Objetivos da prática pedagógica:
- Trabalhar as diversas etapas do processo de mosaico;
- possibilitar que os alunos percebam que com o trabalho realizado por eles podem modificar o espaço que vivem;
- desenvolver maior sentimento de colaboração, cooperação e solidariedade entre o grupo.
Característica do grupo a quem foi aplicada a prática:
Alunos adultos com autismo, deficiência intelectual e paralisia cerebral.
Dinâmica de trabalho adotada na prática pedagógica:
Construção das peças de mosaico, focado na utilização dos diferentes materiais.
Recursos necessários para a aplicação:
Caixas diversas de MDF, cola, pastilhas para mosaico, alicate para mosaico, óculos de proteção e caixas para armazenar as pastilhas quebradas.
Breve currículo do autor da prática pedagógica:
Thais Godoy é professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental I da Prefeitura de São Paulo há 3 anos. Atua em sala de apoio e acompanhamento a inclusão (SAAI) desde 2010.
O trabalho no CIEJA com mosaico iniciou-se em 29 de agosto de 2011.
Apresentação do mosaico – O primeiro momento foi de apresentação do que era o mosaico: como era feito, tipos de materiais, diferentes técnicas que podiam ser utilizadas para fazê-lo. Todos alunos demonstraram interesse e participaram das atividades propostas. Os grupos trabalharam com no máximo 5 alunos, divididos a partir das necessidades e particularidades de cada um e sendo acompanhados em horário próximo ao da aula da sala regular.
Foi apresentado o site www.portaldomosaico.com.br que possuía todas as informações necessárias sobre mosaico (passo a passo de muitos exemplos de peças, diversas técnicas, diferentes materiais e as ferramentas usadas – todos com fotos). Foi pesquisado também imagens de trabalhos realizados de mosaico no site www.google.com.br, onde observávamos as diferenças de tamanhos, formas, a utilização das cores e suas técnicas.
Então, discutimos sobre o que os alunos sabiam e se já haviam trabalhado com essa técnica. Poucos conheciam o mosaico, os que conheciam (poucos), os questionava para darem maiores informações e contarem onde haviam visto, como era a peça e quais as cores utilizadas, mas a maioria deles nunca havia tido contato com o processo e com nenhuma peça.
Depois, apresentei a todos alunos os diversos materiais utilizados no mosaico: as diferentes pastilhas, caixas de MDF, pinças e ferramentas, a cola e o rejunte. Todos exploraram e em relação as caixas, já iam mostrando interesse no formato e nas cores que queriam usar. Alguns alunos do sexo masculino mostravam interesse nas cores do seu time de futebol, mesmo sem a intenção de construírem o símbolo do time, mas queriam usar das cores. Os alunos com mais dificuldades eram ajudados pelos colegas a pensarem nas cores que poderiam usar, tentando combinar cores, quais peças usariam e se utilizariam de pastilhas quebradas ou inteiras. Essa conversa entre os alunos trouxe a todos questões como colaboração e escolhas.
Trabalho com as pastilhas – Iniciamos trabalhando com as pastilhas, que foram compradas por placas, e para soltá-las foi necessário colocá-las de molho na água para desgrudarem do papel. Todos os grupos fizeram esse processo manuseando tanto na água quanto na limpeza de cada peça, tirando o excesso de água e cola e assim, já iam separando os materiais nas caixas separando por cores e tipos.
Manuseio e trabalho com os alicates – Na apresentação dos alicates (utilizamos 2 tipos – um que quebra pastilhas de vidro e outro pastilhas de porcelanato). Fui ensinando para todos os grupos o modo correto de sua utilização e a importância do uso dos óculos de proteção para no momento de quebrá-las, nenhuma lasca da pastilha voar e entrar nos olhos. Comecei quebrando algumas peças e mostrando como poderiam ser utilizadas as pastilhas na montagem do mosaico. Alguns alunos aprenderam a manusear os alicates, outros só observaram, devido ao entendimento que tinham do processo e a limitação da deficiência. Todos alunos participaram e ajudaram na organização das pastilhas, na separação das peças quebradas e das que permaneceram inteiras. Um trabalho que ajudou na parte de separação de iguais e diferentes, tanto pelo materiais quanto nas formas e cores.
Manuseio e trabalho com as pinças/outros materiais – Assim, continuei as atividades buscando desenvolver em cada aluno as habilidades no manuseio dos materiais, considerando que cada um tem suas dificuldades e particularidades. Tentei observar como e qual era a melhor forma para trabalhar com eles, no uso da pastilha quebrada ou não, no uso das diferentes pinças ou deixando as pinças de lado e usando somente das mãos para as peças grandes (como se fosse a pinça). Nesse processo, os alunos ainda não haviam iniciado a colagem, mas começaram a esboçar formas, usar diferentes cores fazendo diversas combinações. Fui interferindo a medida que o trabalho foi tomando seu aspecto e observava como buscavam soluções para a resolução dos problemas que ali eram apresentados, como por exemplo, o encaixe das peças e como as organizavam.
Nas fotos a seguir, mostro o momento do uso das pinças.
Alunos com baixa visão aprendendo a manusear os alicates
Alunos aprendendo a manusear os alicates
Criação das peças – Depois desse momento, começamos a criar as peças, os alunos escolheram as formas, as cores e a medida que iam ganhando confiança, escolhiam a melhor pinça para o uso (quando usavam as pastilhas quebradas).
