A Didática Solidária na Educação de Jovens e Adultos

Autor: Paulo Luiz Pereira da Silva
Orientador: Profª. Vera Lúcia Queiroga Barreto
Co-orientação: Andréia Queiroga Barreto

 

Aos meus pais e aos meus queridos filhos
pelo apoio incessante.

 

AGRADECIMENTOS

À Universidade Federal do ABC.
À Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior – Capes

À Profª. Orientadora Vera Lucia Queiroga Barreto (com co-orientação de Andreia Queiroga Barreto), pelo acompanhamento pontual e competente.

Aos Professores do Curso de Pós-graduação.
A todos os que direta ou indiretamente
contribuíram para a realização desta pesquisa.

“Impossível saber como será o mundo amanhã.
Será, entretanto, da maneira que os professores o fizerem. Nenhuma profissão, em nenhum tempo, dispõe da possibilidade presente ao magistério para modelar os seres humanos que virão.
Se quiserem, deles farão facínoras ou assassinos, ou, se preferirem, criaturas justas e íntegras. Educar significa modelar o presente e lançar as bases para o futuro. Mas essa missão que possui tanto de grandiosa quanto de áspera necessita estar apoiada em princípios e fundamentos norteadores. A sala de aula precisa ser a oficina do amanhã.”
Celso Antunes

 

LISTA DE SIGLAS

CIEJA – Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos
CL – Campo Limpo
ECOSOL – Economia Solidária
EJA – Educação de Jovens e Adultos

 

SUMÁRIO

  • 1.INTRODUÇÃO
    1.1 Justificativa
    1.2 Objetivos
  • 2. DIDÁTICA:
    2.1 Origens e características da escola moderna
    2.2 Origens e histórico da didática
    2.3 Pensadores sobre didáticas
  • 3. INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS
  • 4. PRÍNCIPIOS DA ECONOMIA SOLIDÁRIA
  • 5. A TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA
  • 6. CONCLUSÃO
  • 7. RELATOS DE EXPERIÊNCIAS PEDAGÓGICAS
  • 8. BIBLIOGRAFIA

1. INTRODUÇÃO

Didática Solidária na Educação de Jovens e Adultos – EJA

Nos últimos séculos, o Capitalismo se fortaleceu e se transformou muito. Houve diversas mudanças nos meios de produção, as relações no mundo do trabalho foram aperfeiçoadas de acordo com as necessidades e interesses do capital. A ideologia e valores capitalistas impostos à humanidade, fundamentados na exploração do homem pelo próprio homem, no lucro a qualquer custo, no incentivo à competitividade, no individualismo, no consumismo e na heterogestão, geraram desigualdades sociais, miséria e um processo que finda na desumanização do ser humano por meio de exclusões de todas as formas.

Somos levados a refletir sobre a perversidade do sistema capitalista, que, através de sua ideologia egocêntrica, individualista e materialista, procura alimentar e sustentar esse sistema a qualquer preço, explorando os mais pobres indiscriminadamente, justificando isso como natural e necessário para o progresso.

A educação, até então realizada, tem servido como ferramenta para o desenvolvimento e manutenção desse modo de viver, ser e fazer capitalista. As políticas educacionais desenvolvidas, com objetivos de atenderem a demanda do mercado, não propiciaram ao ser humano uma educação voltada à humanização.

Os excluídos, principalmente o proletariado industrial, procuraram buscar alternativas de produção, distribuição e consumo, nos quais os bens econômicos fluem e transitam entre as pessoas através de relações econômicas, reciprocidade, cooperação e doação, surgindo, então, a Economia Solidária. Mas, esta ainda não foi amplamente disseminada e apreendida pela sociedade em geral, apesar da sua grande relevância em sua utilização como forma de vida, voltada ao ser humano.

Acreditamos que a educação é uma ferramenta importantíssima para que possamos desfrutar de uma sociedade mais justa e humana. E, para que isso ocorra, devemos começar a pensar em: o que, como, para que ensinamos jovens e adultos. Diante deste quadro alarmante, cabe-nos a responsabilidade de nos unirmos em busca da construção de uma Educação de Jovens e Adultos pautada em uma didática que propicie o desenvolvimento do conhecimento gerando soluções para esses problemas, apontando novas possibilidades que atendam de forma humana essas classes que estão excluídas do sistema, desenvolvendo novas oportunidades de inclusão e manutenção de um sistema que possa co-existir com o capitalismo e que respeite, valorize e estimule a apropriação de uma cultura mais humanizada, onde a essência humana esteja em primeiro plano e a solidariedade e a coletividade seja ponto de partida para uma verdadeira vida em sociedade e com qualidade, pois muitas são as teorias didáticas existentes que, na prática, ou são aplicadas incoerentemente ou atendem às necessidades do capital, reproduzindo assim, sua ideologia e valores para a manutenção e reorganização do sistema capitalista.

1.1 Justificativa

Hoje em dia, temos muito presente nas escolas uma didática que não valoriza a interação do educando com o processo de aprendizagem, o que determina uma prática individualista, de poder ou até mesmo descompromissada, onde o professor acredita ser o detentor do saber e o educando se transforma em um receptor de mensagem.

A didática em sala de aula passa pela concepção que se tem por educação, e para que o educando se transforme em sujeito do processo de aprendizagem se acredita que o conhecimento é construído através da troca solidária ,onde o aprendizado se torna mais significativo e dá sentido a busca de novos saberes.

1.2 Objetivos

a) Reconhecer e explorar os espaços escolares como ambientes coletivos e solidários;
b) Garantir dentro do planejamento das sequências das atividades a vivência dos princípios da Economia Solidária;
c) Mediar conflitos cognitivos nas relações escolares para humanização;
d) Compreender como as inteligências múltiplas são trabalhadas na construção do conhecimento.

2.0 DIDÁTICA

2.1 Origens e características da escola moderna

A escola, como a conhecemos nos dias de hoje, tem suas origens na Europa Ocidental, entre os séculos XV e XVII. Nesse período, a infância era considerada como fase da vida ou momento particular e específico da humanidade que se diferenciava dos adultos, logo, deveria ser dada maior atenção e deixando as crianças separadas, protegidas dos problemas mundanos, dos perigos e desejos que os adultos poderiam lhes trazer. A educação era elitista, para alguns pequenos grupos privilegiados.

A partir da metade do século XIX, a educação teve maior abertura para quase todas as pessoas, através de processos governamentais organizados em sistemas de ensino.

O ritmo dessa expansão e consolidação desses sistemas gerou o que foi denominado por muitos estudiosos como “Escola de Massas”. Apesar de possuírem bases semelhantes, cada sistema tinha as suas diferenças ou especificidades, variando de região para região. Devido as semelhanças existentes, podem ser considerados como uma das primeiras instituições globais do mundo moderno.

