A Propaganda de Rádio na Educação de Jovens e Adultos

Autora: Cristina da Silva Ferreira
Orientador: Prof. Sergio Amadeu da Silveira
Co-orientação: Melina Rombach e Tiago Figueiras Pimentel

A meus familiares e amigos pela paciência e apoio constante. A todos educadores que buscam compartilhar seus conhecimentos. E aos formadores do ITCP USP, Gabriela Rizzo Iervolino, Pedro Paulo Felippe, Elisangela Soares Teixeira, Danilo Queiroz e Maíra Etzel.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos que me apoiaram e ajudaram na realização desse trabalho.
E em especial às amigas Célia Borges, Stela Presser e Vanessa Elsas.

“A humildade exprime, uma das raras certezas de que estou certo: a de que ninguém é superior a ninguém”.
(Paulo Freire)

SUMÁRIO

  • 1. INTRODUÇÃO
  • 2. A PROPAGANDA E O RÁDIO NO BRASIL
    2.1 Um breve histórico da propaganda
    2.2 A Publicidade no rádio
  • 3. A PROPAGANDA DE RÁDIO COMO FERRAMENTA DE ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
    3.1 O capitalismo e a comunicação – efeitos sobre a EJA
    3.2 O papel do rádio em EJA
    3.3 A propaganda no rádio e a alfabetização
    3.4 A alfabetização como meio de superação
    3.5 Os meios de comunicação no Brasil
    3.6 A Internet e as rádios comunitárias
  • 4. AS EXPERIÊNCIAS PEDAGÓGICAS – RELATOS E VIVÊNCIAS
    4.1 A propaganda de rádio – introdução
    4.2 Início dos trabalhos – análise e releitura
    4.3 Relato 1 – Análise e criação de anúncios
    4.4 Relato 2 – Criação de anúncios para rádio
    4.5 Relato 3 – Propaganda institucional do CIEJA
    4.6 Relato 4 – Finalização – Divulgação da Feira de Trocas na escola
  • 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
  • REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
    ANEXOS

 

1. INTRODUÇÃO

Vivemos na atualidade o capitalismo em seu estágio mais desenvolvido, suplantando fronteiras e acirrando ainda mais as diferenças econômicas entre as nações e os seres humanos como um todo. Hoje mais de 50% das maiores economias mundiais são representadas por grandes corporações. Os governos sucumbem aos interesses destes grupos econômicos em vez de garantir os direitos ao trabalho, à alimentação, à educação, à saúde e moradia das populações do planeta.

Trata-se de um mundo em que seres humanos são classificados de acordo com seu poder de consumo. Alguns são considerados menos humanos que outros na medida em que se encontram economicamente excluídos. Segundo os critérios meritocráticos que fundamentam a competitividade e o individualismo da economia neoliberal, são responsáveis por seus infortúnios, como, por exemplo, a falta de qualificação profissional, o analfabetismo, o semianalfabetismo, o desemprego.

Da mesma forma que se admitia o extermínio de nativos americanos no processo de colonização do continente, o castigo físico e mesmo o assassinato de escravos afro descendentes no Brasil até o século XIX, baseando-se na premissa de que não eram cristãos, mas pagãos, não merecedores, portanto, da misericórdia divina e muito menos da humana, admite-se hoje que pessoas passem por todo tipo de privações por serem consideradas inaptas para o sistema e por ele serem “justamente” descartadas. Lixo humano é a maior produção atual do sistema capitalista: milhões de excluídos, esfomeados, doentes, esfarrapados.

Mesmo que fossem poucos, a situação já seria eticamente inadmissível. Mas são muitos, a quantidade de miseráveis no mundo chega a quase 1 bilhão. A concentração da riqueza e da renda aumentou nos últimos tempos: os 2% mais ricos do planeta possuem mais da metade de toda a riqueza mundial; cerca de 90% da riqueza mundial está concentrada na América do Norte, na Europa e na região pacífico asiática. Os Estados Unidos tem uma população equivalente a 5% da população terrestre e consomem cerca de 30% dos recursos naturais do planeta, retribuindo com 24% da emissão de poluentes no mundo.

A desigualdade aumentou com o fenômeno da globalização, a quantidade de alimentos produzida no mundo hoje seria suficiente para alimentar quatro vezes a população da Terra. Entretanto, uma imensa quantidade de pessoas passa fome. A lógica capitalista, implacável e excludente, produz mais desigualdade e mais miséria.

Experiências no século passado provaram que não vai ser à força que a humanidade superará o capitalismo. Regimes totalitários mostraram-se incapazes de controlar a voracidade do sistema, devido à sua fragilidade estrutural intrínseca, uma contradição essencial: sua natureza antidemocrática.

Se compreendermos o conceito de democracia de forma multidimensional, não só do ponto de vista político, mas também social e econômico, veremos o capitalismo como um sistema essencialmente antidemocrático.

O modo de produção vigente, baseado nos princípios de direito à propriedade e liberdade individuais, produz organizações hierárquicas baseadas na competição e no individualismo, inviabilizando a democratização do sistema. Nesse sentido, defender a democracia não é somente defender o direito à participação, mas também à gestão dos meios de produção. A perspectiva de uma economia baseada não na competição, mas na cooperação e na solidariedade se apresenta como uma alternativa de organização social e política essencialmente democrática e, portanto, diferente dos parâmetros capitalistas. Capaz de sobreviver dentro do próprio sistema e produzir as condições necessárias para a gestação de um mundo mais justo e igualitário.

Existem diferentes autores que se dedicam à conceituação da Economia Solidária. Segundo Paul Singer[1], chamamos de Economia Solidária uma forma de produção, consumo e distribuição de riqueza que se apresenta como alternativa ao sistema econômico hegemônico por estar centrada na valorização do ser humano e não do capital. Na convivência com várias outras formas de atividade econômica de mercado, tem base associativista e cooperativista e é voltada para a produção, consumo e comercialização de bens e serviços de modo autogerido, tendo como finalidade a reprodução ampliada da vida. Para o autor, na perspectiva da Economia Solidária, o trabalho torna-se um meio de libertação humana, na medida em que visa a democratização econômica.

As experiências em Economia Solidária envolvem várias dimensões: social, econômica, política, ecológica e cultural, porque, além da geração de trabalho e renda, se projetam no espaço público, tendo como perspectiva a construção de um ambiente socialmente justo e sustentável, visando à emancipação dos trabalhadores enquanto sujeitos protagonistas de direitos.

As práticas econômicas baseadas na solidariedade são milenares, mas no mundo moderno a Economia Solidária se origina na primeira Revolução Industrial, quando surgem as primeiras “Trade Unions” e as primeiras cooperativas na Grã-Bretanha, porque, com a invenção das máquinas a vapor houve uma expulsão dos artesãos do mercado.

Enquanto conceito, a Economia Solidária surge na crise mundial do final do século passado, na década de 90, motivada pelo desemprego em massa. Foi proposta por Singer como uma estratégia de luta contra as desigualdades sociais.

A construção da economia solidária é uma destas outras estratégias. Ela aproveita a mudança nas relações de produção provocada pelo grande capital para lançar os alicerces de novas formas de organização da produção, à base de uma lógica oposta àquela que rege o mercado capitalista. Tudo leva a acreditar que a economia solidária permitirá, ao cabo de alguns anos, dar a muitos, que esperam em vão um novo emprego, a oportunidade de se reintegrar à produção por conta própria individual ou coletivamente…(SINGER: 2000 p.138)

No mesmo período, no âmbito da Educação, Paulo Freire observa que

A ideologia fatalista, imobilizante, que anima o discurso neoliberal anda solta no mundo. Com ares de pós-modernidade, insiste em convencer-nos de que nada podemos contra a realidade social que, de história e cultural, passa a ser ou a virar “quase natural”. Frases como “a realidade é assim mesmo, que podemos fazer?” ou “o desemprego no mundo é uma fatalidade do fim do século” expressam bem o fatalismo desta ideologia e sua indiscutível vontade imobilizadora. Do ponto de vista de tal ideologia, só há uma saída para a prática educativa: adaptar o educando a esta realidade que não pode ser mudada. O de que se precisa, por isso mesmo, é o treino técnico indispensável à adaptação do educando, à sua sobrevivência. O livro com que volto aos leitores é um decisivo não a esta ideologia que nos nega e amesquinha como gente. (FREIRE: 1996 p.10).

