Feiras de Trocas e Moeda Social: A prática da sala de aula em conjunto com a Economia Solidária

Autora: Liliane Regina Schuh Vital
Orientadora: Profa. Dra. Sonia Maria Portela Kruppa

SUMÁRIO

  • JUSTIFICATIVA
  • OBJETIVOS
  • INTRODUÇÃO
  • CAPÍTULO 1 – História das feiras de trocas e moeda social
  • CAPÍTULO 2 – As práticas da sala de aula
  • CONCLUSÃO
  • REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

JUSTIFICATIVA

Este trabalho pretendeu mostrar as possibilidades de interação entre a Educação de Jovens e Adultos, a Economia Solidária e a comunidade, utilizando-se de conhecimentos teóricos e práticos que despertem no aluno o desejo de se desenvolver e melhorar seu ambiente de vida através de ações solidárias.

O tema Feira de Economia Solidária e Moeda Social foi escolhido devido a sua possibilidade de fazer com que o aluno vivencie a Economia Solidária e perceba que ela é possível. Todos podem e devem fazer parte e a ação de cada indivíduo é essencial para o coletivo.

Dentro da educação de jovens e adultos, o tema é ainda mais relevante devido ao grande índice de baixa autoestima, falta de oportunidades de emprego e o alto número de alunos de inclusão que muitas vezes são totalmente excluídos de uma comunidade que não lhes dão reais condições de trabalho.

Na Economia Solidária, todos os saberes são valorizados, e os meios de produção são coletivos, mantendo desta forma, o grupo unido. Os alunos puderam ver como suas decisões tem valor dentro do grupo e que seu voto é tão importante como o de qualquer outra pessoa que estivesse fazendo parte do trabalho.

Desta forma, o esforço deste trabalho foi o de criar nos alunos um espírito solidário e fazê-los entender sua importância dentro da sociedade em que vivem, de modo que sejam protagonistas de saberes e tenham uma alternativa possível para o desenvolvimento pessoal e profissional, que não envolva o capitalismo.

OBJETIVOS

  • Esclarecer aos alunos o que é Economia Solidária, feira de trocas e moeda social.
  • Definir as diferenças entre comércio justo e solidário, monopólio e oligopólios.
  • Compreender a história do dinheiro dentro da sociedade passando de simples facilitador de trocas a mercadoria.
  • Debater temas que envolvem o capitalismo como globalização, migração e relações do trabalho.
  • Desenvolver no aluno uma consciência de sustentabilidade do planeta.
  • Verificar que pequenas ações como separar o lixo, ter uma composteira caseira e reciclar ou reaproveitar materiais, podem fazer muita diferença se todos colaboram.
  • Permitir aos educandos a participação como protagonista do projeto e principalmente como um ser capaz de tomada de decisões para o melhor de todos.
  • Perceber que é possível, com muito pouco, ter uma geração de renda.
  • Demonstrar de forma prática e simples que uma outra economia é possível, caso haja envolvimento e compromisso do grupo.

INTRODUÇÃO

O que é Economia Solidária?

A Economia Solidária é uma nova forma de economia que surge no Brasil como resposta ao crescente índice de desemprego e em meio a um contexto mundial de crise dos Estados Socialistas no mundo e semifracasso dos governos e partidos socialdemocratas. Estas duas grandes transformações geraram no início da década de 90 movimentos emancipatórios com foco na sociedade civil. Com a fundamentação nas contradições do capitalismo e na necessidade de criação de oportunidades de trabalho e apoio da Igreja Católica,sindicatos e universidades.

“O capitalismo tornou-se dominante a tanto tempo que tendemos a tomá-lo como natural. O que significa que a economia de mercado deve ser competitiva em todos os sentidos: cada produto deve ser vendido em numerosos locais, cada emprego deve ser disputado por numerosos pretendentes, cada vaga na universidade deve ser disputada por numerosos vestibulandos, e assim por diante. A competição é boa de dois pontos de vista: ela permite a nós escolher o que mais nos satisfaz ; e ela faz com que o melhor vença, uma vez que as empresas que mais vendem são as que mais lucram e mais crescem, ao passo que as que menos  vendem dão prejuízo e se não conseguirem mais clientes acabarão por fechar. Os que melhor atendem os consumidores são ganhadores, os que não conseguem são os perdedores.” (Singer, 2002)

As diferenças de condições na sociedade geraram uma sociedade desigual, países pobres e ricos divididos em classes A, B, C, D e E, de acordo com sua condição financeira.

