A Educação de Jovens e Adultos e o Trabalho Coletivo Autogestionário

Autora: Izabel Tavares Barbosa Machado
Orientadora: Professora Marineide do Lago Salvador dos Santos

 

 

AGRADECIMENTOS

A Deus, pelo amparo.
Aos professores, pela compreensão.
A todos os que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste curso.

 

SUMÁRIO

  • 1 – INTRODUÇÃO
  • 2 – ECONOMIA SOLIDÁRIA E CAPITALISMO
  • 3 – AUTOGESTÃO, HETEROGESTÃO E EJA
  • 4 – EJA EM SANTO ANDRÉ: POSSIBILIDADES
  • 5 – EDUCAÇÃO PARA UMA CULTURA SOLIDÁRIA
  • 6 – PRÁTICAS PEDAGÓGICAS INOVADORAS EM EJA
    Reflexão e discussão de princípios da economia solidária
    Plantio do milho verde
  • 7 – CONCLUSÃO
  • 8 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
  • 9 – APÊNDICES
    9.1 – Apêndice I – Texto: Assembléia na Carpintaria
    9.2 – Apêndice II – Atividades dos Alunos
  • 10 – ANEXOS
    10.1 – Anexo I – Caracterização da EJA – Plano Político Pedagógico
    10.2 – Anexo II – Princípios Norteadores da Ação Pedagógica – EJA

 

1 – INTRODUÇÃO

Este trabalho está centrado em apresentar a autogestão como forma de organização social que extrapola os muros da unidade econômica, tornando-se elemento fundamental do fazer cotidiano na produção da vida social.

Tal análise trará à luz, elementos presentes na economia solidária: a   participação, a organização, o trabalho coletivo autogestionário, entre outros. Este estudo fala também dos valores e questões fundamentais para a convivência em grupo. Conhecer melhor como a autogestão se situa nesta sociedade capitalista.

As experiências autogestionárias têm como base a propriedade social dos meios de produção, acompanhada de relações sociais que privilegiam o trabalho em detrimento do capital. Todos os trabalhadores se tornam governantes de si e de seu trabalho.

Estudar autogestão é importante, desde que se leve em conta o processo global da sociedade. Verificar que através de uma nova prática social, a realidade pode ser transformada ou conservada. Enfatizar a importância do trabalho coletivo autogestionário para a Educação de Jovens e Adultos, entendendo que é algo construído por intermédio de práticas e relações sociais democráticas, diferentes do individualismo inerente do capitalismo.

Os alunos da EJA são jovens e idosos que não tiveram oportunidade de escolarização nos anos adequados e hoje com baixa ou nenhuma escolaridade, tem menos chance de serem inseridos no mercado de trabalho capitalista.

Este estudo tem a participação dos alunos da Educação de Jovens e Adultos, da EMEIEF Carolina Maria de Jesus, em Santo André, nas atividades pedagógicas realizadas, nas reflexões e discussões referentes ao tema.

Durante a realização deste trabalho, o objetivo é fazer a análise crítica a respeito do que é trabalho coletivo autogestionário, dos conhecimentos essenciais e as decorrências de uma prática consciente, que relacionem e valorizem os saberes adquiridos com a realidade vivida pelos trabalhadores, no âmbito social.

Indicar para professores e alunos da Educação de Jovens e Adultos que é possível introduzir novas práticas no cotidiano e no trabalho de forma coletiva e autogestionária e que esse trabalho exige um constante aprendizado na Educação de Jovens e Adultos, porque nele todos são responsáveis pelas decisões e pela socialização dos resultados obtidos.

2 – ECONOMIA SOLIDÁRIA E CAPITALISMO

O capitalismo se tornou dominante há tanto tempo que tendemos a tomá-lo como normal ou natural. É uma economia de mercado competitiva, produzindo desigualdade crescente, verdadeira polarização entre ganhadores e perdedores. Para que tivéssemos uma sociedade em que predominasse a igualdade entre todos, seria preciso que a economia fosse solidária em vez de competitiva.

Segundo Singer (2010, p.24): “A economia solidária nasceu pouco depois do capitalismo industrial, como reação ao espantoso empobrecimento dos artesãos, provocado pela difusão das máquinas e da organização fabril da produção.”

Singer explica que:

A exploração do trabalho nas fábricas não tinha limites legais e ameaçava a reprodução biológica do proletariado. As crianças começavam a trabalhar tão logo podiam ficar de pé e as jornadas de trabalho eram tão longas que o debilitamento físico dos trabalhadores e sua elevada mortalidade e morbidade impediam que a produtividade do trabalho pudesse se elevar. (Singer,2010,p.24)

O sistema capitalista fica impregnado profundamente na existência dos homens de todas as classes sociais. Singer destaca como exceção o britânico Robert Owen como um dos industriais que começaram a propor leis de proteção aos trabalhadores. Singer (2010, p.24 e 25) afirma que: “Em vez de explorar plenamente os trabalhadores que empregava, Owen decidiu ainda na primeira década do século XIX, limitar a jornada e proibir o emprego de crianças, para as quais ergueu escolas.”

O raciocínio econômico de Owen era impecável, pois o maior desperdício, em qualquer crise econômica do tipo capitalista, é a ociosidade forçada de parcelas da força de trabalho. Há um efetivo empobrecimento da sociedade, que se concentra nas pessoas que foram excluídas da atividade econômica ou que estão inseridas de modo frágil. Com isso, a economia solidária, enquanto prática social precisa ser pensada. Todos devem trabalhar para a transformação da sociedade e essa nova economia se manifesta nas múltiplas frentes de engajamento dos trabalhadores.

Instrumentos fundamentais como a solidariedade, autogestão e a discussão organizada, constituem a base dessa nova economia. Portanto, a evolução da economia solidária está ligada à evolução da própria sociedade. A figura que sintetiza pensamento e ação nesta fase foi sem dúvida Owen, homem de ação e que inspiraria os seus sucessores.

Singer (2010, p.27) coloca que: “A primeira cooperativa owenista foi criada por George Mudie, que reuniu um grupo de jornalistas e gráficos em Londres e propôs que formassem uma comunidade para juntos viverem dos ganhos de suas atividades profissionais.”

