Protagonismo e gestão compartilhada: a feira de trocas e a construção da autonomia

Autora: Roseli Aparecida de Oliveira Pereira
Orientadora: Profª. Ms. Regina Soares de Oliveira

AGRADECIMENTOS

Aos professores, em especial a minha orientadora
Ms. Regina Soares de Oliveira, formadores da Incubadora da USP
e alunos do curso EJAECOSOL pela utopia compartilhada.

SUMÁRIO

  • INTRODUÇÃO
    Objetivos e metodologia
  • 1- Situando o trabalho do CIEJA Butantã
    1.1 – Caracterização dos educandos do CIEJA
  • 2- ECONOMIA SOLIDÁRIA E EJA: PRINCÍPIOS E PRÁTICAS
  • 3- TRABALHO COLETIVO E GESTÃO COMPARTILHADA
  • 4 – PRÁTICAS PEDAGÓGICAS
  • 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
  • 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
  • 7. ANEXOS

INTRODUÇÃO

Uma indagação constante no trabalho com a educação de jovens e adultos realizado no Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos – CIEJA Butantã – diz respeito aos possíveis aspectos que favorecem a aprendizagem e permanência dos educandos. Sabemos que retomar ou iniciar os estudos na idade adulta é sempre um desafio, questões sociais interferem diretamente nesse processo. Em relação às mulheres percebemos que se por um lado a dupla jornada de trabalho e a desvalorização de seu papel na sociedade são agravantes e impedimentos, por outro a perseverança e o envolvimento nas atividades coletivas também se apresentam como potencialidades para o sucesso na trajetória escolar.

Acompanhamos as iniciativas de participação de algumas educandas em grupo, seja nos grupos de estudos, nas atividades culturais e nas reuniões de representantes para compreender um pouco mais quais as motivações e perspectivas que as tornam protagonistas de ações coletivas.

A gestão do CIEJA Butantã sempre buscou uma orientação em direção à construção coletiva. Os momentos de formação são essencialmente dialógicos provocando um comprometimento dos educadores com o trabalho que realizamos.

Acreditamos que a formação coletiva deve reafirmar a importância da investigação, do desvelamento da realidade e da busca de caminhos que transformem práticas desvinculadas em práticas voltadas para problematização e o trabalho com as diferenças de processos de aprendizagem. Daí a importância da gestão ser compartilhada.

Analisaremos a participação dos educadores conjuntamente com os educandos na organização da feira de trocas. O exercício de composição, manutenção e discussão do grupo implica negociações, movimentos de avanços e recuos que são inerentes às ações coletivas.

Portanto, o estudo sobre a autogestão, gestão compartilhada e economia solidária podem elucidar sobre os aspectos que promovem a participação efetiva e a autonomia dos sujeitos em situações de aprendizagem.

Objetivos

  • realizar estudos relacionados à autogestão e gestão compartilhada assim como da concepção de educação crítica social;
  • compreender como as práticas de gestão compartilhada podem ser ampliadas e efetivadas no espaço escolar;
  • relacionar as trajetórias das mulheres a partir de relatos de vida de educandas que iniciam os estudos ou voltam a estudar na Educação de Jovens e Adultos no CIEJA Butantã;
  • acompanhar a organização de uma feira de trocas analisando a participação de educadores e educandos do CIEJA Butantã.

Metodologia

A metodologia adotada é qualitativa a partir da análise de estudo de caso, visando “(…) identificar os vários processos interativos em ação e mostrar como eles afetam (…) e influenciam a maneira de como uma organização funciona” (BELL, 2008, p.18) e, ao mesmo tempo, pode ser considerada também uma pesquisa-ação, pois pretendemos que os participantes continuem a rever, avaliar e melhorar a prática.

É com esse intuito que realizamos esse estudo: de apresentar e analisar as experiências de formação de educadores e da realização da feira de trocas no CIEJA Butantã.

1- SITUANDO O TRABALHO DO CIEJA BUTANTÃ

A estruturação do trabalho no CIEJA Butantã foi concebida a partir da organização em quatro módulos, turmas (grupos classe) e seis períodos com duração de duas horas e quinze cada um, organização essa muito semelhante à das unidades escolares tradicionais. Contudo, a nova estrutura indicava o trabalho por áreas de conhecimento [1], confrontando-se com a organização em disciplinas.

Trabalhamos com módulos de duração de um ano. Sendo a correspondência do módulo I aos 1º e 2º anos; o módulo II, aos 3º e 4º anos do Ensino Fundamental I; o módulo III, aos 5º e 6º anos e o módulo IV aos 7º e 8º anos do Ensino Fundamental II .

Em nossa experiência, as atividades integradas desenvolvidas com os educandos, objetivam a discussão de temas de interesse geral. Temos, portanto, como ponto de partida de um trabalho interdisciplinar. Entretanto, visando a uma integração curricular que favoreça o princípio da interdisciplinaridade, tornou-se necessário aprimorar a prática de planejamento de atividades integradas, inclusive no que concerne ao mundo do trabalho, já que a proposta do CIEJA tem em seu currículo cursos básicos de capacitação profissional – os itinerários formativos.

