Atividade realizada a partir do documentário A História das Coisas

Ficha Síntese da Prática Pedagógica

Objetivos da Prática Pedagógica:

  • apresentar os princípios da Economia Solidária;
  • questionar a legitimidade do modo de produção capitalista;
  • divulgar a existência de grupos sociais organizados solidariamente nas relações econômicas.

Características do grupo a quem foi aplicada a prática:
Alunos maiores e menores de idade, empregados, desempregados, donas-de-casa, alunos em liberdade assistida, moradores da periferia e muitos deles moradores em favelas.

Dinâmica de trabalho adotada na prática pedagógica:

  • levantamento do conhecimento prévio e das hipóteses dos alunos sobre o assunto;
  • apresentação dos documentários;
  • momento para os alunos se posicionarem, opinarem;
  • realização simultânea do registro dos depoimentos;
  • realização de debates a respeito dos pontos polêmicos de cada documentário;
  • elaboração do registro individual.

Recursos necessários para a aplicação:

Breve currículo do autor da prática pedagógica:
Estevam Rubens Gonçalves Moura – Biólogo formado pela Universidade de São Paulo;  Especialista em Educação pela PUC-SP;
Professor Efetivo da Rede Municipal de Ensino da Prefeitura do Município de São Paulo no Ensino Fundamental II (Ciências da Natureza) e Médio (Biologia); Professor de Biologia da Rede Particular de Ensino da Cidade de São Paulo.

RELATO

Esse documentário não foi exibido logo após Ilha das Flores. Houve um intervalo de duas semanas. Nesse período foi trabalhada uma parte do conteúdo programático de Ciências da Natureza, pois os alunos ficam um pouco ansiosos se eles não estão “tendo matéria”.

As classes, ao serem notificadas de que iriam assistir a outro documentário, perguntaram se seria triste igual ao outro.

1ª Parte – Aquecimento prévio, antes da exibição do documentário, com a apresentação das seguintes questões:
a) Qual é o nome de um aparelho que vocês têm e gostam muito?
As respostas giraram ao redor do celular, do s computadores e algumas senhoras falaram na máquina de lavar roupa.
b) Por que vocês escolheram esses aparelhos?
A máquina facilita a vida da gente, que já é tão atribulada com trabalho, escola, família, parentes e outros problemas particulares.
O computador é tudo da hora, disseram alguns rapazes, sem ele não tem o MSN, o facebook, games, o youtube, baixar músicas.
O celular, vixe, disseram alguns rapazes e meninas, é fone, dar uns toques, permanecer conectado e tem música, fotos. Alguns alunos mais velhos salientaram a importância de poder se comunicar com a família, os filhos pequenos na escola.
c) E vocês sabem de onde vêm esses aparelhos?
Em relação ao celular, risadas, com as respostas da loja, da banquinha, um considerado arranjou ou deu de presente, sei lá, caiu, chegou até a minha mão, comprei o chip e está funcionando. Em relação às máquinas de lavar roupa, vieram das fábricas, depois nas lojas e supermercados.
d) Esses aparelhos podem provocar ou já provocaram poluição:
– O som do celular alto pode provocar a poluição sonora e a máquina de lavar velha também, pois é barulhenta.
– Se a bateria do celular for jogada fora em qualquer lugar ela pode poluir.
– Se o celular e a máquina forem jogados no lixo, no terreno baldio ou nos córregos também irão poluir.
e) Exibição do documentário, primeiramente de uma vez só e depois sendo interrompido para comentários, dúvidas, questionamentos etc.
f) Após a exibição do documentário alguns alunos disseram:
_ Essa mulher (a apresentadora) fala muito rápido, depressa, dificulta o entendimento da mensagem dela.
– O filme poderia ser totalmente colorido e com desenhos mais bonitos
-Sei lá, o filme vem com essa história que a gente não deve comprar. Mas eu gosto de ter e que vende fica contente e feliz.
– Como a gente viu no filme, durante a fabricação dos aparelhos e dos componentes acontece poluição do ar (lembrei dos poluentes representados por caveirinhas), do solo do lugar onde ocorreu a extração da matéria-prima.
– Mas essa mulher do filme (a narradora) deve ter de tudo, já comprou um monte de coisas, por isso ela fala que consumir não é legal, ela já deve ter provado de tudo.
– O filme assusta quando mostra a poluição e a exploração do trabalhador e do meio ambiente.
g) Debate sobre o uso do saco plástico.
– conclusão do grupo que é a favor da eliminação: as pessoas vão deixar de desperdiçar, pois não será mais de graça, vai poluir menos o solo e como o saquinho para lixo terá que ser comprado, as pessoas vão usar menos.
– conclusão do grupo que é contra ao fim dos saquinhos: não ocorrerá a diminuição da poluição, pois as pessoas terão que comprar saco plástico para o lixo. Os mercados somente irão ganhar mais dinheiro e o preço do saco plástico vai subir.
– conclusão geral da classe: independente da compra do saquinho ou de conseguir o saquinho de graça, as pessoas devem se esforçar para reduzirem a produção diária de lixo. Como? Administrando a produção da comida, para evitar sobras que não poderão ser reaproveitadas e terão que ir para o lixo, evitar que alimentos (processados ou que serão utilizados estraguem) reaproveitando embalagens, enviando materiais para a reciclagem.
h) Conforto pessoal é sinônimo de desperdício?
A classe chegou à conclusão que dá para ter conforto sem desperdício, mas não houve um consenso sobre o que é desperdício. Quando uma aluna (uma jovem senhora) disse que todas as noites o banho dela dura, contadinho no relógio, 40 minutos e ela achava que isso não era desperdício, foi a maior agitação. Muitos ficaram indignados, dizendo que um banho de 5 minutos já dava para se limpar muito bem. Ela disse que não era só questão de se limpar, mas de relaxar. Que depois de ter trabalhado duro o dia inteiro, ter pegado condução lotada e fedida, ter que aguentar os filhos e o traste do marido (risada geral pela classe), ela tinha o direito a esse banho. Quando perguntaram se ela não sentia remorso em relação àquelas pessoas que não tinham água encanada ou chuveiro e o banho era de canequinha ela respondeu dizendo que a água e a luz na casa dela vinham de ligações legais, não tinha nada de gato não e que ela pagava, com o dinheiro dela, essas contas todos os meses. Também disse que não era culpa dela o fato de pessoas terem que tomar banho de canequinha. Que mesmo que o banho dela durasse 5 minutos, essas pessoas iriam continuar sem água. O problema tem que ser resolvido pelo governo. E quando tem vazamento de água na rua e a gente liga para a Sabesp e fica aquele baita desperdício até eles virem consertar?
i)consumidor consciente  é aquele que não fica preso em dívidas do cheque especial e do cartão de crédito.