Relacionando os valores e práticas da Economia Solidária com as necessidades na formação da Educação de Jovens e Adultos (EJA), podemos perceber a busca de uma proposta educativa que se oriente na horizontalidade das relações humanas, na autogestão, no cooperativismo, na construção de novas relações entre as pessoas e na reintegração dos saberes, articulando-se às práticas cotidianas de vida e trabalho.

Uma proposta educativa libertária baseada nas propostas de Freire e nos princípios da Economia Solidária concebe estudantes e educadores como sujeitos de sua aprendizagem, porém não como seres isolados, mas como atuantes em diferentes grupos sociais, capazes de gerir sua existência individual e coletiva, conviver e respeitar a diversidade étnica, etária, sexual, física, intelectual, etc.

Nesse sentido, notamos que só se aprende algo que praticamos. Para Freire

O professor que realmente ensinar, quer dizer, que trabalha os conteúdos no quadro da rigorosidade do pensar certo, nega, como falsa, a fórmula farisaica do “faça o que mando e não o que eu faço”. Quem pensa certo está cansado de saber que as palavras a que falta corporeidade do exemplo pouco ou quase nada valem. Pensar certo é fazer certo. (FREIRE: 1996 p.19)

Partimos da premissa de que mais que o currículo, as formas como as instituições escolares estão organizadas, sua estrutura e hierarquização, refletem sua potencialidade para reproduzir e reafirmar a estrutura social e econômica vigente. Do mesmo modo, mais que o conteúdo, as formas de abordagem curricular e mecanismos de avaliação, traduzem mais fielmente as concepções de educação que norteiam o trabalho escolar.

Nesse sentido, não é possível, por exemplo, aprender democracia sem praticá-la, não adianta colocá-la como tema no currículo sem exercê-la no espaço escolar. O mesmo ocorre com os princípios, conteúdos e metodologias da Economia Solidária ao serem incorporados ao currículo da EJA. A educação e a formação em Economia Solidária implicam numa construção de novas relações e têm como perspectiva o trabalho-criação, no qual as pessoas têm o controle sobre o processo, cuja finalidade é o próprio ser humano.

A fragmentação curricular em disciplinas hierarquizadas, a estrutura subdividida em pequenos períodos de quarenta e cinco minutos, o pouco espaço para o trabalho coletivo – realidade na maior parte da EJA na cidade de São Paulo – traduzem um modo de pensar próprio das ideologias capitalistas que não concebem o ser humano em sua totalidade, integridade e multidimensionalidade. Educadores e educandos se submetem a uma organização burocrática que pouca relação tem com seu tempo de criação, aprendizagem e reflexão. Defendemos que há grande dificuldade para abordar os princípios da democracia e autogestão nas propostas pedagógicas em instituições que assim se organizam, correndo-se o risco de descolar discurso e prática numa espécie de “hipocrisia pedagógica”.

Os CIEJAs têm uma estrutura mais flexível, que abre espaço para diferentes possibilidades educativas. O CIEJA Butantã tem construído em seu percurso uma proposta pedagógica diferenciada, que tem se viabilizado pelo trabalho coletivo e gestão democrática, contribuindo para que todos os sujeitos de conhecimento envolvidos no processo de aprendizagem possam resgatar os sentidos do trabalho, construindo sua autonomia. O atendimento está organizado em módulos, mantendo a divisão entre Fundamental I e II, com professores polivalentes no primeiro e especialistas no segundo. As aulas têm duração diária de 2h15min, de 2ª a 5ª feira, com horários diferenciados às 6ªs feiras para viabilizar o trabalho coletivo dos docentes e atender às demandas do trabalho pedagógico com aulas, projetos e oficinas em que os alunos podem se inscrever de acordo com seu interesse e desenvolver outras habilidades. O currículo, organizado em áreas de conhecimento, busca a transdisciplinaridade e a metodologia dialógica e investigativa tem potencialmente ligação com os princípios, conteúdos e concepções metodológicas da Formação/Educação em Economia Solidária. Trata-se de um trabalho em construção que busca novos desenhos na reflexão e problematização da prática que também encontra dificuldades internas e externas. Há ainda pouca participação dos educandos no projeto pedagógico, ficando as decisões restritas à equipe docente. Em termos de planejamento, faz-se muito para o aluno e pouco com o aluno.

Há, entretanto, atividades pontuais e projetos que visam o protagonismo dos estudantes, como a que propomos neste trabalho – a criação da Rádio CIEJA Butantã e do “Blog” CIEJA na Rede, o projeto “CIEJA na rua” que, entre outros, são embrionários de ações pedagógicas libertárias, mais associadas aos princípios e métodos de uma educação em consonância com os princípios da Economia Solidária, pois respeitam o tempo de caminhada de cada grupo e estimulam a criação de novos conhecimentos.

Hoje temos a possibilidade de trabalhar com agrupamentos variados de alunos, integrando estudantes de diferentes módulos, idades e etapas de aprendizagem em turmas heterogêneas que constituem grupos e atuam coletivamente na realização dos projetos que lhes são apresentados.

Desenvolvemos os projetos da rádio escolar, definição de programação e criação de propagandas de rádio, nas modalidades institucionais e campanha de divulgação da feira de trocas da escola, envolvendo a disciplina de Arte e os módulos iniciais de alfabetização. Assim, pretendemos viabilizar o trabalho coletivo e criativo, o desenvolvimento da autonomia da turma, preparando o terreno para futuro protagonismo dos estudantes do CIEJA na concepção e produção de programas de rádio para a emissora que estamos implantando na escola.

Esses projetos foram desenvolvidos com alunos de diferentes idades, em diversas etapas de aprendizagem da leitura e da escrita, sendo alguns com necessidades educacionais especiais, com deficiência intelectual, mental e física. Foram realizados em aulas de 2h15min cada, num dia específico da semana, previamente combinado. Além disso, foi complementada em outras aulas com exercícios de leitura e escrita relacionados às propostas de trabalho a serem realizadas pela turma.

2. A PROPAGANDA

2.1 Um breve histórico da propaganda

A história da propaganda brasileira se inicia em 1808. Na verdade, dizem que todo brasileiro tem um pouco de propaganda no sangue, pois temos mascates, ambulantes e tropeiros como pioneiros no mercado de vendas. É claro que nessa época não se definia o comprador como cliente, e sim como freguês. O atendimento era personalizado, pois se conheciam muito bem os compradores.

Nesse mesmo ano fundou-se a Gazeta do Rio de Janeiro, considerado nosso primeiro jornal e que deu início à imprensa brasileira. O primeiro anúncio de que se tem notícia foi publicado nele. Era um anúncio de imóveis. Com o passar dos anos muitos anúncios foram criados visando à venda de produtos, imóveis e serviços. Então, surge um fato interessante – o primeiro anúncio de escravos. Com esse tipo de anúncio, a propaganda, que já foi chamada de “poesia do comércio”, aqui se mostra meio sombria, dramática. Esses anúncios descreviam os negros fugitivos ou vendidos, estabelecendo a gratificação ou o preço de cada um.

Foi por volta de 1860 que começaram a aparecer os painéis de rua, as bulas de remédios e os panfletos de propagandas. Já em 1891, um trio – jornal, classificados e agências de propagandas – entra em cena com a criação da Empresa da Publicidade e Comércio. É nessa época, mais ou menos no início do século, que surgem os jingles nos rádios trazendo a imaginação e os sonhos para a vida dos brasileiros.

Em 1900 surgiu a primeira revista no Brasil – Revista da Semana. Nessa época iniciaram-se novas técnicas de impressão que resultaram na multiplicação de periódicos ilustrados. Alguns artistas famosos começaram a desenhar para a publicidade. Em 1913 cria-se a primeira agência de propaganda, a Eclética, em São Paulo.