Durante um longo período, foram criadas diversas cooperativas. Dando-se conta do seu caráter necessariamente social, a economia solidária busca a igualdade, sem eliminar as diferenças, ao contrário, valorizando-as, porém sem desigualdades. O estudo dessa nova forma de economia nos convida a refletir sobre as ações coletivas, onde todos os aspectos da realidade precisam ser reconhecidos.

A luta dos sindicatos contra os capitalistas na busca pelos direitos trabalhistas, utilizando as cooperativas operárias como armas para disputar-lhes o mercado, estava chegando ao auge em 1833, quando Owen apareceu, assumindo sua liderança. Eis que o cooperativismo já se arvorava como modo de produção alternativo ao capitalismo.

A história continua, as idéias antigas influenciam as contemporâneas. Fazendo uma análise, acredita-se que a economia solidária tem um papel importante no processo de humanização do homem e de transformação social. Singer afirma que:

Owen e Fourier foram ao lado de Saint-Simon, os clássicos do socialismo utópico. O primeiro foi, além disso, grande protagonista dos movimentos sociais e políticos na Grã-Bretanha nas décadas iniciais do século XIX. O cooperativismo recebeu deles inspiração fundamental, a partir da qual os praticantes da economia solidária foram abrindo seus próprios caminhos, pelo único método disponível no laboratório da história – o da tentativa e erro. (Singer 2010, p.38)

Uma economia da esperança, que transforma a economia da intolerância e da divisão de nossa sociedade, enquanto valoriza e reconhece a diversidade dentro da unidade. Caminhamos na proposta de uma mudança da própria função social da economia, destinada aos trabalhadores pela forma democrática que essa concepção traz. Trata-se de, à luz da história, planejar os próximos passos, associando teoria e prática a uma análise sócio-histórica.

Para Singer (2010, p.36): “O principal objetivo dessa organização social seria dispor o trabalho de tal forma que se tornasse atraente para todos, do que deveria resultar enorme aumento de produtividade e de produção.” A economia solidária é um processo e, portanto é o decorrer de um fenômeno no tempo, ou seja, é um fator histórico. Com grandes movimentos na história, tem um traço que é conceber essa economia como um processo em desenvolvimento pessoal e social.

No início do século XX, o movimento cooperativista se expandiu em termos quantitativos, mas qualitativamente é provável que o seu abandono tenha se acentuado. Singer (2010, p.110) explica que: “Surgiu uma classe operária que se acostumou ao pleno emprego (que vigorou nos países centrais entre as décadas de 1940 e 1970) e se acomodou no assalariamento.”

Tudo isso mudou a partir de 1970, quando o desemprego em massa começou nos países desenvolvidos. Nas décadas seguintes, grande parte da produção industrial mundial foi transferida para países em que as conquistas do movimento operário se realizaram parcialmente. O que provocou a crise dos países centrais e depois de países semi desenvolvidos como o Brasil (anos 90), eliminando milhões de postos de trabalho formal.

Ter um emprego em que seja possível gozar os direitos legais e fazer carreira passou a ser privilégio de uma minoria. A instabilidade no emprego se agravou e a competição e o individualismo entre os trabalhadores dentro das empresas para escapar da demissão se intensificaram. No sentido oposto, ressurgiu com força cada vez maior a economia solidária na maioria dos países.

Há indícios da criação em número cada vez maior de novas cooperativas e formas de produção associada em muitos países. O que distingue este “novo cooperativismo” é a volta aos princípios, o grande valor atribuído à democracia e à igualdade dentro dos empreendimentos, a insistência na autogestão e o repúdio ao assalariamento. Muitas pessoas sentem-se desafiadas a buscar um novo modelo de sociedade que supere o capitalismo, em termos de igualdade, liberdade e segurança para todos.

É nesse contexto que se verifica a reinvenção da economia solidária. Para uma faixa da população, construir uma economia solidária depende primordialmente dela mesma, de sua disposição de aprender e experimentar, de sua adesão aos princípios da solidariedade, da igualdade e da democracia e de sua disposição de seguir estes princípios na vida cotidiana, etc. (Singer, 2010, p.112)

A economia solidária foi concebida para ser uma alternativa superior ao capitalismo, por proporcionar às pessoas que a adotam, uma vida melhor: nos relacionamentos pessoais, na liberdade de cada um escolher o trabalho que lhe dá mais satisfação, no direito à autonomia na atividade produtiva, de não ter de se submeter a ordens alheias, de participar plenamente das decisões que o afetam.

A economia solidária foi concebida pelos “utópicos” como uma nova sociedade que unisse a forma industrial de produção com a organização comunitária da vida social. Singer descreve a concepção dessa economia:

É a concepção de que é possível criar um novo ser humano a partir de um meio social em que cooperação e solidariedade não apenas serão possíveis entre todos os seus membros mas serão formas racionais de comportamento em função de regras de convívio que produzem e reproduzem a igualdade de direitos e de poder de decisão e a partilha geral de perdas e ganhos da comunidade entre todos os seus membros. (Singer, 2010, p.116)

A economia solidária teria que gerar sua própria dinâmica em vez de depender das contradições do modo dominante de produção para lhe abrir caminhos. Hoje continuamos vivendo em uma sociedade em que a competição domina praticamente todas as áreas da atuação humana. No entanto, esta competição tem sido criticada por causa de seus graves efeitos sociais.

Cumpre observar, no entanto, que a reinvenção da economia solidária não se deve apenas aos próprios desempregados e marginalizados. Ela é obra também de inúmeras entidades. Estas dão apoio à economia solidária, difundem entre trabalhadores sem trabalho, os princípios do cooperativismo e o conhecimento básico necessário à criação de empreendimentos solidários. Além disso, estas entidades de apoio treinam os cooperadores em autogestão e acompanham as novas empresas, dando-lhes assistência tanto na realização de negócios como na construção de relacionamentos interno.

No Brasil, a invenção da economia solidária é recente. A maioria dos empreendimentos solidários foi criada como respostas a crises nas empresas, ao desemprego e à exclusão social. São invenções brasileiras: a Associação Nacional de trabalhadores de Empresas de Autogestão e de Participação Acionária (ANTEAG), UNISOL (União e Solidariedade das Cooperativas do Estado de São Paulo), UNITRABALHO e as Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares e Redes (ITPCS) inseridas em Universidades.