– Foi uma “brigadeira” geral, pois alguns alunos:
a) concordaram com a frase, dizendo que quem não pode comprar não deve se endividar.
b) discordaram, dizendo que muitas vezes as pessoas acabam se endividando por necessidade: saúde (comprar remédio, consulta, dentista), viagem (comprar passagem aérea para mandar a sogra rapidinho de volta para o Nordeste – risadeira geral).
c) outros discordaram dizendo que esse papo de consumo consciente não tem a ver, que quem gastar que gaste, que o problema da dívida é dele, é só não vir encher o saco pedindo dinheiro emprestado.
O professor finalizou a discussão colocando que nós sempre causamos impacto no ambiente, que vivemos em um planeta do qual não como fugir, então podemos consumir aquilo que consideramos que para nós é realmente necessário, mas tendo a consciência de que consumir não é sinônimo de esgotar.
j) Apresentação da proposta de economia solidária, mas sem dar nomes ou cartilhas. O professor colocou na lousa a tabela abaixo. Apenas a primeira coluna encontrava-se preenchida.


Foi solicitado aos alunos, que eles preenchessem a outra coluna, com uma maneira alternativa. A coluna apresenta a síntese do que os alunos propuseram para o preenchimento.
g) O professor apresentou a seguinte questão para as classes:
“Vocês estabelecem alguma relação entre o primeiro filme, A Ilha das Flores, e esse último?”

As respostas foram variadas. O professor catalisou o processo de estabelecimento de relações entre eles, ao relembrar os seguintes trechos do documentário A História das Coisas:

a) A expulsão dos indivíduos de suas comunidades originais pelo processo de exploração dos recursos naturais.
b) A migração desses indivíduos para as cidades, gerando um grande exército de reserva de mão-de-obra.
c) Trabalhadores adultos e crianças exploradas durante o processo de produção do rádio portátil barato.

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