Ficha Síntese da Prática Pedagógica
Objetivos da prática pedagógica: apropriar-se do conhecimento a respeito de Economia solidária; caminhos para construir um empreendimento solidário dentro do sistema capitalista, conscientizar-se das condições estruturais para empreender prestação de serviços ou mercadorias envolvendo águas e neste estudo de caso: passos necessários para construir um pesqueiro.
Característica do grupo:
alunos de EJA I – Pós alfabetização (3ªs e 4ªs série do Ensino Fundamental), idades entre 17 e 60 anos, mista, maioria da região Nordeste.
Dinâmica de trabalho:
Atividades interdisciplinares e interativas com diferentes dinâmicas de grupos, envolvendo jogos cooperativos; diferentes portadores textuais e recursos áudio visuais.
Recursos necessários: frase inicial sobre coletividade; texto “O que é um grupo” – Madalena Freire – 2005, site www.jogoscooperativos.com.br: acessar para conhecer jogos citados nas atividades como meios de sensibilizar e aproximar o grupo; lousa e giz para registros diversos como sugestões e votações dos nomes e das ações a serem feitas, folhas de cartolinas, lápis grafite e de cores e réguas para registro da área do pesqueiro com respectivos espaços de uso necessários; jornais com classificados de imóveis para pesquisa de preços (terrenos ou chácaras); Guia Páginas Amarelas” pesquisar outros empreendimentos próximos ou lição de casa: visitar um pesqueiro e observar e registrar tudo; livros e sites sobre criação de peixes; leis ambientais e do consumidor; documentos para abrir empreendimento.
Breve currículo da autora da prática pedagógica:
Sandra Aparecida Boccacino
Formação:
Graduação: Pedagogia – Licenciatura Plena e Administração Escolar – PUC – SP, 1987
Pós Graduação com Especialização em EJA – USP-SP, 2002
Pós Graduação com Especialização em EJA e Economia Solidária – UFABC, 2011
Prática Pedagógica: Professora de EJA desde 1991; Professora de Educação Infantil e Fundamental, Diretora de Unidade Escolar e Creche, Assistente Pedagógica na EJA e no Profissionalizante.
Contatos: e-mail: saboccacino@yahoo.com.br Tel.: 3439 3373 – 2677 7380
Local de trabalho: CPFP “Valdemar Mattei” – 4438 5059 – noite
Creche Laura D. Camargo – 4438 9910 – manhã
Dando continuidade a este caminhar pedagógico neste segundo semestre, retomei os Princípios e diretrizes de uma formação em ECOSOL que apresentam como pilares de sustentação dos grupos empreendedores e dos grupos formadores, a cooperação (operar juntos em direitos e deveres) e a autogestão (gerir juntos o processo produtivo, quanto aos custos de produção seja de serviços e/ou produtos, distribuição e reservas dos lucros, bem como resolução de expansão e/ou novos desafios, e em situações de prejuízos) com extensão para os demais aspectos da vida de cada envolvido, porque estes pilares permeiam as relações humana no convívio diário numa dimensão ontológica, potencializando, portanto, a solidariedade em rede com qualidade de vida e proteção social.
Pedagogicamente, os cidadãos envolvidos neste processo, vão se apropriando e exercitando “novas” (outras) sociabilidades, superando o conceito e práticas do sistema capitalista, valorizando o trabalho coletivo inspirado e fundamentado numa concepção mais humana, ética e solidária.
A sensibilização para iniciarmos os trabalhos foi a frase: “Nenhum de nós é inteligente, quanto todos nós…” Marilyn Ferguson
Depois de lermos e refletirmos, passamos à leitura de uma síntese do texto “O que é um grupo” – Madalena Freire – 2005, com posterior reflexão sobre os diferentes grupos dos quais fazemos parte diariamente: no lar, no trabalho, na escola entre outros.
Ao final, propus um desafio coletivo cooperativo, autogestionário e inclusivo de propriedade intelectual de José Ricardo Barcelos Grillo – Edição 3 de Outubro de 2001 da Revista Jogos Cooperativos, pág. 14, no qual fiz adaptações ao contexto da sala, denominado:
TRAVESSIA
Propósito: Como a vida é um mar de rosas, margaridas, violetas e outras mais e se, estamos todo no mesmo barco, que tal unirmos nossas forças para evitarmos um naufrágio? É um desafio grupal que fortalece a integração, favorece o contato, promove a ajuda mutua, estimula a liderança compartilhada e a resolução de problemas cooperativamente. Com tantos atrativos é diversão garantida, experimente essa TRAVESSIA.