O período de 1930 a 1945 foi tumultuado, com problemas de decréscimo no movimento de anúncios. As atividades publicitárias foram decaindo. Entre 1945 e 1950, o país procurou arrumar os erros cometidos durante o desenvolvimento econômico e social pós-guerra. Mas era o tempo do rádio e principiou-se a dizer: “a propaganda é a alma do negócio”. A publicidade floresceu. A propaganda ganhou espaço novamente. Começava-se a utilização de uma nova técnica com rimas nos slogans. As pessoas começaram a gravar e repetir os slogans, pois eram fáceis de serem memorizados. Os slogans criativos e os reclames de rádio marcaram o surgimento da sociedade de massa.ocurou arrumar os erros ocorridos no desenvolvimento econ nosso primeiro jornal.

A chegada da televisão, assim como ocorreu com o rádio, revolucionou a vida dos brasileiros. Em época de ditadura, o grande anunciante da mídia era o próprio governo, que se utilizava da propaganda com o objetivo de mudar ações e expectativas para a direção que lhe interessava. Até hoje esse tipo de propaganda é utilizada no Brasil, principalmente em campanhas políticas e religiosas, que visam fixar idéias e conceitos na cabeça da população, causando, muitas vezes, preconceito e intolerância bem como o sentimento de repulsa às ideias contrárias às pré-estabelecidas.

Com a televisão houve uma virada no mercado publicitário brasileiro porque se iniciou a discussão sobre as estratégias de marketing utilizadas para se atingir as metas de vendas dos fabricantes. Essas estratégias eram: propaganda, promoção e pesquisa de mercado. O Brasil cresceu muito nesse setor. Mas com a abertura de mercado, as agências norte-americanas começaram a ditar as regras na criação. Surge também a época japonesa de criação – copiar, diminuir, baratear – que ajudou muito na qualidade de padrão criativo nas agências.

Houve ainda as fusões de agências, que já possuíam uma boa fatia do mercado, mas queriam sempre mais. Nessa época a profissão, com reconhecimento das universidades, ganha mais sofisticação. As pessoas começam a acreditar no poder da propaganda através dos meios de comunicação. O conceito de marketing que predomina hoje desenvolveu-se com a realização de pesquisa de mercado para medir a satisfação dos clientes, principalmente no setor automobilístico com o incremento das fábricas destinadas à produção de automóveis.

A propaganda está crescendo com as novas tecnologias e evoluindo com o mercado de produtos e serviços. As grandes marcas trabalham com posicionamento de mercado e investem pesado na publicidade, para que através da comunicação possam renovar e inovar produtos, serviços e marketing de relacionamento.

2.2 A publicidade no rádio

No Brasil, a história da publicidade radiofônica se divide em alguns períodos, desde a descoberta dos formatos de anúncios até a transição para um novo modelo de mercado.

A primeira emissão radiofônica brasileira ocorreu em 7 de setembro de 1922, durante as comemorações do centenário da Independência, quando foi instalada uma estação de 500 watts para o discurso do presidente Epitácio Pessoa. Após as festividades, a rádio saiu do ar e só voltou a ser transmitida no próximo ano através da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. Essa rádio influenciou inclusive algumas rádios amadoras que eram sustentadas por associados devido à proibição de publicidade na época.

Nos primeiros anos, a programação era destinada às classes altas – únicas com acesso aos aparelhos – com apresentação de óperas, concertos de piano e música clássica, mas não incluía a emissão de publicidade. Na época, as emissoras eram como entidades sem fins lucrativos, pois eram mantidas por contribuições de alguns associados. Mas, com o tempo, as emissoras começaram a criar um fundo de patrocínio aos programas. A publicidade era apenas utilizada para informar os nomes das empresas que apoiavam as emissoras e eram transmitidas no início ou no final dos programas, como as vinhetas fazem atualmente. Podemos dizer, portanto, que o patrocínio pode ser considerado como o primeiro formato de anúncio propriamente dito.

Na década de 30, a rádio comercial despontou com a legalização da publicidade a partir da expansão da indústria e do comércio, incrementando consideravelmente as propagandas, que passaram a representar um negócio lucrativo. Surge, atrelado à publicidade, o conceito de audiência, levando as emissoras a mudarem suas estratégias e mesclarem outros assuntos, a fim de disputarem a audiência.

No entanto, os recursos publicitários eram reduzidos e sua distribuição ainda era um desafio. Devido ao número elevado de analfabetos, que não podiam contar com os jornais para buscar as informações, o rádio ganhou importância, tornando-se um meio fundamental para se dirigir a esse público em particular, bem como a todas as outras classes sociais.

A publicidade começa a dar solidez aos negócios e a tomar outros formatos, como os spots e os jingles – anúncios cantados – revolucionários para a época. Esses formatos são usados até hoje nas propagandas de rádio. O jingle é  uma mensagem publicitária cantada que procura, muitas vezes, informar as qualidades ou diferenciais de uma determinada empresa, produto e ou serviço. É uma música criada exclusivamente para seu anunciante que utiliza um refrão simples e de curta duração, visando ser lembrado com facilidade. O spot possui a mesma finalidade, mas acrescenta uma fala como elemento principal. Pode ser musicado ou só falado e geralmente é muito curto. Mas, há pouco tempo surgiu, no mundo publicitário, o springle, que nada mais é do que a fusão do spot com o jingle, cuja mensagem possui partes cantadas e faladas. E a vinheta, muitas vezes confundida com o spot, é uma peça de áudio ou vídeo – pode ser usada na TV – que identifica a marca ou o canal. Possui também como objetivo a consolidação estética e simbólica da emissora.

Constituem-se em “chamadas”, utilizadas até hoje pelas rádios e as televisões para informar ao telespectador ou ouvinte sobre as suas programações. Servem ainda, como o spot, para fazer intervalos na programação, anunciando as atrações ou alguma notícia importante (furos de reportagem).

Aos poucos o rádio foi se modificando, perdendo seu perfil educativo e elitista e transformando-se num meio popular de maior alcance de comunicação. Essa revolução do veículo deu-se pelo fato de permitir ao homem ouvir a mensagem sonora e falada ao mesmo tempo sem precisar interromper seus afazeres. Com uma linguagem mais direta e de fácil entendimento, organizam-se melhor as programações, atraindo ainda mais o grande público. No início, os anunciantes eram pessoas do comércio varejista, mas aos poucos foram surgindo os grandes anunciantes das empresas multinacionais. A chegada das grandes agências publicitárias aumentou o investimento das empresas, para que assim pudessem atender às suas demandas em relação à publicidade radiofônica.

A comunicação no rádio tem sido revolucionária, no sentido de aproximar os povos, despertando a atenção pelas diversas culturas. Provoca também uma aceleração da informação, ou seja, permite uma maior velocidade na veiculação das notícias, comparando-se com o jornal, por exemplo. Há de se considerar o fato de que o rádio não exige conhecimento letrado de seus ouvintes, facilitando a receptividade. A publicidade se apoia nesse tópico para poder exercer influência e expandir suas ideias.

A legislação para a publicidade no rádio surge em 1932, pelo decreto nº 21.111, que determina o máximo de 10% de veiculação comercial sobre a programação da emissora. Dois anos depois, um novo decreto (lei 24.655) amplia para 20% o limite estabelecido. Como o meio depende de concessão pública para ficar no ar, deve seguir regras estabelecidas em leis, regulamentos e normas, evitando, assim, que a publicidade ultrapasse o limite determinado. Porém, muitas vezes isso não ocorre, pois não há fiscalização nem interesse suficientes para evitar uma exploração por parte dos anunciantes nos espaços das programações. Isso porque os recursos financeiros provêm da venda comercial dos espaços vendidos à publicidade.

