Objetivos da Prática Pedagógica:
Formar e conscientizar os professores da EJA sobre os principais objetivos da educação segundo Paulo Freire e adequar as noções de economia solidária a rotina dos educandos buscando orientá-los em novas buscas e soluções para seus problemas sociais
Característica do grupo a quem foi aplicada a prática:
O grupo é formado por professores concursados recentemente e sem experiência alguma em Educação de Jovens e Adultos, porém dominam perfeitamente as suas disciplinas e precisam ser lapidados dentro dessa nova realidade.
Dinâmica de trabalho adotada na prática pedagógica:
A parte teórica dessa prática é desenvolvida em HTPCs, através de debates, palestras e pesquisas sobre a economia solidária dentro e fora do nosso país.
Recursos necessários para aplicação:
Pesquisa sobre as obras e fundamentos de Paulo Freire assim como de Paul Singer através de vídeos e visitas a empreendimentos solidários
Breve currículo da autora da prática pedagógica:
Priscila Adriana dos Santos – Formada no antigo Instituto de Educação Senador Fláquer (como pedagoga) exerço o magistério há 23 anos com educação infantil e fundamental. Durante toda a minha vida profissional procurei ocupar cargos de diferentes significados como: Direção, Vice direção e Coordenadora na rede estadual. Em 2003, ingressei na Prefeitura como professora do Ensino Fundamental, onde acumulo cargo até hoje. Desde 2010 venho me dedicando e aprendendo com a educação de jovens e adultos quando apareceu a oportunidade de uma nova função como PAD (Professor de Apoio à Direção). Em 2011 fiz uma Especialização em educação de jovens e adultos e economia solidária.
Deseja ser contatado por outros professores: Não
ATIVIDADE PRÁTICA : PROJETOS SOLIDÁRIOS
Aos nove dias do mês de março do ano de 2011, reuniram-se na biblioteca da Unidade Escolar, os professores da EJA, para mais um Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo (HTPC). Ainda não contamos com uma PC (Professora Coordenadora) e por isso a PAD (Professora de Apoio á Direção) organiza e direciona as atividades do dia.
Desde o começo do ano, as nossas atividades vêm sendo trabalhadas no sentido de se valorizar todos os conhecimentos pré adquiridos de todas e todos os alunos da EJA, visando a valorização do ser humano no seu todo e criando novas perspectivas de vida. No entanto, temos este ano um perfil bastante diferenciado não só entre os alunos, onde as idades ficaram bastante diversificadas, mas também de professores que acabaram de prestar um concurso público. Esses profissionais apesar de serem muito bem formados dentro de suas áreas especificas, não possuem ou quase não possuem experiência em alfabetização de adultos, tendo atuado em sua maioria apenas no ensino médio regular. Através de uma reformulação dos parâmetros da EJA, os profissionais que nos acompanhavam em 2010 e que eram contratados, ou seja, terceirizados, foram dispensados para dar lugar a professores concursados e, segundo a prefeitura, melhor habilitados para as suas funções. Entretanto esses profissionais não receberam orientação e/ou curso específico para atuar junto aos nossos alunos e desenvolver adequadamente os conteúdos, levando-se em consideração a valorização do ser humano como um todo. Sendo assim, cabe aos gestores dentro das unidades escolares orientar e organizar junto aos mesmos as melhores estratégias para desenvolver os conteúdos e fazer com que esses professores valorizem-se e valorize a todos e todas envolvidas no processo ensino-aprendizagem. Nesse ano contamos com dez profissionais envolvidos no processo de ensino aprendizagem da EJA, sendo dois deles moradores do bairro e, portanto, conhecedores da cultura local. Outros são oriundos de outros estados como Pernambuco, Fortaleza, Minas Gerais e municípios do interior do estado de São Paulo. Trazem em sua bagagem muitos “vícios” como: não se valorizar os conhecimentos pré adquiridos dos alunos, acharem que são detentores de todos os conhecimentos, administrar aulas teóricas sem se preocupar com a prática, trabalhar com Xerox de textos prontos, etc., que precisam ser eliminados e desmistificados, assim como uma visão muitas vezes distorcida do que seja a Educação de Jovens e Adultos. Querem muitas vezes desenvolver suas aulas como se estivessem dentro de uma sala do Ensino Regular.