“(…) Propiciar a jovens e adultos condições para a construção coletiva do conhecimento, de modo a favorecer a sua inserção no mundo do trabalho e o prosseguimento dos seus estudos em outros graus ou modalidades de educação básica ou profissional, assim como outras oportunidades de desenvolvimento cultural (…)   (SME PMSP, 2002, p.13)

A escrita e a leitura não configuram eixos temáticos; contudo, são competências que permeiam toda a intervenção pedagógica.

Na busca de soluções para nossos questionamentos, temos realizado – educandos e educadores – várias leituras, não só de textos verbais, como também de mundo: idas a exposições, teatros, museus, cinemas e outros locais da comunidade local têm permeado nosso trabalho.

Todo projeto interdisciplinar competente nasce de um lócus bem delimitado; portanto, é fundamental contextualizar-se para poder conhecer. A contextualização exige que se recupere a memória em suas diferentes potencialidades, resgatando assim o tempo e o espaço no qual se aprende”. (FAZENDA, 2002,pág.12.)

Em relação à evasão, acreditamos que muitos são os fatores que interferem na permanência dos educandos durante todo o ano. Não podemos afirmar com convicção quais são os reais motivos que fazem o educando desistir de estudar, porém, temos algumas hipóteses que podem justificar a evasão, tais como o tempo gasto em deslocamentos, cada vez maior, que exige uma racionalização de horários, bem como dos custos que isso implica. Nesse contexto, o CIEJA atende a um público que necessita frequentar a escola em horários compatíveis com suas diferentes atividades: trabalho, cuidados domésticos e familiares e, em alguns casos isso não é possível, há também as inconstâncias do mercado de trabalho, mudanças de bairros, municípios e até mesmo de estados e ainda o fato de alguns educandos não se sentirem capazes de aprender.

O trabalho pedagógico desenvolvido no CIEJA Butantã tem por base o processo diferenciado de aprendizagem do jovem e do adulto. A aprendizagem não é apenas uma questão de maturidade, mas um processo em que entram em jogo as experiências vividas, os contextos social e cultural, as características da pessoa em diferentes fases de desenvolvimento e a qualidade da mediação do educador e dos colegas que têm, em especial, um papel importante nas aprendizagens futuras e na vida dos educandos.

A organização curricular, por sua vez, continua pautada nas referências ao construtivismo sócio-interacionista, que concebe a educação como uma prática que possibilita a criação de situações em que o conteúdo seja trabalhado de forma contextualizada e significativa; itinerários formativos (como eixo/fio condutor) para a articulação entre a educação fundamental e a profissional; organização do currículo em módulos flexíveis, sequenciais e progressivos, que devem ser constituídos a partir de projetos; flexibilidade; dialogicidade e interação grupal; interdisciplinaridade.

Sabemos que nosso trabalho é respaldado pela organização coletiva dos educadores que compõem o CIEJA Butantã, há muito buscamos a qualidade social da educação oferecida neste Centro e é essa busca que nos move para novas aprendizagens.

A participação de um grupo de educadores do CIEJA Butantã no curso de especialização EJA ECOSOL da UFABC comprova esse movimento em busca de novas aprendizagens.

1.1 – CARACTERIZAÇÃO DOS EDUCANDOS DO CIEJA

Os educandos da Educação de Jovens e Adultos que procuram o CIEJA apresentam um histórico relacionado diretamente com o fracasso escolar, como os repetentes, evadidos, defasados, aceleráveis, etc. Contudo, temos que considerar a dimensão da condição humana desses sujeitos, básicas para o processo educacional.

Os CIEJAs abarcam processos formativos de natureza diversa, cuja efetivação se dá na interação de uma variedade de atores, de um lado o Estado, as organizações da sociedade civil e o setor privado e, de outro, uma gama de sujeitos tão diversificados e extensas quanto são os representantes das camadas mais empobrecidas, negros, idosos, trabalhadores, não trabalhadores, diversas juventudes, os internos penitenciários, os de necessidades educacionais especiais, as donas de casa, entre outros. Portanto, as principais características dos educandos do CIEJA são a diversidade e a busca pela inserção social como sujeitos e cidadãos.

Podemos afirmar que o CIEJA Butantã atende proporcionalmente homens e mulheres que, em sua maioria, são adultos na faixa de 20 a 45 anos moradores de bairros da região Raposo Tavares e também de municípios próximos (Cotia, Osasco, Taboão da Serra entre outros municípios da região da Grande São Paulo).

Quando analisamos nossas taxas de evasão e conclusão, é importante não analisar os números por si só. Entre os educandos que desistiram e retidos há um grande número de educandos que deixaram de frequentar a escola no início do processo o que impede o trabalho pedagógico. Sendo assim, o índice de retenção não corresponde ao fracasso escolar, pois inclui educandos que não cursaram os módulos durante o ano.

No início de 2011, realizamos pesquisa por amostragem para conhecer um pouco mais os educandos que atendemos. (ANEXO 1).

Podemos afirmar que há um equilíbrio entre homens e mulheres (50% para mulheres e 50% para homens) entre adultos e jovens (52% de adultos de 26 anos acima, 20% de adolescentes de 15 a 17 anos, 25% de jovens de 18 a 25 anos e 3% de idosos). Separamos adolescentes e jovens apenas para confirmar que o número de adolescentes que recebemos aumentou muito nos últimos  5 anos, são educandos que abandonam ou são excluídos  do ensino regular e procuram o CIEJA com maior constância.