Serviço Público como a Prefeitura de Santo André, outras Prefeituras e alguns governos de estados têm parcerias com ITCPS, a ANTEAG, a UNISOL e outras entidades de fomento da economia solidária para capacitar beneficiados por programas sociais (renda mínima, frentes de trabalho) e outros programas congêneres, com o objetivo de combater a pobreza mediante a organização dos que o desejarem em formas de produção associada alcançar o auto-sustento mediante seu esforço produtivo.

O Brasil conta com a Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES) no MTE que mobiliza, articula e procura incluir demandas da Economia Solidária em políticas públicas, em programas municipais, estaduais e federais. Por ocasião do Primeiro Fórum Social Mundial, realizado em Porto Alegre em 2001, foi lançada a Rede Brasileira de Sócio – Economia Solidária integrada por diversas entidades de fomento da economia solidária de todo o país (FBES, FOMTES em Santo André e outras).

Experiências e exemplos de empreendimentos solidários como Mondragón na Espanha, Usina CATENDE em Pernambuco (Brasil), a CONAES (Conferência Nacional de Economia Solidária) e vários outros, são uma demonstração de que é possível construir circuitos eficientes de economia não capitalista.

A Educação de Jovens e Adultos pode ser a oportunidade para os alunos conhecerem, vivenciarem e perceberem uma nova forma de organização do trabalho, como as práticas escolares desenvolvidas neste trabalho, sugerem ser possível.

Inserir no currículo da Educação de Jovens e Adultos, a formação em economia solidária, levando em conta as diferentes concepções e práticas de solidariedade, para que as práticas pedagógicas propiciem reflexões e melhoria da qualidade de vida, incentiva a organização de trabalhadores em torno de um projeto econômico-social que privilegie a valorização do trabalho e não do capital, este que evidencia a exploração do trabalho e exclui através de um sistema opressor, que divide a sociedade entre compradores e vendedores de força de trabalho.

3 – AUTOGESTÃO, HETEROGESTÃO E EJA

A principal diferença entre economia capitalista e solidária é o modo como as empresas são administradas. A primeira aplica a heterogestão, ou seja, a administração hierárquica formada por níveis sucessivos de autoridade, nela as ordens e instruções vem de cima para baixo. A competição entre setores, embora sempre vise aumentar o lucro dos capitalistas, pode prejudicar a empresa.

A empresa solidária é administrada democraticamente, ou seja, pratica-se a autogestão. Para que esta se realize é preciso que todos os sócios se informem do que ocorre na empresa e das alternativas disponíveis para a resolução de cada problema. A autogestão exige um esforço adicional dos trabalhadores na empresa solidária: além de cumprir as tarefas a seu cargo, cada um deles tem de se preocupar com os problemas gerais da empresa. Singer afirma que:

A autogestão tem como mérito principal não a eficiência econômica (necessária em si), mas o desenvolvimento humano que proporciona aos praticantes. Participar das discussões e decisões do coletivo, ao qual se está associado, educa e conscientiza, tornando a pessoa mais realizada, autoconfiante e segura. É para isso que vale a pena se empenhar na economia solidária. (Singer, 2010, p.21)

Grande parte dos associados inicialmente se insere na economia solidária para escapar da pobreza. Muitos não chegam a apreciar as potencialidades da autogestão, aceitando-a, no máximo, como exigência coletiva para poder participar. A autogestão proporciona aos associados grande oportunidade de aprendizado, ao participar das discussões e decisões do coletivo.

Para Mello (2005, p.123): “A autogestão caracteriza-se como processo em construção no qual o trabalho e a relação entre as pessoas devem resgatar seu dimensionamento humano, envolvendo sujeitos que produzem e decidem.”

A autogestão é uma administração democrática onde os trabalhadores devem ter acesso à informação de tudo o que acontece na empresa. Autogestão significa autodeterminação e autonomia do coletivo dos trabalhadores diretamente envolvidos no trabalho. Tanto na autogestão quanto na economia solidária é indispensável que haja um processo permanente de autocrítica para desconstruir o que se quer superar, promovendo em seu lugar o novo e desejável: solidariedade no lugar de concorrência, convergência de esforços no lugar de competição e cooperação no lugar de individualismo.

A economia solidária coexiste com a economia convencional, que por sua vez é predominante e determinante das relações econômicas e sociais. Promover autogestão significa revolucionar o modo convencional de gestão e de economia. A autogestão é um movimento e uma forma organizacional de empreendimentos coletivos, em que se combina a cooperação do conjunto dos trabalhadores diretamente envolvidos com o poder de decisão.

Entre as empresas solidárias, a autogestão se pratica tanto mais autenticamente quando mais sócios são militantes sindicais, políticos e religiosos. Esses avanços anti-autoritários e democráticos fazem com que as novas gerações sejam menos reprimidas e passivas que as de seus pais e avós.

Tudo isso está por detrás da atual ênfase na autogestão em quase todos os campos de interação social, mesmo que cresça ainda mais o número dos desempregados e excluídos sociais, ou que estão ameaçados de o serem, e que recorrem à economia solidária para se reinserir num sistema cujos princípios organizativos aceitam como “naturais”. Singer coloca que:

Tanto a autogestão como a heterogestão apresentam dificuldades e vantagens, mas seria vão tentar compará-las para descobrir qual delas é a melhor. São duas modalidades de gestão econômica que servem a fins diferentes. A heterogestão parece ser eficiente em tornar empresas capitalistas competitivas e lucrativas, que é o que seus donos almejam. A autogestão promete ser eficiente em tornar empresas solidárias, além de economicamente produtivas, centros de interação democráticos e igualitários (em termos), que é o que seus sócios precisam. (Singer, 2010, p. 23)

Na democracia participativa ou autogestionária, a lógica é totalmente diferente do capitalismo. Para que o sistema funcione é preciso atrair o maior número possível de pessoas, mas sem discriminação de opinião, desejando, ao contrário, que essas populações que participarão, estejam representando uma ampla gama de experiências e opiniões diferentes.