Por não ser uma mídia cara e por ter grande alcance, os anunciantes procuram sempre investir uma parte do bolo publicitário nesse veículo de comunicação. É notório que os investimentos publicitários em rádio caíram muito com a chegada da televisão. No início, o rádio era responsável por cerca de 23% das verbas publicitárias destinadas à mídia em geral, via agências de propaganda. Nos anos 60, a televisão ainda era muito jovem e sua penetração perdia de longe para as rádios. Com o tempo, a TV foi crescendo, o que comprometeu a participação do rádio como único veículo verdadeiramente de massa no país. É uma história um tanto triste para um veículo que por muitas décadas conseguiu alcançar as regiões mais pobres afastadas dos grandes centros urbanos. Além do mais, foi considerado uma forma de entretenimento para essa população, isolada em vilarejos ou em áreas rurais.

No seu 60º aniversário criou-se uma entidade associativa chamada Central de Rádio cujo objetivo era o fortalecimento do meio enquanto mídia. Como as informações na época eram dispersas e pouco confiáveis, a Central, com a colaboração das agências e anunciantes, passou a realizar pesquisas de penetração e audiência. Apresentava igualmente seminários aos representantes de marketing e mídia, instrumentando o setor com dados e informações mais precisas. Foi nessa época que surgiu também o Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária (CONAR), importante para o mercado publicitário.
A Central de Rádio conquistou anunciantes no âmbito nacional, organizando-se com o objetivo de ampliar a cobertura de mercado. Por meio de redes de emissoras e da segmentação da audiência, o rádio partiu para outro perfil publicitário, fortalecendo-se como um suporte para a captação de recursos com um menor investimento.

Mas, apesar das inovações na área, a publicidade no rádio foi perdendo força. A TV consolidou-se nesse mercado e o rádio foi para a divisão inferior dos investimentos publicitários. Essa situação foi se modificando ainda mais com a chegada de novas formas de promoção publicitária, tais como: TV por assinatura, Internet e várias formas de marketing (pessoal, direto, promocional etc.).

As emissoras de rádio têm procurado superar essa situação, abrindo espaço para a participação de novos anunciantes que não dispõem de muito capital para investir em mídias mais caras. Com isso, consolidam-se as Centrais de Rádio nessa busca por interessados em divulgar seus produtos, além de procurar inovar-se através da Internet, desenvolvendo novas formas de produzir a mensagem radiofônica e abrindo novos espaços para os investimentos publicitários.

3. A PROPAGANDA DE RÁDIO COMO FERRAMENTA DE ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

3.1 O capitalismo e a comunicação – efeitos sobre a Educação de Jovens e Adultos

No mundo capitalista, as pessoas tendem a se tornar cada vez mais individualistas, pois acreditam que são capazes de produzir sozinhas ficando com a maior parte do lucro. E o mercado hoje busca e explora esse individual. É competição o tempo todo.
E o mundo das vendas não é muito diferente. Para se ter sucesso é necessário vender mais. Para que isso ocorra, é preciso sair na frente do concorrente e convencer o consumidor que um determinado produto ou serviço é melhor que o outro. Esse mundo parece refletir a sociedade como um todo, pois encontramos todos os tipos de vendedores. O publicitário seria um vendedor à distância, pois não o vemos diretamente no momento da venda, mas é ele que está por trás das grandes ideias para tornar um produto mais rentável para seu criador. Nesse momento, observamos que o mercado se torna mais competitivo, pois as propagandas invadem os meios de comunicação de massa e a população fica a mercê de uma cultura de consumo.

“O mundo do vendedor tornou-se hoje o universo de todos os homens e, de certo modo, todos se tornaram vendedores.”     (MILLS: 1976 p.180).

As pessoas, com o crescimento do mercado, transformaram as vendas em algo impessoal e, nessa loucura de compras, vendas e trocas, as propagandas passaram a explorar até mesmo os valores da sociedade. Quem já não viu anúncios apelativos na televisão e até no rádio?

Num mercado competitivo, há duas situações em que o vendedor não precisa se esforçar muito para que a venda aconteça: quando a procura é maior que a produção e quando a oferta e a procura estão em equilíbrio. Porém, quando se acumulam excedentes, pois a produção se torna maior que a capacidade de compra do consumidor, entra em ação a publicidade, que tentará convencer o cidadão da necessidade de adquirir esse ou aquele produto.

Não podemos negar a importância da comunicação para a sociedade. Mas precisamos ficar atentos às estratégias utilizadas que têm por finalidade modificar a opinião pública.

Para Paulo Freire[2], o meio de se construir conhecimentos está intimamente ligado à educação, pois é através dela que se transforma o homem em sujeito da ação. Mas, para se atingir esse objetivo, é necessário, segundo o autor, se levar em conta que é pela comunicação que as relações se estabelecem. E como a educação não termina no objeto estudado, as escolas de EJA precisam aprimorar e modernizar seus estudos em relação aos meios de comunicação.

Ainda segundo Paulo Freire[3], uma “ação cultural libertadora” consiste no “direito à voz”, no “direito de pronunciar sua palavra”, no “direito de autoexpressão e expressão do mundo”, na participação de um povo oprimido no processo histórico da sociedade. Assim, muitos comunicadores precisam articular uma proposta melhor de comunicação horizontal, democrática e participativa para a população. Há a necessidade de diálogo, como processo interativo e participativo de criação, para que se torne algo significativo, compartilhado por sujeitos afins em uma relação de igualdade. Essa é a “essência”, a “estrutura fundamental” no campo social da educação.  Freire defende que a educação de jovens e adultos está inserida nesse sistema.  A EJA necessita do algo real, motivador, diferente e que faça parte da vida do mundo do trabalho e da família.

As propagandas não são novidades para os alunos, pois convivem diariamente com elas, pelas rádios, televisões, Internet, celulares, jornais, revistas etc. Pode-se dizer que a propaganda está no sangue dos brasileiros, pois mascates, ambulantes e tropeiros, que foram os primeiros vendedores, pioneiros nas vendas de produtos, já estimulavam as vendas com sua criatividade no discurso.

3.2 O papel do rádio em EJA

Com a chegada da TV, o mercado se agitou e abriram-se discussões sobre novas estratégias de marketing para as propagandas com o objetivo de atingir as metas de vendas dos fabricantes. O rádio também marca o mercado de vendas e se utiliza de várias formas de modernização na comunicação, que no caso, por ser apenas sonora, necessita de muita criatividade para prender o ouvinte e estimular a venda de algum produto.

Hoje são 3 421 emissoras de rádio espalhadas por todo território nacional, segundo o Ministério das Comunicações, que atendem aos locais mais distantes do país. O rádio é um meio de amplo uso, pois atinge de forma direta a todas as faixas etárias e classes sociais, sem distinção ou preconceito. É o único meio de comunicação de massa que efetivamente não exige alfabetização do receptor. Portanto, é um instrumento que deve ser respeitado profissionalmente em qualquer projeto de criação de imagem e de fixação de uma marca para o ouvinte-consumidor.

Lembremos que o rádio muita vezes chega a lugares aonde a TV não vai. Por esse motivo, não podemos menosprezar a força do rádio enquanto meio de comunicação e formador de opinião, pois possui um amplo campo para implantação de mensagens.
O rádio tem sua própria linguagem: direta, coloquial e intimista. Por isso, pode-se deduzir que somente um veículo que é capaz de sintonizar diversão, informação e persuasão ao mesmo tempo, poderia possibilitar uma maior compreensão do mundo de consumo. Daí sua importância.

A propaganda ainda tem muito para evoluir e com ela o rádio, pois ambos demonstram capacidade de serem fiéis às mensagens e informações que veiculam, dependendo apenas de se observar as questões éticas.

Como sabemos, o rádio é comum na vida de nossos alunos, pois eles sempre trazem comentários sobre acontecimentos das programações. Com isso, acreditamos que o interesse que demonstram poderia ser uma ótima ferramenta para introduzirmos a propaganda de forma mais interessante. Além disso, com a chegada dos celulares, não há mais necessidade de se possuir e de carregar os rádios a pilha, o que facilita ainda mais a utilização do meio no cotidiano da população.

