentes. Esses descendentes jamais saberão das coisas que seus avós sabiam. Enfim perderão identidade.

Rubem Alves escreveu um livro que acreditamos ser bastante emblemático para entender a transição de dois mundos ou de dois tempos que se seguem e suas transformações. Ele diz: “… na minha infância o fogo tinha que renascer a cada manhã. Ele nunca estava pronto. A dona de casa que de manhã tirava as brasas de sob a cinza e arranjava os paus, os gravetos os pauzinhos e o capim em volta e sobre as brasas estava fazendo o fogo nascer….,O fogo nascia porque a dona de casa sabia fazê-lo nascer! Ela conhecia seus segredos! As mulheres eram parteiras e guardiãs do fogo!” (Alves, Rubem 2003 p. 29)

Talvez na zona rural esse saber ainda seja necessário. Hoje em dia, diante dos fogões e isqueiros modernos esse é um saber sem importância para determinados contextos. Quando se pergunta numa sala de EJA, “o que vocês sabem fazer?”, dificilmente alguém responderia: “Eu sei fazer fogo” ou “ eu sei fazer uma comida típica” ou “eu sei dançar um ritmo característico de uma determinada região” ou “eu sei fazer uma casa”. Os alunos não percebem que são portadores de um saber importante forjado nas lides da experiência.

Acreditamos que esse saber é desqualificado, muitas vezes propositadamente porque a forma como a sociedade ocidental se estruturou a partir da revolução industrial está baseada no consumo. Quando o sistema identifica um nicho de consumo, por exemplo, bolacha, ele procura substituir, e até mesmo anular aqueles que sabem fazer bolachas transformando-os em consumidores. Um capitalista vai montar uma indústria de bolachas a fim de lucrar com isso.  Para que isso ocorra, a indústria vai competir com a concorrência que também sabe fazer bolachas, muitas vezes tentando acabar com a concorrência, mesmo que seja caseira.  Essa indústria vai fabricar mais rápido, melhor e em larga escala. Isso lhe possibilita vender seu produto a um preço muitíssimo menor.

Se o que se quer é vender tijolo e cimento, então é preciso estabelecer um modelo de construção que supere, isto é, que substitua qualquer outro modelo.

Essa forma como a sociedade ocidental se estruturou, desprestigia a cultura popular e torna sem importância o saber popular, quando é do seu interesse. Destroem-se os saberes que as pessoas trazem se isso for conveniente ou se isso for empecilho aos seus propósitos expansionistas, o ser humano só tem valor quando consome. Na economia solidária não se quer isso. Não se quer produzir riqueza para a acumulação de poucos. Pensa-se em produzir riquezas, porém valorizando o ser humano e sem destruir o planeta.

Nós educadores muitas vezes, reforçamos essa forma de viver. Se nós estamos num mundo em busca do lucro desenfreado, do interesse privado se sobrepondo ao coletivo, a educação reproduz esse modo de ser, muitas vezes sem nenhuma reflexão por parte da escola. A escola vem ensinando o homem a ser competitivo, ensinando que o que importa é o lucro a qualquer preço. Descarta-se a solidariedade, a fraternidade e o compromisso com o que na verdade é importante, isto é, o que é indispensável para todos, que é manter o meio ambiente saudável para que possamos desenvolver as nossas vidas.

Assim, nós professores da EJA, sem o devido cuidado, acabamos contribuindo, de certa forma para esvaziar esses saberes, fazendo-os desaparecer. Dizemos para eles: esqueça o que você sabe, pois agora você vai “aprender” o que realmente importa: o conhecimento acadêmico, fragmentado, cartesiano onde a parte é mais importante que o todo.

O aluno adulto quando volta para a escola acha que não sabe nada. Ou melhor, que o seu saber não é importante. Ele próprio não se valoriza. Quer esquecer, como se fosse possível todo o processo que o levou a ser como é. O seu saber está tão distante da escola que, às vezes, a única saída (alternativa) que esse aluno enxerga é a saída (desistência), engrossando os índices de evasão, pois quando queremos “ensinar” matemática sem levar em consideração o seu saber, de certa forma ele continua sendo desrespeitado.