Discutíamos juntos o que queriam, como haviam pensado e esboçávamos um pedaço para ver se gostavam, assim, iniciavam o processo de colagem. Acompanhei todos durante todo o processo, para perceberem e aprenderem a deixar a quantia certa de cola para cada tamanho de pastilha, também para entenderem como organizar as pequenas peças e os espaços deixados entre elas para depois aplicarmos o rejunte futuramente, e assim dar forma ao que haviam imaginado. Alguns conseguiram dar sequência ao trabalho sem muita ajuda, em poucos momentos me solicitavam e em muitos ajudavam os colegas. A medida que as aulas foram passando, outros, ainda necessitaram de auxílio contínuo.
Cito algumas dificuldades apresentadas pelos alunos:
- falta de atenção na quantidade de cola usada nas peças;
- dificuldade para trabalhar com os espaços entre as peças;
- em muitos momentos no processo de colagem deixavam a pastilha colada para fora da tampa da caixa;
- quando estavam fazendo a combinação de cores, intercalando por exemplo verde e amarelo, confundiam esse processo colando pastilhas da mesma cor.
Algumas fotos dos momentos do trabalho:
Alunos durante o desenvolvimento do trabalho
Em minha sala, tinha também alunos com problemas físicos, que não tinham o controle de algum ou de todos os membros, e nem por isso os mesmos deixavam de fazer o mosaico, os auxiliei no trabalho todo instante. Por exemplo, a aluna Marília, que na época estava com 32 anos, devido a paralisia cerebral, tinha muitos movimentos involuntários que faziam com que ela não conseguisse controlar o movimento que desejaria realizar. Assim, eu prendia sua peça junto a mesa (com fita dupla face) e íamos escolhendo as pastilhas, as cores e o lugar a ser colado. Além da peça presa a mesa, outra solução foi sempre o trabalho em parceria, onde eu a ajudava no momento de passar cola nas peças e em todo o processo.
O Rodolfo que não tem os movimentos no membro superior esquerdo, em alguns momentos necessitava de auxílio para colar, mas com o passar dar aulas, desenvolveu técnicas sozinho para pegar as pastilhas, para passar cola e colocar na peça (prendia com o cotovelo e passava cola).
O Gabriel não tem movimentos controlados em nenhum membro, é cadeirante e não possui comunicação verbal, utilizava de pasta de comunicação, que possui figuras e as escritas das palavras, que o auxiliava quando queria se comunicar com alguém (ele mostra a figura, o verbo, a foto do sentimento). Exemplo: quer dizer que não come presunto porque passou mal, mostra a figura do presunto e depois a figura do passar mal, e assim, ao ser questionado sobre mais informações, vai procurando as figuras que correspondem ao que quer dizer. Pensando que tem todas essas limitações, achei que não seria possível desenvolver o mosaico da forma apresentada aos demais, mas isso não ocorreu, ele escolhia as pastilhas, a ordem, a posição e assim eu ia colando a medida que concordava. Ele também ajudou dando “palpite” nas montagens dos colegas do grupo e nas placas de identificação das salas com os números, que todos fizeram, cada um construindo uma parte. Depois que foram terminadas, Gabriel foi o responsável pela combinação das cores, parte de fora e a parte de dentro (números), separei todas as placas e ele combinava as partes.
Essas foram algumas das placas elaboradas por todos os alunos para colocação nas portas das salas. No primeiro momento, foi desenhado os números e depois, feito a escolha da qual queriam fazer, sempre em duplas, um iniciava o número e o outro aluno a parte externa da placa. As cores eram escolhidas por eles e tentavam resolver os problemas de colagem sozinhos (em relação aos cantos, que precisavam de peças menores), se não conseguiam, solicitavam minha ajuda. Em muitos momentos, trocavam as peças com os colegas por conta própria, e o que observei de interessante era que quando tinha a troca dos horários dos grupos, pediam para que os colegas continuassem o que haviam começado.
Placas com os números para colocar nas portas das salas de aula
Percebi que a interação entre os alunos ficou mais forte, mesmo sendo muito tranquila antes. Foi interessante observar as situações que surgiram, como quando davam “palpites” no trabalho dos colegas, quando pensavam juntos nas combinações das cores, como ajudavam quando (para eles) a peça não ficava como queriam, mesmo a peça sendo do colega.
Também houve falas de dois alunos, Camila e Marco Antonio que mostraram interesse em fazer curso de mosaico, para assim, poderem construir suas próprias peças e em suas falas poder “vender e quem sabe ter meu dinheiro”.
Alunos mostrando o trabalho terminado
Caixas elaboradas pelos alunos
O próximo passo seria iniciar o rejunte das peças e a finalização das mesmas, bem como o acabamento na parte interior e exterior das caixas com tinta. Mas não ocorreu devido o CIEJA ter entrado em reforma no mês de outubro de 2011, que trouxe uma reorganização nas atividades em todos os segmentos da escola. Trabalhamos por rodízio com os alunos, nossos espaços ficaram, por muito tempo interditados e muitos alunos deixaram de vir a escola devido ao excesso de poeira, que prejudicava muito o estado de saúde deles. Mas mesmo com o assunto da obra, que trouxe alguns empecilhos para o desenvolvimento do trabalho, conseguimos desenvolver o processo do mosaico, realizamos o que havíamos proposto, os alunos entenderam as atividades e também aprenderam a lidar com as frustrações, tanto as minhas que planejei um término quanto as deles, que tiveram que entender que as condições da obra não permitiram que déssemos sequência ao nosso mosaico.