Quando analisamos os dados sobre ocupação temos a seguinte constatação 65% de nossos educandos trabalham (informal ou formalmente) e dos 35% que não trabalham temos muitas donas de casa, que quando perguntadas não reconhecem o trabalho caseiro como uma ocupação.

Outro aspecto analisado refere-se a origem de nossos educandos, a região nordeste ainda é a procedência de uma parcela considerável de nossos educandos (46,1%) contudo, a região sudeste, principalmente composta pela parcela de educandos mais jovens que nasceram na cidade de São Paulo, já supera a  região sudeste  com 48,4%.

Chama-nos atenção o fato de crescente número de mulheres que possuem nove ou mais anos de estudo conforme estudo da Fundação Carlos Chagas:

No final da primeira década do milênio (2007), entretanto, verifica-se aumento significativo do nível de instrução da população, principalmente das mulheres, 39% da quais passam a ter mais de 9 anos de estudo, em comparação a 35% dos homens. (FCC, 2010)

Dos concluintes do curso no CIEJA Butantã no ano de 2011, temos 119 mulheres e 118 homens, os números são equilibrados, contudo há um crescimento nos últimos anos do número de mulheres que ingressam e concluem o Ensino Fundamental (ANEXO 2).

2- ECONOMIA SOLIDÁRIA E EJA: PRINCÍPIOS E PRÁTICAS

Economia Solidária pode ser entendida de diferentes formas, há estudiosos que a consideram como apenas uma resposta às contradições do sistema capitalista, ou seja, uma forma complementar da economia capitalista. Outros defendem que se trata de uma alternativa para além do capitalismo, concebida como uma nova forma de viver, viver melhor, no sentido de que se possa “consumir mais e com menor dispêndio do esforço produtivo, mas também melhor no relacionamento com familiares, amigos, vizinhos, colegas de trabalho, colegas de estudo etc.” (SINGER, 2002:114).

A educação também pode apresentar dupla função, a de reproduzir as relações de desigualdade econômica e social e, a função de desvelar e transformar essas relações desiguais. Essa segunda função é uma perspectiva utópica que se aproxima e muito com concepção de Economia Solidária, que busca superar a forma capitalista de produção tendo uma organização comunitária da vida social.

As possibilidades de discutir os princípios tanto da Economia Solidária como da educação, numa perspectiva utópica nos faz estabelecer um diálogo entre o economista Paul Singer e o educador Paulo Freire.

De acordo com documento do FBES – Fórum Brasileiro de Economia Solidária – de 2003 a Economia Solidária apresenta os seguintes princípios gerais:

1. a valorização social do trabalho humano;
2. a satisfação plena das necessidades de todos como eixo da criatividade tecnológica e da atividade econômica;
3. o reconhecimento do lugar fundamental da mulher e do feminino numa economia fundada na solidariedade;
4. a busca de uma relação de intercâmbio respeitoso com a natureza, e
5. os valores da cooperação e da solidariedade.

O primeiro princípio “a valorização social do trabalho” implica reconhecer que o trabalho é uma atividade coletiva, que as habilidades individuais e os diversos conhecimentos só se realizam em relação com o outro e com o mundo. Freire, afirma que “(…) a construção de minha presença no mundo não se faz no isolamento, isenta das forças sociais (…)” (1996, p. 59).

Acostumamos-nos a acreditar que o trabalho é o exercício individual de uma determinada atividade e que o sucesso desse exercício é fruto do esforço pessoal, assim como o insucesso é falha do indivíduo. Essa visão não ocorre ao acaso, é consequência do modelo capitalista no qual a “heterogestão, ou seja, a administração hierárquica, formada por níveis sucessivos de autoridade, entre os quais as informações e consultas fluem de baixo para cima e as ordens e instruções de cima para baixo.” (Singer, 2002, p.16) tal concepção nos impõe a divisão social do trabalho, em que há a dissociação entre a execução e concepção, entre execução e conhecimento.

Na Educação de Jovens e Adultos nos deparamos com a mesma visão dicotômica de conhecimento, o conhecimento formal se sobrepõe ao conhecimento popular, os educandos que chegam à sala de aula se colocam numa posição de inferioridade, não se reconhecem como possuidores e produtores de conhecimento, almejam o conhecimento numa perspectiva individual, a qual denominamos meritocracia, o esforço pessoal traz conhecimento que por sua vez lhe faz ser mais e melhor que outros. Educar numa perspectiva coletiva requer um confronto entre ser objeto e ser sujeito,

Uma das tarefas mais importantes da prática educativo-crítica é propiciar as condições em que os educandos em suas relações uns com os outros e todos com o educador ou a educadora ensaiam a experiência profunda de assumir-se. Assumir-se como ser social e histórico, como ser pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos, capaz de ter raiva porque capaz de amar. Assumir-se como sujeito porque capaz de reconhecer-se como objeto. A assunção de nós mesmos não significa a exclusão dos outros (…) (FREIRE,1996, p. 46)

Essa é uma tarefa comum às organizações de Economia Solidária e a EJA proporcionar experiências capazes de levar à reflexão sobre ser objeto e ser sujeito. Uma tarefa desafiadora que requer um processo contínuo e intenso, pois o contato permanente com a escrita e com os conhecimentos científicos potencializa os efeitos e a ampliação dos modos de pensar, assim como, a devida valorização do conhecimento popular que todos possuem.