Hoje, no campo da denominada economia solidária, mantém-se como foco de atividade a promoção de autogestão nos empreendimentos de produção e de serviços, sejam fábricas, sejam empreendimentos populares.

As experiências de autogestão de alguma forma representam, mais do que esperança de desdobramentos, perspectivas concretas dos empreendimentos se afirmarem no mercado com viabilidade e autonomia. Isto é, de viver não apenas à margem, na penumbra do mercado, mas tornando concretas suas potencialidades de consolidação numa realidade tão competitiva e excludente. (Mello, 2005, p. 120)

As pessoas não são naturalmente inclinadas à autogestão como não o são à heterogestão. No contexto do capitalismo aprende-se a obedecer aos “superiores” desde os bancos escolares num processo educativo que prossegue a vida inteira, até mesmo na Educação de Jovens e Adultos. A escola reprime os impulsos e obriga os alunos a obedecer a horários, a ficarem quietos e imóveis durante a aula, a decorar coisas que nada lhes dizem e a renunciar a satisfazer boa parte de suas curiosidades. As imposições e repressões da família patriarcal vão na mesma direção.

Promover autogestão requer desenvolvimento de práticas adequadas para a superação da lógica tradicional de dominação e exclusão. De acordo com a I Oficina Nacional de Formação/Educação em Economia Solidária promovida pela SENAES/MTE: “Um desafio da educação é criar um espírito investigativo coletivo, capaz de envolver todos os atores dos processos de formação. Por meio do diálogo, a autoridade do educador é validada na própria prática pedagógica.” Para isso, é necessário o respeito ao outro em todas as suas diferenças: religiosas, gênero, sexuais, etc., em todos os níveis de ensino, devendo ser uma especificidade da  Educação de Jovens e Adultos, direcionada para pessoas que não tiveram a formação escolar no momento adequado da vida

A I Oficina Nacional de Formação/Educação em Economia Solidária destaca:

A aprendizagem deve ser construída coletivamente, considerando os diferentes saberes e práticas. Portanto, o processo pedagógico é uma construção coletiva do conhecimento pelos sujeitos e ter uma concepção de educação que leve em conta a totalidade do ser humano. (SENAES/MTE)

É muito importante que esta concepção seja adotada para a formação em Economia solidária, na sala de aula da Educação de Jovens e Adultos. Esse processo educativo fundamenta-se na democratização do conhecimento, contribuindo para que todas as pessoas envolvidas, (professores e educandos) reconhecidas como sujeitos do conhecimento, possam resgatar os sentidos do trabalho, construindo sua autonomia como atores econômicos, tenham inserção diferenciada no mundo do trabalho e sejam construtores de história e de cultura.

4 – EJA EM SANTO ANDRÉ: POSSIBILIDADES

Neste item será focalizada a realidade da EJA em Santo André. A Educação de Jovens e Adultos da EMEIEF Carolina Maria de Jesus, situada numa região popular do município de Santo André, totaliza um atendimento aproximado a 250 alunos. Estes moram nos arredores da escola e bairros vizinhos.

Segundo a Caracterização da Educação de Jovens e Adultos desta EMEIEF (Anexo I), dos alunos, 75% vieram de outros estados do Brasil e todos não concluíram seus estudos ou necessitaram abandoná-los por motivos pessoais ou de trabalho. A faixa etária desses alunos está entre 15 e 78 anos. Dos alunos citados, 23 são acompanhados pela Educação Inclusiva.

A relação entre os alunos e professores demonstra ser de respeito e cooperação. As aulas acontecem de maneira a contemplar as expectativas de aprendizagem dos alunos. Essas expectativas estão voltadas para manter ou melhorar a condição no emprego, buscar um novo emprego e realização pessoal.

Ao considerar o homem um sujeito social, inacabado e único, a Educação de Jovens e Adultos da rede municipal de Santo André permeia seu trabalho pela interação entre os diferentes indivíduos, pela permanente construção do conhecimento e pelo respeito à individualidade e saberes de cada educando.

De acordo com os Princípios Norteadores da Ação Pedagógica / Didática da EJA de Santo André, (Anexo II): “A Educação de Jovens e Adultos deve contemplar todas as áreas do conhecimento de tal maneira que o aluno se perceba como sujeito da história e encontre nos conteúdos trabalhados, a tradução do seu dia a dia num contexto particular e social.”

Pensando nessa perspectiva, que a Educação de Jovens e Adultos deve  repensar o currículo de forma a considerar a inclusão social, oportunizando todos os alunos a perceber-se como cidadão e construtor de conhecimentos no seu cotidiano.

A sociedade atual exige cada vez mais indivíduos preparados e atuantes, que tenham compreensão da tecnologia para interagir com o mundo e desenvolva a capacidade de aprender tendo como meios básicos, o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo. A Educação de Jovens e Adultos enfrenta desafios, administra crises e deve procurar meios de solução, de forma criativa, prática e eficiente.

A EJA tem como objetivos (vide Anexo II), orientar e subsidiar o aluno no seu desenvolvimento pessoal, cultural e social, possibilitando que o mesmo melhore sua qualidade de vida. Desenvolver sua autonomia e capacidade de reflexão utilizando o conhecimento na escola e em suas práticas cotidianas.

Que o aluno possa perceber com mais clareza a forma de funcionamento da sociedade como um todo em seus múltiplos aspectos, para que possa ampliar a capacidade de entendimento e consciência política. Estabelecer uma relação de igualdade entre todos, respeitando as diferenças sócio-culturais, gênero, geração e etnia presente na escola e nas demais situações cotidianas.

Construir uma base sólida e articulada tanto de conhecimentos quanto de habilidades, que possibilite avanços nos estudos, a busca por seu próprio desenvolvimento e a resolução de problemas, a fim de realizar atividades produtivas em diferentes áreas na sociedade. Reconhecer as habilidades e potencialidades para construir planos/projetos em sua vida.

