Sociedade e consumo – Roda de conversa e socialização das ideias

Ficha síntese da prática pedagógica

Objetivos da Prática Pedagógica:

  • Refletir sobre como a sociedade e o consumo transitam no nosso universo;
  • Construir a figura humana que compõe esse universo;
  • Registrar e compartilhar ideias com os colegas de classe;
  • Questionamentos e reflexões sobre a organização da sociedade;

 

Características do grupo a quem foi aplicada a prática:
Alunos da Rede Pública Municipal de Santo André – classe de alfabetização e pós-alfabetização – EJA I

Dinâmica de trabalho adotada na prática pedagógica:

  • Assistir o filme – História das coisas.
  • Roda de conversa e socialização das ideias.
  • Trabalho em grupo para a confecção da figura humana.
  • No grupo leitura dos registros – resposta aos questionamentos.

Recursos necessários para a aplicação:
Vídeo e telão.
Cartolina, diversas figuras geométrica (diferentes formas, cores e tamanhos).
Fichas com os questionamentos sobre sociedade e consumo: O que pensamos? O que estamos fazendo? Qual o destino da Humanidade? Quais as consequências sofridas pelo ser humano.
Giz de cera, lápis de cor e canetas hidrográficas.
Cola e tesoura.

Breve currículo do autor da prática pedagógica:
Isabel Mayer Bonilha – Professora da Rede Pública de Santo André há 26 anos e São Bernardo 10 anos, que atuou em sala de aula Educação Infantil, Fundamental e Jovem e Adulto, Diretora de 1992 a 1996, e atualmente desde 2009 como Assistente Pedagógica da Educação de Jovens e Adultos, com Formação no Magistério, Pedagogia e Pós em Psicopedagogia.

ªAtividade: Plano de aula
Data de entrega: 16/04/2011
Público alvo: alunos da Rede Pública Municipal de Santo André – classe de alfabetização e Pós-alfabetização
Tema: Sociedade e consumo

Atividade:
Apresentação do grupo de professores e combinados para a atividade.
Filme: a História das coisas.
Roda de conversa socialização de ideias.
Grupos de 05 alunos para construção de 01 figura humana com figuras geométrica.
Responder um questionamento através de palavras e ou frases construídas pelo grupo.
Apresentação para o grupo da classe.

Questionamentos:
O que pensamos?
O que estamos fazendo?
Qual o destino da humanidade?
Quais as consequências sofridas pelo ser humano?

Situação de aprendizagem:
Leitura e registro;
Defesa de ideias e pontos de vista;

Objetivo:
Refletir sobre como a sociedade e o consumo transitam no nosso universo
Construir a figura humana que compõe este universo
Registrar e compartilhar suas ideias com os colegas de classe
Questionamento e reflexão sobre a organização da sociedade.

Metodologia:
1ª etapa: apresentação das professoras da federal e esclarecimentos quanto à realização da atividade;
2ª etapa: assistir o documentário;
3ª etapa: roda de conversa onde socializamos as principais ideias do filme;
4ª etapa: na sala e aula formação dos grupos, esclarecimentos da proposta e entrega do material (cartolina – figuras geométricas – cola – tesoura – lápis – canetas hidro cor – giz de cera);
5ª etapa: construção da figura humana e registro de suas ideias sobre os questionamentos que foram apresentados pelos professores – cada grupo irá receber uma pergunta;
6ª etapa: socialização no grupo com leitura justificando sua resposta;
7ª etapa: fechamento das ideias pelo grupo de professores;
Avaliação:

Participação dos alunos nas atividades desenvolvidas;
Leitura e registro das principais ideias socializadas no grupo.

Sugestões de novos trabalhos:
O documentário “a história das coisas” faz uma viagem no nosso cotidiano nas atitudes e valores que ao longo de nossa história praticamos conscientes ou inconscientemente e o professor tem a oportunidade de discutir: diversidade onde o consumo é alavanca para as dificuldades do mundo contemporâneo e que não mais atende a todos de forma solidária e humana.
Temas abordados no documentário: sociedade – consumo – lixo – saúde – qualidade de vida – educação – economia – comércio – política – sustentabilidade – políticas públicas.