O segundo princípio refere-se à plena satisfação das necessidades como eixo da criatividade tecnológica e da atividade econômica. Na educação entendemos a criatividade como uma importante ferramenta que fomenta a autonomia dos educandos.

O terceiro, quarto e quinto princípios serão analisados em conjunto, porque são eles que mais nos orientaram na realização da feira de trocas.

O documento da FBES, 2003 explicita:

A Economia Solidária representa práticas fundadas em relações de colaboração solidária, inspiradas por valores culturais que colocam o ser humano como sujeito e finalidade da atividade econômica, em vez da acumulação privada de riqueza em geral e de capital em particular.

Singer (2002 p. 21) afirma que a prática autogestionária tem por mérito o desenvolvimento humano, desta forma a participação em discussões e em decisões coletivas proporciona educação e conscientização dos participantes. Contudo, as pessoas não nascem inclinadas à autogestão, assim como não são à heterogestão.

A educação cumpre importante tarefa nessa inclinação, se a escola reprime, impondo a obediência, fazendo com que as pessoas fiquem quietas e imóveis durante a aula exigindo que decorem coisas que não possuem significado, isso contribui para uma postura passiva à heterogestão. Por outro lado, se a escola incentiva as práticas de colaboração no ambiente escolar colocando o ser humano como sujeito e finalidade da atividade educativa pode contribuir para o desenvolvimento da autogestão.

Desde a disposição do mobiliário, das atividades planejadas, da troca de conhecimentos, até a pesquisa e socialização das descobertas deve haver uma intencionalidade que vise à colaboração, quando as práticas de colaboração e solidariedade são reiteradas, modificam o comportamento social dos sujeitos.


Na sala de módulo I as carteiras são agrupadas em mesas para que os educandos possam se comunicar, interagir e encontrar soluções conjuntamente.

Para Freire e Oliveira (2009), um dos maiores desafios da educação do século XXI é a inserção da humanização e da solidariedade como elementos fundamentais do processo educativo, segundo os autores a solidariedade pode ser definida como “um elo entre as pessoas, uma preocupação com o outro, que permita o desenvolvimento concreto de um espírito de grupo, de um corpo social, de uma vida comunitária”. (p.104) É nessa perspectiva que buscamos, no CIEJA, trabalhar em todos os módulos.

Caminhante, são teus rastos
o caminho, e nada mais;
caminhante, não há caminho,
faz-se caminho ao andar.
Ao andar faz-se o caminho (…)
Antonio Machado

3 – TRABALHO COLETIVO E GESTÃO COMPARTILHADA

Escolhemos o termo gestão compartilhada e não o de gestão democrática, por compreender que compartilhar expressa em seu significado estrito “ter ou tomar parte em”, ou ainda, “o de participar, utilizar, experimentar ou desfrutar com os outros sem nenhuma implicação particular de propriedade, simplesmente uso mútuo”. O que nos permite tratar de uma dimensão mais ampla da participação de educadores e educandos na construção do conhecimento. Ressaltamos que não estamos desconsiderando aimportância da gestão democrática que pode ser assim definida,

(…) como uma prática político-pedagógica e administrativa, onde o gestor, através da articulação entre os diversos segmentos da unidade escola, modifica as relações de poder, transformando-as em ações colegiadas, transparentes e autônomas[2]. (UFBA, Curso experimental 1, Edméa).

A Lei de Diretrizes e Bases (LDB 9394/96), no seu Art.3º e 14º normatiza e oficializa a prática de uma gestão democrática no ensino público:

Art. 3ª O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:

VIII- Gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino.

Art.14- Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios:

I. Participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola;

II. Participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes

Sabemos que há uma diferenciação no grau de envolvimento, de participação e de poder dos segmentos da comunidade escolar. Contudo, um dos fatores que mantém essa distinção é a hierarquização dos saberes, os saberes docentes são distintos dos saberes dos educandos, sendo assim, a participação é diferenciada. Ora, se concordarmos que os saberes são construídos socialmente, como podemos apartar os conhecimentos curriculares dos conhecimentos oriundos das práticas sociais?

Quando voltamos a analisar o texto legal da LDB 9394/96, percebemos que há uma clara distinção nos incisos I e II. Por um lado, os docentes com seus saberes científicos e pedagógicos são chamados para elaborar o projeto pedagógico e, de outro temos a comunidade escolar e local convidada a ter representação nos conselhos escolares.

Essa lógica de representação já traz em si, mecanismos que dificultam o compartilhar, no sentido que tratamos acima. O projeto Político Pedagógico do CIEJA Butantã segue as orientações legais. Contudo pretendemos avançar na sua construção coletiva.

Acumulamos um grau de envolvimento dos docentes na elaboração do projeto, fruto de uma construção coletiva que a cada etapa busca traduzir nossa concepção de educação e nossa perspectiva de formação de todos os sujeitos envolvidos.

O trabalho coletivo é de extrema importância, em nosso Centro contamos com reuniões semanais em que todos os docentes trocam experiências, pesquisam discutem e empreendem ações relacionadas às questões cotidianas e à formação continuada.

Temos como meta a autonomia de docentes e discentes. Os estudos sobre Economia Solidária alimentaram ainda mais nosso desejo dar oportunidades às situações nas quais nossos educandos atuem de forma mais efetiva na elaboração e no desenvolvimento do projeto político pedagógico. Muitas iniciativas gestadas pelos docentes que participaram do curso passaram a ter conformações coletivas modificando as relações entre educadores e educandos de todo o CIEJA.

