Ficha Síntese da Prática Pedagógica
Objetivos da Prática Pedagógica:
discutir com os alunos aspectos relevantes da propaganda para o público em geral; promover debates sobre os meios e linguagens de comunicação; questionar as imagens utilizadas nos anúncios e analisar os anúncios e os textos, desconstruindo o conceito de que se trata de algo difícil de ser produzido.
Característica do grupo a quem foi aplicada a prática:
a turma é bem heterogênea, sendo composta basicamente por adolescentes, adultos, idosos e pessoas com necessidades educacionais especiais em fase de alfabetização e pós-alfabetização.
Dinâmica de trabalho adotada na prática pedagógica:
apresentação e discussão sobre a propaganda e seus efeitos para a sociedade. Conversa com os alunos sobre o tema, apresentando algumas definições. Análise de anúncios publicitários, focando as mensagens subliminares em relação às imagens e os textos. Criação de novos textos para os anúncios analisados.
Recursos necessários para aplicação:
anúncios de revistas para análise; computador para leitura e apresentação de definições importantes para a compreensão da atividade; folhas de papel sulfite para a produção dos novos textos.
Breve currículo das autoras da prática pedagógica:
Cristina da Silva Ferreira e Célia Aparecida Borges – professoras de Alfabetização e Arte do CIEJA Butantã.
Para o desenvolvimento dessa primeira atividade, levantamos os seguintes objetivos: discutir com os alunos aspectos relevantes da propaganda para o público em geral; promover debates sobre os meios e linguagens de comunicação; questionar as imagens utilizadas nos anúncios; e analisar os anúncios e os textos, desconstruindo o conceito de que se trata de algo difícil de ser produzido. O tema “propaganda” foi apresentado com o levantamento dos conhecimentos prévios dos alunos.
Os prós e os contras foram relacionados e debatidos, a fim de se possibilitar uma visão mais crítica dos alunos. Esboçou-se, em seguida, uma proposta de trabalho com base na análise dos anúncios publicitários coletados por eles e apresentados em classe, que englobaria a recriação de propagandas a partir de alguns produtos já conhecidos, transformando seu texto em algo novo e criativo.
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO
Após uma conversa inicial sobre propaganda, utilizou-se o dicionário para um aprofundamento do significado. Foi indagado aos alunos se eles sabiam explicar de que maneira as propagandas poderiam ser utilizadas pelos meios de comunicação. Chegou-se a um consenso de que a função da propaganda seria a de apresentar informações sobre produtos, mas que poderia também servir a outros propósitos menos evidentes, como influenciar decisões e opiniões, sobretudo em assuntos políticos:
A propaganda pode apresentar informações sobre produtos, marcas, empresas, políticas, instituições, etc. visando muitas vezes influenciar a atitude das pessoas por uma causa, posição ou atuação.[1]
As alunas Vera e Neuza acreditavam que a propaganda instigava o consumidor a cobiçar algo: “Se você vê uma propaganda bonita, vai querer comprar para experimentar aquele produto”; “e com certeza a pessoa vai à loja e pede para ver aquele produto que passou na TV e exige que seja exatamente como estava na propaganda”.
Outros alunos discutiam sobre a influência da propaganda na vida das pessoas, principalmente na política. O aluno Paulo comentou: “E a propaganda política? Essa é enganosa, não é? Ela engana as pessoas, a gente vai lá e vota e depois descobre que era mentira”.
Entende-se como propaganda enganosa
aquela que induz o público a um erro, mostrando características e vantagens que um determinado produto não tem. Existe também a propaganda enganosa abusiva. Esta, muito mais grave, pois funciona como forma de induzir o consumidor a um comportamento prejudicial, incitando, muitas vezes, à violência, desumanizando as pessoas, explorando o medo, criando aversão contra um grupo em especial, entre outras coisas. [2]
Nesse momento os colegas foram expondo suas opiniões sobre o assunto, principalmente com relação à política e aos candidatos que utilizam a propaganda para influenciar a população. A professora, então, confirmou que, realmente, o uso da propaganda
advém de contexto político, que se utiliza de esforços de persuasão geralmente patrocinados por governos e partidos políticos.[3]
Assim, o aluno Francisco declarou: “Temos que prestar atenção às propagandas, não só políticas, porque tem muitos produtos que também enganam”.