3.3 A propaganda no rádio e a alfabetização

Mesmo com a revolução da comunicação, o rádio ainda é o meio de maior acesso às pessoas e também o mais barato, facilitando o seu uso em diversos contextos. A propaganda no rádio é uma das formas de se fazer uso desse instrumento, mostrando-se relevante e criativa na educação de jovens e adultos por se utilizar de duas formas de comunicação essenciais na vida em sociedade – a oral e a escrita – com a elaboração dos textos e roteiros e sua posterior leitura nos microfones, quando a programação for ao vivo.

Como a linguagem na propaganda é simples e de fácil compreensão, há a possibilidade de seu uso como estratégia para a alfabetização. O aluno se utiliza da oralidade também durante a criação das propagandas, onde se discutem as características de um produto, serviço ou tema, e durante a apresentação e gravação para o rádio, como mencionado acima. Já a parte escrita é fundamental para as produções das frases e dos textos. Não são apenas essas as habilidades desenvolvidas: o aluno se vê frente a uma situação e um problema que necessitam de reflexão, organização de ideias, planejamento e capacidade de tomar decisões.

Trata-se de um trabalho em equipe. Portanto, após a escrita dos textos, os alunos envolvidos nessa parte do projeto levam sua produção para o restante do grupo a fim de se procederem a análise e posteriores correções ou complementações.
É interessante notar a preocupação dos alunos na escrita correta das palavras e na formação de frases para a composição dos textos. O trabalho vai assim se desenvolvendo mais naturalmente e com autonomia, pois percebem que lhes é oferecida a liberdade para criar. O envolvimento com essa escrita acontece, portanto, de forma espontânea, o que se reflete nos resultados obtidos. São muitas as ideias criativas que brotam, estimulando ainda mais os alunos e aumentando sua autoestima.

Estamos assistindo a um tipo de trabalho coletivo, em que os envolvidos não só dependem uns dos outros, como respeitam as opiniões e a ajuda dos colegas. A atuação desses alunos numa atividade em que não há competição, só cooperação e na qual se estimula a participação da todos na elaboração e realização das tarefas, constitui-se em uma característica de EJA, onde geralmente se vê, no indivíduo, uma preocupação não só com o próprio aprendizado, mas também com o desempenho dos demais colegas.

3.4 A alfabetização como meio de superação

Quando pensamos em alfabetização para alunos de EJA, lembramos que estes, ao chegarem às salas de aula, já conhecem a língua materna, pois a ouvem desde o nascimento, seguindo-se, meses depois, pelos primeiros balbucios. Não apenas conhecem a língua falada, como têm contato visual com a língua escrita, em placas, letreiros de ônibus, documentos pessoais, bancas de jornal etc., embora sintam dificuldade em decodificá-la.

Mas, nos nossos dias, comunicação pressupõe saber ler e escrever. Mesmo com o passar dos anos e as mudanças do mundo, a linguagem ainda é a base do ensino, tornando a escola um espaço especial para a comunicação. Não se pode pensar em educação, sem pensar em comunicação, pois ambas nascem das necessidades humanas.

Partindo do pressuposto de que a comunicação oral e escrita podem e devem ser desenvolvidas simultaneamente durante a fase de alfabetização, as classes de EJA organizam seu planejamento de aulas de modo a agrupar essas duas modalidades nos gêneros a seguir: relatar, narrar, argumentar, expor e descrever. Dentre essas etapas, a argumentação se destaca, pois é através desse gênero que se estabelecem as relações sociais, tão relevantes nas aulas de educação de jovens e adultos. Afinal, essas relações tornam-se fundamentais como possibilidades para a ampliação da cidadania.

É importante observarmos que há certa distância entre a norma culta da Língua Portuguesa e as variações linguísticas que os alunos trazem para a sala de aula. Nesse caso, não existe o certo e o errado, e sim “uma nova língua”. Com isso, os alunos melhoram sua “competência comunicativa falada e escrita” percebendo-a em diversas situações do uso da língua. Nesse aspecto é importante fazer com que o aluno perceba que o uso da linguagem depende das circunstâncias, da finalidade e do interlocutor.
Esses alunos frequentemente apresentam uma trajetória de exclusão, muitas vezes marcada por reprovações e evasões, sendo considerados produtos do fracasso do sistema escolar. Então, devemos considerar a especificidade etária e cultural como fundamentais para um melhor desenvolvimento desse grupo tão excluído da sociedade.

O processo de comunicação representa um dos fenômenos mais importantes da espécie humana. Não podemos nos esquecer de que a linguagem, a cultura e a tecnologia são elementos indissociáveis do processo de comunicação. A tecnologia invadiu o mundo num processo tão rápido que as pessoas não conseguiram acompanhar esse desenvolvimento. Os meios de comunicação também caminham nessa estrada, pois estão sempre se ampliando e inovando para melhor alcançar seus objetivos.

A educação se processa através da comunicação, seja ela visual, auditiva ou perceptiva, compondo as diferentes linguagens. Pode-se dizer que a arte, por exemplo, é um meio de comunicação, por ser uma linguagem que nos transmite sensações. O mesmo cabe às mensagens publicitárias, que também procuram nos comunicar algo. Nesse aspecto a linguagem demonstra seu poder de comunicação e persuasão diante de nós, simples consumidores e espectadores ávidos de conhecimento.

Através da educação podemos notar a importância da comunicação nas relações e no desenvolvimento do aprendizado. Podemos construir nossa história através da comunicação com sentimentos, trocas, informações, criações… Somos e pensamos através da nossa educação. E sabemos que a educação não é mérito único da instituição escolar, pois, segundo acredita Paulo Freire, ela nos acompanha ao longo da vida com a leitura de mundo. No texto-diálogo Alfabetização – Leitura do Mundo, Leitura da Palavra, transcrito por Cléo Toledo, sobre uma conversa entre Paulo Freire e Márcio D’Olne Campos, Paulo Freire[4] relata:

“Sempre que tenho discutido a questão da alfabetização tenho afirmado que é impossível pensar-se na leitura da palavra sem reconhecer que ela é precedida pela leitura do mundo. Daí que a alfabetização, enquanto aprendizado da leitura e da escrita da palavra implique a releitura do mundo. O homem antes de desenhar e fazer a palavra escrita, falou, prolou a palavra oral, e muito tempo antes de escrever “leu” o mundo dele, “leu” a realidade dele. Talvez pudesse dizer que muito antes de escrever a palavra, ele “escreveu” o mundo, isto é, transformou o mundo sobre o qual falou para, depois, escrever o falado. De maneira que todo processo da alfabetização, pra mim, tem que compreender e constatar este fato histórico e social e tem, metodologicamente, que envolver a provocação por parte do educador aos educandos, no sentido de que eles exercitem a nível sistemático, a oralidade”.

A oralidade faz parte dessa leitura de mundo, em que não se necessita da escrita para intermediar o conhecimento. É o início do processo educativo, portanto fundamental na educação. Essa forma de comunicação – a falada – e que precede a comunicação escrita precisa ser mais explorada na educação de jovens e adultos, pois já é utilizada com muita frequência no cotidiano de nossos alunos.

Além disso, a comunicação oral é produzida de maneira mais rápida e eficaz, pois as pessoas, quando dialogam, se veem e se ouvem, fazendo uso de outros tipos de linguagem, como expressões faciais ou modulações de voz. Observamos que essa interação não acontece na escrita. Durante a escrita não percebemos o outro e sua reação, pois não dispomos dos mesmos recursos da oralidade e da comunicação visual. Por isso a dificuldade de se comunicar através desse gênero.

É nesse momento que o professor deve estar atento à fase de alfabetização dos jovens e adultos, pois alfabetizar não é ensinar por partes, onde se aprendem primeiro as letras, depois a juntá-las em sílabas, em seguida as sílabas em palavras e, finalmente, as palavras em frases. Não é dessa forma que aprendemos a falar. Nossos alunos já possuem um grande conhecimento da língua que será utilizado pelo professor fazendo-os refletir sobre o sistema de escrita, formular hipóteses e evoluir, de acordo com o grau de desenvolvimento das suas funções cognitivas.