A escola de massas
“O processo de expansão e consolidação dos diversos sistemas nacionais de ensino ao longo de todo mundo recebeu o nome de escolarização de massas. Um grupo de estudiosos da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, mostrou que os diversos processos nacionais de escolarização apresentam muito mais características comuns do que diferenças. Iniciada em alguns países da Europa Ocidental e da América do Norte por volta de 1850, a escolarização de massas conseguiu se estender a praticamente todos os lugares do planeta, configurando sistemas escolares com características muito semelhantes, como as seguintes:

  • Ensino primário de quatro anos, que depois se torna um ensino fundamental de oito ou nove anos.
  • Escolaridade obrigatória entre os seis ou sete anos até os catorze anos de idade – hoje se estendendo um pouco mais.
  • Seriação anual e, mais recentemente, ciclos de aprendizagem.
  • Professores generalistas nas séries iniciais e especialistas nas séries finais.
  • Classes mais ou menos homogêneas, agrupadas preferencialmente de acordo com a idade dos alunos.
  • Currículos padronizados, organizados principalmente por disciplinas.
  • Controle estatal das escolas ou pelo menos da emissão dos certificados e diplomas.
  • Instituição de mecanismos de controle, avaliação e seleção do material didático.
  • Mecanismos legais de acesso e de exercício da profissão docente.

Esse processo seguiu ritmos bastante diferentes nos diversos países. No Brasil, por exemplo, só muito recentemente foram atingidos níveis de alfabetização e de acesso à escola próximos da totalidade da população em idade escolar. Na Europa Ocidental, isso já acontecia, mesmo em países mais pobres, há mais de 50 anos. Na Coréia do Sul, esses índices foram atingidos há quase 30 anos, como resultado de grandes investimentos em educação” (Jaime Cordeiro – 2010)

A forma de organização da sala de aula; a presença de um professor para diversos educandos; o agrupamento por idade e nível de conhecimento; o ensino graduado ou a seriação; programas e currículos transpostos para atender interesses; ciclos curtos de avaliação; reforçando a homogeneidade; busca de novos métodos para uma educação mais eficiente; controle da disciplina; distribuição rigorosa de horários escolares semelhantes em todo o mundo.

Toda essa semelhança educacional mundial, isto é, toda a semelhança do ensino e da escola concebidos no mundo moderno, recebeu o nome de Gramática Escolar.

Foi também a partir de meados do século XIX que ocorreu a afirmação plena de Estados Nacionais, na Europa, na América e, depois, no restante do mundo.

A Gramática Escolar não deve ser explicada pela imposição do modelo escolar dominante pelos países mais poderosos sobre os menos independentes políticos e economicamente, mas pela difusão da idéia de financiamentos de políticas públicas de educação realizadas por especialistas organizações internacionais preocupadas com o desenvolvimento. No entanto, à lógica de Gramática Escolar deve se combinar à do regionalismo, às diferenças de cada país, de cada nação, cada um com seu processo histórico, tornando cada sistema único, com suas especificidades.

Portanto, há muitas semelhanças em ensino, escola e em ser professor mundialmente, que deve se juntar com outra parte composta pelas especificidades, regionais, peculiaridades históricas e políticas distinguindo-se características próprias de cada país.

2.2 Origens e histórico sobre a Didática

A Didática, cada vez mais, tem sido objeto de muitos estudos e, consequentemente, gera muitas polêmicas com relação as suas diversas definições ou conceitos desenvolvidos no decorrer dos séculos.

A palavra Didática tem origem grega didasko, que significava ensinar ou instruir. Tradicionalmente atribui a sua fundação a um educador chamado Comenius (Jan Amos Komensky), nascido na Morávia, região do antigo reino da Boêmia, na Europa Central, hoje República Tcheca, em 1592, e morreu na Holanda, em 1670. No século XVII, ele publicou a obra “Didática Magna: tratado da arte universal de ensinar tudo a todos”, livro considerado marco inicial da disciplina tanto no ponto de vista da influência que exerceu na época, quanto em muito tempo depois.

Comenius defendia a possibilidade da criação de um método universal capaz de orientar o professor em seu trabalho. Seu objetivo principal era que os professores ensinassem menos e os educandos aprendessem mais. Associando a Didática e o ensino a arte, a técnica de executar o trabalho, isto é, a arte de ensinar. Posicionando, assim, o professor como aquele que domina a profissão de ensinar, gerando, para muitos estudiosos, a idéia de missão e respeito do trabalho do professor.

Muitas funções e atribuições foram delegadas ao professor e, cada vez mais, gerando-se confusão sobre a verdadeira função do professor, até a atualidade. Mas podemos atribuir essa confusão de significados e atribuições se deve a própria origem da escola no mundo acidental, ligadas aos estabelecimentos religiosos, associando permanentemente a marca entre magistério e sacerdócio.
É na educação que a Didática tem o seu foco principal: o ensino. E, é este que define suas especificidades e lugar. Assim sendo, fica notável a relevância e necessidade de se entender o significado da idéia de ensinar para o exercício eficaz do docente.

“O modo como os professores entendem o que é ensinar afeta grandemente o que efetivamente fazem na sala de aula” (Paul Hirst).

Primeiramente, devemos observar atividades que podem e devem fazer parte do ensino: algumas que não estão relacionadas diretamente ao ato de ensinar (apagar a lousa, fechar as janelas, entre outras); e aquelas que podem ser exploradas por outras áreas (escrever, ler comparar, entre outras).

Toda atividade proposta deve ser produzida com o objetivo de propiciar uma aprendizagem, pois todas as informações devem ser organizadas e sistematizadas com a finalidade de produzir aprendizagem. Ideia essa lançada por Comenius e acolhida por muitos estudiosos:

“O ideal de toda Didática sempre foi que o ensino produzisse uma transformação no aprendiz, que este, graças ao aprendizado, se tornasse diferente, melhor, mais capaz, mais sábio” (Amélia de Castro-2001)

“A Didática, desde a sua origem, esteve orientada pelo propósito de tornar eficiente o ensino em termos de aprendizagem” (José Mario Pires Azanha – 1985)

É um dos propósitos da Didática selecionar uma ou mais, entre várias maneiras de ensinar, a qual ou as quais produzirão a aprendizagem com maior sucesso.

Para os pensadores do século XVII, isso implicaria na aplicação do melhor método, o estabelecimento claro e objetivo das regras desse método.

Com o desenvolvimento da ciência moderna, pensadores do século XVII acreditaram que o sucesso do ensino seria alcançado com a aplicação de regras ou métodos, mas percebeu-se, mais tarde, que isso era uma ilusão didática, uma vez que só a aplicação de regras não garantiria a aprendizagem, fazendo com que os professores percebessem que apostar apenas nos métodos não seria a melhor ação, pois, dessa forma, não encontrariam respostas para os desafios que o ensino exige.

Nesse sentido, devemos levar em consideração que o ensino envolve não apenas conteúdos ou pessoas, mas ambos e as relações que são estabelecidas produzindo, assim, a aprendizagem.