As classes C, D e E servem de mão de obra para as classes A e B, que por terem os meios de produção exploram as classes menos favorecidas que tem apenas a sua força de trabalho a venda. Devido a escassez de vagas no mercado, o trabalho humano tende a ser cada vez menos valorizado e nessa proporção, mal remunerado, as empresas pagam o mínimo que podem em busca de explorar o trabalho ao máximo para gerar o maior rendimento possível. É o mercado capitalista em busca do lucro.

As pessoas com menor condição financeira, ficam obrigadas a manter essa relação pois não veem a possibilidade de criarem seu próprio empreendimento, pois para abrir um, as pessoas precisam de crédito, entretanto os bancos emprestam apenas a quem já tem dinheiro. As dezenas de garantias solicitadas pelos bancos tradicionais fazem com que as pessoas que não possuem bens, não possam ter acesso ao dinheiro e desta forma continuem sem os meios de produção. Já os ricos, mesmo que em algumas circunstancias se encontrem endividados, têm o prestígio do mercado e consequentemente o crédito, que os mantém sempre no topo da pirâmide. Desta forma, cada vez os ricos conseguem mais oportunidades e ficam ainda mais ricos e os mais pobres com menos oportunidades continuam na mesma classe social, gerando um mundo totalmente desigual.

“…somente 20% da população mundial consomem mais de 80% da riqueza produzida, e os 80% tentam sobreviver com 20% dessa riq    ueza. 826 milhões de pessoas são desnutridas! 2 Bilhões de pessoas sofrem de má nutrição! Na realidade, os modos dominantes de produção e redistribuição de renda, que são capazes de gerar enormes riquezas, ignoram as catástrofes sociais e ambientais que provocam.” (França, 2002)

Nosso mundo ao contrário do que nos fazem acreditar, não é competitivo de forma livre e sim através de oligopólios que mantém o sistema produtivo na mão de poucos, e que são sustentados por seus investidores e acionistas.

As publicidades apelativas passam a imagem de que todos tem direito ao consumo e que tudo está ao seu alcance, porém o que vemos são bilhões de pessoas sem a possibilidade de acesso a maioria dos produtos “midiáticos” e a violência cada dia maior, na busca de recursos para consumir aquilo que a mídia e a sociedade ditam como o melhor.

Ironicamente, enquanto alguns no nosso país ainda lutam pelo direito de energia elétrica e água encanada, outros escolhem qual o carro mais veloz e sofisticado do mercado.

As vantagens acumuladas por empresas capitalistas são passadas de pais para filhos e para netos, mantendo o capital sempre nas mesmas mãos.

A luta por uma sociedade mais justa começa na economia que precisa ser disponível a todos. Para isso precisa ser organizada igualitariamente com direito a diferença e de forma humanitária, com a liberdade do comércio e a liberdade de escolha do consumidor. É preciso ter em vista o consumidor responsável, que respeite os direitos do outro e o valor do meio natural.
A Economia Solidária caracteriza-se pelos princípios de autogestão, cooperatividade, gestão participativa popular, redes de comércio justo, consumo ético e responsabilidade social.

Nela, o princípio é cooperativo e por isso não há competição entre os sócios. Todos trabalham em prol do crescimento da empresa, afinal, todos são donos. O meio de produção é coletivo e “ninguém manda em ninguém”. As decisões são tomadas por meio de assembleias onde cada pessoa tem direito a um voto, independente do cargo que ocupe. Todos esses princípios unem os trabalhadores e o resultado entre eles é o de solidariedade e o crescimento conjunto de todos os envolvidos.