Colocando os alunos em situações desafiadoras no contato com a língua oral e escrita, e ajudando-os e mediando-os durante atividades planejadas e adequadas à aceleração do processo de aprendizagem, o professor encontrará os meios de realizar a alfabetização, bem como a assimilação de novos recursos linguísticos.

Por outro lado a comunicação é muito importante nesse processo, pois tanto a educação como a comunicação possuem certa relação de complexidade, posto serem processos inseparáveis e inerentes à humanização. Desde o nascimento, o ser humano busca se comunicar. É desse modo que ele assegura a própria sobrevivência. Porém, há os dois lados, um que liberta e outro que aprisiona e controla. Sabemos que somos, muitas vezes, manipulados pelos meios de comunicação, convencendo-nos de que tal produto é melhor, de que tal governo é mais capaz etc. No entanto, com o uso consciente e o espírito crítico desenvolvido pelos professores em classes de EJA, grandes coisas poderão ser realizadas, como campanhas, informações, entretenimentos, espetáculos artísticos e outros.

A comunicação oral e escrita está sendo destacada, pela sua importância no desenvolvimento do projeto sobre a propaganda em EJA, pois será através desses dois tipos de comunicação que o presente trabalho será desenvolvido. Os alunos estarão aprimorando seus conhecimentos escritos através da criação de textos para determinados anúncios, que serão posteriormente verbalizados na programação do rádio. Com isso, eles poderão perceber a relevância desses dois tipos de linguagem na sua formação.

A comunicação anda de mãos dadas com a educação. Ensina-se na escola que todo aprendizado se faz através da comunicação, seja no ambiente escolar ou no ambiente doméstico e social. O que se necessita aprender é como lidar com ela, ter o espírito crítico para perceber as boas e as más intenções.

A formação do cidadão depende, em grande parte, da leitura de mundo, segundo as palavras de Paulo Freire. E essa leitura de mundo depende, por sua vez, das oportunidades de participar desse redemoinho de conhecimentos e informações com o qual os meios de comunicação nos bombardeiam cotidianamente. Uma pessoa alfabetizada é mais do que um decodificador de letras e números. Ela deve ser capaz de ler o mundo de forma crítica e reflexiva.

A mídia é hoje em dia objeto de vários estudos e pesquisas em diversas áreas do conhecimento. Sabemos que o desenho, a escrita, a comunicação telegráfica, radiofônica, televisiva e midiática são alguns dos caminhos percorridos pelo homem na tentativa de conseguir maior eficiência no processo de comunicação e de aprendizado.

Cabe ao educador valer-se dos meios de comunicação para agir, não como facilitador da aprendizagem, mas como um mediador de saberes na construção da cidadania. Essa é mais uma ferramenta – importantíssima – para que possa atuar nas aulas de EJA e criar as condições necessárias para o desenvolvimento dos seus alunos.

3.5 Os meios de comunicação no Brasil

Atualmente a sociedade se vê num beco sem saída. Não há democracia para as classes menos favorecidas e os meios de comunicação continuam nas mãos de poucos. Com isso, as informações se tornam obscuras, pouco confiáveis. No entanto, constatamos a existência de uma sociedade com certo esclarecimento quando nos deparamos com os resultados das últimas eleições, onde a grande mídia, sob domínio de grupos empresariais, tentou – sem muito sucesso – manipular as informações para a população.

Surpreendentemente, contra todas as expectativas, a resposta da população se mostrou coerente e decisiva. Culpe-se a Internet. Com efeito, a disseminação das redes sociais via Internet vem sendo responsável pelo surgimento de formas de ‘contrainformação’ das notícias até então veiculadas apenas para favorecimentos de poucos. Já não bastam os jornais ou telejornais. Através da Internet, pode-se ter acesso à informação com várias leituras e interpretações, além de se garantir informações mais próximas do tempo real. E tudo isso bem acessível à população em geral, seja em casa, na escola ou em estabelecimentos afins.

Nos nossos tempos, o direcionamento político e econômico prevê a maximização dos ganhos em detrimento das perdas. No Brasil, principalmente, vivemos uma época de crescimento e desenvolvimento.  Sabemos que os impostos pagos pelo povo são a maior fonte de renda para a concretização dessas metas. E qual seria então o papel dos meios de comunicação? Talvez convencer as pessoas de que cabe a elas cooperar com os antigos impostos e aceitar os novos. Ou talvez fazê-las aceitar os mandos e desmandos dos seus representantes quanto à imposição de obrigações e restrições de direitos. Além disso, o cidadão vem testemunhando a criminalização dos movimentos sociais através de perseguições e sonegação de informações de seu interesse.

A postura da sociedade, felizmente, tem se mostrado mais firme e exigente. Ela entende que o único caminho é a democratização das comunicações. Critica o modelo atual de concessões da radiodifusão que possibilita a concentração de emissoras de rádio e TV nas mãos de pequenos grupos, laicos ou religiosos; empresariais ou políticos. Muitos têm consciência de que as informações são editadas, com o foco de acordo com o interesse do grupo responsável pelo controle da emissora. Como resultado dessa ação, constatam com pesar que as pessoas na sua grande maioria assistem, sem perceber, à expressão de um poder dissimulado que acaba por influenciar diretamente as suas vidas, restringindo assim a sua liberdade e seu livre arbítrio.

É notório que um serviço público de radiodifusão não deva ser parcial nem atender aos interesses de uns poucos. O que falta é disseminar essa máxima entre os cidadãos, para que todos saibam, do mais pobre ao mais isolado, a extensão dos seus direitos e possam reivindicá-los.

O mesmo se espera da Internet. O internauta deve ter uma formação que lhe dê ferramentas para selecionar o que corresponda aos seus interesses, de descartar aquilo que fira seus conceitos e crenças, de buscar esclarecimentos para complementar informações ou sanar dúvidas. Não basta saber ler, como no caso do jornal, ou possuir um aparelho de rádio ou de televisão. Esse novo meio de comunicação pede que se tenham pré-requisitos investigativos e críticos. Quando o computador estiver presente em todos os lares na mesma proporção do rádio e da televisão, teremos a democratização do acesso, o que não pressupõe, no entanto, a democratização do conhecimento e da comunicação.

Conclui-se que, para que a população tenha condições de participar nas decisões que de um modo ou de outro possam afetar sua integridade física ou legal, é importante que possa confiar nos meios de comunicação     que – antes de tudo – foram criados para comunicar e não para manipular. Há ações no sentido de regulamentar a mídia, porém nada de muito concreto foi até o momento estabelecido. E é necessário que a própria mídia dê informações sobre ela mesma, de modo imparcial. No entanto, o termo apresentado pela mídia é censura. Usam-se e abusam-se de falácias, para rotular de censura essas regulamentações, taxando-se de ato contra a democracia qualquer intervenção que venha dos órgãos oficiais. Fica claro que o que vem ocorrendo é uma busca de defesa de interesses próprios.

A Constituição Federal estabelece que “os meios de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser objeto do monopólio ou oligopólio”, mas o grande problema dos meios de comunicação atualmente é justamente a concessão de emissoras a associações religiosas, comerciais ou políticas. Isso fere a legalidade, posto estar em desacordo com a legislação vigente. Como a renovação das concessões fica a cargo dos órgãos oficiais e estes têm seu comprometimento por serem, muitos deles, detentores de concessões, fica difícil mudar o panorama atual da comunicação social. Como consequência, nos últimos anos essa renovação tem ocorrido automaticamente no Congresso Nacional, sem a participação popular.

Fica aí uma questão: por que se confiscam equipamentos de comunicadores particulares, de rádios comunitárias e de radioamadores? Pode-se aceitar a justificativa de que o raio de alcance da frequência utilizada ultrapassa os quilômetros permitidos pela lei? Se essas iniciativas são proibidas e coibidas, onde fica a democratização dos meios de comunicação? Deveria ser por todos, de todos e para todos, defendem os cidadãos esclarecidos.