Sugestões de atividades:

  • Leituras de diferentes gêneros que abordem os temam refletindo, fazendo relações, comparando nas diferentes culturas;
  • Pesquisa na internet da história da humanidade;
  • Lista que abordem situações de qualidade de vida;
  • Encartes de supermercado validando situações problemas;
  • Conhecer a câmara de vereadores da cidade e participar de uma atividade;
  • Trazer o plano político da escola e conversar com os alunos sobre as metas de trabalho que envolve todos que participam do projeto escolar;
  • Visita: local onde Santo André recolhe o lixo da cidade;
  • Conhecer uma nova proposta de organização e produção na sociedade “economia solidária”

Rede Pública Municipal de Santo André
EJA – ALFABETIZAÇÃO – 2011
CARACTERIZAÇÃO DOS ALUNOS – 1º BIMESTRE

A turma de alfabetização é composta por 18 alunos, sendo 12 mulheres e 06 homens; um aluno de inclusão acompanhado pelo CADE. De acordo com a ficha de caracterização preenchida pelos alunos observo que a maioria nasceu no Estado de São Paulo e o restante tem origem na região nordeste.

A maioria dos alunos é casada e possuem filhos, a religião com maior número de adeptos é a católica e em segundo lugar temos a evangélica.

O meio de comunicação mais utilizado pelos alunos é o rádio e a televisão. Nos momentos de lazer os lugares mais frequentados são as casas de parentes e igrejas.

Todos os alunos possuem atividade remunerada, com exceção de dois alunos que são aposentados. A grande maioria está há mais de vinte anos fora da escola.

Os alunos declaram ter problemas de saúde como: pressão alta, diabetes, esclerose múltipla, dores nas juntas e lombares. Vale ressaltar que nesta sala não existe alunos adolescentes sendo que a aluna mais nova possui 35 anos.

Após sondagem para levantamento dos saberes dos alunos, pode-se dividir a turma em dois grupos distintos: uma turma que está no processo de alfabetização (vamos chamar essa turma de inicial), sendo: dois alunos silábicos alfabéticos, sete alunos silábicos com valor sonoro e uma aluna pré-silábica.

A turma inicial necessita de atividades voltadas à reflexão do sistema e trabalho com alfabeto.

Existe também na sala uma turma composta por oito alunos alfabéticos (vamos chamar essa turma de final); alguns com pouca autonomia para leitura e escrita e outros com facilidade para se expressar através da escrita e com boa interpretação de texto.

Iniciamos fazendo leituras dos livros de Ruth Rocha e uma história em particular agradou demais a todos. Trata-se da história apanhei assim mesmo, do livro historinhas malcriadas. Já contei essa história três vezes a pedido dos alunos. Estão com mais concentração em relação ao ano anterior.

Em matemática a turma inicial possui compreensão limitada do sistema de numeração decimal, em alguns momentos se perdem na contagem, fazem cálculos de adição e subtração, mas observo que alguns não compreendem o conceito. Possuem dificuldade em interpretar situações problemas.

A turma final também sente dificuldades em compreender situações problemas. Conseguem efetuar as técnicas operatórias da adição, subtração e multiplicação, em sua maioria sem dificuldades, apenas três alunos compreendem e realizam a divisão.

Também compreendem o sistema de numeração decimal.

Em ciências físicas e naturais compreendem a influência do homem na transformação do meio e procuram trazer experiências pessoais, principalmente em relação a alimentos, saúde e higiene.
Em história e Geografia apresentam muito interesse e curiosidade nos assuntos tratados e procuram participar oralmente emitindo sua opinião.

Apreciam muito o momento de informática, onde exploramos as ferramentas disponíveis: WORD, JOGOS E INTERNET.
Já estão cobrando aulas passeio, pois a escola é única forma de acesso a eventos artísticos e culturais.
É uma turma que não demonstra resistência no trabalho, aceitam prontamente as propostas e procuram executar da melhor forma possível.

Também já cobraram a oficina de costura e a continuidade do projeto do parque escola.
A maior expectativa dos alunos em relação à escola e aprender ler e escrever, recuperando o tempo que estiveram fora do universo escolar. (Texto elaborado pela professora de alfabetização para o Plano Político Pedagógico).