Que o aluno possa perceber seu valor e sua importância enquanto ser humano, resgatando sua dignidade e auto-estima, valorizando as experiências de vida. Compreender a história da civilização e sua evolução como resultado de ação humana em todo tempo e espaço. Contribuir para que o aluno perceba a importância de suas ações na relação homem-natureza, compreendendo aspectos preventivos, naturais e físicos, buscando melhoria da qualidade de vida e do meio ambiente. (Princípios Norteadores da Ação Pedagógica da EJA de Santo André – Anexo II)

Para Moreira (1995): “Democracia, solidariedade e autonomia são valores, constantemente, buscados e discutidos e devem fazer parte do currículo”. É importante situar conceitualmente a economia solidária, verificando as possibilidades para integração de conteúdos e práticas da economia solidária no currículo da Educação de Jovens e Adultos, devendo incluir a possibilidade e prática do aprendizado da democracia, pois as relações sociais dessa forma de produção pautam-se pela prática da democracia na tomada de decisões.

Para isso, há a necessidade de mudança educacional, pois esta economia precisa de que os seres humanos se considerem sujeitos da ação, superando a mentalidade submissa que o capitalismo desde sua origem, vem por meio de várias instituições, inclusive da escola, impondo aos trabalhadores, pela definição de uma determinada visão de homem e de sociedade.

A “síntese de perspectivas” favorece a tendência de transformação do presente. A esse currículo é preciso, pois, aliar uma perspectiva de planejamento participativo e conscientemente, tomado como processo permanente, em construção juntamente com o currículo, cujo detalhamento vai sendo feito no próprio processo de planejar/fazer as atividades pedagógicas. (Kruppa,2005)

A Educação de Jovens e Adultos deve reforçar espaços e atividades que proporcionem aos participantes a vivência de princípios norteadores de um processo educativo marcado por práticas coletivas e solidárias com participação e envolvimento, exercício da democracia, buscar conjuntamente as soluções para os problemas e construção do coletivo.

Ampliar o trabalho da EJA, baseado em diversos princípios da economia solidária, permeados pela interdisciplinaridade e por uma aproximação da realidade. Proporcionar aos alunos e professores visão crítica e busca de uma educação que não seja mero treinamento. Os professores devem procurar fazer com que o aluno perceba que pode articular o conhecimento que já possui e os novos conhecimentos. Para isso, a educação é uma peça fundamental. É uma ferramenta para as pessoas buscarem meios de saírem das armadilhas impostas na sociedade.

Os docentes da Educação de Jovens e Adultos devem valorizar as experiências dos alunos relativas à vida, ao mundo do trabalho e a sua própria sobrevivência. Assim como realizar troca de experiências entre os alunos e professores. Mostrar a importância do trabalho em grupo, em que um ajuda o outro.

A Educação de Jovens e Adultos deve ser referência na cidadania e capacitar os alunos para intervenção na realidade. Ela deve garantir um aprendizado que dê condições do trabalhador pensar o seu país, a sua cidade, e assim por diante, complementando os conhecimentos nas áreas de estudo com conhecimentos de cidadania. Articular a formação para o trabalho com a formação geral, tendo como base uma concepção de educação que contribua na formação de um cidadão criativo, crítico, solidário e com capacidade de intervenção nos processos sociais.

O aluno trabalhador deve ser considerado um sujeito que traz experiências de vida e conhecimentos acumulados; um sujeito fazedor de História, que intervém na realidade e que se constrói nas ações coletivas.

A esses princípios devem se articular os conteúdos. A proposta curricular para Economia Solidária exige um “currículo em ação” onde, a cada passo, escolhas e procedimentos são revistos. Nessa concepção, currículo é confronto coletivo de saberes: o saber escolar/seleção de conteúdos do saber sistematizado e o saber popular, que o aluno/coletivo representa e que é o resultado das formas pouco ou nada sistematizadas, que as classes populares criam na vivência cotidiana dos problemas que enfrentam. (Garcia, 1984)

Como já foi argumentado anteriormente, a prática da economia solidária exige que as pessoas que foram formadas no capitalismo sejam reeducadas. Essa reeducação tem de ser coletiva. Representa um desafio pedagógico. A pedagogia da economia solidária requer a criação de situações em que a reciprocidade surge espontaneamente. Hoje A economia solidária assume variadas formas e em cada uma delas, há um aprendizado a ser feito.

Faz-se necessário questionar a escola e propor o desafio da mudança, pois muitas vezes, a escola fica envolta pela rotina e fechada em muros, não tendo sensibilidade para o movimento da vida, distante dos problemas e das alternativas que a população cria para sobreviver. A Educação de Jovens e Adultos deve olhar a realidade dos trabalhadores e a contradição da sociedade que produz miséria e riqueza e isso exige um longo trabalho.

Na Educação de Jovens e Adultos há ainda os conteúdos escolares hierarquizados e segmentados na grade curricular de aulas. O conhecimento circunscrito pelas disciplinas escolares. A visão da totalidade do real perde-se nessa fragmentação. Alguns projetos de trabalho realizados na Educação de Jovens e Adultos têm procurado superar a fragmentação curricular. É fundamental pensar uma escola que permita pluralidade de saberes.

É entrando nessa engrenagem que a Educação de Jovens e Adultos deve ampliar seu currículo, numa proposta de formação, que dê oportunidade de fala e expressão aos trabalhadores e que reflita essa nova forma de produzir a vida e uma nova escola.

O trabalho realizado na Educação de Jovens e Adultos precisa ter continuidade, e que a articulação entre educação e trabalho se estenda, com uma perspectiva de educação que vá mais além de adequar os jovens e adultos às necessidades do mercado capitalista, que abra caminhos para descortinar outros mercados, outras relações sociais e que incentive os estudantes que desejarem se integrar em atividades no campo da economia solidária, para que alcance o auto- sustento mediante seu esforço produtivo. Para tanto, é fundamental contar com apoios fora da escola, que pode partir da administração pública e entidades que dêem suporte para efetivação dos projetos.

5 – EDUCAÇÃO  PARA UMA CULTURA SOLIDÁRIA

Uma das características mais marcantes da economia solidária é o seu sistema de gestão, distinto do setor privado capitalista. O que define a autogestão são as relações sociais democráticas, coletivistas e igualitárias, se configura em um espaço privilegiado para a experimentação social e a realização de ações pedagógicas. Trata-se de uma mudança profunda de valores e princípios que orientam o comportamento humano. Entende-se que a solidariedade não pode estar separada da autogestão. O modelo da autogestão é baseado na democracia participativa.