“É tão logicamente absurdo dizer “ele [o professor] ensina crianças e não conteúdos” como dizer “ele ensina conteúdos e não crianças”. Essas afirmações podem ser usadas como slogans, mas uma discussão séria acerca do ensinar deverá seguramente rejeitar tais slogans em nome da simples verdade lógica segundo a qual ensinar é necessariamente ensinar algo a alguém. Não por certo no sentido em que se ensina necessariamente um “conteúdo” tradicional, mas no sentido em que, para a pessoa que aprende, tem que haver sempre uma aquisição final.” (Paul Hirst – 2001)

Logo, ensinar deve ser visto como termo muito abrangente e polissêmico, produtor de resultados variados nos processos de aprendizagens, como afirma John Passmore:

“Uma pessoa ensina quando transmite fatos, cultiva hábitos, treina habilidades, desenvolve capacidades, ensina alguém a nadar ou a apreciar música clássica, mostra como funciona um foguete lunar ou que, e por que, os planetas se movem em volta do Sol.”

Para entender o termo ensino Passmore afirma que é necessário entender a relação pedagógica a partir de três vértices: professor, aluno e conteúdos de ensino, os quais nem sempre estão explícitos, porém jamais poderão ser ignorados.

Portanto, o professor será considerado “bom” à medida que os seus alunos demonstrem ter desenvolvido a aprendizagem, ou seja, o professor será considerado eficaz sob o ponto de vista das aprendizagens dos seus alunos.

Jaime Cordeiro afirma que essa tríade na relação pedagógica deve ser completada, levando-se em consideração a relação dos envolvidos no processo com os seus pares: crianças, jovens e adultos.

Por esse motivo, no decorrer da história, muitos estudiosos defenderam turmas de alunos homogêneas, outros, heterogêneas. Porém, o que pode ser observado é que tanto aqueles, quanto esses podem obter resultados exitosos e, também, não exitosos. Diante desse quadro, algumas organizações e seleções de turmas desenvolveram posições mais ou menos radicais. Nas primeiras décadas do século XX, predominou a defesa de classes homogêneas (por idade e nível de conhecimento). Esse período ficou marcado com a criação de diversos testes de aptidão para a aprendizagem, agrupando os alunos em classes de ensino, o que ficou conhecido como “Era dos testes”.

Com a evolução política, voltada ao respeito pelas diversidades e a inclusão, desenvolveu-se a aceitação pela organização das turmas heterogêneas, as quais, também, nem sempre garantiram a aprendizagem.

Portanto, podemos concluir que, independentemente do tipo de organização das turmas, a solução para o referido problema está na participação efetiva de todas as pessoas envolvidas no processo educacional: professores, alunos, pais, especialistas, dirigentes do ensino e comunidade, potencializando assim, a eficácia na construção, seleção e resultados para cada um dos casos especificamente. Evidenciando a importância do uso do que hoje chamamos de princípios básicos da Economia Solidária (Coletividade, união, gestão democrática, entre outros.).

Outro aspecto relevante no processo educacional é o fato de como o ensino se fundamenta nas noções de natureza e o funcionamento da mente humana. Pois quaisquer mudanças desejadas nas práticas pedagógicas, visando a melhoria nos resultados da aprendizagem dos alunos, perpassam pelo que os professores tem de concepção de como as crianças, jovens e adultos aprendem, e que acabem influenciando direta ou indiretamente na forma de como ocorrerá o ensino. Sobre isso, Jerome Bruner afirma que:

“a tese que emerge é que as práticas educacionais nas salas de aula baseiam-se em um conjunto de crenças populares sobre as mentes dos alunos, sendo que algumas delas têm funcionado advertidamente a favo r do bem-estar das crianças, e outras, inadvertidamente contra.”

Bruner divide os modos que se acredita que as crianças aprendem e, como consequência desse ponto de vista, o modo como se ensina, em quatro partes: 1) As crianças aprendem por imitação, isto é, pela observação e repetição de fazeres, dependendo, principalmente, de habilidades para o ato fazer, não necessariamente do entendimento e compreensão; 2) As crianças aprendem pela absorção de ideias, ou melhor, pelo domínio de um conjunto de hipóteses a respeito de um tema, assunto, problema ou questão. Em outras palavras, o aluno é receptor do conhecimento transmitido pelos educadores; 3) As crianças são seres pensantes, nesta concepção a criança é vista como um ser capaz de aprender pela permuta com outros seres pensantes. Os professores ajudam os alunos a reconhecerem suas crenças e propiciam o processo coletivo de reflexão. 4) As crianças são detentoras de conhecimento, valoriza-se a troca entre os participantes de processo educacional não dando a devida atenção ao conhecimento histórico acumulado pela humanidade no transcorrer do tempo. As crianças são detentoras de conhecimento, ou melhor, o conhecimento pessoal é confrontado com o conhecimento coletivo acumulado pela humanidade, favorecendo uma reflexão e posteriores aprendizagens.

Conclusão: a escolha da concepção do modo de ensino depende muito do que se entende por ensino e aprendizagem, pois colocamos em prática aquilo que realmente acreditamos, idealizamos, supomos, parcialmente, por não termos amplitude e diversidade do conhecimento do processo educacional, sendo esse um dos nossos principais desafios.

Os conteúdos escolares também desenvolve relevante papel no processo educacional, pois são normalmente organizados por disciplinas e distribuídos no decorrer de um período determinado, resultando na produção e estruturação do currículo escolar. Viabilizando a padronização, o modo de aprender e as relações estabelecidas com o conhecimento.

O currículo homogêneo favorece as pessoas construírem bases para a política e democracia.

Apesar disso, muitas são as ideias que surgem e contestam esse tipo de currículo, valorizando a diversificação de possibilidades de obtenção de informações e construção do conhecimento, se utilizados de forma adequada, o que realmente valorizaria e fortaleceria a democracia. Ao contrário, esta fica ameaçada de existir na prática, devido ao uso equivocado do construído.

Umberto Eco, estudioso italiano, afirma que o currículo escolar é um tipo de filtro da memória coletiva que permite o diálogo e a troca entre as pessoas. Mas ressalta também, o perigo de sua diversidade ilimitada, onde cada indivíduo tenha o seu modo específico de se relacionar com esse currículo.

“Cinco bilhões de pessoas no planeta, cinco bilhões de filtragens ideológicas. O resultado corre o risco de ser uma sociedade composta de identidades individuais justapostas (o que me parece ser um progresso) sem mediação de grupo (o que me parece ser um perigo). Não sei se uma sociedade como essa tenha chance de funcionar. Parece-me que um pouco de gregarismo é necessário.” (Umberto Eco – 1999)

Pensar na mudança de currículo exige primeiro mudar os modos de ensinar e aprender. Pois a democratização do ensino básico multiplicou os significados de forma jamais imaginada, multiplicando os nossos desafios e responsabilidades como educadores.