Até os otimistas estão convencidos de que terão que esperar muito até que o Brasil se coloque no mesmo patamar que os países mais desenvolvidos em relação à democratização dos meios de comunicação. Para esses países que já possuem uma regulação nesse setor, rádio e televisão são serviços públicos operados pelo Estado ou através de concessões com o objetivo de informar, educar e entreter a população. São emissoras que devem ser observadas de perto e controladas pela própria sociedade, segundo se preconiza.

Vários são os problemas. O espaço para informes publicitários está ultrapassando o limite 25% da programação das emissoras, ocupando, muitas vezes, quase a totalidade em alguns canais de TV: os programas femininos, por exemplo, além de recheados com publicidade, a todo o momento se interrompe para mais publicidade!

Muita coisa precisa mudar! Uma nova lei de radiodifusão se faz necessária, além de investimento significativo para monitorar as emissoras para que seja cumprida a lei e para que se tenha um serviço de qualidade. As emissoras precisam manter os compromissos assumidos com o Estado no momento da concessão. Isso já ocorre em muitos países da América Latina. Eles chamam de “caderno de encargos” (contrato de prestação de serviços), onde constam várias cláusulas, como: o tipo de programação, horário de veiculação, tipo de público etc.

As cláusulas são conferidas e seguidas de perto, para que sanções e multas sejam devidamente aplicadas no caso de quebra de contrato, como acontece em qualquer tipo de acordo comercial. Pode-se, inclusive, perder a concessão se se agir de má fé. Não há acordo. Não há privilégios. É democrático, como acreditamos que possamos também ser um dia.

Depende muito de todos nós, do nosso grau de participação nas decisões e de boicotarmos certas emissoras, editoras, sites quando a insatisfação nos atingir gerando incômodo. Conhecendo os órgãos reguladores e exigindo deles reformulação ou complementação de seus pareceres; controlando a efetivação de suas ações e fazendo um balanço dos resultados obtidos; participando ativamente de debates em sua comunidade – estaremos contribuindo para tornar os meios de comunicação mais adequados às nossas necessidades e não às de uma minoria cujo interesse maior é, ao que parece, controlar nossos desejos.

3.6 A Internet e as rádios comunitárias

Os tradicionais meios de comunicação estão em polvorosa com a disseminação das informações através das redes sociais via Internet. Hoje observamos um deslocamento dos formadores de opinião dos meios tradicionais para o mundo virtual. Podemos perceber que muitas informações que circulam em redes sociais são decisivas. Essa nova e moderna forma de comunicação já influencia a mídia tradicional e se torna cada vez mais importante no setor. Não há dúvida de que a Internet está sendo considerada uma “divisora de águas”. Além disso, aumenta a cada dia o número de usuários, confirmando a sua boa aceitação.

Os meios tradicionais – rádio, jornal e televisão – perderam pontos quando subestimaram o poder dessas novas mídias. A população não quer mais ver, ouvir ou ler notícias atrasadas, manipuladas e requentadas, por isso buscam os blogs e as redes sociais para obterem informações rápidas, mais reais e sob diferentes perspectivas.

A Internet passou a ser uma ferramenta imprescindível para qualquer um que queira vencer as competições do mundo moderno, em todos os campos conhecidos. Também as “velhas” mídias tiveram que aderir para acompanhar o progresso. Os principais veículos de comunicação do país, que durante um tempo tentaram negar e existência dessa mídia, perceberam que não poderiam ficar mais por fora desse mercado e começaram a colocar seus blogs em ação.

Foram desenvolvidas muitas maneiras de se informar, de buscar novos internautas e de transformá-los em fiéis seguidores de blogs e redes sociais. Surgiram também as rádios pela internet. Com o objetivo de informar, de levar música, entretenimento e garantir direito de fala da sociedade, essas rádios funcionam como rádios comunitárias que possuem espaço para o exercício da cidadania, democracia e desenvolvimento social. Em outras palavras, a Internet vem conquistando para a população tudo aquilo que fracassou nos demais meios de comunicação onde é exercido forte controle.

Por outro lado, o rádio tem sido um meio de comunicação muito utilizado pela população até agora, pela facilidade de acesso aos aparelhos devido ao baixo custo e pela grande abrangência das suas ondas dentro do território nacional, chegando aos lugares mais distantes e remotos. Com o advento dos celulares, as rádios também se aprimoraram e foram buscar novas formas de atuação no novo mundo das comunicações, sendo facilmente acessadas tanto pelos tradicionais aparelhos a pilha como por celulares e Internet. Essas rádios existem para garantir que a população tenha voz, seja individual ou coletivamente. O que se vem buscando é um meio de resgatar a sua finalidade primeira, que é torná-la uma aliada do cidadão.

É essa experiência que os alunos de EJA estão vivenciando, como indivíduos apreciadores dessas novas tecnologias sim, mas fiéis às tradicionais, como o rádio. Têm se mostrado verdadeiros entusiastas, trazendo para sala de aula notícias e comentários sobre a programação das rádios, como: slogans criativos, notícias de trânsito, propagandas interessantes, notícias de corrupção e violência etc. Esses alunos demonstram com isso, possuir uma visão crítica e uma opinião politizada sobre o que acontece no mundo da comunicação, tecendo comentários e debatendo os assuntos de destaque.

Com essa revolução no mundo da comunicação, os estudantes passam a perceber que, pouco a pouco, as rádios tradicionais vão abrindo espaço para um tipo de programação que lembra muito as rádios comunitárias em que se procura um relacionamento mais profundo com a comunidade. Os estudantes começam a ver a importância desse veículo na mídia e a constatar que, apesar de tantos inimigos no mundo da comunicação, as rádios puderam se reformular reinventando o jornalismo, recriando a noção de cidadania, refletindo sobre temas antes censurados pelos poderosos, permitindo que as pessoas opinem, falem, manifestem-se sem tabus e medos, enfim, humanizando a comunicação.

O grande valor das rádios comunitárias é seu efeito libertador e unificador. Elas unem as pessoas e lhes trazem um sentimento de pertencimento, restabelecendo no meio da população a noção de comunidade. Aumenta-lhes a autoestima, quando constrói e disponibiliza os meios para uma atuação mais direta da população nos assuntos de interesse comum.

Claro está que esse movimento não passa despercebido dos detentores do poder, provocando – como era de se esperar – algumas reações adversas. Mas os alunos de EJA, adultos na sua grande maioria e pagadores de impostos, não devem se deixar intimidar. A sua própria situação de trabalhador e estudante, envolvidos que estão em uma série de problemas e tribulações no dia-a-dia, facilita esse processo de busca por autonomia e desenvolvimento de espírito crítico. Nossa expectativa é que não se permitam serem explorados e enganados pelos controladores da opinião pública. Sabemos que a força está latente em cada um, bastando apenas que se tenha consciência da sua existência. A rádio pode ser, nesse contexto, um poderoso instrumento de luta.

 4. AS EXPERIÊNCIAS PEDAGÓGICAS – RELATOS E VIVÊNCIAS

4.1 A propaganda de rádio – introdução

As atividades descritas nesses relatos fazem parte do projeto de implementação de uma rádio comunitária na escola. A primeira etapa foi desenvolvida entre junho e agosto, com a gravação de uma radionovela, tendo como principais protagonistas os alunos de módulos 1 e 2. Em setembro, iniciamos a segunda parte do projeto com aulas voltadas à programação de rádio, onde introduzimos a propaganda.

A fase da propaganda teve quatro momentos distintos: análise e releitura de anúncios de revistas, criação de propagandas de produtos para o rádio, criação de propagandas sobre o CIEJA e montagem de propagandas sobre a feira de trocas a ser realizada na escola no mês de novembro.

As atividades práticas se desenvolveram coletivamente durante o processo de construção, utilizando-se instrumentos de arte e educação como meios e linguagens da comunicação, pois acreditamos que a construção do conhecimento pressupõe a interação com os elementos do grupo e o estudo da prática.