Lia Tiriba em “Educação popular e pedagogia(s) da produção associada, nos diz que: ”É preciso repensar a escola, a fim de ampliar os espaços educativos que promovam novos saberes e novas práticas sociais.” Ela propõe também que é preciso “compreender as iniciativas populares como instâncias educativas, aprendendo com os trabalhadores as formas como vêm tentando administrar seus empreendimentos.”

O Cieja – Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos – constitui-se num espaço onde a EJA e Economia Solidária se aproximam.  “Entende-se por Economia Solidária como sendo uma forma de produção, consumo e distribuição de riqueza (economia) centrada na valorização do ser humano e não do capital. Tem base associativista e cooperativista, e é voltada para a produção, consumo e comercialização de bens e serviços de modo autogerido, tendo como finalidade a reprodução ampliada da vida. Preconiza o entendimento do trabalho como um meio de libertação humana dentro de um processo de democratização econômica, criando uma alternativa à dimensão alienante e assalariada das relações do trabalho capitalista” (SINGER, 2002).
Nesse contexto, o currículo de EJA que adotamos já contempla conteúdos que são pilares das propostas da Economia Solidária. Além de ser um espaço onde é possível a escola articular-se com a comunidade local e com os movimentos populares, o trabalhador é ouvido, valoriza-se a diversidade cultural, educa-se para a solidariedade, e é um lugar de trocas, onde também se aprende com o aluno. Enfim onde o “tempo” de aprendizagem desse trabalhador é respeitado.

A escola é um dos ambientes onde deve ocorrer a construção, a divulgação dos princípios da economia solidaria, de conceitos como sustentabilidade, permacultura e sua importância na preparação das novas gerações para esse “Mundo melhor”. A escola não pode simplesmente reproduzir em escala menor a sociedade, ela precisa contribuir para transformar esse mundo que desumaniza o homem.

Qual a contribuição da Educação para a formação de um mundo melhor? “A educação deve assumir sua tarefa filosófico-científica de compreender bem o mundo, difundir no meio social que o nosso mundo está sendo comprometido pelo tipo de desenvolvimento social que estamos seguindo, e finalmente pode colaborar para que o homem individual e coletivamente tenha outra postura frente ao mundo, uma postura que descarte o consumismo desenfreado, mostrando claramente a finitude dos recursos naturais do mundo, vivendo sem destruir o planeta.” (Martins, s/d)

Já na Educação de Jovens e Adultos trabalhar com conceitos ligados à sustentabilidade, permacultura, bioconstrução, proporciona além do aprendizado, uma reflexão sobre o modo de vida de cada aluno, pois tais pessoas viveram e cresceram num mundo onde se “pensava” nos recursos naturais como algo inesgotável.  Como educadores temos observado várias iniciativas, governamentais ou não, informando sobre poluição das águas, do ar, divulgação sobre o esgotamento e finitude dos recursos naturais, mas essa divulgação tem sido feita de forma a criar medo na população, como querendo culpá-la pelo desmatamento da Amazônia, pela poluição do ar, pela poluição da água. Espera-se que alguém que não participou da festa, agora pague a conta. Essa maneira alarmista de divulgar essas informações, talvez sirva para alguns fins, mas certamente não funciona como metodologia. Não serve para conscientizar o educando a incorporar novas práticas mais adequadas a essa nova realidade.  O educando precisa se sentir parte do mundo, saber que um ato seu desencadeia consequências, demonstrando que tudo está interligado.

Objetivos

O objetivo desse projeto é regatar técnicas de produção da própria moradia, contextualizar a perda do domínio dessas técnicas e apresentar uma alternativa tecnológica de construção, como temáticas de EJA, tendo como pano de fundo os princípios da Economia Solidária.

Em seguida construir a maquete de uma forma geodésica de frequência 2 (Anexo I), trabalhando conceitos da matemática tais como: medidas, proporções, formas geométricas, rigidez do triângulo etc.

Justificativa

Esse projeto insere o aluno da EJA na discussão dos princípios da economia solidária fornecendo subsídios para o desenvolvimento da autonomia na construção de um mundo sustentável para si e seus descendentes além de trabalhar os conteúdos que envolvem matemática de uma forma mais atrativa e aplicável.

Metodologia

Essas práticas foram pensadas para aplicação com alunos da EJA em processo de alfabetização que no Cieja é denominado módulo 2 (equivalente a 3ª e 4ª série) e também para alunos alfabetizados, o que no Cieja chamamos de módulo 3 (é equivalente a 5ª e 6ª séries), porém é possível fazer adaptações e aplicá-las para outros módulos.