Objetivo: levar o “navio” para o “porto seguro”.
Número de Participantes: Para grupos de até 40 pessoas dividas em 04 navios.
Recursos: um salão amplo com aproximadamente 10m x 10m e livre de obstáculos. Outro espaço equivalente também pode ser utilizado. Uma cadeira para cada participante.
Descrição: divide-se o grupo em 04 equipes (navios) que formarão uma “Esquadra” e ficarão dispostas em 04 fileiras como um grande quadrado. Cada “tripulante” começará o jogo sentado em uma cadeira. Nenhum tripulante poderá colocar qualquer parte do corpo no chão nem arrastar as cadeiras. Cada “Navio” deverá chegar ao “Porto Seguro” que corresponde ao lugar que está o navio da sua frente com todas as suas cadeiras e com todos os participantes. Quando todos conseguirem alcançar o “porto seguro” , o desafio será vencido por toda a Esquadra.
Dicas: Uma variação do jogo, quando todos já estiverem alcançado o “porto seguro”, pedir que os tripulantes de toda a “esquadra” se coloquem em ordem alfabética. Respeitando as mesmas regras utilizadas na “Travessia”.
Olhem só: o grupo discutindo ideias e combinados para realizar a travessia…
Depois de todo esse “trabalhão” em equipe, que bom se todos dessem um mergulho na cooperação. O que vocês acham? Peço que todos deem as mãos e pulem juntos das cadeiras até o chão. Vai ser muito refrescante.
Para facilitar o desafio para grupos mais jovens ou, na falta de cadeiras, podemos substituir as mesmas, por folhas de jornal abertas e estendidas no chão. Com grupos menores, podemos montar apenas um navio ao invés de quatro.
É muito interessante também se possível, utilizar músicas que falem do tema (ex.: Como uma onda no mar – Lulu Santos), porque com certeza, “… nada do que foi será , do jeito que já foi um dia…”
Durante a realização do desafio, apenas orientamos sobre as regras: não colocar os pés no chão e nem arrastar as cadeiras; pensar também quanto à posição das cadeiras, pois havia uma aluna de saia e o aluno da melhor idade (81 anos).
Eis os registros fotográficos da “travessia”:
Satisfeitos com os resultados da “travessia”, de chegarem todos ao outro lado da sala e já sinalizando a hora do intervalo, pausamos. No retorno, propus outro desafio já conhecido de todos, mas com uma segunda proposta:
DANÇA DAS CADEIRAS
Competitiva: muito conhecida e utilizada em festas e escolas, onde todos competem entre si, tendo apenas um vencedor final, sentado em uma cadeira.
Cooperativa: todos competem para sentarem nas cadeiras juntos, sem excluir ninguém e ao final, todos estarão em uma única cadeira.
Optei por trocar as cadeiras por folhas de jornal nesta segunda proposta, para evitar tombos e situações desconcertantes e assim, tinham que se abraçar para manter os grupos nas folhas. Quando sobrou a última folha, todos estavam:
…abraçados, bem juntinhos e incluídos…
Após estas dinâmicas de sensibilização e das reflexões coletivas sobre como se sentiram nas diferentes situações, propus a formação fictícia de um grupo empreendedor e retomei as sugestões de empreendimentos com a água, por eles sugeridos no primeiro semestre, pois que as leituras e compreensão de como as formações devem ocorrer quanto aos conteúdos, entendi que deverão sempre partir das práticas dos empreendimentos, assegurando coerência com os princípios da ECOSOL, qualificando as práticas numa espiral crescente como um redemoinho dialógico1 [1](embate de ideias sobre práticas em construção).
Iniciamos pela votação, tendo o aluno João como mediador, dos empreendimentos sugeridos: pesqueiro, lavagem de carros e motos, banho e tosa em animais, engarrafamento e distribuição de água e água de coco, limpeza de caixa d’água e desentupimento de canos e academia de natação. O vencedor por maioria de votos em três eliminatórias foi o pesqueiro.
O aluno João conduzindo as votações do nome do grupo e
dos tipos de empreendimentos sugeridos.