Nesta forma de organização não há venda de ações. Todos os donos devem necessariamente trabalhar no empreendimento.
Os salários também são decididos em assembleias. Em alguns empreendimentos todos ganham o mesmo valor, outros possuem algumas diferenças de acordo com o estudo ou conhecimento específico, dependendo exclusivamente da decisão do grupo. Nas cooperativas de economia solidária em que há variação salarial, a diferença entre o maior salário e o menor salário é bem diferente das empresas capitalistas que determinam esta diferença através de um princípio simples: oferta e demanda. Atualmente, por exemplo, um engenheiro é um profissional muito bem remunerado no sistema capitalista, pois existem poucos profissionais disponíveis e muitas vagas em aberto. Se por outro lado houvessem milhões de engenheiros formados, para poucas vagas no mercado, o salário do engenheiro seria muito inferior ao que temos hoje. A escala de valores salariais, dessa maneira varia apenas pelo número de profissionais, oferta e demanda, e não pelo trabalho do profissional. Na Economia Solidária, por outro lado, o fator determinante é a decisão coletiva.

Uma parte das sobras em um empreendimento solidário é colocada em um fundo de educação e ou investimento. Quando um sócio decide sair, o mesmo tem direito a sua parte do fundo.

Se o empreendimento tiver prejuízos, todos terão que dividir os prejuízos por igual. Caso tenham ganhos, estes também serão divididos por todos.

Desta maneira, a Economia Solidária é uma nova forma de organização da economia, que vem em grande crescente em nosso país e no mundo, em busca de uma sociedade mais justa e sustentável.

O que são os clubes de troca?

Os clubes de troca começaram na década de oitenta na Argentina e Canadá em resposta ao crescente desemprego e à queda da atividade econômica provocada por recessões de mercado. Essas feiras se baseiam em princípios da Economia Solidária: substituir o lucro, a acumulação e a competição pela solidariedade e pela cooperação, valorizar o trabalho, o saber e a criatividade das pessoas e não o dinheiro e sua propriedade. Buscar uma ligação de respeito entre o ser humano e a natureza.

Os clubes de troca são iniciativas solidárias que possibilitam a interação das pessoas e a coletividade no sentido de construir uma alternativa para o capitalismo que é praticamente hegemônico na nossa sociedade e tende a delimitar a força de compra das pessoas. Sua proposta parte da busca de resposta a falta de dinheiro oficial. Um grande objetivo dos clubes de troca é o de constituir um mercado complementar ao oficial capaz de ajudar a viabilização do comércio de produtos feitos por pessoas ou grupos e facilitar o acesso da comunidade em geral a esses produtos e serviços. Ela tende a resgatar princípios primitivos da moeda, tornando-a um instrumento facilitador, em resposta as necessidades da população que a utiliza.

O espaço da feira não é um local de competição, mas sim de colaboração entre os produtores/consumidores.

“O clube de trocas favorece novos contatos, o início de novas amizades, traz oportunidades de trocas não-econômicas de afetos, favores, gentilezas. Em sua dinâmica, o clube atrai novos membros e permite que vários se associem em outros empreendimentos solidários, tais como cooperativas de produção, de crédito, de compras e vendas, etc.”(Costa, 2003)

O clube abre espaço para que as pessoas se desenvolvam como sujeitos, valorizando seus conhecimentos e seu trabalho. Além disso, é um ambiente pedagógico, pois permite a todos ensinarem e aprenderem juntos. É um local de construção coletiva onde todos são convidados a ajudar na organização, dar sugestões, criticar e agir. Um espaço democrático, como o que se quer conquistar em sala de aula.

Para que a feira de trocas aconteça, são necessárias reuniões com os grupos para a tomada de decisões com relação a escolha do coordenador, da moeda social, do local, dos eventos culturais, da divulgação e das regras que serão utilizadas na feira.
As redes de troca quando acontecem regularmente, diminuem o uso do dinheiro e concentram os ganhos dentro da comunidade. Valorizando o serviço dos sócios do clube e fortalecendo o comércio local.

Existem duas formas de troca:

  • Direta – que ocorre entre as mesmas pessoas, com produtos de mesmo valor e no mesmo lugar.
  • Indireta – por meio de moeda social, com pessoas diferentes, em lugares diferentes. (Costa, 2003)

Nas feiras de troca é possível trocar objetos e conhecimentos. Pode-se trocar artesanatos, roupas em bom estado, livros, comidas, cortes de cabelo, aulas de línguas, serviços de cuidar de crianças ou idosos, etc.

Diferente do capitalismo, que determina o valor através da lei da oferta e da procura sempre em busca da mais-valia, no clube de trocas o valor de cada objeto é dado pelo grupo, levando em conta o preço justo determinado pelos produtores e participantes da comissão da feira.