Após os informes técnicos que constavam em nossa pauta de reuniões: – datas das reuniões dos professores no CENFORPE; – folhas de pagamento; – agendamento de atividades extracurriculares; – agendamento de visita da Orientadora Pedagógica, ou seja, a parte burocrática e que muitas vezes toma um tempo extremamente valioso, tanto de professores como gestores, mas que precisa ser informada e por isso torna-se um ato mecânico na maioria das vezes, percebi nos professores certa agonia em desenvolver os conteúdos propostos para o segundo semestre em tão pouco tempo e com tantas dificuldades. Percebendo a necessidade de um tempo de desabafo para os mesmos, interrompi o que já estava em pauta, que era a formação deles baseada em textos e atividades do Ler e Escrever, um curso proporcionado para gestores sobre as dificuldades da alfabetização e cujo qual nos tornamos multiplicadores. Com o intuito de cada um se conhecer melhor e tentar ajudar os colegas da melhor forma possível começaram um bate papo informal onde os mesmos colocaram as suas dificuldades.
A princípio ficou claro para todos os presentes as angústias que cada um estava enfrentando para lidar com uma clientela tão diversificada como a da EJA e tão difícil ás vezes de ser conquistada. Os professores estavam desesperados no sentido de cumprir com os conteúdos programáticos, colocados na proposta curricular já estudada pelos mesmos durante as reuniões pedagógicas, e como os alunos conseguiriam atingir os objetivos propostos sendo esses tão extensos além das horas com atividades de especialização. No entanto, estavam deixando de lado a valorização do ser humano e os conhecimentos adquiridos pelos alunos no transcorrer de suas vidas.
Sendo assim, direcionei a nossa reunião no sentido de cada um expor um pouquinho das dificuldades que estavam enfrentando e demonstrar algumas habilidades que estavam sendo esquecidas. Através dos relatos de suas dificuldades, direcionei-os a pensar em estratégias para atingir os seus objetivos partindo de conhecimentos pré-adquiridos. Aos poucos e ainda com muita resistência, foram percebendo que diversos conteúdos podem ser trabalhados de forma prática e não somente teórica valorizando experiências próprias e de alunos. Voltando-os ao tema central da escola que é a preservação do meio ambiente, fiz com que eles através de relatos de atividades práticas, conseguissem visualizar novas probabilidades de ensino. A professora de ciências começou muito bem colocando que através de uma aula de reaproveitamento, independente de que material vai ser utilizado, muitos conteúdos trabalhados de forma tradicional poderiam ser vivenciados e, portanto muito melhor trabalhados, além de proporcionar uma nova visão sobre o que eles consideram como lixo. Aproveitando o gancho o professor de matemática já deu idéias de como se problematizar a questão das medidas, de valores a serem gastos e quanto poderia proporcionar em desafios para os alunos. O professor de português deu a sugestão de se trabalhar o registro da receita de todos os materiais reaproveitados assim como a confecção de livro de receitas e a professora de artes, as várias probabilidades de confecção de embalagens com produtos reciclados e trabalhos artísticos feitos do que chamamos de lixo.
“Precisamos achar um caminho para dar os conteúdos de forma clara e prática, fazendo com que todos, independente de idade e/ou experiência, possam se expressar” ( Profª de Artes).
Sendo assim, em comum acordo resolvemos colocar todas essas idéias em prática o mais rápido possível, primeiramente uma vez por semana, durante as nossas horas de projeto pedagógico que são desenvolvidas todas as quartas feiras, onde pudemos constatar um resultado excelente, logo no primeiro momento, não só nas disciplinas como também na auto-estima de professores e alunos ao participar das atividades. O primeiro desafio foi o de dentro da Proposta Pedagógica da escola desenvolver atividades de preservação do meio ambiente de forma prática e que visasse não só o conhecimento de todos e todas, assim como criar probabilidades de um meio de produção que proporcionasse muitas vantagens ao meio ambiente e às pessoas envolvidas.
Uma semana, após a nossa reunião, com ajuda de professores, funcionários e alunos, conseguimos realizar três oficinas, onde professores e alunos através de pesquisas, trocas de experiências e valorização de conceitos adquiridos através dos anos conseguiram formar atividades de estremo valor e com real significado para todos e todas envolvidos no processo, onde professores passaram a ser alunos e alunos professores.
Partindo do contexto apresentado realizamos um HTPC com o objetivo de formar e informar os professores das capacidades e potencialidades deles mesmos, assim como a dos alunos em questão, que são sempre muito ricas e quase nunca valorizadas. O professor em sala de aula muitas vezes se prende apenas á conteúdos e esquece-se de valorizar o ser humano que existe nele e nas pessoas que ele atende todos os dias.