Rede Pública Municipal de Santo André
EJA – PÓS- ALFABETIZAÇÃO – 2011
CARACTERIZAÇÃO DOS ALUNOS – 1º BIMESTRE

Até o presente momento são 16 alunos matriculados neste bimestre, sendo 10 mulheres e 06 homens.
Destes 16, dois não estão frequentando até a presente data.
Dos 14 frequentes, apenas três não entregaram a ficha individual, apesar de cobrá-las diariamente. Dos 11 restantes levanto abaixo as seguintes características:

Quanto á idade há Quatro alunos de 53 a 69 anos; dois alunos de 30 a 32 anos; três alunos de 31 a 43 anos e dois entre 17 a 19anos.

Em se tratando da naturalidade: seis alunos são da região nordeste (Pernambuco, Bahia, Alagoas e Rio Grande do Norte). Cinco alunos são da região sudeste (São Paulo e Minas Gerais).

Quanto ao estado civil: quatro são casados, quatro solteiros, dois divorciados e uma viúva.

Em respeito á religião a maioria declarou-se católica=7, 2 evangélicos, um que acredita em Deus e um Cristão.

Em relação ao número de filhos: quatro não têm nenhum filho, dois tem um filho, três alunos têm dois filhos, um tem três filhos e uma tem 08 filhos.

A maioria tem como meio de comunicação preferido a TV=11, depois a preferência de seis alunos é o rádio, três de jornais, 03 livros, 01 revista e 01 internet. Um aluno disse preferir o telefone.

No item de programa favorito a novela tem seis apreciadores, documentários tem 04, desenho nenhum indicou, filmes são 04 alunos, esportes são 04, noticiário 8 indicaram e um aluno indicou o melhor do Brasil programa de auditório.

Sete alunos estão trabalhando formalmente e quatro informalmente. Sendo que um trabalha na construção civil, duas são do lar, duas trabalham como doméstica em casa de família, uma em confecção, uma é aposentada, um está desempregado, trabalha na produção de peças para carros, um trabalha com estamparia de camisetas e um é pedreiro autônomo.

Quanto á moradia sete alunos moram em casa térrea e quatro em sobrado.  Sete alunos moram com esposas maridos e filhos, dois moram com os pais, uma mora sozinha e uma mora com o irmão.

Dois alunos ficaram seis meses sem estudar, um ficou sem estudar por quatro anos, quatro estão estudando desde o ano passado, dois passaram um ano sem estudar um passou 15 anos e outros 20 anos.

Em se tratando de saúde três declararam que têm problemas com pressão alta e tomam medicamento por este motivo.
Oito alunos declararam não ter problemas de saúde.

O que os alunos esperam da escola: seis esperam aprender a ler e escrever, dois esperam “muita coisa”; um espera “melhorar”; dois esperam ter um bom desenvolvimento e um espera qualidade.

Habilidades e necessidades intelectuais:
A turma toda é alfabética, porém alguns escrevem frases, outros escrevem pequenos textos; apresentam dificuldades ortográficas de coerência.

Na leitura, todos leem, porém alguns alunos com vagar e mais dificuldade, enquanto outros já têm fluência na leitura. Compreendem o que leem, apresentam boa interpretação oral, mas a maior dificuldade é o registro escrito na interpretação.
Alguns usam letra cursiva, outros alunos letra de forma.
Alguns ainda têm dificuldade no uso de paragrafação, uso de maiúscula, pontuação e coesão textual.

A maioria compreende o Sistema de numeração decimal, quantidades, ordens e classes até milhar. Resolvem as quatro técnicas operatórias até centena. Alguns resolvem situações problemas com autonomia. (Texto elaborado pela professora de pós-alfabetização para o Plano Político Pedagógico).

ALUNA: ISABEL MAYER BONILHA                                              
ATIVIDADE: ANÁLISE DA PRÁTICA PEDAGÓGICA
DATA DE ENTREGA: 31/08/2011
TEXTO REFORMULADO PARA A APRESENTAÇÃO DO DIA 22/10/2011

Texto reflexivo: sociedade e consumo – aula: 29/08/2011 – Polo Santo andré – sala de alfabetização e pós-alfabetização

Essa atividade foi tecida por muitas mãos!

