Identidade do Trabalhador

Ficha Síntese da Prática Pedagógica

Objetivos da Prática Pedagógica:
Conhecer e apreciar imagens de trabalhadores de diversos setores; estabelecer as relações entre as imagens ali retratadas e o mundo do trabalho; construir, expressar e comunicar-se por meio das artes visuais, compartilhando sua história no mundo do trabalho e suas conexões com o percurso do outro; trabalhar a memória pessoal/individual e coletiva dos participantes; fortalecer as identidades pessoais e sociais dos participantes.

Característica do grupo a quem foi aplicada a prática:
A atividade foi realizada com os alunos de uma turma da Emeb Antônio dos Santos Farias. A turma é composta por 22 alunos, sendo 13 homens (4 trabalhadores formais, 3 desempregados e 6 trabalhadores informais)  e 9 mulheres (2 trabalhadoras formais, 2 donas do lar e 5 trabalhadoras informais). Todos são moradores da região periférica da cidade de São Bernardo do Campo, composto pelos bairros Jd. Represa ( bairro onde a escola se localiza), Parque Imigrantes e Jd. Pinheiro.

Dinâmica de trabalho adotada na prática pedagógica:
Atividade realizada em grupos, exposição de conclusão do grupo, após produção individual e socialização das produções individuais.

Recursos necessários para aplicação:
Imagens de trabalhadores de diferentes setores, folhas de sulfite, lápis grafite, borracha e lápis de cor.

Breve currículo do autor da prática pedagógica:
Priscila Gomes da Silva – Formada pela Universidade do Grande ABC (UniABC). Professora de Ed. Infantil na Prefeitura de São Paulo, e Professora do Ensino Fundamental na Prefeitura de São Bernardo do Campo, onde pelo 3º ano leciona na EJA.

Deseja ser contatado por outros professores: Não

RELATO

No dia 04 de abril de 2011, realizamos uma aula com alunos sobre o trabalho (primeira aula do projeto “O Mundo do trabalho”) que buscava contemplar os seguintes objetivos: conhecer a apreciar imagens de trabalhadores de diversos setores; estabelecer as relações entre as imagens ali retratadas e o mundo do trabalho; construir, expressar e comunicar-se por meio das artes visuais, compartilhando sua história no mundo do trabalho e suas conexões com o percurso do outro; trabalhar a memória pessoal/individual e coletiva dos participantes; fortalecer as identidades pessoais e sociais dos participantes.

No inicio da aula separei-os em grupo e entreguei para cada grupo três imagens retiradas da internet com figuras de alguns trabalhadores de diferentes setores. Pedi para que analisassem o que as pessoas daquelas imagens estavam fazendo. Depois de algum tempo pedi para que cada grupo apresentassem as imagens observadas e relatassem suas conclusões.

O primeiro grupo estava com as figuras de vendedor ambulante, de trabalhador da construção civil e de um boiadeiro, “Marta” mostrou as figuras  e caracterizou cada um dos trabalhadores ali retratados:

-“ Professora aqui nos temos um boiadeiro que trabalha em uma fazenda, ele passa o dia inteiro tocando os gados pra não deixar eles se perderem, coitado trabalha no solão quente. Lá em Minas de onde eu venho tem muitos desses boiadeiros, suas famílias moram de favor nas fazendas onde eles trabalham, fazem a feira nas quitandas dentro da própria fazenda. O outro pro é um biscateiro, que fica vendendo a sua mercadoria nas ruas.

Eles sofrem bastante com a policia que apreende toda a sua mercadoria.

“Fabio” interrompeu a aluna dizendo:

– “ Professora eu trabalho assim, hoje mesmo o rapa passou e levou um monte dos meus cds, eu não faço nada de errado pro, trabalho dignamente, não roubo e nem mato, porque não posso trabalhar ?”

“Marta” prosseguiu:

– “E o outro é um pedreiro igual ao meu marido, ele faz cada casa linda, só que infelizmente não consegue terminar a nossa, pois ele ganha pouco, e temos muitas dividas, se Deus quiser um dia ele vai terminar e vou conseguir sair aqui da favela, é mito triste morar aqui, tenho vergonha de falar onde moro para meus parentes, larguei minha casinha lá em minas pra tentar um vida melhor aqui e vim parar dentro de uma favela.”