Como resultado de nosso H.T.P.C conseguimos discutir a necessidade de se relacionar a teoria com a prática e ao benefícios que esse prática pode trazer para as nossas atividades diárias. Após nossa discussão e reflexão, as oficinas foram feitas pensando nos conteúdos que precisam ser trabalhados e na valorização que precisamos dar aos seres humanos. Especificamente na EJA, precisamos levar esse conceito muito á sério, por conta da baixa estima de todos e todas que normalmente se encontra nessa modalidade de ensino.
Penso que a minha postura facilitou a discussão dos professores, pois tentei possibilitar a construção de um clima democrático e amistoso, além de tentar fazer com que eles se valorizem. Em outro momento, acredito que poderia ter tomado uma postura diferente, no entanto, cabe ao gestor e sua equipe detectar também as necessidades de seu grupo e procurar atende-las da melhor forma possível.
Oficina de Reciclagem
Nessa oficina a proposta é ensinar aos nossos alunos como reutilizar materiais que normalmente vão para o nosso lixo doméstico como óleo, cascas de frutas e legumes de uma forma bastante racional e que proporcione inclusive lucro através da venda dos mesmos.
Nessa oficina eles estão reciclando papel de diferentes formas, desde os rolinhos de jornal que proporcionam trabalhos belíssimos como travessas, cestaria, embalagens, etc., até a confecção do papel reciclado propriamente dito. No início houve certa resistência, principalmente por parte dos mais novos, que se sentem envergonhados em ficar carregando garrafas de óleo, ou lixo (cascas de frutas, talos de verdura, restos de vegetais, cascas de ovos, etc.) para fazer compostagem, mas quando visualizaram o sabão, as folhas de papel reciclado, os vasos de plantas, os produtos feitos de rolinhos de papel e os elogios dos colegas que se encontra em outra atividade, a percepção de mundo melhora muito assim como a auto valorização.
“Através da reciclagem do óleo consegui fazer um sabão de ótima qualidade e reforçar o orçamento da minha casa. Estou me sentindo orgulhosa por ter conseguido uma atividade que além de preservar o meio ambiente me dá prazer” (Aluna do 7º termo)
Oficina de Tear
Nessa oficina existe a proposta de se elaborar trabalhos como tapetes a partir de restos de malhas doados pelas malharias locais. As alunas saem em campo e conseguem arrecadar restos de malhas que normalmente vão para o lixo, fazem uma seleção de cores e de retalhos maiores e menores para a confecção dos mesmos. Os teares são em parte confeccionados pelos alunos orientados por uma oficineira disponibilizada pela secretaria de cultura em parceria com a secretaria da educação. Além de tapetes os alunos aprendem a fazer cachecol, tocas, bijuterias, tear de dedo tudo com material que se encontra em sua casa, como restos de lãs, linhas, miçangas e muito mais.
“Depois que comecei a fazer as aulas de tear, tenho orgulho dos trabalhos que consigo fazer e não vergonha como antes, porque agora eu sei fazer os acabamentos e ninguém diz que foi feito por uma pessoa sem experiência como eu” (Aluno do 8º termo).
Oficina de Reaproveitamento de Alimentos
Aqui professores e alunos, através de pesquisas na internet e por vivências particulares, elaboram e executam receitas como bolo de casca de banana, farofa de talos de verduras, chás, sucos e compotas com cascas de frutas e muito mais.
Com a colaboração de todos, decidimos qual das receitas vamos por em prática. Dentro da cozinha da escola e contando com a gentileza de nossos auxiliares de cozinha executamos passo a passo nossas receitas. Aqui estamos fazendo um bolo de casca de banana. Parte dos ingredientes são da nossa merenda e o que não é adquirimos solidariamente, ou seja, cada um doa o que quer e pode. Uma parte do grupo faz a leitura da receita e a outra põe a mão na massa com o auxilio das professoras e dos cozinheiros da escola. No final todos experimentam o bolo e se surpreendem com o resultado.
“Hoje tenho uma visão diferente daquilo que eu chamava de lixo. Fiz o bolo de casca de banana e uma farofa de talos de verduras no último final de semana, quando estava toda a minha reunida. Todos adoraram e pediram a receita!” (Aluna do 6º termo).