Segundo a professora, a propaganda comercial é conhecida como publicidade, mas que, no Brasil, ambas as definições são utilizadas como palavras sinônimas. Porém, há uma diferença, pois
o termo publicidade geralmente é usado quando a veiculação é paga, e propaganda quando é espontânea. A propaganda apresenta informações com o objetivo principal de influenciar o público, se distanciando muito da verdadeira função, que seria a busca da imparcialidade na comunicação. As publicidades apresentam alguns fatos ou mensagens exageradas que buscam encorajar determinadas conclusões para produzir uma resposta emocional e não racional à informação veiculada. Isso resulta em mudanças de atitude do público-alvo em relação ao assunto. Mas a propaganda original é neutra e podemos utilizá-la em nosso favor, como por exemplo, em forma de luta política, recomendações de saúde pública, encorajamento aos cidadãos para a participação de um censo ou eleição, mensagens que estimulem as pessoas a denunciar crimes à polícia, entre outros. [4]
Francisco continuou dizendo que “a propaganda também é importante para a gente conhecer formas de luta e novos produtos, que podem brigar com outros. A gente só ganha”. Assim a professora aproveitou a fala do aluno para explicar que
o termo propaganda vem de um verbo do latim “propagare”, que equivale em português a propagar, ou seja, ato de difundir, espalhar algo. [5]
Francisco concluiu: “Então, por isso é que temos que prestar atenção em tudo que eles falam e ver se isso que estão espalhando é verdade ou não”.
Continuamos conversando sobre a importância da propaganda, das formas de veiculação e do que comunicar. Levantamos, com os alunos, os tipos de mídias que existem e falamos um pouco da função de cada uma.
Assim, passamos para a segunda etapa com a apresentação de alguns anúncios de revista para explorar a linguagem escrita e a imagem e exemplificar a análise que teriam de fazer com cada anúncio que escolhessem.
Conversamos um pouco sobre a relação da imagem com a parte escrita, sobre as cores, a marca etc. Chamamos a atenção para os seguintes anúncios: novela “Cordel Encantado”, “Veet – Cera Quente”, “Medley – Dia Nacional do Medicamento Genérico”, “Avon – Renew Platinum”, “Mc Donalds”. Explicamos um pouco sobre as imagens, cores, textos, personagens e mídia usados, formatação, persuasão do público e alcance da mensagem.
Em relação à Avon, os alunos declararam: “Os produtos da Avon são muito bons e falam a verdade”. A professora, então, leu o texto do anúncio para ser analisado por todos e explicou o porquê da foto de uma mulher famosa e de certa idade ilustrar aquele anúncio. Os alunos entenderam e comentaram que a mulher não devia ser muito jovem, mesmo porque aquele creme era destinado a mulheres que apresentavam rugas. Uma das alunas concluiu, convencida pela imagem: “A propaganda é boa e informa de uma maneira bonita e inteligente. E o produto é muito bom também”. Nesse momento, a professora achou oportuno mencionar os truques da fotografia para atenuar defeitos ou ressaltar detalhes positivos, dependendo dos objetivos que se queiram alcançar.
Já o anúncio do Mc Donalds foi bem conceituado: os alunos o acharam criativo, com um visual bonito e destacaram o fato da imagem estar relacionada à frase. Neuza comentou: “Muito bom. Aí podemos perceber que uma propaganda não precisa de muita coisa escrita e também não precisa de muitas imagens. Essa está bem clara com um pouco de tudo”. “Na verdade”, comentou a professora, “esta é uma das qualidades que se buscam nas pessoas que trabalham com publicidade: ser capaz de usar poucas palavras, mas de escolhê-las bem para que sejam simples, porém diretas e objetivas”.