Discutiu-se também como as informações são criadas e veiculadas, ressaltando-se que elas podem ser produzidas de diversas maneiras e por meio de vários instrumentos. Assim agindo, pretendemos promover uma reflexão acerca desses meios de comunicação, desmistificando certos postulados.

4.2 Início dos trabalhos – análise e releitura

A turma que participa desse projeto é bem heterogênea, sendo composta basicamente por adolescentes, adultos, idosos e pessoas com necessidades educacionais especiais em fase de alfabetização e pós-alfabetização, sendo dividida, nesse primeiro momento, em quatro grupos com perfil bem variado. Procuramos, assim, criar novos vínculos, diferentes dos que estavam acostumados a ter, pois se mantivéssemos os agrupamentos por afinidade, poderia se perder a riqueza da experiência de novas amizades com a troca de conhecimentos.

  • 4.3 Relato 1 – Análise e criação de anúncios
  • 4.4 Relato 2 – Criação de anúncios para rádio
  • 4.5 Relato 3 – Propaganda institucional do CIEJA
  • 4.6 Relato 4 – Finalização – Divulgação da Feira de Trocas na escola

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Assim como a Economia Solidária, que surgiu como contraponto ao capitalismo, trazendo alternativas de geração de trabalho e renda e propondo mudanças na forma de pensar e se relacionar das pessoas, a escola não pode mais pretender ser uma mera transmissora de conhecimentos, precisa ser transformadora, mais humana e crítica.

Para Paul Singer essa nova economia é uma experiência libertadora, pois oferece um ambiente de trabalho melhor e mais igualitário, onde o coletivo é fundamental para o êxito. Suas características básicas são: cooperação, autogestão e solidariedade. Características que também podemos observar como necessárias à prática nas escolas de jovens e adultos.

Se pensarmos nos desafios da economia solidária numa sociedade dominada pelo capitalismo, podemos mais uma vez nos lembrar da importância do papel da escola neste processo.  A sociedade contemporânea, dominada pelo ideário neoliberal, amplamente difundido pela mídia e reforçado pelas práticas institucionais, está alienada, a mercê de pequenos grupos que se mantêm no poder. Assim como a educação que se diz neutra, mas ideológica, é usada para garantir o “status quo”. A educação é mais do que livros didáticos e conteúdos preestabelecidos; ela é um modo de libertação, pois além de conhecer a realidade, o educando pode vislumbrar por meio do processo educativo possibilidades para  transformá-la.

Mudar a concepção de que na alfabetização o aluno deve apenas ser treinado para ler e escrever é um grande desafio para o educador. A escola deve ser transformadora, crítica, libertária, humana e democrática. Por isso precisamos instaurar espaços para práticas de linguagem de outros ambientes discursivos que fazem parte do cotidiano dos alunos. Neste sentido, podemos pensar numa rádio escolar, na qual o aluno será um protagonista social, se contrapondo ao sistema de dominação presente no mundo atual.

Hoje a mídia é influência decisiva no cotidiano da população. Por isso, precisamos fazer uma leitura crítica sobre o que se passa nos meios de comunicação. As propagandas também são grandes influenciadoras de opinião. Assim, precisamos desconstruir esse discurso midiático com atividades de linguagem voltadas para a produção significativa de programas radiofônicos, onde o aluno poderá entender como tudo funciona atrás dos bastidores. É a prática agindo na transformação da sociedade. Aqui nos faz lembrar os estudos de Paulo Freire sobre a teoria e a prática, pois uma não vive sem a outra. Ele nos explica que teoria é uma reflexão que se faz de experiências vividas pelo homem, de analisar e refletir a sociedade aprimorando seu caráter crítico. E a prática aparece como transformadora do conhecimento do mundo através da conscientização de ser, estar e agir do homem.

Compreendemos a importância da comunicação nesse momento de reflexão. O estudo crítico de textos e discursos que circulam nos veículos da mídia é fundamental para o aprimoramento do conhecimento dos jovens e adultos. Quanto mais se desenvolve a crítica no homem, maior será sua capacidade decisória, indispensável ao funcionamento da democracia.

Com a implantação de uma rádio na escola, outras práticas pedagógicas podem ser planejadas no sentido de se desenvolver a linguagem radiofônica. Além disso, podemos implementar práticas de gestão coletiva e exercício de democracia, ao planejar assembleias para decidir conteúdo e programação da emissora, atividades que também enriquecem o processo de alfabetização, pois envolvem a oralidade e a escrita como forma de registro e divulgação das decisões tomadas.

Uma programação de rádio é composta por várias partes e dentre elas, as propagandas. Com o crescimento no mundo publicitário, as propagandas de rádio tornaram-se importantes como assunto para se trabalhar com jovens e adultos, principalmente porque fazem parte do seu repertório. O inovador mercado de produtos, a venda como algo fundamental para o sucesso, a obsessão pelo novo e o moderno, o ser diferente, a competição das agências publicitárias, o lucro das empresas etc, são alguns fatores que podem transformar a propaganda em matéria de discussão escolar. Ela faz parte dessa mídia manipuladora que precisa ser questionada. Os jovens e adultos precisam desenvolver consciência do poder de persuasão das propagandas e necessitam se aprofundar nessa realidade. Mesmo que o aluno esteja se alfabetizando, ele é capaz de compreender esse mundo, pois interage com ele diariamente. E incluir no ler e escrever a criação de propagandas no projeto da escola funciona como um criar e recriar. O educando torna-se agente da ação-reflexão-ação. Desenvolve sua escrita e desconstrói um mito. Estimular esses jovens e adultos a utilizarem sua criatividade, sem medo, nas práticas de leitura e escrita de propagandas, os envolve em ações diversificadas com diferentes gêneros textuais.

Paulo Freire acredita que a capacidade criadora do homem está associada a sua integração com o mundo.

A partir das relações do homem com a realidade, resultantes de estar com ela e de estar nela, pelos atos de criação, recriação e decisão, vai ele dinamizando o seu mundo. Vai dominando a realidade. Vai humanizando-a. Vai acrescentando a ela algo de que ele mesmo é o fazedor. Vai temporalizando os espaços geográficos. Faz cultura. E é ainda o jogo destas relações do homem com o mundo e do homem com os homens, desafiado e respondendo ao desafio, alterando, criando, que não permite a imobilidade, a não ser em relativa preponderância, nem das sociedades nem das culturas. E, na medida em que cria, recria e decide, vão se conformando as épocas históricas. É também criando, recriando e decidindo que o homem deve participar destas épocas (FREIRE: 1967, p. 43).

Nas atividades de gestão da rádio, criação de programas e propagandas, os alunos aprendem fazendo. Tornam-se agentes de seu saber. Aprendem a respeitar e a trabalhar coletivamente com o outro. Dialogam, criam, se mostram. O fazer criativo exige essa integração.

Concluímos observando que os temas centrais deste estudo – Economia Solidária, Educação/ Alfabetização de Jovens e Adultos e a utilização da comunicação no projeto escolar – estão intimamente relacionados e podem compartilhar de objetivos comuns, possibilitando que os estudantes/trabalhadores sejam protagonistas na transformação do seu mundo e do seu aprendizado.

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SOARES, Ismar de Oliveira. Alfabetização e Educomunicação. Disponível em http://www.usp.br/nce/wcp/arq/textos/89.pdf, Acesso em: 10 novembro 2011
SUZUKI, Juliana Telles Faria; RAMPAZO, Sandra Reis. Tecnologias em educação: pedagogia. São Paulo. Pearson Education do Brasil, 2009
WILHELMS, Eloíza Aparecida. Comunicação e Educação. Licenciada em Pedagogia pela FAETA. Disponível em: www.profjoaobeauclair.net/visualizar.php. Acesso em: 2 novembro 2011

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  1. [1]http://pt.wikipedia.org/wiki/Economia_solidaria
  2. [2]http://www.ciranda.net/brasil/comunicacao/article/paulo-freire-e-as-teorias-da
  3. [3]http://www.ciranda.net/brasil/comunicacao/article/paulo-freire-e-as-teorias-da
  4. [4]http://www.sulear.com.br/texto06.pdf