O que os alunos chamam de “aulas” no Cieja nós chamamos de encontros. Esses encontros correspondem a 3 aulas seguidas de 45 minutos cada.  Essas atividades foram desenvolvidas em alguns dias e os alunos foram convidados a participar de uma atividade extra. Assim os alunos envolvidos eram de diversas etapas de aprendizagem, isto é, alunos em processo de alfabetização ou alfabetizados

PRÁTICAS PEDAGÓGICAS

  • Prática 1: Reflexão sobre processos alternativos de construção, moradia e autoconstrução
  • Prática 2: Armar o esqueleto de uma geodésica e reconhecê-la como possibilidade de moradia

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A frase “Parece casa de passarinho” parece-nos bem emblemática. A construção foi reconhecida como casa. Os alunos responderam: Sim, quando se perguntou se essa construção  poderia se tornar a casa de alguém.  Desde que obviamente fosse maior.
Da nossa parte acreditamos ter atingido o objetivo de mostrar uma técnica de construção possível e relativamente fácil de se fazer.
Terminamos o encontro mostrando aos alunos um site de vendas de casas nos Estados Unidos especializado em geodésicas. E o que parecia um exercício de matemática repentinamente virou realidade.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABRAMOVAY, Ricardo, (Organizador). Laços financeiros na luta contra a pobreza. São Paulo: Annablume; Fapesp; ADS-CUT; Sebrae, 2004.
ALVES, Rubem. Quando eu era menino/Rubem Alves; ilustrações Paulo Branco. – Campinas, SP: Papirus; Rubem Alves ME, 2003.
Bioconstrução e Permacultura. Disponível em: www.ecocentro.org Acessado em: 20/07/2011.
BONDUKI, Nabil Georges. Origens da habitação no Brasil. Análise Social, vol XXIX (127), 1994 (3º), 711-732.
Como construir uma cúpula geodésica? Disponível em: http://ensinofisicaquimica.blogspot.com/2008/01/como-construir-uma-cpula-geodsica.html Acessado em: 01/07/2011.
Desafios da Economia Solidária. 1ª Ed. São Paulo: Editora e Livraria Instituto Paulo Freire, 2008. Vários autores.
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DINIZ, João Antônio Valle. Estruturas Geodésicas: Estudos Retrospectivos e proposta para um espaço de educação ambiental. Disponível em: http://joaodiniz.files.wordpress.com/2011/07/joao-diniz-dissertac3a7c3a3o-final2.pdf Acessado em: 20/07/2011.
Educação Matemática. Alfabetização e Cidadania. Revista de Educação de Jovens e Adultos. Nº 14 – julho de 2002.
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GADOTTI, Moacir. Economia solidária como práxis pedagógica. São Paulo: Editora e Livraria Instituto Paulo Freire, 2009.
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MARTINS, Marcos F. Prof. Dr. do Mestrado em Educação do Centro UNISAL de Americana. Leitura pessoal sobre o Filme A História das Coisas. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=1jF3EGSpIEw Acessado em: 20/04/2011.
MARTINS, Marcos F. Prof. Dr. do Mestrado em Educação do Centro UNISAL de Americana. Revista de ciência da educação. Publicação periódica do Centro
UNISAL, sob a coordenação do Programa de Mestrado em Educação. Ano X – N.º 19 – 2.º Semestre/2008 – 288 p. Disponível em: http://www.am.unisal.br/pos/Stricto-Educacao/revista_ciencia/EDUCACAO_19.pdf   Acessado em: 14/07/2001.
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IPEC – Instituto de permacultura do cerrado. Bioconstrução. Disponível em: www.ecocentro.org. Acessado em: 10/06/2011.
SINGER, Paul. Introdução à Economia Solidária. 1ª Ed. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2002.
TIRIBA, Lia. Educação Popular e Pedagogia(s) da Produção Associada. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v27n71/a06v2771.pdf Acessado em: 18/09/2011.

ANEXOS

  1. [1] A palavra Geodésica provém do termo Geodésia que é a ciência geológica que trata do tamanho, da forma, e do campo de gravidade da terra. (IBGE)