2.3 Pensadores sobre didática
O pensamento didático: alguns autores e ideias

Comenius

Com a grande reforma religiosa realizada por Martinho Lutero, iniciada em 1517, a Europa Central passava por fortes transformações.

Jan Amos Komensky (Comenius) nasceu na atual República Checa, em 1592, e morreu na Holanda, em 1670. Professor secundário e pastor, foi perseguido pelos católicos até a expulsão de todo seu povo da região da Morávia.

Engajou-se na defesa de seu povo e na liberdade religiosa, além de inúmeros projetos políticos e educacionais. Com isso, passou a ter contatos com governantes e intelectuais de países protestantes de toda a Europa, além de residir na Polônia, na Inglaterra, na Suécia e na Holanda.

Produziu obras ligadas a filosofia, línguas e, principalmente, educação, sobre a qual desenvolveu ampla reforma do conhecimento e métodos de ensino.

Escreveu a obra “Didática Magna”, divulgando-a por toda a Europa e, entre 1642 e 1648, organizou a reforma educacional na Suécia, sugerindo a possibilidade e necessidade de “ensinar tudo a todos” a partir de um método único e universal que facilitaria o trabalho do professor, tornando acessíveis os conhecimentos aos alunos. Acreditava em uma educação humanizadora.

Ele dá ao professor a responsabilidade de tornar o ser humano diferente utilizando os recursos da “arte de ensinar”.   O método, a ser usado, parte das impressões sensoriais e procura causas que justificam a aprendizagem dos alunos.

A didática de Comenius era centrada na razão, na observação e na comparação dos fenômenos que envolviam o processo de ensino e de aprendizagem. Isso se justifica na necessidade humana da época de construção de explicação científica e racionais do mundo das quais fazem parte Galileu, Descartes e Bacon.

Herbart

Johann F. Herbart nasceu na Alemanha, em 1776, e faleceu nesse mesmo país, em 1841. Investigou o funcionamento da mente humana e é considerado um dos precursores da psicologia experimental. Defendeu uma educação onde houvesse o controle do aluno primário, despois a instrução, gerando o que ele chama de disciplina, o qual permitiria orientar e autocontrolar a própria vontade, formando o seu caráter e a sua capacidade de juízo moral.

Apresentou o modelo didático no qual a estruturação lógica de conteúdos é desenvolvida para uma aula e a divide em cinco etapas:

  • Preparação: espécie de retomada do que se viu na aula anterior;
  • Apresentação: o professor expõe o conteúdo novo a ser estudado;
  • Comparação e Assimilação: exemplificação de aplicação dos novos conteúdos;
  • Generalização: construção de regras que permitem a aplicação do conteúdo aprendido nas mais diversas situações;
  • Aplicação: exercícios a serem resolvidos.

Até os dias atuais, podemos observar a influência desse pensamento ou prática pedagógica como suporte das aulas de diversas disciplinas e escolas consciente ou inconscientemente.

Alain

Emile-Auguste Chartier nasceu em 1868 e faleceu em 1951. Foi professor secundário de filosofia, um dos poucos contestadores das ideias pedagógicas renovadoras da “Escola Nova” que estavam se tornando hegemônicas na época.

Ele adota uma postura mais tradicional e contra o que denomina “sistema de instruir divertindo”.

Os temas que mais abordou foram:

  • Desenvolvimento da criança – a escola e o processo educativo são instrumentos essenciais para possibilitar e facilitar o caminho do homem rumo à concretização de seu ideal de perfeição. Logo, a criança anseia para se tornar um adulto.
  • Contra a ideia de aptidões inatas – ele não acreditava nas aptidões naturais como origem das desigualdades entre os indivíduos e defendia a ideia de que a educação era o principal instrumento na construção da igualdade, ponto de equilíbrio entre o que tem mais ou menos dificuldades. Por isso, a necessidade da repetição exaustiva dos modelos em busca da superação das desigualdades.
  • Interesse da criança – Alain nos apresenta o desejo da criança em se transformar em adulto, daí a importância de não fazer da aula pura diversão, mas um ambiente propício para essa transformação.
  • O currículo e o ensino – defende o que chama de método severo. Acreditava que o que, verdadeiramente, leva aprendizagem não é o simples, o concreto, a experiência pessoal, pois isso a criança já sabe e não gera a motivação pelo saber. Porém, aprendizagem só é realizada pelo complexo, o difícil, o conhecimento clássico, conforme as dificuldades que surgem e as possibilidades dos alunos. Remetendo os aprendizes aos modelos culturais renomados. Levando-os à perfeição humana e modelos a serem seguidos. Essa prática valoriza os exercícios escolares, a cópia, a imitação da reprodução exaustiva dos modelos mencionados. Através do esforço e da imitação pode-se alcançar a perfeição humana. O professor raramente deve intervir no processo para instruir, pois são as grandes obras que servirão de modelos.

Escreveu a obra “Reflexões sobre a educação”, 1932 (traduzida e publicada no Brasil em 1978).

Dewey

John Dewey, filósofo, psicólogo e educador. Nasceu em 1859, e morreu em 1952, nos Estados Unidos da América. Reconhecido por unir diversos departamentos em um só na Universidade de Chicago mostrando um pouco de sua concepção de educador.

Segundo Dewey, o interesse do leva ao conhecimento. Esse interesse aparece quando se realiza uma atividade espontaneamente, e ao ser realizada, gera uma situação problema a ser resolvida ou superada. E é justamente a educação que deve oferecer meios e oportunidades para a efetivação dessa superação, favorecendo a todo o momento que o aluno seja sujeito da construção de seu próprio conhecimento, por meio de um método baseado na investigação.

Assim, o aluno reconstrói ativamente a experiência humana, adequando-se à vida na sociedade moderna, tecnológica repleta de transformações sociais e democráticas.

Dewey divide a estrutura do ensino em cinco etapas:

  • Atividades – o professor propicia situações que motivam o aluno a participar ou desenvolver atividades espontaneamente;
  • Problema – questão a ser resolvida que aparece no processo de aprendizagem
  • Dados – pesquisas realizadas pelos alunos mediadas pelo professor;
  • Hipóteses – utilização do conhecimento prévio para a solução da questão pelos educandos
  • Experimentação – Análise, comparação e conclusões, entre as hipóteses levantadas e os resultados obtidos para chegar às respostas adequadas.

Obras:
“Democracia e Educação” – 1952 e
“Vida e Educação” – 1952

Montessori

Maria Montessori nasceu em 1870 e morreu em 1952, na Itália.

Dedicou-se ao trabalho com crianças com dificuldades cognitivas e, consequentemente, excluídas. Desenvolveu trabalhos sobre como era que as crianças aprendiam e, devido aos resultados satisfatórios, estendeu suas descobertas às crianças ditas “normais”.
Defendia a ideia de que a criança deveria ser considerada em sua especificidade, jamais tratada como adulto ou miniatura de adulto. Construiu grande diversidade de materiais pedagógicos inovadores que favoreciam a atuação do aluno no dia a dia, no uso das linguagens, dos sentidos, da matemática e das ciências. O “Material Dourado” talvez tenha sido o mais conhecido e muito usado, até hoje, em escolas do Brasil.