No Decreto 7.358, de 17 de Novembro de 2010 que institui o Sistema Nacional de Comércio Justo e Solidário – SCJS e cria sua Comissão Gestora Nacional, regulamente em seu Art 2º:

V – preço justo: é a definição de valor do produto ou serviço, construída a partir do diálogo, da transparência e da efetiva participação de todos os agentes envolvidos na sua composição que resulte em distribuição equânime do ganho na cadeia produtiva.

Mas a definição de preço justo, pode ir muito além, ela deve ser baseada em gerar oportunidades a quem precisa, ter transparência na relação comercial e deve ser justa tanto a quem vendo, quanto a quem compra. Desta maneira, pode-se estabelecer relações duradouras entre comprador e produtor.

Para que serve a moeda social?

A moeda social é geralmente o instrumento de mediação próprio dos clubes de trocas. Ela circula dentro da feira e é uma facilitadora para as trocas que acontecem na forma indireta. Esta moeda visa ser exclusivamente um meio de intermediar as trocas solidárias e é ser aceita apenas dentro dos clubes de troca, como um instrumento do comércio justo.
A grande diferença desta moeda em relação a moeda oficial é o fato desta não permitir a reserva de valor, pois não tem juros. Como não pode gerar mais dinheiro, não tem significado guarda-la além do seu uso na feira e não pode ser transformada em mercadoria, como aconteceu com o dinheiro oficial.

Esta moeda serve apenas como um “meio” e nunca como um “fim em si mesma”.

As moedas criam um cerco ao redor da comunidade que fazem com que o dinheiro fique dentro do território e não se percam em bancos e supermercados multinacionais.

Cada clube de trocas decide o nome de sua moeda social, isso mantém as características da região e a identidade de cada moeda de acordo com seus usuários. A co-criação da moeda, dá a responsabilidade ao grupo e mantém a mesma apenas dentro da comunidade.


Modelo da Moeda Social utilizada da I Feira de Economia Solidária de Suzano.

CAPÍTULO 1
História das feiras de trocas e moeda social

Falar sobre a história do surgimento de algo, muitas vezes, nos leva a criar uma história mitológica a respeito, são pessoas, situações, causas e consequências que se perdem e se reinventam de boca em boca até que alguém decida colocar tudo isso no papel. Por isso, melhor do que descrever detalhadamente como, quando e onde surgiu o primeiro Clube de Trocas, é tentar mapear as razões que fizeram e fazem surgir estes Clubes em vários lugares do mundo.

O homem sempre buscou se relacionar com outras pessoas e trocar aquilo que não precisa em troca daquilo que necessita ou prevê que irá precisar num futuro próximo. A troca ou escambo existe desde os primórdios da humanidade. Não conheciam quaisquer intervenções de instrumentos monetários, realizavam trocas diretas conhecidas como escambo.

Porém, é muito difícil estabelecer uma equivalência entre produtos e serviços. Por esta razão que a moeda surgiu. Com ela, os homens conseguiram trocar mais facilmente e este comércio possibilitou um desenvolvimento muito grande das regiões em que ela ia sendo implantada. Tão grande foi o seu sucesso que atualmente todos os países do mundo possuem uma moeda oficial.
No entanto, muitas pessoas começaram a acumular dinheiro no intuito de fazer uma reserva, contribuindo para que a moeda mesma se transformasse num produto.

A possibilidade de acúmulo e a escassez da moeda fizeram com que algumas pessoas tivessem muito dinheiro e outros, pouco, ou nenhum.

Hoje, temos instituições responsáveis por guardar dinheiro e países que possuem vultuosas reservas que servem, entre outras coisas, para controlar o câmbio. Este caso específico pode ser encontrado quase todos os dias nos jornais do Brasil, visto que o país costuma comprar e vender dólares de acordo com o valor alto ou baixo que a moeda americana atinge ao longo do dia.
Tem-se atualmente, um objeto que perdeu o seu valor original e ganhou status de produto altamente requisitado e, para muitos, indispensável. Porém, os Clubes de Trocas devolvem a moeda, o seu uso original, tirando sua perversidade atual e possibilitando que as pessoas façam o seu comércio em busca de produtos e serviços, sem visar o lucro e a acumulação de capital.