O planejamento para esta atividade inicou-se a partir da disciplina de Experiências em Economia Solidária Ministrada pela Professora Doutora Sonia Maria Portela Kruppa do Curso de Economia Solidária e a Educação de Jovens e Adultos (EJA). Esse curso está vinculado ao projeto da Universidade Federal do ABC e ao Ministério da Educação que propõe uma mudança no currículo da EJA levando em consideração o resgate ao “Trabalho” com base nos princípios que defende a Economia Solidária.

Aproveitando as discussões das aulas e fundamentadas com o texto: “I Oficina Nacional de Formação/Educação em Economia Solidária” extraído pelo endereço eletrônico: (http://cirandas.net/cfes-nacional/i-oficina-nacional-formacao-es.pdf?view=true), que discute A Formação/Educação em economia solidária na busca de consensos a respeito do processo formativo emancipatório necessário para Economia Solidária e a definição de políticas públicas que fortaleçam esse processo. Tivemos a ideia de realizar uma atividade relacionando nossa prática pedagógica com o desafio de propor uma aula que conversa e reflita, com os alunos da EJA, uma nova forma de estar no mundo e a possibilidade de resgatarmos a ação do “Trabalho” como forma de produção, consumo e distribuição de riqueza centrada na valorização do ser humano e não do capital.

Para a realização dessa aula contamos com o apoio das professoras títulares das salas de aulas da EJA I (alfabetização e pós-alfabetização) do período noturno, da Rede Pública Municipal de Santo André. Segundo os relatos das professoras referentes aos alunos dessas salas de aulas, que corresponde a 1ª e 2ª série (alfabetização) e 3ª e 4ª série (pós-alfabetização) da EJA I, é, na sua maioria, oriundos da região nordestina, todos possuem atividades remuneradas e tem filhos estudantes. Apresentam interesses em atividades diferentes, tais como, aula passeio, pintura, filmes, ensaios, entre outras propostas que os estimulam a expressarem seus sentimentos e opiniões.

Para dar start a aula, convidamos todos os alunos a irem para a sala dos professores, pois se trata de um espaço maior propício para fazer um círculo, além de acomodar melhor os equipamentos de multimídia utilizados.

Projetamos no telão o vídeo “História das coisas” extraído pelo endereço eletrônco: (http://www.youtube.com/watch?v=lgmTfPzLl4E) que é um filme criado pela ambientalista Annie Leonard, que aborda e questiona vários aspectos do sistema que vivemos, além de ajudar a compreender o mundo contemporâneo e os complicados problemas socioambientais da atualidade. Mostra de maneira animada o grande consumo de produtos industrializados, o papel dos meios de comunicação e da publicidade para estimular ao consumo, a produção exagerada de quantidades de lixo, a formação de grandes corporações capitalistas, submissão dos governos a estas corporações, a exploração dos trabalhadores e dos bens naturais dos países pobres ea divisão internacional do trabalho.

Ao passar o filme pudemos observar os olhares curiosos e atentos dos alunos, além de risos e comentários sobre algumas cenas. Fazia parte do plano da aula assistir todo documentário, porém a versão que levamos acabou sem a última parte que apresentam alternativas e soluções para esse mal estabelecido na sociedade, ressaltando sempre com um olhar de conjunto e uma abordagem socioambiental. Com esse fato surgiu a seguinte pergunta feito pelo aluno “J”: “qual a solução para o mundo se continuar desse jeito?”. Foi então nesse momento que demos início a discussão.

Perguntamos a eles se achavam que aquele filme tem relação com a nossa vida? O aluno “J”: “tudo que foi demonstrado no documentário realmente acontece.” Depois desse start houve um silêncio na sala, então retomamos a discussão perguntando se sabiam o que era o “sistema” que tanto fala o filme? A aluna “I”: “o sistema nos faz ter essa correria doida do dia – a – dia, mas essa correria é necessária para a gente sobreviver”. Insistimos perguntando se realmente precisamos viver nessa correria que nos obriga esse sistema. Outra aluna “A”: “sim, porque senão como teríamos dinheiro para viver!”. Com essas falas observamos que os alunos começaram a se despertar para a discussão, uns dizia que não tem jeito, “ou a gente corre para alcançar ou ficamos para trás”, outros diziam que não precisamos correr tanto, também tinha quem defendia que essa correria faz com a gente fique cansado da vida.