Uma dessas iniciativas diz respeito ao Projeto Político Pedagógico: como podemos garantir a participação de nossos educandos? Quais são as práticas que ampliam a participação e o envolvimento de todos?

As questões nortearam o trabalho que descreveremos a seguir.

4. PRÁTICAS PEDAGÓGICAS

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS:

A importância da reflexão sobre o processo educativo é bastante propagada e defendida por estudiosos da educação e de outras áreas afins. Concordamos que a reflexão deve estar incorporada à prática educativa. Mas o como essa reflexão pode ser e fazer parte do cotidiano é sempre um desafio para os educadores.

Educadores que, em sua maioria, foram formados sob a concepção tecnicista de educação, concepção essa que defende que a aprendizagem é externa ao sujeito e que bons métodos e técnicas são capazes de mobilizar a aprendizagem a despeito das condições objetivas da realidade social, econômica e cultural dos educandos.

São esses educadores que também buscam romper com uma prática destinada “para os educandos” e quase nunca construída no cotidiano “com os educandos”.

O conflito estabelecido, entre o que somos por nossa formação acadêmica e o que pretendemos ser, fica mais evidente quando refletimos sobre o que pensamos e o que fazemos.

É nesse sentido que os conhecimentos desenvolvidos no curso de especialização EJA ECOSOL nos auxiliam trazendo uma nova forma de ver nossa própria prática. As vivências no curso, suas propostas de construção participativa, o trabalho nos pólos com a valorização dos conhecimentos do grupo, as atividades solicitadas e o envolvimento dos participantes do curso foram ferramentas fundamentais para uma nova forma de articulação dos educadores.

Como participante da equipe gestora consideramos que o educador deve sentir-se sujeito também de seu fazer pedagógico, mas que quando atua “em grupo” e “com o grupo” se fortalece em suas possibilidades de empreender uma ação mais consciente e coerente com a transformação de práticas, tendo em vista a própria autonomia e a autonomia dos educandos.

As práticas apresentadas neste trabalho são demonstrações de como o trabalho coletivo torna a ação docente transformadora coerente com a formação de sujeitos autônomos. Sabemos que muito há de se fazer e de compreender, mas a gestão compartilhada se apresenta como um caminho, com muitos percalços, mas a ação coletiva é capaz de problematizar e buscar novas possibilidades de uma prática reflexiva.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BELL, Judith, Projeto de pesquisa, 4ª edição, Porto Alegre: Artmed, 2008.
Bruschini, Cristina, Lombardi, Maria Rosa, Mulheres brasileiras, educação e trabalho, Fundação Carlos Chagas,  2010, Séries históricas, série 3, disponível em:
http://www.fcc.org.br/bdmulheres/serie3.php?area=series, consulta feita em 05/03/2012.
FAZENDA, Ivani Catarina Arantes. (Org.). Dicionário em construção: interdisciplinaridade, 2ª ed. São Paulo: Cortez, 2002.
FBES, Carta de Princípios da Economia Solidária, junho de 2003, III Plenária Nacional da Economia Solidária, disponível em:
http://www.fbes.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=63&Itemid=60 , consulta feita em 05/03/2012.
FREIRE, Paulo, Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa, São Paulo: Paz e Terra,1996.
_______, Pedagogia da Solidariedade, Indaiatuba – SP: Villa das Letras, 2009.
SME – PMSP, Projeto dos Centros Integrados de Educação de Jovens e Adultos – CIEJAs, 2002.
Sites:
http://ciejanarede.wordpress.com
http://www.fbes.org.br/index.php

ANEXO 1

ANEXO 2

PROPOSTA PARA A JORNADA PEDAGÓGICA 15 e 16 de março de 2012.

Prezados educadores,

Nesses dois dias pretendemos definir e delimitar as ações que pretendemos empreender nesse ano. As nossas referências são as metas, objetivos e ações que discutimos na avaliação ao final do ano anterior e em nossos encontros de formação ocorridos até o momento.

Relembrando algumas decisões, revendo outras e recriando o que se faz necessário.

O que acumulamos até o momento? Quais ações são imprescindíveis para o alcance de nossas metas e objetivos? Como temos que nos organizar no cotidiano? Que conhecimentos temos que construir e recriar?

Há algumas decisões e combinados que pautam nosso trabalho. Vejamos se há concordância do grupo:

Nossa prioridade neste ano é o trabalho com projetos por acreditarmos que é uma metodologia que favorece: o trabalho iinterdisiciplinar; a organização do processo educativo com tempos e espaços definidos e ao mesmo tempo flexíveis; a nossa avaliação processual; o comprometimento de educadores e educandos em construir e reconstruir conhecimentos significativos e a especificidade da EJA.

Desta forma, as atividades desenvolvidas devem contemplar os ritmos diferenciados do processo ensino aprendizagem, que podemos traduzir por adaptação curricular. Por mais que a avaliação diagnóstica seja importante, ela retrata um momento. Costumamos dizer que é similar a uma foto que expressa um momento e, que os critérios utilizados não dão conta de toda diversidade de aprendizagem de nossos alunos.. É o ponto de partida, é nosso trabalho que pode auxiliar novas conformações de aprendizagem.