Fica claro que a prática de economia solidária e Autogestão exige que as pessoas que foram formadas no capitalismo sejam reeducadas. Essa reeducação tem de ser coletiva. Essa reeducação coletiva representa um desafio pedagógico. Segundo Singer:

A prática da economia solidária exige que as pessoas que foram formadas no capitalismo sejam re-educadas. Essa re-educação coletiva representa um desafio pedagógico (…). O verdadeiro aprendizado dá-se com a prática, pois o comportamento econômico solidário só existe quando é recíproco.  Trata-se de uma grande variedade de práticas de ajuda mútua e de tomadas coletivas de decisão cuja vivência é indispensável para que os adultos possam aprender o que deles se espera e o que devem esperar dos outros (Singer, 2005, p. 16).

A economia solidária é um ato pedagógico, por isto é necessário construir uma pedagogia da economia solidária para a Educação de Jovens e Adultos, que considere as necessidades dos alunos e contribua para que sejam incluídos no mercado de trabalho. As pedagogias clássicas não dão conta das riquezas dessa nova realidade, econômico e política que está se construindo hoje. O ensino da autogestão é um exemplo prático. Não dá para ensinar a autogestão com “lições de autogestão”, como não dá para ensinar democracia com “lições de democracia”. Essa é uma pedagogia a ser construída com a prática. Como adverte Paulo Freire: “Ninguém ensina nada a ninguém. Aprendemos juntos, em comunhão”. Não se trata apenas de oferecer cursos. Trata-se de construir valores e uma cultura, juntos. Para Gadotti:

Em qualquer tipo de formação é importante despertar a confiança dos educandos. E isso se consegue na medida em que os educadores não se distanciam dos educandos. A economia solidária baseia-se na ajuda mútua e esse princípio pedagógico da reciprocidade e da igualdade de condições – exigências de todo diálogo verdadeiro – entre educador e educando, deve ser levado em conta, sobretudo na formação em economia solidária (Gadotti, 2009 p.36 e 37).

Precisamos aprender com nossos próprios erros e acertos. Sem dúvida, a economia solidária é um embrião de uma nova sociedade. Combinar adequadamente diferenças individuais e igualdade de direitos e deveres é um dos principais segredos na cultura solidária e é, também, um dos principais desafios da formação na economia solidária.

Outra dimensão da educação para uma cultura solidária é o respeito e a valorização da diversidade cultural. Trata-se de não impor padrões culturais, mas de compartilhá-los, valorizá-los, não estabelecendo uma relação de hierarquia entre eles. Gadotti (2009, p.45) afirma que: “O desenvolvimento humano é o resultado de um trabalho em comum, na evolução da teia da vida. Essa oportunidade de se desenvolver, o ser humano a encontra na educação e na cultura. Cada indivíduo para se desenvolver necessita da colaboração do outro”.

Uma educação para a cooperação, uma educação para a solidariedade. É uma condição humana necessária para o desenvolvimento pessoal e social. Respeitar os talentos de cada um, valorizá-los e promovê-los, é um dever educacional e uma responsabilidade social e política de todos. Vislumbramos uma pedagogia que contribua não apenas para questionar e driblar a perversa lógica excludente do mercado capitalista, mas também para cultivar no interior da sociedade de classes, uma cultura do trabalho que contrarie a lógica do capital. Portanto, reivindicamos o (re) encontro entre trabalho e educação.

Lia Tiriba em Educação Popular e Pedagogia(s) da Produção Associada afirma que: “No Brasil, os trabalhadores urbanos têm em média quatro anos de escolaridade, ou seja, além de terem sido expulsos de um mercado, foram expulsos precocemente da escola.” Pouco tem avançado em projetos de formação humana que supere os muros do mercado capitalista de trabalho. Um dos desafios é articular trabalho e educação. Ainda são poucos os estudos que vêm tentando articulação desses dois campos de conhecimento e de ação.

A concepção de Educação de Jovens e Adultos deveria ter como um de seus objetivos: questionar a atual lógica excludente do mercado e, como conseqüência, criar alternativas para ela. Outro aspecto a se considerar num processo educativo que redimensione a racionalidade econômica é como pensar numa gestão de maneira a garantir – horizontalmente – o exercício de falar, escutar, duvidar, criticar, sugerir e decidir. Tiriba explica que:

Na busca incessante para ganhar o pão de cada dia, o trabalho torna-se não apenas um princípio educativo, mas também um fim educativo. Os trabalhadores têm aprendido na “escola da vida” que não tem sido suficiente reivindicar do Estado seus direitos mínimos de cidadania. O abandono do Estado em relação às necessidades básicas de alimentação, moradia, educação etc., tem influenciado na construção de uma cidadania ativa. (Tiriba, p.5)

Entendemos que os processos pedagógicos também se constituem como um elemento da cultura do trabalho. Referimo-nos a uma perspectiva de educação que vai mais além de adequar os jovens e adultos às necessidades do mercado (capitalista) – mercado este excludente. Que abra caminhos para descobrir outros mercados, outras relações sociais, cuja racionalidade está baseada na reprodução da própria vida. Isso implicaria um processo educativo, enfrentando desafios nas turmas da Educação de Jovens e Adultos, envolvendo a rede pública de ensino, para que contribua para a formação integral dos trabalhadores.

Vislumbramos um processo educativo que tem como ponto de partida a ação-reflexão-ação e a sistematização do cotidiano do trabalho e da vida, tendo como ponto provisório a busca de novos valores e práticas que permitam transformar continuamente as relações de convivência na comunidade. Devemos repensar a escola e ampliar os espaços educativos que promovam novos saberes e novas práticas sociais.

A Educação de Jovens e Adultos pressupõe que os trabalhadores possam freqüentar uma escola para sistematizar seus conhecimentos e ali buscar novos saberes que contribuam para dar sentido ao seu trabalho e à vida em sociedade. Uma nova prática produz novos conhecimentos, novos valores, em um processo permanente em que o próprio educador também precisa ser educado.