“Por isso, as diversas formas de resistência a esse tipo de economia que concentra o dinheiro em poucas mãos inventaram uma “outra moeda” que corrige a Historia e devolve a função primitiva de ser somente facilitadora dos intercâmbios entre produtores e consumidores. É nesse sentido que, longe de ser uma regressão ao passado como a vem alguns, a moeda social significa uma superação dessa encruzilhada do sistema financeiro internacional, onde hoje o dinheiro foi retirado da produção e desviado para a especulação.” (Rede Latinoamericana de Socioeconomia Solidaria – Redlases, 2006).

Esta moeda implantada nos clubes não só devolve a função que a moeda tinha, mas também, modifica as pessoas, que passam a ser novamente, reais produtores e consumidores de mercadorias e serviços, não mais meros acumuladores de capital.

Por essa razão, geralmente, os clubes de trocas surgem a partir da organização das pessoas que lutam contra uma crise econômica. A necessidade de sobrevivência frente a crise, força as pessoas a se unirem e encontraram alternativas com base no fortalecimento dos laços sociais, na reciprocidade e nas formas comunitárias de propriedade.

Sabe-se que a Economia Solidária caracteriza-se pela junção das cooperativas, das organizações mutualistas e das associações sem fins lucrativos. Desta forma, os clubes de trocas são uma organização mutualista e sem fins lucrativos, neles, pessoas e cooperativas apresentam seus produtos para serem trocados tendo em vista a ideia de preço justo e suas próprias necessidades.
As vantagens do clube de troca são as mesmas professadas pela Economia Solidária. Nela, tem-se a produção coletiva, a comercialização justa e o consumo ético. O clube de trocas é um espaço fundamental para realizar a comercialização justa, pois elimina os intermediários desnecessários entre o produtor e o consumidor, estes compradores/vendedores de mercadorias atuam de forma especulativa aumentando ou diminuindo o valor dos produtos de acordo com a lei de oferta e procura. Desta forma, sem os intermediários, é possível determinar o valor de um produto através do trabalho que foi investido nele, nas necessidades dos trabalhadores e na manutenção do meio ambiente no intuito de distribuir as riquezas geradas, por conseguinte caminhando em direção contrária a economia capitalista que visa o lucro e a concentração de renda nas mãos de poucas pessoas.

REDLASES (2006) assim define os Mercados de Trocas Solidárias (MTS) ou Clube de Trocas:

“É um espaço onde as pessoas trocam entre elas produtos, serviços e saberes sem o uso de dinheiro, de uma forma solidária, que promove a cooperação em vez da competição, própria do mercado neoliberal, respeitando normas éticas e ecológicas ao produzir e consumir.
Num evento de curta duração, seja preparado exclusivamente como MTS, seja incluído num evento maior que já esta acontecendo, é muito importante lembrar que seu objetivo principal é de caráter pedagógico, cultural e político, ou seja, o MTS propõe a todos participantes vivenciar uma nova maneira de fazer circular a riqueza, com a lógica das trocas solidárias, onde os resultados podem ser alcançados sem a utilização de dinheiro.” (p.6)

Portanto, o clube de trocas é mais do que um mero espaço que possibilita o escambo, ele implanta uma nova mentalidade econômica contrária a exploração capitalista e neoliberal, nele se aprende a realizar trocas solidárias, estas tem como objetivo respeitar o trabalho feito de forma ética com respeito aos produtores e consumidores, sem explorar as pessoas e o meio ambiente.
É uma economia possível, que vem se expandindo ao redor do mundo. Pessoas antes excluídas do mercado convencional conseguem se firmar no mercado solidário, uma vez que neste local seu trabalho, conhecimento e aptidão são valorizados.

CAPÍTULO 2 – AS PRÁTICAS DA SALA DE AULA

  • Prática pedagógica 1: Visita a uma feira de trocas
  • Prática pedagógica 2: Construção e Execução da I Feira de Economia Solidária de Suzano

 

CONCLUSÃO

O trabalho desenvolvido teve a maioria de seus objetivos alcançados, porém ficou claro que apenas um ano não é o suficiente para implantar uma feira de Economia Solidária permanente e uma moeda social.