Uma temática recorrente diz respeito ao como atender as diferenças? Como trabalhar com cada sujeito e atingir a todos? Sabemos que os grupos, em média com 20 alunos, favorece uma intervenção mais individualizada, sem que se percam os objetivos comuns. Ao definir o que se quer atingir e qual são os caminhos possíveis, estamos nos dispondo a proporcionar diversas formas de apresentar e trabalhar os temas, conceitos e atitudes.

Por falar em atitudes, acreditamos que elas devem fazer parte de nosso projeto político pedagógico, não como um rol de direitos e deveres, mas como ações que possam contribuir com a autonomia, protagonismo e coletividade que tanto defendemos.

Por fim, temos a permanência dos alunos, se opondo à evasão. É um importante conhecermos as causas da evasão, mas também é importante sabermos o que faz com que nossos alunos persistam em seu processo de aprendizagem. Uma demonstração disso é a carta da aluna Marisa Santos, como em outros tantos relatos, expressa o que a fez persistir em seu objetivo.

Convidamos todas as equipes a escreverem uma carta aos nossos alunos, de cada módulo, apresentando como a área ou equipe pretende trabalhar tendo como referência nossos princípios.

Sugerimos que retomem as expectativas de aprendizagem, os registros de planejamento, os relatos das turmas refazendo o caminho que cada grupo construiu como subsídio para a produção.

Bom trabalho!

Pauta de 15/03/12

Momento de leitura – convidamos a todos que façam a leitura das produções da área/equipe. Quanta coisa boa! Sugerimos um percurso… Podemos começar com os registros de perfil de turma (sugerimos que troquem os registros na equipe), relatório das atividades desenvolvidas, os cadernos das turmas, “aquilo que realizamos”. Já os planejamentos contam o que vocês definiram como importante, “o vir a ser”, a transformação esperada com nosso trabalho, assim como os critérios definidos para a avaliação (provas aplicadas em todos os módulos) e as expectativas de aprendizagem, funcionam como uma síntese dos objetivos e metas, ou seja, o  que almejamos desenvolver no ano.
Momento de conversa – a partir das leituras realizadas propomos que conversem sobre o trabalho deste ano, o que podemos fazer; qual o significado das ações; o que permanece e o que precisa ser feito de forma diferente.
Momento da escrita – aqui sugerimos a escrita coletiva de uma carta para nossos alunos, portanto, o nosso interlocutor é o educando. Ele deve saber de nossas intenções e expectativas sem esquecer das estratégias que serão utilizadas para cada um dos módulos.
Momento de socialização – Leitura das cartas para os colegas e comentários.

Pauta para 16/03/12

1- Vivências

Os autores dos projetos devem preparar uma atividade para que o grupo vivencie e conheça a proposta do projeto.

a) As atividades devem ter duração de 20 min e 10 min. para os comentários.
b) Caso não haja tempo para todos os projetos, podemos dar continuidade em outras sextas-feiras.

Lembramos que nem todos os autores entregaram os projetos. Solicitamos também que toda a produção das equipes seja enviada para o ciejabutanta[arroba]gmail.com.

Olá, alunos do Módulo IV.

Os professores da área de Ciências Humanas pretendem levá-los a organizar os conhecimentos que vocês já têm sobre História e Geografia, e também levá-los a adquirir novos conhecimentos nessa área. A nossa ideia é que vocês consigam não só ter acesso a informações sobre o mundo, pois isso vocês já têm bastante, mas que consigam organizá-las melhor e compreender o seu sentido. Com o acesso fácil a radio, televisão e à internet, sabemos que hoje em dia as informações circulam amplamente e que elas, de uma maneira ou de outra, chegam a todos. Mas como explicá-las?

O nosso principal objetivo é exatamente ajudá-los a responder satisfatoriamente perguntas que essas informações provocam em nossas mentes: Por que os fatos acontecem? E por que acontecem de uma maneira e não de outra? Quais as consequências desses fatos? Como eles afetam nossa vida? Como decidir quais fatos são mais importantes, e quais não têm importância alguma?

Uma coisa é acumularmos muitas informações em nossas mentes. Outra, bem diferente, é conseguir entender as relações que existem entre elas. Assim, a tarefa dos professores de Ciências Humanas é também dar condições para que vocês, alunos, compreendam que os fatos não acontecem isoladamente – eles têm relações entre si, relações que nem sempre percebemos e que são fundamentais para entendermos o que se passa em nossas vidas e nas comunidades de que fazemos parte (a família, a escola, o ambiente de trabalho, a cidade, o mundo…).

Nós temos certeza que se as pessoas entenderem melhor o mundo que está a nossa volta, se elas entenderem as consequências dos fatos que provocam e que os outros provocam, elas vão procurar conviver melhor. O resultado disso será um mundo com menos preconceitos, com mais justiça, enfim, melhor para todos.