“Lucia” disse:

– “Eu não tenho vergonha de morar na favela não, lá tem muita pessoa decente, não tem só bandido como todo mundo pensa não.”
O segundo grupo estavam com figuras de rendeira, de operário industrial e de pescador, “Marcelo” apresentou as figuras:

-“Nessa imagem tem as bordadeiras lá do nordeste, passam o dia bordando, fazem cada bordado bonito. O segundo é dos pescadores que ficam dias e dias no mar adentro pescando, esses também ganham pouco. E por ultimo tem aqui a foto de um metalúrgico, meu sonho é terminar meus estudos pra entrar numa firma dessas boa, só que eles só pegam quem sabe ler e escrever e eu tô longe disso”.

O terceiro grupo estava com as figuras de um agricultor, de catadores de recicláveis e de uma professora, “Raimudo” apresentou os trabalhadores:

 

-“Aqui tem um homem que trabalha no campo, uma professora igual a Priscila e um catador de lixo, esse sim sofre revirando o lixo e o pior que o povo não colabora, nem pra separar o que eles recolhem.

Depois de todas as apresentações questionei-os sobre as atividades representadas nas imagens se existiam semelhanças e o que diferenciam uma atividade da outra observada.

“Lucia” logo se colocou:

-“ Ah pro tem bastante diferença, um pedreiro trabalha muito mais que uma professora, me desculpa mais o pobre carrega um monte de peso, já a professora não.”

“Jeferson” retrucou.

– “ O trabalho é diferente Lucia, a professora trabalha com a mente, ela também se cansa, você acha que é fácil dar aula para um monte de velhos iguais a nós, não é fácil dar aula pra gente .”

“Marta” disse:

-“Mais a professora ganha bem mais do que um pedreiro”

Aproveitei o momento para trabalhar com eles as diferenças existentes entre as profissões e também para trabalhar os conceitos de emprego e ocupações, deixando bem claro que todas as atividades são importantes para o desenvolvimento sócio econômico do país e que todas são dignas.

No segundo momento entreguei para cada aluno uma folha de sulfite e pedi para que desenhassem sua trajetória no mundo do trabalho em três momentos de suas vidas, na infância, juventude e vida adulta, traçando assim uma linha do tempo através das imagens registradas.

Os alunos tiveram certa dificuldade para desenhar sua historia no papel, muitos falaram que não sabiam desenhar, outros que não enxergavam para pintar entre outras reclamações para não produzirem; disse a eles que ali não havia nenhum pintor e que não precisavam  se envergonhar de suas produções, pois os contextos que estavam por trás delas eram preciosíssimos e que isso sim era o que nos importavam.  Após este esclarecimento se acalmaram e realizaram suas obras de artes.

Com os desenhos prontos pedi para que cada um seguisse esta linha do tempo verbalizassem suas vivencias no mundo do trabalho. Apesar de envergonhados cada um se levantou, mostrou o desenho realizado e relatou a sua historia, apresentando sua identidade e suas memorias.


Produção do aluno Júlio Pereira


Produção do aluno Niraldo de Jesus dos Santos

Após a socialização dos desenhos produzimos um vídeo com o relato oral da historia vital de cada um enfatizando as experiências que tiveram com o mundo do trabalho, vivencias que influenciaram na formação do cidadão que são, profissões essas que determinaram o ser humano que se constituíram.

O vídeo encontra-se disponível no entremeios da rede municipal de educação.

Percebemos claramente nos relatos acima que a maioria destes alunos tiveram que largar os bancos escolares para trabalharem, muitos tinham que ajudar os pais no orçamento mensal, pois eram oriundos de famílias muito simples, sem condições financeiras para se manterem. Nota-se que muitos trazem muito rancor da fase que passaram e enxergam até hoje o trabalho como um sofrimento.

Nesta atividade os alunos participaram ativamente sendo os agentes da construção do seu próprio conhecimento. Assumiram-se como ser social e histórico, como ser transformador capaz de conhecer-se e de reconhecer-se no outro.

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