Quanto ao “Cordel Encantado”, os alunos acharam a imagem boa e chamaram atenção para as cores, “parecendo uma história em quadrinhos, um coisa meio conto de fadas”, disse uma aluna. Esclareceu-se que há várias formas de se chamar a atenção para um produto e que esta era uma delas.
Quanto ao anúncio do produto Veet Cera Quente, as observações dos alunos foram bem interessantes. Eles destacaram a criatividade do texto utilizado, mas disseram que se não tivessem lido, não saberiam que era cera quente, pois a imagem, num primeiro momento, parecia ser a de um doce. “Às vezes a imagem engana a gente, por isso temos que ler primeiro. E isso pode ter sido de propósito para as pessoas lerem o texto”, observa Raimundo.
Terminamos essa parte com a análise da propaganda do laboratório Medley. Segundo os alunos, tinha um bonito visual. ”Nunca prestei atenção nas marcas dos remédios. Para mim era tudo a mesma coisa. Nem sabia que tinha remédio genérico. Mas gostei”, disse um dos alunos. Francisco complementou: “É interessante perceber que primeiro eles usam uma foto bonita para destacar a propaganda e que só depois você para para ver que a propaganda é de um laboratório de remédio e não de uma família”. Neuza concordou: ”Era isso que eles queriam – chamar a atenção para a foto para depois dizer quem era o anunciante”.
Após essa primeira discussão sobre propaganda, os alunos já se sentiam mais à vontade para desenvolver o trabalho de análise dos anúncios escolhidos por eles. A familiaridade com o tema permitiu que os grupos discutissem com mais tranquilidade e que escolhessem de forma autônoma os anúncios que iriam analisar e expor para os demais colegas.
Assim, observamos atitudes seguras e confiantes dos grupos quando apresentaram suas ideias sobre os anúncios, defendendo ou apontando falhas.
A primeira turma a expor foi o grupo da Vera, que optou pelo anúncio das “Fraldas Pampers” e justificou sua escolha:
“Escolhemos este anúncio porque gostamos das propagandas das fraldas Pampers; chamam a atenção e a da televisão é muito legal. Tem uma criancinha que está incomodada com a fraldinha que está usando e chega uma coleguinha e diz para usar Pampers. No final, ela diz: Respira bumbum!” A professora interveio: “O que a Pampers quer passar com essa mensagem?” A resposta da Vera foi a seguinte: “Deixa a criança mais seca, mais solta, mais confortável. É uma boa propaganda. Algumas propagandas me chamam atenção, como de crianças e de carros, mas não o carro popular. Eu ouço também as propagandas no rádio, pois em casa fica rádio ligado em todos os lugares”. Todos concordaram em que a mensagem foi criativa, que alcançou seu objetivo e que foi bem veiculada nas duas mídias utilizadas.
Passamos para o segundo grupo, que preferiu o anúncio da loja de roupas infantis – “Chicletaria”. O aluno Jorge, representante do grupo, declarou: “Escolhemos essa propaganda porque o menino quer outra roupa que não é aquela que está usando. A foto é boa e não tem nada escrito. Deixa mais fácil para falar”. A professora pediu mais justificativas e os colegas do grupo disseram que a imagem era muito boa e que, além disso, não precisava de mensagens por ser uma loja muito conhecida. Interpretaram o semblante triste do menino da foto como sendo devido ao seu desejo de ter uma roupa melhor.
O terceiro grupo iniciou sua descrição. Selma declarou: “Escolhemos o Boticário porque o produto é muito bom”. A professora indagou: “Além de beleza, qual sentimento a imagem dessa mulher está passando para vocês?” Os alunos responderam sem hesitar: “Ela está feliz”. “É porque tudo tem uma intenção na propaganda” explica a professora. “O uso dessa imagem, do sorriso, da apresentação do produto… Quem vê a propaganda acredita que, se usar o produto, poderá ganhar o pacote inteiro – amor, felicidade, beleza.” Selma interveio: “Eu gosto dos produtos e das propagandas da televisão do Boticário. São bonitas. A gente se sente bem. Parece que eles falam pra gente. E as pessoas são muito bonitas. Ah! E os produtos são bons. Só são um pouco caros”.