Vamos tentar fazer esse trabalho com vocês da maneira mais interessante de que somos capazes, mas vocês também precisam entender que estudar nem sempre é divertido – dá trabalho! E vocês têm de participar! A gente tem de pensar, raciocinar, fazer relações, analisar, e tudo isso com lógica. Não podemos fazer qualquer relação entre as coisas e achar que já está bom, escrever qualquer texto e achar que é suficiente. Precisamos testar os conhecimentos que criamos e ver se eles batem com a realidade. E só vamos poder fazer esse teste debatendo com os colegas e com os professores, e estando abertos a críticas e sugestões. Como dissemos, dá trabalho e nem sempre é divertido…

Com esses objetivos em vista e tentando tornar cada aula o mais interessante possível, vamos usar muitos tipos de materiais. Você vai perceber que nossas aulas não se parecem muito com as aulas tradicionais que vocês estavam acostumados. Mas é assim mesmo que faremos! Nós pensamos que aquelas aulas tradicionais foram um fator que levou vocês a desistir dos estudos lá atrás. Ou não. Mas, de qualquer modo, a proposta de nossa escola é procurar novas formas de ensinar e de aprender. Esperamos que dessa maneira vocês consigam perseverar.

Equipe de Ciências Humanas

 


Área de Ciências da Natureza e Matemática
São Paulo, 19 de março de 2012.

Queridos Alunos do CIEJA

Apesar de nos vermos todos os dias, resolvemos escrever uma carta, pois vocês sabem que, quando escrevemos, temos o tempo para escolher melhor as palavras e as formas de tratar os assuntos.

Paulo Freire já dizia: “Ninguém educa ninguém, ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão.” E é dessa educação que queremos falar aqui.

Não somos uma ilha. Dependemos um dos outros como seres sociais que somos. A escola é uma sociedade em miniatura. Por isso acreditamos que o valor que vocês têm é muito grande. Vocês pensam que vieram aqui para aprender. Na verdade, vieram também para ensinar, dividindo com os outros o conhecimento que a vida plantou em vocês.

Quando a gente estuda, aprende o que há nos livros e mais: aprende a ler o mundo, a entender nossa história, a ter uma opinião, argumentar e saber o que queremos e aonde queremos chegar. Quanto mais nós sabemos, mas nós teremos condições de entender a realidade e transformá-la.

A educação de jovens e adultos – EJA – é um direito e a escola é pública, pois pertence a todos nós. Ela garante que todos nós possamos ter acesso à cultura nas diversas linguagens: informática, filmes, músicas, pinturas, literatura, palestras, debates e excursões.

Vivemos nesta escola a diversidade: jovens, adultos, idosos e pessoas com necessidades especiais. É uma oportunidade de ouro para exercemos a cooperação, o cuidado com o outro e o respeito.

O aprender depende de todo esse processo. Cada pessoa tem a sua forma de fazer esse percurso. No entanto, há qualidades necessárias para direcionar esse movimento, como a organização e o espaço solidário de convivência.

Aprender exige disciplina que, para nós, leva à autonomia, para percebermos as dificuldades e enfrentá-las, aprofundar o que já sabermos, dedicarmos tempo aos estudos e aproveitarmos as oportunidades para ampliarmos os conhecimentos.

Por isso aproveitamos essa carta para desejar a todos vocês força e empenho para continuar seguindo essa jornada e dizer que também aprendemos muito com vocês.

Agradecemos a todos.
Com vontade e dedicação cada um de vocês vai longe!

Um abraço carinhoso das professoras de Módulo I e II.

CIEJA Aluna Jessica Nunes Herculano

São Paulo, 19 de março de 2012.

Queridos alunos:

Nós, da área de Linguagens e Códigos, preparamos esta carta para retomarmos o que significa o ato de estudar. Para isso, relembramos o seguinte texto:

O Ato de Estudar

Tinha chovido muito toda a noite. Havia enormes poças de água nas partes mais baixas do terreno. Em certos lugares, a terra, de tão molhada, tinha virado lama. Às vezes, os pés apenas escorregavam nela. Às vezes, mais do que escorregar, os pés se atolavam na lama até acima dos tornozelos. Era difícil andar. Pedro e Antonio estavam transportando numa camioneta cestos cheios de cacau para o sítio onde deveriam secar. Em certa altura, perceberam que a camioneta não atravessaria o atoleiro que tinham pela frente. Pararam. Desceram da camioneta. Olharam o atoleiro, que era um problema para eles. Atravessaram os dois metros de lama, defendidos por suas botas de cano longo. Sentiram a espessura do lamaçal. Pensaram. Discutiram como resolver o problema. Depois, com a ajuda de algumas pedras e de galhos secos de árvores, deram ao terreno a consistência mínima para que as rodas da camioneta passassem sem se atolar. Pedro e Antônio estudaram. Procuraram compreender o problema que tinham a resolver e, em seguida, encontraram uma resposta precisa. Não se estuda apenas na escola. Pedro e Antônio estudaram enquanto trabalhavam. Estudar é assumir uma atitude séria e curiosa diante de um problema.

(Paulo Freire. A importância do ato de ler. São Paulo, Cortez, 1997, p.56 e 57)

Vocês se lembraram deste texto? Foi com ele que nós os acolhemos no início deste ano, para mostrar como pretendemos trabalhar com vocês nesta rodada. Logo de início, percebemos que éramos todos muito diferentes, cada um trazia uma ideia do que era estudar e nem sempre conseguia comunica-la. Então, paramos para enfrentar o problema (como Pedro e Antônio no texto de Paulo Freire).  Percebemos que cada um tinha uma maneira de ver e diferentes formas de comunicar essa visão. Chegamos, então, à essência do nosso curso: o estudo da comunicação.