Valorizava o desenvolvimento das questões morais, dos bons hábitos e da higiene na preparação das crianças para a vida.

Obras:
“A criança” – sem data
“Pedagogia Científica”: sem data.

Decroly

Ovide Decroly, médico neurologista, nasceu na Bélgica, em 1871, e morreu em 1932. Dedicou-se ao estudo, a compreensão e o estímulo do desenvolvimento infantil. Seu trabalho foi fundamentado no interesse e na autoavaliação do aluno.

Também iniciou um trabalho com crianças com dificuldades cognitivas e, da mesma forma que Montessori, seus resultados se estenderam às demais crianças.

Segundo Decroly, o currículo escolar deveria se organizar em “Centro de interesses”, resultantes das necessidades básicas dos seres humanos: alimentação, defesa contra intempéries, luta contra perigos e inimigos, trabalho em sociedade, descanso e diversão.

Criou o método chamado “Método Global”, no qual a criança capta, descobre o mundo pela atenção ao conjunto das coisas ou fenômenos e não nos detalhes, partindo de temas sugeridos pelas crianças até a transposição do tema além do cotidiano das mesmas.

Lourenço Filho

Manuel Bergstrom Lourenço Filho foi um dos principais introdutores da Escola Nova no Brasil. Nasceu em 1897, em São Paulo, e morreu em 1970, no Rio de Janeiro.

Foi presidente da Associação Brasileira de Educação, criou e dirigiu o INEP (Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos).

Divulgou ideias escolanovistas no Brasil. Formulou os famosos “Testes ABC” para a seleção e classificação de alunos em turmas na criação de turmas homogêneas por acreditar ser um método mais eficiente e econômico.

Obras:
“Introdução ao estudo da Escola Nova” – 1930
“Tendências da Educação Brasileira” – 1940

Freinet

Celestin Freinet nasceu em 1896 e morreu em 1966, na França. Preocupado com as práticas de ensino, criou o movimento chamado de “Escola Moderna”. Crítico do autoritarismo da escola tradicional, pois acreditava que não atendia os interesses das crianças. Discordou de Montessori e Decroly, pois a existência de materiais pedagógicos específicos se distanciava muito da realidade das escolas destinados ao ensino das classes mais pobres.

Ele apresenta a criança como ser social, pertencente a uma comunidade e não indivíduo isolado. O trabalho coletivo deve ser realizado em todas as etapas do processo de aprendizagem por professores e alunos.

Segundo Freinet, o desenvolvimento do espírito coletivo pode transformar a escola em uma poderosa ferramenta para transformação social. Seu grande triunfo entre parte do professorado foi pautar suas ideias nas práticas vivenciadas por professores e alunos, diferentemente de outros estudiosos que teorizaram sobre as crianças ou as práticas escolares.

Obras escritas em língua portuguesa (póstumas):

FREINET, Célestin. O Jornal Escolar. Lisboa, Editorial Estampa, 1974;
FREINET, Célestin. As Técnicas Freinet da Escola Moderna. Lisboa Editorial Estampa Ltda., 1975;
FREINET, Célestin. Pedagogia do Bom Senso. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

Neill

Alexander Suther Neill criou a “Escola de Summerhill”, baseada em radicais princípios de liberdade dos alunos, autogestão e não diretividade. Nasceu em 1883, na Escócia, e morreu em 1973.

Segundo Neill, os alunos não devem ser obrigados a frequentar as aulas e todas as decisões são tomadas em assembleias, nas quais professores e alunos tem o mesmo peso. Acreditava que o impedimento do pleno desenvolvimento dos alunos ocorre com a repressão da liberdade do indivíduo. O principal objetivo da educação é a liberdade. O sucesso da escola esta relacionada com a felicidade proporcionada aos alunos e não com o trabalho ou dinheiro conquistado posteriormente por meio dos estudos.

Obras:
“Liberdade sem medo” – 1960;
“Liberdade sem excesso” – 1968;
“Liberdade na escola” – 1967

Paulo Freire

Paulo Freire é o mais conhecido educador brasileiro mundialmente. Nasceu em 1921, em Pernambuco, e faleceu em 1997. Interessou-se pela educação popular e a alfabetização de adultos. Seus trabalhos estão diretamente associados à solidariedade aos mais pobres.

Para Freire, a alfabetização é um processo de aquisição de consciência social e cultural da realidade vivida pelos educandos.
À medida que compreende a realidade, amplia a cultura, desenvolve o intelecto o educando adquire um poderoso instrumento político.

Valorizava a construção coletiva, autônoma e igualitária. Apesar de ser dirigida inicialmente aos adultos, observa-se, até hoje, princípios da metodologia freiriana aplicados na educação de crianças e jovens: respeito a diversidade cultural, ao saber e à autonomia e estabelecimento de relações pedagógicas democráticas.

Obras:
“Educação como prática da liberdade” – 1967
“Pedagogia do oprimido” – 1977
“A importância do ato de ler” – 1984

Snyders

Georges Snyders nasceu em 1917 na França e está vivo até hoje. Criticou a educação burguesa e a pedagogia popular. Acreditava na conscientização para a revolução socialista.

Ele tem produzido reflexões a respeito de práticas pedagógicas que sugerem a geração de alegria e felicidade. Assim, a escola deve recuperar o prazer de estudar e a felicidade e a alegria de aprender, não possibilitando o aluno se iludir com um futuro que nunca chega, mas usar o presente e tornar a aprendizagem satisfatória e eficiente.

Defende ainda, ideias desenvolvidas pela escola tradicionalista, valorizando o conhecimento “clássico”, os modelos culturais e artísticos historicamente reconhecidos pela humanidade, capazes de proporcionarem transformações no âmbito individual e coletivo nos alunos.

Obras:
“Pedagogia progressista” – 1974
“Alunos felizes” – 1993

3. INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS

Inteligências múltiplas é o nome dado a teoria elaborada principalmente por Howard Gardner, a qual consistia em analisar e descrever melhor as inteligências.

Ele afirma a insuficiência do Teste de QI para interpretar as diversidades de habilidades cognitivas do ser humano. A aprendizagem poderá ser potencializada se forem proporcionados meios e oportunidades para que se realize, multiplicando-se as estratégias e olhares sobre o educando, suas potencialidades e os conteúdos a serem aprendidos.

Apesar das contestações por parte de diversos estudiosos, muitos educadores, a partir da década de 1980, a recebeu com boas perspectivas de aplicação prática.