Terminamos com o grupo do Francisco: “Escolhemos estes dois, da cafeteira e da água. Hilda disse: “Este (referindo-se à cafeteira), fala que chegou um produto que faz seu café de todo dia, para quem trabalha e não tem tempo para nada. Eles vendem a ideia de que o café é gostoso e fácil de fazer”. Francisco completou: “Escolhemos também a propaganda da água (SABESP) porque é muito interessante. Eles utilizam a imagem de uma mulher formada com gotinhas de água e o texto está todo ligado à imagem”.
“Há propagandas que não buscam apenas a venda de um produto” diz a professora” “e a SABESP nesse anúncio está vendendo uma ideia, um serviço. A propaganda é institucional”. Explica também que as fotos e as pessoas das propagandas são bem pensadas e que essa escolha nunca é aleatória, mas sempre com um objetivo determinado: o de chamar a atenção para em seguida expor o produto, de preferência de modo que o público-alvo não tenha tempo ou meios de refutar aquela imagem ou mensagem, e que isso é parte da estratégia.
Após essa apresentação, fomos para a etapa final do dia. Os alunos, ainda reunidos em grupos, utilizaram as imagens dos anúncios analisados para os quais formularam outro texto, ou seja, criaram uma nova propaganda. Houve muita discussão durante esse momento: levantaram várias ideias e finalizaram a tarefa entregando os anúncios desenvolvidos, por escrito. Em seguida, leram suas produções para toda a turma. (vide anexo 1)
CONCLUSÃO
Pela produção e participação dos alunos durante o desenvolvimento das atividades apresentadas, pudemos avaliar e concluir que os objetivos foram plenamente alcançados, pois conseguimos discutir os aspectos relevantes da propaganda para a sociedade.
Tivemos contato com os diversos meios e as linguagens usadas na comunicação, atentando-se para os sentidos ocultos e os duplos sentidos das mensagens; desenvolveu-se uma visão crítica sobre as verdadeiras intenções das agências publicitárias, com uma análise mais aprofundada dos recursos do Photoshop; e o mais importante, abriu-se um espaço para que os alunos expusessem suas opiniões e seus conhecimentos prévios, sem restrições ou censuras.
Além disso, essas atividades proporcionaram oportunidades valiosas para o desenvolvimento da escrita e da leitura num sentido mais amplo, com pesquisas em dicionários e na Internet.
Esse projeto foi de grande importância para os alunos, que já há algum tempo demonstravam interesse no tema desenvolvido. Muitas vezes, as aulas eram interrompidas por eles com notícias e comentários de situações vividas do dia a dia, tanto no serviço, na rua como em casa, e podíamos perceber a necessidade que sentiam de falar sobre outros assuntos além dos tratados nos livros didáticos ou nas atividades escolares.
Fechamos o projeto com uma reunião de todos os participantes para uma avaliação dos resultados. Os depoimentos confirmaram que a expectativa da professora fora superada.
Foi emocionante constatar que não se necessita de grandes investimentos ou patrocínios para se chegar aonde esses alunos de EJA conseguiram alcançar. Saber como uma simples proposta conseguiu encantá-los e abrir os seus olhos para uma realidade além da que conheciam e consideravam como única; ouvir que passariam a prestar mais atenção às propagandas e tentar descobrir o que vinha por trás delas; perceber que a educação não se restringe aos livros didáticos, mas se expande para além dos muros da escola – constituiu-se num marco em suas vidas.
Outro ganho foi o sentido de cooperação e respeito com a opinião dos outros, fundamentais para o sucesso do trabalho. Aprendizagem para servir em outros contextos da vida.
Leia também:
- A Propaganda de Rádio na Educação de Jovens e Adultos – Monografia relacionada
- Relato 2 – Criação de anúncios para rádio
- Relato 3 – Propaganda institucional do CIEJA
- Relato 4 – Finalização – Divulgação da Feira de Trocas na escola