A seguir, apresento práticas pedagógicas em sala de Educação de Jovens e Adultos, por considerar importante fazer a relação da Educação de Jovens e Adultos com a economia solidária, proporcionar aos alunos momentos de reflexão e discussão e que sirva de suporte e informações para a formação de grupos cooperados de trabalho, que se organizarão nos moldes da Economia Solidária.

PRÁTICAS PEDAGÓGICAS INOVADORAS EM EJA

  • Reflexão e discussão de princípios da economia solidária
  • Plantio do milho verde

CONCLUSÃO

Este estudo demonstra que podemos incentivar os alunos da Educação de Jovens e Adultos a buscar uma forma de organização social e econômica que ultrapasse as potencialidades oferecidas à humanidade pelo capitalismo, superando as desigualdades que lhe são inerentes.

Este trabalho aponta que uma nova sociedade pode ser construída na barriga do atual sistema. Trata-se de implantar princípios de uma convivência solidária no interior da Educação de Jovens e Adultos e da sociedade injusta em que nascemos e lutamos. É necessário acreditar na solidariedade e na capacidade do ser humano ver o semelhante, o outro, como parceiro e amigo, não como rival e competidor.

Os textos e experiências citados nesta pesquisa evidenciam provas de que é possível construir circuitos eficientes de economia não capitalista, defendendo a ideia de que a Economia Solidária pode ser uma alternativa superior ao capitalismo por proporcionar às pessoas uma vida melhor, com solidariedade e igualdade.

O trabalho mostra que a economia solidária é um ato pedagógico, na medida em que propõe nova prática social e um entendimento novo dessa prática. Ampliar o currículo da Educação de Jovens e Adultos nos moldes da economia solidária proporciona aos participantes (professores e alunos), a vivência de princípios norteadores de um processo educativo marcado por práticas coletivas, democráticas e solidárias.

Vimos que é importante buscar uma educação para os jovens e adultos que não seja mero treinamento, mas fazer com que todos os envolvidos no processo (comunidade escolar), tenham uma concepção de educação que contribua na formação de um cidadão criativo, crítico, solidário e com capacidade de intervenção em processos sociais.

Verificamos no decorrer do trabalho que esta articulação de saberes muitas vezes é conflituosa, pois os saberes são contextualizados nos problemas/características históricas do Brasil e do mundo atual.

Observamos neste trabalho a importância de repensar o currículo da Educação de Jovens e Adultos e de ampliar os espaços educativos que promovam novos saberes e novas práticas sociais. Seria ingenuidade imaginar que os professores têm grandes conhecimentos e experiências sobre os dilemas e desafios que a economia capitalista impõe à sociedade e que muitas vezes se vêem inaptos para assessorar os alunos trabalhadores sobre os rumos de seus projetos de vida e de trabalho. É fundamental buscar mais apoios para as práticas fora da escola, em instituições que exploram a economia solidária. Este Curso de Pós Graduação em Educação de Jovens e Adultos e Economia Solidária, promovido pela parceria da Universidade Federal do ABC, MEC, municípios e entidades de apoio foi muito importante para a formação de professores. Que este estudo feito sirva de referencial para aplicação desses novos conhecimentos nos programas de Educação de Jovens e Adultos, MOVA, Brasil Alfabetizado e outros projetos congêneres, para enriquecer a vivência de professores e alunos jovens e adultos nas Unidades Escolares. Portanto, os resultados desse projeto, requerem divulgação.

Pensamos que é necessária, a continuidade deste Curso, para formação de novos professores em economia solidária, mostrando que esta nova prática social produz novos conhecimentos, novos valores, em um processo permanente em que professores precisam também ser reeducados.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DOCUMENTO FINAL. I Oficina Nacional de Formação/Educação em Economia Solidária: Brasília: MTE, SENAES, SPPE, DEQ, 2006.
ECONOMIA SOLIDÁRIA. Uma aproximação ao Programa Supletivo Profissionalizante – “Educação dos trabalhadores pelos trabalhadores”.
GADOTTI, Moacir. Economia Solidária como Práxis Pedagógica. Editora Livraria Instituto Paulo Freire, (Série Educação Popular). SP, 2009.
GARCIA, Regina Leite. Um Currículo a favor dos alunos das Classes Populares. Caderno Cedes, v.13. Campinas. SP: 1984.
JESUS, EMEIEF Carolina Maria. Plano Político Pedagógico. Santo André. SP: 2012
KRUPPA, Sonia M. Portella. Economia Solidária e Educação de Jovens e Adultos. Brasília: INEP, 2005.
MAZZEU, Francisco José Carvalho. Economia Solidária: Caderno do Professor. São Paulo: UNITRABALHO; MEC; SECAD, 2007. Coleção Cadernos de EJA.
MELLO, Sylvia Leser de (org.). Economia Solidária e autogestão: Encontros Internacionais. In VERARDO, Luigi. Construindo autogestão e parceria solidária. São Paulo: NESOL/USP, 2005
MOREIRA, Antônio Flávio Barbosa. Escola, Currículo e Construção do Conhecimento: novas reflexões. Cadernos Pedagógicos 5. Secretaria Municipal de Educação. Porto Alegre, Maio de 1995.
SINGER, Paul. Introdução à Economia Solidária. 4 reimpressão. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2010.
SINGER, Paul e SOUZA, André Ricardo (organizadores). A Economia Solidária no Brasil – A Autogestão como resposta ao Desemprego. SP: Contexto, 2000.
SINGER, Paul. Uma Utopia militante. Repensando o Socialismo. Petrópolis, RJ: Vozes, 2 ed, 1999.
SINGER, Paul. A Economia Solidária como ato pedagógico. In KRUPPA, Sonia M. P. Educação de Adultos e Economia Solidária. Brasília: INEP, 2004.
TIRIBA, Lia. Educação Popular e Pedagogia (s) da Produção Associada. 2005
VERARDO, Luigi. Construindo autogestão e parceria solidária. In: SINGER, Paul. São Paulo: NESOL / USP, 2005.