Preparamos atividades sobre as diversas linguagens que fazem parte do nosso dia a dia, para demonstrar como essa comunicação pode ser melhorada.  Por que melhorar a comunicação? Para que as relações interpessoais, na nossa convivência sejam respeitosas. Como conseguir isso? É necessário aguçar o olhar para si e para o outro, já que o olhar do outro também me dá a medida de quem eu sou. É por isso que esse olhar deve ser desprovido de qualquer tipo de preconceito.

Para desenvolvermos esta observação aguçada de si mesmo e do outro, escolhemos estudar nesta rodada a linguagem teatral. O teatro, desde a antiguidade, propicia a reflexão sobre a natureza humana, suas qualidades e defeitos, criando personagens que representam tipos de seres humanos, a diversidade humana; possibilitando, assim, que nos identifiquemos, por proximidade ou disparidade, com alguns desses tipos e possamos nos (re)conhecer e melhorar como espécie.

O teatro também recupera (e mantém) uma das fontes de prazer do ser humano: o ouvir e contar histórias.  Por isso, estudaremos muitos textos narrativos para que possam “povoar” a imaginação de vocês e rememorar vivências, talvez da infância, quando ouviam ou liam histórias reais ou fictícias. Porque, afinal de contas, a Comunicação não serve apenas para as coisas práticas de vida: “A gente não quer só comida/ A gente quer comida, diversão e arte…” O nosso modo de ser e estar no mundo é refletido na forma como nos comunicamos.

Será que conseguimos nos comunicar com vocês??? Aguardamos suas respostas.

Beijos das professoras de Linguagens e Códigos.

 

ANEXO 3

PROPOSTA DA FEIRA                  
TERÇA-FEIRA, 11 DE SETEMBRO DE 2007

Imagem de Amostra do You Tube

As Feiras de Trocas Solidárias são espaços que tem o intuito de organizar e tornar permanente as trocas de mercadorias e serviços e saberes para o desenvolvimento de uma comunidade local.

Sua proposta parte da busca de respostas à falta de dinheiro oficial, Reais, nas regiões pobres empobrecidas pelo atual modelo de desenvolvimento econômico. Seu objetivo é tornar a troca de produtos, serviços e saberes permanente e organizada e, assim, construir um mercado complementar ao oficial capaz de ajudar a viabilização da comercialização dos produtos gerados por pessoas ou grupos produtivos “nascentes” e também facilitar o acesso de pessoas pobres ao consumo de produtos e serviços gerados na região.

O espaço proporciona um ambiente de cooperação entre os “prossumidores” (pessoas que são ao mesmo tempo produtores e consumidores), no lugar da acirrada competição do mercado. Para isso, utiliza-se a MOEDA SOCIAL que visa ser exclusivamente um meio de troca, que só pode ser usada durante as Feiras.

Do ponto de vista econômico:

A Feira abre espaço para que as pessoas se desenvolvam como sujeitos de mudança na busca por alternativa para o desemprego e concentração de renda, pois cooperam entre si para gerar benefícios para todos;

Além disso, é um ambiente pedagógico, pois proporciona aos produtores um espaço para se desenvolverem enquanto empreendedores para poderem enfrentar o mercado no futuro próximo;

É também uma oportunidade de criar uma cultura de consumo consciente na comunidade, trazendo para o indivíduo a noção das consequências do seu consumo no âmbito social, ambiental e econômico;

Por fim, a Feira possibilita as pessoas realizarem-se fazendo trabalhos que gostam, como: poesias, quadros, artesanatos, dentre outros, permitindo melhoras também no nível psicológico de cada um, por se sentirem úteis, realizado e estimulado com as novas coisas que pode oferecer, e com as que pode receber em troca.

Mas a Feira de Trocas Solidarias também contribuem para o fortalecimento das relações comunitárias, pois:

É um espaço de construção coletiva onde todos são convidados ajudar na organização, dar sugestões, criticar e melhorar. Um espaço democrático de partilha e união;

Cria o ambiente de encontro entre pessoas que não se vêem no dia-a-dia, fortalecendo amizades antigas, criando novas facilitando o nascimento de projetos comunitários e propostas de melhoria do bairro.

Por último, as Feiras representam um ótimo local para realizar trabalhos pedagógicos e reflexões sobre temas importantes como:

  • Ecologia e cuidado com o meio ambiente;
  • Questões de gênero e raça;
  • Consumo consciente e as consequências dos nossas hábitos de consumo;
  • Cidadania ativa;
  • Educação Alimentar;
  • Economia Solidária;
  • Empreendedorismo Popular;
  • Desenvolvimento Local;
  • Políticas Públicas e demais temas afins.

Para isso, podemos utilizar palestras,oficinas, vídeos, música, teatro entre outras atividades sócio-culturais e educativas.

Postado por Felipe às 21:57

  1. [1]Três são as áreas de conhecimento: Linguagens e Códigos (que inclui as disciplinas de Português, Arte, Inglês, Educação e Informática); Ciências Humanas (disciplinas de História e Geografia) e Ciências da Natureza e Matemática (disciplinas de Ciências e Matemática). Para os módulos I e II as professoras de ensino fundamental e de SAAI (sala de apoio e acompanhamento à Inclusão de pessoas com necessidades educacionais especiais) compõe uma equipe.
  2. [2] Citação  publicada pelo site da Universidade Federal da Bahia, na plataforma  de curso experimental, em ambiente colaborativo, neste link