“Desenvolvida e caracterizada no início da década de 1980 por Howard Gardner e muito claramente explicada em suas obras, a Teoria das Inteligências Múltiplas possui atualmente milhares de adeptos e constitui prática pedagógica de inúmeras escolas do mundo inteiro.” (Celso Antunes – 2012)

Podem ser divididas da seguinte maneira:

  • Inteligência Linguística: sensibilidade para sons, ritmos e significados das palavras, além de percepção aguçada das funções da linguagem. Usada para convencer, agradar e transmitir ideias. Apresentada, principalmente, em poetas ou pessoas que relatam experiências de vida com facilidade.
  • Inteligência Musical: habilidade para apreciar, compor ou reproduzir músicas. Distingue com facilidade sons, ritmos e timbres. Apresentada, principalmente, em cantores e músicos instrumentistas.
  • Inteligência lógico-matemática: habilidades para sistematizar, seguir ordens ou padrões, controlar, raciocinar, solucionar problemas. Apresentada por matemáticos ou profissões afins.
  • Inteligência Espacial: percepção visual e espacial precisa do mundo. Apresentada em engenheiros, arquitetos e artistas plásticos.
  • Inteligência Cinestésica: habilidade de usar o corpo para resolução de problemas ou criação de produtos. Apresentada nos esportes, artes cênicas ou plásticas. Exímio controle sobre os movimentos do corpo.
  • Inteligência Interpessoal: entende e responde aos sentimentos e necessidades de outras pessoas adequadamente. Apresentada em professores, políticos, vendedores e psicoterapeutas. Tem facilidade de exercer lideranças devido à sua sensibilidade.
  • Inteligência Intrapessoal: entende e reponde aos sentimentos e necessidades de si mesmo. Formula imagem precisa de si mesmo e usá-la a seu favor. Só é percebida através da manifestação linguística das inteligências musicais ou cinestésicas.
  • Inteligência Naturalista: compreender e organizar os objetos, fenômenos e padrões da natureza. Apresentada em biólogos, geólogos e mateiros.
  • Inteligência Existencial: refletir e ponderar sobre questões primordiais da existência humana. Apresentada por líderes espirituais e filósofos.

O uso das inteligências múltiplas na educação acrescenta bases para compreensão da aprendizagem, motivação para o desenvolvimento da inteligência e entendimento, reflexão e correção de desvios de aprendizagens relacionados a atenção, a criatividade e memorização, levando a escola novos possibilidades de ações estimulantes e educação cerebral, transformando-a em um ambiente que valoriza e desenvolve as inteligências com mais competência.

Sobre isso, Celso Antunes afirma:

“As mudanças de paradigmas promovidas por essa nova visão da mente humana interferem, portanto, no tema da educação e trazem novas linhas de procedimentos para que a escola convencional acrescente às suas funções instrucional, socializadora e preparadora para o mundo do trabalho, uma outra, voltada ao estímulo e à educação cerebral e assim, progressivamente, possa se transformar em um centro estimulador de inteligências.
… Essa tendência estimuladora da escola pode ser vista como um novo paradigma de compreensão do ser humano que abandona sua avaliação por meio de sistemas limitados e o percebe com acentuada amplitude linguística, lógico matemática, criativa, sonora, cinestésica, naturalista e, principalmente, emocional” (Celso Antunes – 2012)

 

Portanto, a aplicação da Teoria das Inteligências Múltiplas poderá se tornar importantíssima ferramenta na construção de uma didática solidária na educação, principalmente, de jovens e adultos, desde que haja uma formação adequada dos educadores para o seu pleno uso.

4. PRINCÍPIOS DA ECONOMIA SOLIDÁRIA – ECOSOL

A Economia Solidária representa uma ideologia que, cada vez mais, se fortalece em busca de novas relações econômicas buscando o bem estar, qualidade de vida, e integração da população, tomando como base para essa construção sócio-politico-econômica princípios como: cooperação, solidariedade, união, igualdade, troca, coletividade, respeito, entre outros.

À medida que a economia solidária foi sendo construída e fortalecida, paralelamente, a educação de jovens e adultos também foi se consolidando no Brasil. Os princípios acima citados também vêm desenvolvendo papel fundamental na construção do reconhecimento e desenvolvimento uma EJA mais qualitativa e mais democrática, porém muito a de ser feito para que possamos atingir níveis considerados de boa qualidade.

O CIEJA – CL tem se transformado, cada vez mais, em ambiente educacional promotor de uma metodologia investigativa que motiva a os educadores a desenvolverem suas práticas e a aprendizagem com maior qualidade dos educandos, gerando a certeza de que podemos construir um mundo melhor, onde a solidariedade, a cooperação e união façam parte do cotidiano dos educandos e sejam estendidos aos mais diversos ambientes, além de proporcionar o respeito ao individual, às diferenças e valorização do conhecimento acumulado pela humanidade no transcorrer do tempo, reconhecimento da importância da troca para a construção de uma sociedade democrática e igualitária.

Não pode ser esquecido que todo esse trabalho depende muito da concepção que se tem de educação, o que fica evidente nos resultados obtidos com os educandos, os quais passam a fazer uso social da aprendizagem que desenvolveram. Mas muitos ainda são os desafios a serem superados e o maior talvez seja o da busca constante do sucesso pleno da aprendizagem dos educandos, adaptando-se e procurando acompanhar todo momento às transformações sócio-político-econômicas regionais e mundiais, humanas e materiais.

5. A TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA

Philipe Perrenoud define a transposição didática como essência do ensino, isto é, base para o ato de ensinar e de aprender.

Transposição Didática é a ação de fabricar artesanalmente saberes, tornando-os ensináveis, exercitáveis e passíveis de avaliação de uma pessoa ou grupo, em um determinado período, dentro de um sistema de comunicação e trabalho. (Philipe Perrenoud – 1993)

O termo transposição didática foi introduzido por Michel Verret, em 1975, posteriormente aprofundado por Yves Chevallard, educador e pensador francês. Chevallard dividiu a transposição didática em três partes distintas: a do conhecimento científico, a do ensinar e a do aprender. Assim, ele mostra como o conhecimento científico sofre, e deve sofrer, mudanças, adaptações semânticas e léxicas para que seja aprendido. Diferenciando bem o que é elaborado nos ambientes científicos e o que é desenvolvido em ambientes educacionais.

Para que o ensino de um determinado elemento de saber seja possível, esse deverá ter sofrido certas deformações que o tornam apto para ser ensinado. (DALL’ASTA – 2004)

É extremamente relevante ressaltar que a didática é um organismo vivo, age e interage com outros organismos que o rodeiam. Possui vida independente no sistema escolar, modificando-se, transformando-se, fazendo e se refazendo, seguindo as transformações da sociedade. Por isso, ao estudar a transposição didática, encontramos definições, ideias e teorias diferentes, mas com algo comum em todas: a relação que se estabelece com a forma de ensinar e de aprender, explicando as ampliações das ideias e definições no decorrer dos anos.  Logo, temos que nos dedicarmos para entender como as aprendizagens se desencadeiam nesta realidade.