Com essas falas avançamos a discussão e pudemos conversar um pouco sobre o sistema capitalista que propõe essa maneira de viver apresentada pelo filme e colocada por eles próprios. Ressaltamos que as coisas estão dessa maneira não “porque Deus quis”, mas por interesses de uma minoria de humanos. Exemplificamos com a produção do sapato. Antigamente, o sapateiro tinha suas ferramentas e ele fazia todo o sapato, primeiro fazia a sola, depois pregava os pregos e assim por diante. Ao finalizar seu sapato aquele trabalhador tinha com ele um saber, que era construir um sapato, pois ele participou de todas as etapas. Porém hoje, nas grandes fábricas, cada trabalhador faz uma parte desse sapato, um faz a sola, outro prega o prego, o outro passa a tinta… Sendo assim ao terminar o sapato nenhum daqueles trabalhores saberá montar o sapato por inteiro, porque dele foi tirado o saber e fragmentou todo o seu trabalho dividinto tudo. Não aconteceu isso, porque os donos das fábricas, essa minoria de humanos interessados somente no capital, viu-se que o homem não era capaz de produzir sozinho esse sapato, fruto do seu saber, mas essa minoria fez isso, pois assim é possível baratiar a mão de obra do trabalhador, tirar seu saber e sua capacidade de criar, planejar e avaliar. Nesse momento o aluno “JJ” disse: “É assim que faz com a gente lá na empresa Volkswagem, quando trabalhei lá eu só cuidava de uma partinha do carro e não sei como se faz um carro!” Também exemplificamos com o trabalho rural que algum tempo atrás as pessoas que trabalhavam na roça precisavam de uma máquina que os ajudassem a fazer o trabalho que era difícil e doloroso, porém quando essas máquinas chegaram para ajudar a arar a terra etc. os trabalhadores perderam seus espaços. O aluno “D” “Então aqui foi à mesma coisa, eu trabalhei há muitos anos na Volkswagem, mas quando as máquinas tomaram nossos lugares milhares de pessoas foram mandadas embora e eu fui junto e cada um tinha que lutar pela sua sobrevivência. Os que ficaram diziam qua ainda bem não foram eles. Hoje eu me viro com um pequeno comércio, mas sempre sou derrubado pelos grandes e isso não tem fim!” A sala se dispertou mais, pois alguns queriam contar suas experiências com o trabalho rural e suas dificuldades. O tempo todo faziamos mediação e comentários.

Além disso, conversamos sobre o consumo desfreado e o acúmulo de lixo produzido. Perguntamos se continuarmos assim o que acontecerá com nosso planeta? O aluno “D”: “A humanidade caminhará para a sua alta destruição”.

Destacamos uma cena no filme que diz “o governo é do povo e para o povo” para que eles comentassem. Surgiu o seguinte cometário: A aluna “C” “O governo só será do povo e para o povo quando a gente souber escolher melhor nossos candidatos, seremos mais exigentes nas nossas escolhas!” e acrescentamos: E se nos ajuntarmos para cobrar e fizer valer esse nosso direito, pois os Governantes apenas estão lá para nos representar, porque o Poder e a Lei emanam do povo! O aluno “J”, disse que: “o problema são as grandes corporações que são as grandes empresas que mandam em tudo, pois se o governo não aceitar as condições impostas por elas quem sofre são os trabalhadores, pois como teremos trabalho?” o aluno “D”: “os beneficiados são as empresas somente, porque olha a terceirização os trabalhadores só se ferram! A única coisa que o governo espera das pessoas é o voto e os impostos.” Os alunos mostravam participativos, mesmo aqueles que não expunham suas ideias com as falas, faziam movimentos com o corpo de aprovação ou reprovação com as falas dos colegas.