 

APÊNDICES

9.1 – Apêndice I – Texto: Assembléia na Carpintaria
9.2 – Apêndice II – Atividades dos Alunos

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ANEXOS

ANEXO I – CARACTERIZAÇÃO DOS ALUNOS DA EJA I E II

A Educação de Jovens e Adultos da EMEIEF Carolina Maria de Jesus está composta por 11 salas, sendo que cinco destas salas são de EJA I (duas no horário vespertino e três no horário noturno) e seis salas de EJA II (no horário noturno) totalizando um atendimento aproximado de duzentos e noventa alunos.

Os alunos moram nos arredores da escola em bairros como J. Irene e Vila João Ramalho. Dos alunos, 75% vieram de outros estados do Brasil e todos os alunos não concluíram seus estudos ou necessitaram abandoná-los por motivos pessoais ou de trabalho. A faixa etária desses alunos está entre 15 e 81 anos. Dos alunos citados anteriormente, 13 recebem acompanhamento pela Educação Inclusiva, podendo este número ser alterado por evasão e/ou novas matrículas.

As atividades com finalidade financeira que esses alunos desenvolvem são: profissionais autônomos, ambulantes, domésticas, metalúrgicos, trabalhadores no comércio, dentre outros. Há também em nossa escola alunos que estão desempregados e donas de casa.  Como atividades desenvolvidas em momentos de lazer os alunos citam: participação no centro comunitário, atividades físicas/esportes, participação na igreja.

O principal meio de transporte utilizado pelos alunos é o ônibus coletivo. O Sistema de Saúde Pública é utilizado pela maioria dos alunos.

Grande parte das atividades de lazer, contempladas pelos estudantes acontecem dentro do espaço da Unidade Escolar e/ou em alguns momentos, visitas pedagógicas pré-estabelecidas pelos professores no início do ano letivo, como peças teatrais, SABINA, museus, Parque Escola e outros que venham ao encontro das necessidades pedagógicas dos estudantes.

Nossa UE conta com um quadro de funcionários para atender a comunidade no período noturno composto por 14 professores, 01 assistente pedagógico da EJA, 01 vice- diretor e 01 diretor de unidade escolar.  Contamos com a parceria da professora assessora de educação inclusiva Viviane, que acompanha os alunos e subsidia os professores em suas atividades duas vezes por semana.
A relação entre os alunos e professores demonstra ser de respeito e cooperação. As aulas acontecem de maneira a contemplar as expectativas de aprendizagem dos alunos. Essas expectativas dos alunos estão voltadas para manter ou melhorar a condição no emprego, buscar um novo emprego, realização pessoal e socialização.

Importante destacar que esta Unidade Escolar faz parte de um CESA (Centro Educacional de Santo André), composto pela EMEIEF, por um Centro Comunitário e uma Creche. A integração dos três equipamentos traz grandes melhorias educacionais, culturais e sociais para comunidade.

ANEXO II
PRINCÍPIOS NORTEADORES DA AÇÃO PEDAGÓGICA / DIDÁTICA  EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

PREFEITURA DE SANTO ANDRÉ
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO PROFISSIONAL
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

Concepção da Educação de Jovens e Adultos

Ao considerar o homem sujeito social, inacabado e único, a EJA deve permear seu trabalho pela interação entre os diferentes indivíduos, pela permanente construção do conhecimento e pelo respeito à individualidade e saberes de cada educando. Dessa Forma, a EJA deve contemplar todas as áreas do conhecimento de tal maneira que o aluno se perceba como sujeito da história e encontre nos conteúdos trabalhados, a tradução do seu dia a dia num contexto particular e social.

Objetivos da Educação de Jovens e Adultos
EJA I – Alfabetização e Pós Alfabetização

– Enfrentar desafios, administrar crises, procurando novos meios de solução, de forma criativa, prática e eficiente.
– Utilizar as novas tecnologias para interagir com o mundo, selecionando-as e adequando-as às novas situações.
– Utilizar a pesquisa como fonte de aperfeiçoamento e aprofundamento de seus saberes.
– Ser capaz de utilizar procedimentos básicos como observação, descrição, registro, comparação, análise e síntese na coleta de tratamento de informação mediante várias fontes.
– Orientar e subsidiar o aluno no seu desenvolvimento pessoal, cultural e social, possibilitando que o mesmo melhore a qualidade de vida.
– Criar condições para desenvolver sua autonomia e capacidade de reflexão num processo dialético, utilizando o conhecimento na escola em suas práticas cotidianas.
– Perceber com mais clareza a forma de funcionamento da sociedade como um todo em sues múltiplos aspectos, para que possam ampliar sua capacidade de entendimento e sua consciência política.
– Compreender as diferentes operações matemáticas e utilizar-se destas para a resolução de diferentes problemas práticos e teóricos.
– Adquirir conhecimentos específicos na área de atuação a fim de que desenvolvam novas habilidades e possam prosseguir o curso no ano seguinte.
– Estabelecer uma relação de igualdade entre os colegas, respeitando as diferenças sócio-culturais, gênero, geração e etnia presente no grupo e nas demais situações cotidianas.
– Construir uma base sólida e articulada tanto de conhecimentos quanto de habilidades que possibilite o avanço nos estudos, a busca por seu próprio desenvolvimento e a resolução de problemas, a fim de realizar atividades produtivas para si próprias e para os outros em diferentes áreas em que atua.
– Expressar suas idéias com clareza e argumentos de forma que todos possam compreendê-las.
– Reconhecer as habilidades e potencialidades para construir planos/projetos em sua vida, considerando as reais possibilidades para a realização do mesmo.
– Perceber seu valor e sua importância enquanto ser humano, resgatando sua dignidade e auto-estima, valorizando sua experiência de vida.
– Dominar instrumentos básicos da cultura letrada, que lhes permitam melhor compreender e atuar no mundo em que vive.
– Utilizar o computador como recurso didático significativo para a aprendizagem e desenvolvimento individual, considerando que esta aprendizagem está relacionada com a funcionalidade e sua aplicabilidade no dia a dia.
– Compreender a história da Civilização e sua evolução como resultado de ação humana em todo tempo e espaço.
– Contribuir para que o aluno perceba a importância das suas ações na relação homem-natureza, compreendendo aspectos preventivos, naturais e físicos, buscando melhoria da qualidade de sua vida quanto do meio ambiente.