O grande problema que encontramos na educação, ou até mesmo na vida contemporânea, é o “imediatismo”. Há uma necessidade constante de querermos resultados rápidos daquilo que desenvolvemos, sem, muitas vezes, os avaliarmos ou avaliarmos de forma inadequada, sem (re) planejamento, sem compartilhar ideias com outros educadores, ou simplesmente aceitá-las sem questioná-las. A aceitação de uma proposta consciente acaba gerando para muitos a fantasia de demora excessiva ou “perda de tempo”, pois o imediatismo impede que dediquemos tempo esperando resultados em longo ou, até mesmo, em médio prazo.

Isso pode ser facilmente percebido em nossas estruturas públicas, onde encontramos problemas muito antigos, porém ainda sem solução. A política implantada pelos diversos governos é a da destruição de projetos concebidos por antecessores, com a justificativa de melhoria e modernização de sistemas, gerando a ideia de mudança, troca ou substituição, o que é puro equívoco, pois se não houver a ideia de continuidade, tudo que foi ou for feito não se desenvolverá como deveria, perdendo a sua eficácia e razão de ser. Esse modo de pensar e agir deve ser (re) construído por nossos dirigentes, sejam eles de quaisquer instâncias ou setores, inserindo a ideia de constante avaliação, de como e onde mudar ou dar continuidade as ações desenvolvidas. E, para isso, a importância de planejamento, principalmente, em respeito àquele que mais interessa: o beneficiário (que se tratando de educação nada mais é que o educando).

O planejamento deve ser flexível às futuras (re) adaptações. Com a impossibilidade de reformulá-lo, cria-se a necessidade de novo planejamento e é isso que vemos no dia a dia. Devemos combater essa postura, pois o planejamento não pode ser abandonado, mas construídas novas estratégias para dar continuidade àquilo que não foi desenvolvido como se esperava, mantendo a base dos objetivos.

Além disso, a mudança de planejamento altera ações, objetivos e concepções, demonstrando assim, a falta de condições para desenvolvimento das ações propostas ou falta de compromisso para desenvolvê-las. Concluindo, podemos interferir no que fora planejado, interferindo nas etapas ou fases do processo que ficaram defasadas ou inadequadas. E essa manutenção impede a concretização do imediatismo.

Em educação, devemos avaliar tanto no ponto de vista do projeto pedagógico, da formação docente, dos recursos e da metodologia, quanto do educando, da família e da comunidade em que estão inseridos, formando o que chamamos de processo educacional.

Diante desse quadro alarmante, é de extrema urgência a concretização de uma real transposição didática em nossa sociedade. Concepção essa que se adapte a escola brasileira, atendendo nossas especificidades e respeitando as diferenças. Para que isso ocorra, devemos nos questionar porque não houve verdadeiramente ações desse tipo, como (re) construi-las, o que e como continuarmos.

Lembramos que, tratando-se de transposição didática, outro elemento que deve ser (re) conhecido pelos educadores é a sala de aula. A sala de aula é, e precisa ser, uma estrutura viva, ambiente de conflitos e negociações, favorecer a aprendizagem sem o receio do questionamento, estimulando a curiosidade, a pesquisa, a busca e a construção do conhecimento. Assim, constitui-se o que chamamos de ambientes educativos, onde todos os espaços, todos os materiais servem a comunidade escolar envolvida.

Dessa forma, a leitura e a escrita tornam-se permanentemente presentes, tudo que é escrito ou lido tem uma finalidade dentro do processo educacional, servindo como ferramentas, instrumentos ou chaves para o desenvolvimento da aprendizagem e da construção do conhecimento. Qualquer espaço pode ser considerado um ambiente educativo, porém, para que isso aconteça, o professor deve conhecer e reconhecer as potencialidades do espaço, saber explorá-lo para ter certeza de qual a melhor forma de abordagem para que ocorra a transposição didática.

O professor se (re) constrói, diariamente, no espaço que atua, ou seja, no ambiente educativo, possibilitando o uso de novos saberes para a construção de novos fazeres, de forma lógica e transformadora. Para isso, deve se utilizar daquilo que Geraldo Peçanha denomina “condições mínimas de um profissional para fazer a adaptação e a transposição didática para o ambiente escolar”. E as habilidades pedagógicas envolvem partes relevantes dessas condições. Peçanha resume as fases ou sequências, nas quais os conteúdos devem ser desenvolvidos, em nove etapas:

1- Sondagem do conhecimento prévio dos educandos;
2- Audição atenta do que os alunos sabem;
3- “Gancho” ou estabelecimento de relações entre o que os educandos trouxeram (conhecimento prévio) com o que se pretende introduzir no ambiente (conhecimento novo);
4- Apresentação do conteúdo proposto;
5- Busca do professor por dificuldades dos alunos;
6- Tirar dúvidas dos alunos que impedem a continuação do processo;
7- Aproximação do nível de conhecimentos dos educandos;
8- Exploração do conteúdo ou saber objeto do estudo e
9- Síntese do que foi trabalhado.

Resumindo, par que haja a transposição didática são necessárias habilidades pedagógicas. E o grande desafio é a decisão de tomar “adequadamente” a atitude para alcançar o objetivo principal: a aprendizagem do aluno. A assimilação de conteúdos será eficaz na medida em que são estabelecidas relações destes com o cotidiano, com a sociedade e com os sonhos e, principalmente, com as experiências acumuladas durante a vida. Tornando-os mais concretos, isto é, significativos.

No processo da transposição didática não devemos ignorar a importância da contextualização:

“A contextualização é a amiga mais fiel da transposição. É a contextualização que vai garantir que os conteúdos possam ser abordados em sua complexidade… é a chave de acesso que garante o comprometimento do aluno com o futuro dele em relação ao conteúdo e, portanto, com a aprendizagem”. (Geraldo Peçanha – 2011)

É a contextualização o norte do que o educando já aprendeu ou precisa aprender em relação ao conteúdo, instrumento que mostrará ao professor onde se encontra, em termos de ensino, e possibilidades de avanços. Um favorecedor desta contextualização é a variedade linguística que, além de enriquecer o espaço, motiva a diversificação de pontos de vista sobre o mundo que o rodeia e auxilia na construção do ambiente educativo, ampliando ainda a qualidade e quantidade de desenvolvimento de conceitos.

Outro elemento, muito presente nas discussões em ambientes escolares na atualidade é a interdisciplinaridade, a qual pode ser vista de forma ambígua para a concretização da transposição didática. Primeiro, porque se os educadores envolvidos não tiverem conhecimento da totalidade e da diversidade do que será trabalhado, ocorrerá a desconstrução ou quebra do que seria a transposição didática, mas, segundo, se todos estiverem em perfeita harmonia, equilíbrio, sintonia, poderá sim, ser um elemento poderoso na composição da transposição didática.