Todos os alunos puderam participar de aulas teóricas e práticas sobre assuntos que muitas vezes não eram tratados com os mesmos, ou quando muito, tratados de maneira superficial.

É o caso da migração, por exemplo, que era trabalhado com o aluno da EJA para mostrar de onde ele veio, porém sem um aprofundamento que fizesse o aluno refletir em seu papel na sociedade e no que resultou sua vinda ao sudeste brasileiro. Não basta mostrar no mapa o lugar de onde o aluno veio, se ele não entende pra que serve o mapa, quais são suas rotas, e como utilizá-lo em seu dia-a-dia. Não é o suficiente falar que o aluno veio do nordeste pra trabalhar em São Paulo ou Rio de Janeiro, sem questionar o por quê. Por que foram tirados de suas terras natais para serem enviados a outros estados brasileiros? Por que ao invés de tirá-los de lá, não houve grande oferta de emprego onde já estavam? Quais benefícios foram gerados ao país? Por que o governo incentivou que eles viessem? Em quais condições vieram? Por que não houveram investimentos para melhoria do sertão?

Muitas vezes, o aluno adulto, é subestimado pelos próprios professores que não levam debates de nível crítico mais elevado, pensando que os mesmos não entendem de política e outros assuntos mais elitizados. Porém este é um grande erro da classe docente, os adultos tem grande conhecimento de vida e conseguem debater de forma satisfatória e com argumentos bem definidos. Falta a eles, a sistematização. O que é um debate? Para que existe? O que são argumentos? Como expressar um artigo de opinião? Assim, aumenta a qualidade da aula, introduz o aluno em um dos gêneros textuais mais utilizados na sociedade e amplia horizontes dentro da sala de aula.

Outro fator determinante ao sucesso do trabalho, é que este tenha uma sequencia que integre o aluno da EJA mais profundamente no projeto em busca de melhorias na sua comunidade.

O fato de ter desenvolvido o projeto, dentro das escolas, com os alunos da educação de jovens e adultos, é o grande diferencial para um trabalho de qualidade. É partindo deles, que se pode chegar a sociedade como um todo, pois os alunos são também pais e avós que repassam o conhecimento aos filhos e netos. São congregantes de diversas igrejas que também podem ser envolvidas no projeto, aumentando assim o nível de divulgação. São consumidores, que estão dia-a-dia com os comerciantes e podem também divulgar todos os conhecimentos com os demais.

Para que isso ocorra, o grupo deve estar unido e ter seus objetivos bem claros e definidos de modo que o conhecimento realmente ultrapasse as barreiras da escola.

Esse é, sem dúvida, o grande objetivo deste trabalho a partir de agora, envolver os alunos de tal maneira, que estes sintam a necessidade de levar adiante, para além dos muros da escola.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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BÚRIGO, Fábio Luiz. Moeda Social e a circulação das riquezas na Economia Solidária. Florianópolis, 2001. Disponível no site http://www.ifil.org/rcs/biblioteca/burigo.htm, consultado em 25/02/2012.
COSTA, Dídac Sanchez. Como criar uma rede de trocas, ONG Voluntários pela verdade ambiental, 2003
FRANÇA, Cassio Luiz de (org). Comércio ético e solidário, Fundação Friedrich Ebert, São Paulo, 2002
NUNES, Ruth Espínola Soriano de Souza. A nova economia das Redes Solidárias, Rio de Janeiro, 2001. Disponível no site http://www.tau.org.ar/upload/89f0c2b656ca02ff45ef61a4f2e5bf24/ruth_redesolidarias.pdf, consultado em 25/02/2012.
PONTUSCHKA, N. N. ; MORAES, C. S. V. ; GUARANÁ, C. . Formação de Professores para o Ensino Supletivo profissionalizante. In: Centro de Estudos, Ensino e Pesquisa – CEEP. (Org.). Construindo o Saber -Educação dos Trabalhadores pelos Trabalhadores. São Paulo: CEEP, 2002.
PRIMAVERA, Heloisa, Rede Latino Americana de Socioeconomia Solidária – REDLASES, Moeda Social e Democrática: Manual para compreender e fazer. ABC da Economia Solidária. Buenos Aires, 2006
SINGER, Paul. Introdução à Economia Solidária. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2002.