Encerramos esta noite dinâmica, na biblioteca da escola (toda 2ª feira após as 21 horas, temos esta atividade que previamente combino com a professora Rose) e o tema proposto foi a leitura de diferentes livros sobre peixes de água doce, já que tinham que iniciar os estudos sobre o produto a ser oferecido pelo empreendimento escolhido.
Neste segundo dia de trabalhos empreendedores solidários, iniciei pela leitura de um pequeno texto com posterior reflexão: FAZENDO “CON-TATO”
“Quando sabemos qual é nosso propósito, o trabalho da alma se realiza da melhor forma possível através do nosso corpo. Um propósito claro, elimina todas as dúvidas, pois identificamos aquilo que nos conduz à nossa meta ou nos desvia dela. A energia em nossas vidas é imensa quando uma clareza de propósito está sempre presente.” (Sônia Café – “O Anjo do Propósito”)
Questões iniciais a serem respondidas pelo grupo, utilizando a votação e o consenso:
- Nome do grupo empreendedor solidário e do empreendimento:
- Qual a área total para um pesqueiro?
- Onde pretendem comprar a área com demanda e sem concorrência?
- Quanto custaria o terreno neste local escolhido?
- Quantos tanques para peixes serão necessários? Haverá um para fêmeas grávidas? E para filhotes?
- O que pretendem oferecer de infraestrutura aos frequentadores?
Utilizamos todo o período para sugestões, votações, cálculos e ponderações para as questões acima, que foram registradas no cartaz a seguir:
Atendendo ao sugerido na construção e formação de empreendimentos solidários:
“*Exercício de autogestão: através de assembleias, plenárias e reuniões de comissões; temáticas e/ou grupos de trabalho;
*Relações intersubjetivas; pois que estas podem comprometer o andamento dos trabalhos e assim, as decisões coletivas sempre devem ser frutos dos debates, reflexões e análise objetivando o consenso do grupo para equilíbrio do empreendimento.”
Ao final, todos os alunos estavam envolvidos e sensibilizados para a necessidade de ações mais estratégicas e efetivas quanto à implementação de um empreendimento solidário e na aula de hoje, quantos avanços já ocorreram.
Fica evidente que este pequeno exercício é apenas uma nuance do verdadeiro processo de construção de um grupo cooperativo e autogestionário; é preciso mais e melhores estratégias pedagógicas para sensibilização e mudanças de concepção.
Daremos continuidade a este trabalho de construção virtual de um empreendimento, com base nos documentos orientadores e dos passos necessários, alem da confecção de uma “cartilha” com informações básicas, pois há interesse do grupo e condições reais de existência deste empreendimento e mesmo que não se realize, o exercício de construção já é um meio de aprendizagem de sustentabilidade empreendedora solidária.
Eis o início da “cartilha interativa” que estamos elaborando:
CO-OPERAÇÃO, UMA ALTERNATIVA PRODUTIVA
Você já realizou algo que com a colaboração de outras pessoas, tudo ficou mais fácil juntando ideias para resolver e força de trabalho?
ALUNOS: ENCONTRAR FIGURA COOPERATIVA
Todos os seres humanos, em algum momento de suas vidas já viveram uma situação assim, até para um pneu furado, e esta forma de compartilhar atitudes sempre trás benefícios.
No mundo do trabalho, nas relações de produção de bens e serviços, isto também é possível através de grupos solidários de trabalho que conhecemos mais como COOPERATIVAS, ou empresas autogestionárias, mas que podem ter outras formas de agrupamentos, mas que têm em comum, a cooperação, a autogestão, a comum-unidade, a corresponsabilidade…
São grupos atuantes que encontram na Economia solidária, meios de se inserirem na cadeia produtiva e no mercado de trabalho, sem necessariamente serem empregados de alguma empresa, mas coproprietários de um empreendimento coletivo.
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Economia Solidária no mundo do trabalho como tema transversal na Educação de Jovens e Adultos
Prática 1: Projeto tema transversal: Meio ambiente – Água
Objetivos da prática pedagógica: apropriar-se do conhecimento a respeito de Economia solidária; caminhos para construir um empreendimento solidário dentro do sistema capitalista, conscientizar-se das condições estruturais para empreender prestação de serviços ou mercadorias envolvendo águas e neste estudo de caso: passos necessários para construir um pesqueiro.
- [1] termos que construí partindo das leituras de transversalidade na educação e das concepções de Paulo Freire em suas diferentes obras↩