A transposição didática precisa de um suporte que o sustente para que exista. Suporte este que: aponte intenções, norteie as práticas e, possibilite a operação das ações, isto é, do projeto político-pedagógico. Sem este, ou apenas para cumprir exigências burocráticas, a educação se torna compartimentada, fragmentada em todos os aspectos, prejudicando os resultados que poderão ser obtidos nos mais variados ambientes educativos, principalmente, aprendizagem dos educandos.

É o projeto político-pedagógico que determinará quais ações que realmente farão parte para que se alcancem os objetivos propostos. Somando-se ao projeto, destacamos o planejamento, que se bem preparado fortalece a construção da transposição didática. Sem estes dois suportes, a escola fica desnorteada, sem direção ou com diversas direções, com objetivos diferentes, confundindo direção, funcionários, professores e, principalmente, os beneficiários diretos: os educandos. Dificultando a aprendizagem, desmotivando a curiosidade, a pesquisa, a busca por conhecimentos, assim, a possibilidade de ações violentas, de vandalismo, de indisciplina, de apatia, entre outras, começam aparecer com mais frequência.

Para finalizar, mais dois elementos são indispensáveis para a concretização da transposição didática: a avaliação e a formação continuada dos professores.

A avaliação deve ser utilizada de forma que venha aprimorar a transposição didática, pois, para isso, devemos refletir sobre dois tipos de avaliação: a objetiva e a subjetiva. Esse conhecimento é fará com que alguns equívocos deixem de ocorrer. A avaliação objetiva é aquela obtida a partir de critérios racionais, técnicos e pertinentes ao que está sendo analisados. Exemplo: quando ocorre um vazamento de um oleoduto no mar, imediatamente, especialistas são chamados para avaliar, tecnicamente, os danos materiais, ambientais, humanos, entre outros. Para evitar isso, é que existem empresas e especialistas que certificam a instalação e manutenção periodicamente, por meio de rígidas avaliações e produção de laudos técnicos. A Avaliação objetiva parte do princípio da coletividade e do senso moral. Já a avaliação subjetiva é aquela realizada sem critérios técnicos e, muito menos, coletivos. O avaliador usa a própria consciência para executar a avaliação, um breve recorte que, mesmo estando certo ou errado, dependerá de outras condições mínimas para validá-la.

O problema surge quando a avaliação é feita de modo subjetivo por falta de conhecimento e o avaliador acredita fielmente que está avaliando objetivamente. Todo o processo parte de uma opinião, de um ponto de vista, de uma maneira de pensar, de uma concepção que ele (avaliador) tem do que está sendo avaliado. Além disso, pode ser uma posição diferente da maioria dos educadores, sem a troca de ideias, possibilitando a existência de outras avaliações subjetivas por parte dos outros educadores.
Portanto, em ambientes educativos essa situação é extremamente perigosa. Avaliar subjetivamente, acreditando o contrário, conteúdos mais subjetivos ainda, não propicia os educandos entenderem os conteúdos em suas complexidades.

Percebemos, então, a necessidade incondicional da formação continuada dos professores, somada aos elementos abordados anteriormente, para que a transposição didática se concretize, transformando-se em realidade na sociedade brasileira.

“Um professor se faz no ambiente educativo em que ele atua. Toda a construção dessas e de muitas outras percepções podem ser descobertas aos poucos se o professor estiver inserido em um meio vivo, cheio de descobertas, de trocas e de buscas. Esse é um papel que cabe tanto ao professor como, acima de tudo, à direção escolar, que quer, seguramente, ter um grande grupo com a coesão necessária para o desenvolvimento do trabalho”. (Geraldo Peçanha – 2011)

6. CONCLUSÃO

Com este trabalho reafirmei a minha convicção de que, cada vez mais, a educação exerce um papel fundamental de transformar as pessoas, possibilitando a construção de uma sociedade mais justa e o estabelecimento de relações mais igualitárias, promovendo a verdadeira ação humanizadora.

Para isso, é de extrema relevância que os educadores percebam e exerçam o seu papel, pois são eles uma das principais ferramentas na reconstrução dessa tarefa, estão estreitamente ligados aos educandos, porém não se esquecendo de que para que isso efetivamente ocorra, devem acreditar em seu trabalho e no dos educandos, deve estar atento para a permanente formação que deve se submeter para que esteja atualizado e preparado para os desafios e diversidades as quais são submetidos. Lembrar ainda que deve haver coerência e consistência entre a teoria e a prática, isto é, o que falam e o que praticam, pois cada um serve de modelo a ser seguido e transformado, os educandos estão a todo o momento nos observando, refletindo sobre nossas posturas e ações, imitando-nos e avaliando-nos, ampliando, assim, as nossas responsabilidades enquanto educadores.

Outro fator a ser considerado é a importância da reflexão e uso social do que chamamos de princípios da ECOSOL na construção de uma educação mais autônoma e democrática que possibilite a integração e participação de todos os membros de forma igualitária, favorecendo o diálogo, a troca, a solidariedade e cooperação, o respeito pelo coletivo e pelo individual melhorando a qualidade de vida de todos.

Para a educação, não será possível apresentar uma solução única, como se fosse uma receita a ser seguida. Cada região, cada comunidade, cada escola, cada grupo de pessoas envolvidas deverá respeitar as especifidades em busca da construção do coletivo de forma harmônica e equilibrada, valorizando o trabalho e a função exercida pelos seus integrantes, respeitando-os e o meio em que vivem, buscando ações que não os levem a futura autodestruição.

Em Educação de Jovens e Adultos, encontramos um desafio maior que é o de possibilitar-lhes o conhecimento e reconhecimento da diversidade de modelos ideológicos, para que possam confrontar com os que já trazem consigo e que lhes foram impostos, permitindo a livre escolha, conscientemente é claro, daquele(s) que melhor lhes convier. Nessa tarefa, não podemos nos esquecer de que o uso das inteligências múltiplas nos auxiliará a explorar maior variedade dos meios de informação, proporcionando experiências práticas, interações nas relações, fortalecimento do coletivo, da construção democrática, do respeito, da união entre as pessoas e seu relacionamento com o mundo, diminuindo ou extinguindo muitas injustiças.

Para finalizar, não devemos esperar encontrar uma didática pronta para usar, mas analisar a pratica à luz das teorias pertinentes a necessidade de todos os participantes da comunidade escolar no decorrer do processo de ensino e de aprendizagem, respeitando as diferenças, valorizando a igualdade de oportunidades, a motivação pelo ensinar e o prazer de aprender, não naturalizando as desigualdades e acreditando e fazendo-se acreditar que um mundo melhor é possível.

7. RELATOS DE EXPERIÊNCIAS PEDAGÓGICAS

  • Relato 1 – Conhecer, reconhecer e compreender a formação cultural
  • Relato 2 – (Re)conhecer os princípios básicos da economia solidária possíveis de serem incorporados ao dia a dia

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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