Lançamos a pergunta o que eles entendiam quando ouvem a palavra Economia e como lidamos e organizamos no dia-a-dia com a Economia. A expresão da maioria foi: “É o dinheiro” a aluna “A” acrescentou: “mas o povo quase não tem, porque ganha pouco com o seu trabalho e a maior parte fica para o governo.” Explicamos que Economia é uma palavra que vem do grego e que quer dizer arrumar a casa e independentemente de serem alfabetizados ou analfabetos todos sabem como lidar com a Economia. Assim a palavra Economia deixa de ficar distante de nós, apenas na mão de alguns e passa a fazer parte do nosso dia-a-dia de maneira concreta. Explicamos também que Economia não é só dinheiro, mas é a produção e a distribuição.  Por isso o filme estava também discutindo e criticando como está sendo a produção e distribuição da riqueza no mundo.

A discussão estava boa, mas o tempo nos deixou na mão, pois os alunos tinham que ir embora e não podem sair muito tarde da escola. O Filme trás questões profundas e dignas de discussão, mas é preciso mais aulas para tratar e refletirmos sobre todas elas.

Com o tempo curto, encerramos esse primeiro momento na sala dos professores, e voltamos rapidamente para sala de aula. Fechamos um compromisso com os alunos que voltariamos para propor uma saída, um jeito de viver, de produzir, consumir e distribuir diferente desse sistema capitalista que discutimos naquela aula enfatizou que esse jeito se chama “Economia Solidária” e essa Economia só será possível se juntarmos: eles, alunos da EJA, seus professores, nós da Universidade, o Poder Público e toda a sociedade.

Antes de irem embora, em grupo, os alunos fizeram um boneco, pois fazia parte do planejamento da aula, com figuras geométricas e cada grupo ficou com uma pergunta: O que Pensamos? O que estamos fazendo? Qual o Destino da Humanidade? Quais as Consequências sofridas pelo ser humano?

Nesse momento houve bastante interação nos grupos, eles dicutiram e anotavam o que falavam, assim puderam expressar suas opiniões sobre a discussão anterior e sobre o que estavam pensando a partir do filme e da discussão.

Embora a escola pública tente manter o distanciamento de questões políticos, sociais e econômicas, pode ser considerado como uma pseudoneutralidade institucional, Kruppa esclarece que mediante tal posicionamento a escola oferece uma educação que atende as demandas do sistema capitalista porque ao “pseudoneutralizar” a prática educativa reproduz a maneira velada o modelo capitalista de educação. Tal postura é um ato político porque nenhuma ação é neutra de concepções e filosofias. Porém ao mesmo tempo em que reforça os princípios capitalistas as constatações demonstram que a “pseudoneutralidade” existente dá abertura a brechas para buscar alternativas que modifiquem a estrutura atual das instituições educativas.

A problemática colocada pelo filme, à relação das experiências e saberes construídos ao longo da vida dos alunos e os questionamentos que fizemos foram validados pela intervenção de nos professoras que reconhecemos a prática pedagógica como um ato político. Essa intervenção mobilizou os estudantes o interesse por descobrir alternativas, tendo como diferencial em sua trajetória profissional a formação que reconhece os estudantes como sujeitos com saberes construidos ao longo da vida que podem “transformar a realidade, estimulando a criação de novos conhecimentos que possam ressignificar valores e práticas sociais”.

Ao partir das considerações descritas acima à função do trabalho na vida dos jovens e adultos e a constituição de outras lógicas econômicas, sociais, culturais e ambientais a Economia Solidaria pode ser o elo de interlocução entre outras políticas de educação e formação. Nós educadores devemos ter olhar investigativo nessas propostas e a compreensão de que um currículo de EJA baseado nos princípios da Economia Solidária mobiliza na turma o interesse por conteúdos relacionados às condições de trabalho, saúde, a relações de convivência e sustentabilidade. Como explica Tiriba (2007), o trabalho como principio educativo, traz outras dimensões ao processo educativo. Ou seja, o tratamento metodológico do conhecimento é redimensionado dado os princípios da Economia Solidária. Ao redimensionar as práticas educativas, a ação das instituições não é solitária e pode possibilitar a formação de movimentos sociais que pensem o desenvolvimento local a partir das experiências baseadas nos princípios de Economia Solidaria, assegurando a formação de rede entre os demais direitos sociais.

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